Civilização asteca: diferenças entre revisões

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Os '''astecas''' eram uma [[cultura]] [[mesoamericana]] que floresceu no centro do [[México]] no período pós-clássico, de 1300 a 1521. Os povos astecas incluíam diferentes [[grupos étnicos]] do México central, particularmente aqueles grupos que falavam a [[língua náuatle]] e dominaram grandes partes da Mesoamérica entre os séculos XIV ao XVI. A cultura asteca era organizada em [[cidades-Estados]] (''altepetl''), algumas das quais se juntaram para formar alianças, confederações políticas ou impérios. O [[Império Asteca]] era uma confederação de três cidades-Estados estabelecida em 1427, [[Tenochtitlan]] (cidade-Estado dos [[mexicas]]), [[Texcoco]] e [[Tlacopan]], anteriormente parte do império dos [[tepanecas]], cujo poder dominante era o [[Azcapotzalco]]. Embora o termo ''astecas'' seja restrito aos mexicas de Tenochtitlan, também é amplamente usado para se referir a comunidades ou povos [[náuatles]] do México central na era pré-hispânica,{{sfn|Offner|1983}} bem como a [[Vice-Reino da Nova Espanha|era colonial espanhola]] (1521-1821).{{sfn|Gibson|1964}} A definição dos astecas tem sido o tema da discussão acadêmica, desde que o cientista alemão [[Alexander von Humboldt]] estabeleceu seu uso comum no início do {{séc|XIX}}.{{sfn|López Austin|2001|p=68}}
 
A maioria dos grupos étnicos do México central, no período pós-clássico, compartilhava traços culturais básicos da Mesoamérica e muitas das características da cultura asteca não podem ser consideradas exclusivosexclusivas deste povo. Pela mesma razão, a noção de "civilização asteca" é melhor entendida como um horizonte particular de uma [[civilização]] geral da Mesoamérica. A cultura do México central inclui o cultivo de [[milho]], a divisão social entre nobreza (''[[pipiltin]]'') e plebeus (''[[macehualtin]]''), um [[panteão]] (caracterizando [[Tezcatlipoca]], [[Tlaloc]] e [[Quetzalcoatl]]), e o [[Calendário|sistema calendárico]] de um ''[[xiuhpohualli]]'' de 365 dias intercalado com um ''[[tonalpohualli]]'' de 260 dias. O deus patrono [[Huitzilopochtli]], construções de pirâmides gêmeas e o artigo [[cerâmico]] conhecido como Astecas I a III são particulares dos mexicas de Tenochtitlan.{{sfn|Smith|1997|p=4–7}}
 
No {{séc|XIII}}, o [[Vale do México]] era o coração de uma população densa e da ascensão das cidades-Estados. Os mexicas chegaram atrasados ​​ao vale e fundaram a cidade de Tenochtitlan em ilhotas pouco promissoras no [[lago Texcoco]], tornando-se depois o poder dominante da [[Tríplice Aliança Asteca]] (ou Império Asteca). Era um [[império tributário]] que expandiu sua [[hegemonia]] política muito além do Vale do México, conquistando outras cidades-Estados da Mesoamérica no final do período pós-clássico. Originou-se em 1427 como uma aliança entre as cidades Tenochtitlan, Texcoco e Tlacopan, as quais se aliaram para derrotar o Estado tepaneca de Azcapotzalco, que anteriormente havia dominado a bacia do México. Logo, Texcoco e Tlacopan foram relegadas a uma parceria menor dentro da aliança, com Tenochtitlan se tornando o poder dominante. O império ampliou seu alcance por uma combinação de [[comércio]] e conquista militar. Nunca foi um verdadeiro império territorial controlando um território através de grandes guarnições militares em províncias conquistadas, mas dominava suas cidades-Estados clientes principalmente ao implantar governantes amistosos conquistados, construindo alianças matrimoniais entre as dinastias governantes e estendendo uma ideologia imperial às suas cidades,{{sfn|Smith|1997|p=174–75}} que prestavam homenagem ao imperador asteca, o ''[[Huey Tlatoani]].'', em umaEsta estratégia econômica que limitava a comunicação e o comércio entre os sistemas periféricos, tornando-os dependentes do centro imperial para a aquisição de bens de luxo.{{sfn|Smith|1997|p=176–82}} A influência política do império alcançou o sul, como [[Chiapas]] e [[Guatemala]], e abarcou a Mesoamérica, do [[Oceano Pacífico|Pacífico]] ao [[Oceano Atlântico|Atlântico]].
 
O império atingiu sua extensão máxima em 1519, pouco antes da chegada de um pequeno grupo de [[conquistador]]es [[espanhóis]] liderados por [[Hernán Cortés]], que se aliou a cidades-Estados inimigas dos mexicas, particularmente [[Tlaxcalteca]], bem como a outras organizações políticas mexicas, incluindo Texcoco, sua antiga aliada na Tríplice Aliança. Após a [[Cerco de Tenochtitlan|queda de Tenochtitlán]] em 13 de agosto de 1521 e a captura do imperador [[Cuauhtemoc]], os [[espanhóis]] fundaram a [[Cidade do México]] sobre as ruínas da antiga capital asteca. De lá, eles prosseguiram com o [[Colonização espanhola da América|processo de conquista e incorporação dos povos mesoamericanos]] ao [[Império Espanhol]]. Com a destruição da superestrutura do Império Asteca em 1521, os espanhóis utilizaram as cidades-Estado sobre as quais o Império Asteca foi construído para governar as populações indígenas por meio de seus nobres locais. Esses nobres prometeram lealdade à [[coroa espanhola]] e converteram-se, ao menos nominalmente, ao [[cristianismo]], em troca de serem reconhecidos como nobres pelos espanhóis. Os nobres atuaram como intermediários para transmitir tributos e mobilizar o trabalho para seus novos senhores, facilitando o estabelecimento do domínio colonial espanhol.{{sfn|Cline|2000|p=193-197}}
 
A cultura e a história astecas são conhecidas principalmente por evidências arqueológicas encontradas em escavações como a do renomado [[Templo Mayor]] na Cidade do México; de [[Códices astecas|escritos indígenas]]; relatos de testemunhas oculares de conquistadores espanhóis, como Cortés e [[Bernal Díaz del Castillo]]; e especialmente das descrições de cultura e história astecas dos séculos XVI e XVII escritas por [[clérigo]]s espanhóis e astecas letrados em [[Língua espanhola|espanhol]] ou náuatle, como o famoso, ilustrado e bilíngue (espanhol e náuatle) [[Códice florentino]], composto em doze volumes, criado pelo [[frei]] [[franciscano]] [[Bernardino de Sahagún]], em colaboração com informantes indígenas astecas. Importante para o conhecimento dos náuatles após a conquista europeia foi o treinamento de [[escriba]]s indígenas para criar textos alfabéticos em náhuatl, principalmente para ajudar no processo de domínio colonial espanhol. No seu auge, a cultura asteca teve tradições mitológicas e religiosas ricas e complexas, bem como alcançou notáveis realizações arquitetônicas e artísticas.
 
== Definição ==
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As palavras [[náuatle|náuatles]] ''aztecatl'' (no singular) e ''aztecah'' (no plural){{sfn|Vocabulario Náhuatl|2019}} significam "povo de [[Aztlan]]",{{sfn|OTD|2019}} um lugar mítico de origem para vários grupos étnicos na [[Mesoamérica]]. O termo não era usado como um [[endônimo]] pelos próprios astecas, mas é encontrado nos diferentes contos de migração dos mexicas, que descrevem as diferentes tribos que deixaram Aztlan juntas. Em um relato da jornada de Aztlan, [[Huitzilopochtli]], a [[divindade tutelar]] da tribo dos mexicas, diz a seus seguidores que "agora, seu nome não é mais o Azteca, você é agora Mexitin [Mexica]".{{sfn|Schroeder|1997|p=73}}
 
No uso de atual, o termo "asteca" geralmente se refere exclusivamente ao povo mexica de [[Tenochtitlan]] (atual [[Cidade do México]]), situada em uma ilha no [[Lago Texcoco]], mas eles se referiam a si mesmos como ''mēxihcah'', ''tenochcah'' ou ''cōlhuah''.{{sfn|Barlow|1949}}{{sfn|León-Portilla|2000}}<ref group=nb>{{harvnb|Smith|1997|p=4}} escreve: "Para muitos o termo 'asteca' refere-se estritamente aos habitantes de Tenochtitlan (o povo mexica), ou talvez aos habitantes do Vale do México, a bacia montanhosa onde os mexicas e alguns outros grupos astecas viviam. Eu acredito que faz mais sentido expandir a definição de "asteca" para incluir os povos dos vales das montanhas próximas, além dos habitantes do Vale do México. Nos últimos séculos antes da chegada dos espanhóis, em 1519, os povos desta área mais ampla de língua náuatle (a língua dos astecas) traçam suas origens em um lugar mítico chamado Aztlan (Aztlan é a origem do termo "asteca", um rótulo moderno que não era usado pelos próprios astecas)"</ref><ref group=nb>{{harvnb|Lockhart|1992|p=1}} escreve: "Essas povos eu chamo de náuatles, um nome que às vezes se usava e que se tornou de uso comum no México atual, em preferência ao termo "astecas". O último termo tem várias desvantagens decisivas: implica uma unidade quase nacional que não existia, dirige a atenção a uma aglomeração imperial efêmera, é anexado especificamente ao período pré-conquista, e pelos padrões do tempo, seu uso para qualquer outro que não aos mexicas (os habitantes da capital imperial, Tenochtitlan) teria sido impróprio, mesmo que tivesse sido a designação primária dos mexicas, o que não era."</ref>
 
Às vezes, o termo também inclui os habitantes das duas principais cidades aliadas de Tenochtitlan, as [[acolhuas]] de [[Texcoco]] e os [[tepanecas]] de [[Tlacopan]], que junto com os astecas formaram a [[Tríplice Aliança Asteca]], que controlava o que é muitas vezes conhecido como o "[[Império Asteca]]". O uso do termo "asteca" para descrever o império centrado em Tenochtitlan foi criticado por [[Robert H. Barlow]], que prefere o termo "culhua-mexica",{{sfn|Barlow|1949}}{{sfn|Barlow|1945}} e por Pedro Carrasco, que prefere o termo "império tenochca".{{sfn|Carrasco|1999|p=4}} Carrasco escreve que o termo asteca "não é útil para entender a complexidade étnica do México antigo e para identificar o elemento dominante na entidade política que estamos estudando."{{sfn|Carrasco|1999|p=4}}
 
Em outros contextos, "asteca" pode se referir a todas as várias cidades-Estado e seus povos, que compartilhavam grande parte de sua história étnica e traços culturais com astecas, acolhuas e tepanecas, e que frequentemente também usavam a [[língua náuatle]] como [[língua franca]]. Um exemplo está na obra ''Law and Politics in Aztec Texcoco'' de Jerome A. Offner.<ref>{{harvnb|Offner|1983}}</ref> Nesse sentido, é possível falar sobre uma "civilização asteca", incluindo todos os padrões culturais específicos comuns à maioria dos povos que habitavam o centro do México no final do período pós-clássico.{{sfn|Smith|1997|p=4}} Tal uso pode também estender o termo "asteca" a todos os grupos no México Central que foram incorporados culturalmente ou politicamente na esfera de domínio do Império Asteca.{{sfn|Nichols|2017}}<ref group=nb>The editors of the "Oxford Handbook of the Aztecs", {{harvnb|Nichols|2017|p=3}} escreve: "O uso da terminologia mudou historicamente durante o pós-clássico tardio, e mudou entre os estudiosos modernos. Os leitores encontrarão alguma variação nos termos empregados neste manual, mas, em geral, diferentes autores usam 'astecas' para se referirem a pessoas incorporadas no império da Tríplice Aliança no período pós-clássico tardio, um império de tão vasta extensão geográfica [...] subsumiu muitas variações culturais, linguísticas e sociais, e o termo Império Asteca não deve obscurecer isto. Os estudiosos geralmente usam identificadores mais específicos, como 'mexica' ou 'tenochca', quando apropriado, e geralmente empregam o termo náuatles para se referir aos povos indígenas no México central após a conquista espanhola, como Lockhart (1992) propôs. Todos esses termos apresentam seus próprios problemas, seja porque eles são vagos, subsumem muita variação, são rótulos impostos, ou são problemáticos por algum outro motivo. Não encontramos uma solução que todos possam concordar e, assim, aceitar a variabilidade de pontos de vista dos autores. Usamos o termo 'asteca' porque hoje ele é amplamente reconhecido tanto pelos estudiosos quanto pelo público internacional."</ref>
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Quando usado para descrever grupos étnicos, o termo "asteca" refere-se a vários povos de língua náuatle do México central no período pós-clássico da cronologia mesoamericana, especialmente os mexicas, o grupo étnico que teve um papel importante no estabelecimento do império hegemônico baseado em Tenochtitlan. O termo se estende a outros grupos étnicos associados ao império asteca, como os acolhuas, o tepanecas e outros que foram incorporados ao império. Charles Gibson enumera vários grupos no México central que ele inclui em seu estudo ''The Aztecs Under Spanish Rule'' (1964). Estes incluem culhuaques, cuitlahuaques, mixquicas, xochimilcas, chalcas, além dos tepanecas, acolhuaques e mexicas.<ref>{{harvnb|Gibson|1964|p=9–21}}</ref>
 
Em usos mais antigos, o termo era comumente usado para se referir aos grupos étnicos modernos falantes de náuatle, já que o idioma era anteriormente chamado de "língua asteca". No uso recente, esses grupos étnicos são referidos apenas como [[náuatles]].{{sfn|Lockhart|1992|p=1}}{{sfn|Smith|1997|p=2}} Linguisticamente, o termo "asteca" ainda é usado sobre o ramo das [[línguas uto-astecas]] (também às vezes chamadas de línguas yuto-nahuan), que inclui a língua náuatle e seus parentes mais próximos, [[Língua pochutec|pochutec]] e [[Língua pipil|pipil]].{{sfn|Campbell|1997|p=134}}
 
[[Alexander von Humboldt]] originou o uso moderno de "asteca" em 1810, como um termo coletivo aplicado a todas as pessoas ligadas pelo comércio, costumes, religião e idioma ao Estado mexica e à Tríplice Aliança. Em 1843, com a publicação do trabalho de William H. Prescott sobre a história da conquista do México, o termo foi adotado pela maior parte do mundo, incluindo por estudiosos mexicanos do século XIX, que o viam como uma maneira de distinguir os mexicanos da atualidade dos mexicas da era pré-conquista. Este uso tem sido objeto de debate, mas o termo "asteca" é ainda mais comum.{{sfn|León-Portilla|2000}}