Civilização asteca: diferenças entre revisões
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== Urbanismo ==
A sociedade asteca combinava uma tradição agrária rural relativamente simples com o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente urbanizada, com um sistema complexo de instituições, especializações e hierarquias. A tradição urbana na [[Mesoamérica]] foi desenvolvida durante o período clássico com grandes centros urbanos como [[Tenochtitlán]], com uma população bem acima de 100
=== Tenochtitlán ===
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[[Imagem:Tenochtitlan.jpg|thumb|Mapa da cidade insular de [[Tenochtitlán]]]]
A capital do império asteca era [[Tenochtitlan]], agora o local da moderna [[Cidade do México]]. Construída em uma série de ilhotas no [[Lago de Texcoco]], o plano da cidade foi baseado em um ''layout'' simétrico que a dividiu em quatro seções chamadas ''campan''. Tenochtitlan foi construída de acordo com um plano fixo e centrada em uma área ritualística, onde a [[Templo Mayor|Grande Pirâmide de Tenochtitlan]] foi erguida
O centro de Tenochtitlán era um espaço sagrado, uma área quadrada murada que abrigava o Grande Templo, templos para outras divindades, o campo de golfe, o ''calmecac'' (uma escola para os nobres)
==== Grande Templo ====
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O arqueólogo Eduardo Matos Moctezuma, em seu ensaio "Simbolismo do Templo Maior", supõe que a orientação do templo é indicativa da totalidade da visão que os mexicas tinham do universo ([[cosmovisão]]). Matos Moctezuma afirmou que o "centro principal, ou umbigo, onde os planos horizontal e vertical se cruzam, isto é, o ponto a partir do qual o plano celeste ou superior e o plano do submundo começam e as quatro direções do universo se originam, é o Templo Mayor de Tenochtitlan." Ele apoia sua suposição alegando que o templo age como uma personificação de um mito vivo onde "todo poder sagrado é concentrado e onde todos os níveis se cruzam."{{sfn|Matos Moctezuma|1987}}{{sfn|Matos Moctezuma|1988}}
=== Outras grandes cidades-
Outras grandes cidades astecas foram algumas das antigas cidades-
== Religião ==
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[[Imagem:Codex Borgia page 17.jpg|thumb|A divindade [[Tezcatlipoca]] retratada no Codex Borgia, um dos poucos códices pré-hispânicos existentes]]
As principais divindades adoradas pelos astecas eram [[Tlaloc]], uma divindade da chuva e tempestade; [[Huitzilopochtli]], uma divindade solar e tutelar da tribo dos [[mexicas]]; [[Quetzalcoatl]], uma divindade do vento, céu e estrela e herói cultural; e [[Tezcatlipoca]], uma divindade
=== Mitologia e cosmovisão ===
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A mitologia asteca é conhecida a partir de várias fontes escritas no período colonial. Um conjunto de mitos, chamado Lenda dos Sóis, descreve a criação de quatro sóis sucessivos, ou períodos, cada um governado por uma divindade diferente e habitado por um grupo diferente de seres. Cada período termina em uma destruição cataclísmica que prepara o cenário para o próximo período a começar. Nesse processo, as divindades [[Tezcatlipoca]] e [[Quetzalcoatl]] aparecem como adversários, cada um destruindo as criações do outro. O [[Sol]] atual, o quinto, foi criado quando uma divindade menor se sacrificou em uma fogueira e se transformou na estrela, mas o Sol só começa a se mover uma vez que as outras divindades se sacrificam e lhe oferecem sua força vital.{{sfn|Taube|1993|p=41–44}}
Em outro mito sobre como a [[Terra]] foi criada, Tezcatlipoca e Quetzalcoatl aparecem como aliados, derrotando um gigante crocodilo [[Cipactli]] e exigindo que
[[Huitzilopochtli]] é a divindade ligada à tribo dos [[mexicas]] e ele figura na história da origem e das migrações deste povo. Em sua jornada, Huitzilopochtli, na forma de um conjunto de divindades carregado pelo sacerdote mexica, incita continuamente a tribo, empurrando-a em conflito com seus vizinhos sempre que eles estão instalados em um lugar. Em outro mito, Huitzilopochtli derrota e desmembra a sua irmã, a divindade lunar [[Coyolxauhqui]] e seus quatrocentos irmãos na colina de Coatepetl. O lado sul do Grande Templo, também chamado de Coatepetl, era uma representação desse mito e, nas escadas, havia um grande [[monólito]] de pedra esculpido com uma representação da deusa desmembrada.{{sfn|Taube|1993|p=44–50}}
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[[Imagem:Monolito de la Piedra del Sol.jpg|thumb|A "pedra do calendário asteca" ou "[[Pedra do Sol]]", um grande monólito de pedra desenterrado em 1790 na [[Cidade do México]], representando as cinco eras da história mítica asteca, com imagens calendáricas]]
A vida religiosa asteca era organizada em torno dos [[Calendário asteca|calendários]]. Como a maioria dos [[Mesoamérica|povos mesoamericanos]], os astecas usavam dois calendários simultaneamente: um calendário ritual de 260 dias chamado ''[[tonalpohualli]]'' e um [[calendário solar]] de 365 dias chamado ''[[xiuhpohualli]]''. Cada dia tinha um nome e um número em ambos os calendários e a combinação de duas datas era única dentro de um período de 52 anos. O ''tonalpohualli'' era usado principalmente para propósitos divinatórios e consistia em sinais de 20 dias e coeficientes numéricos de 1–13 que rodavam em uma ordem fixa. O ''xiuhpohualli'' era composto de 18 "meses" de 20 dias, com um restante de 5 dias "vazios" no final de um ciclo antes
A cada 52 anos, os dois calendários chegavam ao seu ponto de partida compartilhado e começavam um novo ciclo. Este evento era celebrado com um ritual conhecido como ''Xiuhmolpilli'' ou a [[Cerimônia do Fogo Novo]]. Nesta cerimônia, a velha cerâmica era quebrada em todas as casas e todos os fogos no reino asteca eram apagados. Então um novo fogo era aceso sobre o peito de uma vítima sacrifical e corredores levavam o novo fogo para as diferentes comunidades de ''calpolli'', onde ele era redistribuído para cada lar. A noite sem fogo estava associada ao medo de que demônios estelares, ''tsitsimim'', pudessem descer e devorar a Terra, pondo fim ao período do quinto Sol.{{sfn|Elson|2001}}
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[[Imagem:Codex Magliabechiano (141 cropped).jpg|thumb|[[Sacrifício humano]] como mostrado no [[códice magliabechiano]]]]
Para os astecas, a [[morte]] era fundamental para a perpetuação da criação e tanto os deuses quanto os humanos tinham a responsabilidade de se sacrificar para permitir que a vida continuasse. Como descrito no [[mito da criação]] acima, os seres humanos eram entendidos como responsáveis pelo contínuo reavivamento do Sol, bem como pelo pagamento à Terra por sua contínua fertilidade.
Apesar
A escala do sacrifício humano asteca provocou muitos estudiosos a considerar o que pode ter sido o fator determinante por trás desse aspecto da religião asteca. Na década de 1970, Michael Harner e [[Marvin Harris]] argumentaram que a motivação
Embora haja consenso de que os astecas praticavam o sacrifício, restam discussões acadêmicas sobre se o canibalismo era generalizado. Harris, autor de ''Cannibals and Kings'' (1977), propagou a alegação, originalmente proposta por Harner, de que a carne das vítimas fazia parte de uma dieta [[aristocrática]] como recompensa, visto que a dieta asteca
== Produção artística e cultural ==
Os astecas apreciavam muito as artes e o artesanato que chamavam de ''toltecayotl'', que se referia aos [[toltecas]], que haviam habitado o centro do México antes da ascensão dos
=== Escrita e iconografia ===
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O epigrafista Alfonso Lacadena demonstrou que os diferentes sinais de sílaba usados pelos astecas quase permitiam a representação de todas as sílabas mais frequentes da [[língua náuatle]] (com algumas exceções notáveis),{{sfn|Lacadena|2008}} mas alguns estudiosos argumentaram que um grau tão alto de [[fonética]] só foi alcançado após a [[Conquista do Império Asteca|conquista espanhola]], quando os astecas foram introduzidos aos princípios da escrita fonética pelos [[espanhóis]].{{sfn|Zender|2008}} Outros estudiosos, notadamente Gordon Whittaker, argumentaram que os aspectos silábicos e fonéticos da [[Escrita asteca|escrita asteca]] eram consideravelmente menos sistemáticos e mais criativos do que sugere a proposta de Lacadena, argumentando que a escrita asteca nunca se fundiu num sistema estritamente silábico como a escrita maia, mas sim usava uma ampla gama de diferentes tipos de sinais fonéticos.{{sfn|Whittaker|2009}}
A imagem à direita demonstra o uso de sinais fonéticos para escrever nomes de lugares no Códice Asteca colonial de Mendoza. O lugar mais alto é "Mapachtepec", que significa literalmente "Na Colina do Guaxinim", mas o glifo inclui os sinais fonéticos "ma" (mão) e "pach" (musgo) sobre uma montanha "tepetl", soletrando a palavra "mapach" ("guaxinim") foneticamente em vez de logograficamente. Os outros dois nomes de lugares, "Mazatlan" ("lugar de muitos cervos") e "Huitztlan" ("lugar de muitos espinhos"), usam o elemento fonético ''"tlan"'' representado por um dente (''tlantli''), combinado com uma cabeça de veado para soletrar "maza" (''mazatl'' = veado) e um espinho (''huitztli'') para soletrar ''"huitz"''.{{sfn|Berdan|1997|p=116}}
=== Música, música e poesia ===
[[Imagem:Aztec_drums,_Florentine_Codex..jpg|thumb|esquerda|Cerimônia de "Uma Flor" celebrada com dois tambores, chamados de ''teponaztli'' (primeiro plano) e ''huehuetl'' (fundo). [[Historia general de las cosas de la Nueva España|Códice Florentino]]]]
Canção e poesia eram altamente respeitadas; havia apresentações e concursos de [[poesia]] na maioria dos [[festivais]] astecas. Havia também apresentações dramáticas que
Um aspecto chave da poética asteca foi o uso do [[paralelismo]], usando uma estrutura de dísticos incorporados para expressar diferentes perspectivas sobre o mesmo elemento.{{sfn|Bright|1990}} Alguns desses dísticos eram os [[difrasma]]s, metáforas convencionais em que um conceito abstrato era expresso metaforicamente usando dois conceitos mais concretos. Por exemplo, a expressão náuatle para "poesia" era ''xochitl in cuicatl'', um termo duplo que significa "a flor, a canção".{{sfn|Montes de Oca|2013|p=160}}
Uma quantidade notável desta poesia sobreviveu, tendo sido recolhida durante a época da conquista espanhola. Em alguns casos, a poesia é atribuída a autores individuais, como Nezahualcoyotl, ''tlatoani'' de [[Texcoco]], e Cuacuauhtzin, senhor de [[Tepechpan]], mas se essas atribuições refletem a autoria efetiva é uma questão de opinião. A coleção importante de tais poemas é ''[[Romances de los señores de la Nueva España]]'', recolhida (Tezcoco, 1582), provavelmente por [[Juan Bautista de Pomar]], e os ''[[Cantares Mexicanos]]''.{{sfn|León-Portilla|1992|p=14-15}}
=== Cerâmicas ===
Os astecas produziam [[cerâmica]]s de diferentes tipos. As chamadas cerâmicas
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}}
O preto asteca na cerâmica laranja classifica-se cronologicamente em quatro fases: Asteca I e II, correspondendo
Os utensílios típicos para uso diário eram frigideiras para cozinhar (''comalli''), tigelas e pratos para comer (''caxitl''), panelas para cozinhar (''comitl''), recipientes de argamassa com bases rasgadas para moer [[chili]] (''molcaxitl'') e diferentes tipos de [[braseiro]]s, pratos de tripé e taças bicônicas. As cerâmicas eram colocadas em [[forno]]s de correntes ascendentes simples ou até mesmo em queima aberta em fornos de poços a baixas temperaturas.{{sfn|Minc|2017}} Cerâmicas policromadas eram importadas da região de [[Cholula]] (também conhecida como estilo Mixteca-Puebla) e estas mercadorias eram altamente valorizadas como um artigo de luxo.{{sfn|Pasztory|1983|p=292}}
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[[Imagem:Codex_Borgia_page_71.jpg|thumb|esquerda|Página do [[Códice Borgia]], um códice dobrável pintado sobre pele de cervo preparada com gesso]]
A arte pintada asteca foi produzida na pele de animais (principalmente veados), em panos de algodão e em papel [[amate]] feito de casca de plantas (por exemplo de ''[[Trema micrantha]]'' ou ''[[Ficus aurea]]'')
Há poucos [[códices astecas]]. Destes, nenhum deles foi conclusivamente confirmado como tendo sido criado antes da conquista, mas vários códices devem ter sido pintados antes da conquista ou logo depois - antes que as tradições para produzi-los fossem muito deformadas. Mesmo que alguns códices possam ter sido produzidos após a conquista, há uma boa razão para pensar que eles podem ter sido copiados de originais pré-colombianos por [[escriba]]s. O [[Codex Borbonicus]] é considerado por alguns como o único códice asteca produzido antes da conquista - é um códice de calendários que descreve as contagens de dias e meses que indicam as divindades patronas dos diferentes períodos de tempo.{{sfn|Batalla|2016}} Outros consideram que ele possui traços estilísticos que sugerem uma produção pós-conquista.{{sfn|Nowotny|2005}}
Alguns códices produzidos pós-conquista, às vezes encomendados pelo governo colonial, por exemplo, o [[Codex Mendoza]], foram pintados por ''tlacuilos'' astecas (criadores de códices), mas sob o controle das autoridades espanholas, que às vezes também encomendavam códices descrevendo práticas religiosas pré-coloniais, por exemplo o [[Codex Ríos]]. Após a conquista, códices com informações calendárias ou religiosas foram procurados e sistematicamente destruídos pela igreja - enquanto outros tipos, particularmente narrativas históricas e listas de tributos
=== Escultura ===
[[Imagem:Coatlicue.jpg|thumb|A estátua de [[Coatlicue]] no [[Museu Nacional de Antropologia (México)|Museu Nacional de Antropologia]]]]
Esculturas foram esculpidas em pedra e madeira, mas poucas das de madeira sobreviveram. Esculturas de pedra asteca existem em vários tamanhos, desde pequenas figuras e máscaras a grandes monumentos, e são caracterizadas por uma alta qualidade de artesanato.{{sfn|Nicholson|1968}} Muitas esculturas foram
Nas obras de arte astecas, várias esculturas monumentais de pedra foram preservadas e elas geralmente funcionavam como adornos para a arquitetura religiosa.
Dois tipos importantes de escultura são únicos para os astecas e relacionados ao contexto do sacrifício ritual: os ''cuauhxicalli'' ou "vasos de águia", grandes taças de pedra com a forma de [[águia]]s ou [[jaguar]]es usadas como receptáculo para [[corações humanos]] extraídos durante os sacrifícios; o ''temalacatl'', um disco monumental de pedra esculpida ao qual os prisioneiros de guerra eram amarrados e sacrificados, um tipo de combate de "[[gladiador]]es". Os exemplos mais conhecidos desse tipo de escultura são a [[Pedra de Tizoc]] e a [[Pedra de Motecuzoma I]], ambas esculpidas com imagens de guerra e conquistas feitas por governantes astecas específicos.
=== Arte com plumas ===
[[Imagem:Federschild-Sonne-1rhb-cr-b.jpg|thumb|esquerda|Escudo de penas asteca exibindo o design de "traste escalonado" chamado xicalcoliuhqui em Nahuatl (por volta de 1520, Landesmuseum Württemberg)]]
Uma forma de arte especialmente apreciada entre os astecas era o trabalho com plumas e penas - a criação de mosaicos intrincados e coloridos de penas e o uso delas em vestimentas, bem como a decoração de armas, bandeiras de guerra e trajes de guerreiros. A classe de artesãos altamente qualificados e honrados que
== Legado ==
[[imagem:CodexMendoza01.jpg|thumb|[[Codex Mendoza]], representação de meados do {{séc|XVI}} da águia em um cacto, o mito fundador dos astecas{{sfn|Berdan|1997|p=3}}]]
Atualmente, o legado dos astecas vive no [[México]] de muitas maneiras. Sítios arqueológicos são escavados e abertos ao público e seus artefatos são exibidos em destaque nos museus. Os nomes de lugares e empréstimos da língua asteca
Durante o {{séc|XIX}}, a imagem dos astecas como [[bárbaros]] não civilizados foi substituída por visões romantizadas dos astecas como filhos originais do solo, com uma cultura altamente desenvolvida, que rivalizava com as antigas civilizações europeias. Quando o [[Guerra da Independência do México|México tornou-se independente da Espanha]], uma versão glorificada dos astecas transmutou-se numa fonte de imagens que poderiam ser usadas para fundamentar a nova nação como uma mistura única de europeus e nativos americanos.{{sfn|Keen|1971|p=310-370}}
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[[Imagem:Verdadero retrato de Santa María Virgen de Guadalupe.jpg|thumb|esquerda|upright|[[Virgem de Guadalupe]] e os símbolos da fundação de [[Tenochtitlan]], Josefus De Ribera Argomanis. (1778)]]
No campo religioso, pinturas coloniais tardias da [[Virgem de Guadalupe]]
Quando a [[Nova Espanha]] alcançou a independência em 1821 e se tornou uma monarquia, o [[Primeiro Império Mexicano]], sua [[Bandeira do México|bandeira]] tinha a tradicional águia asteca em um cacto nopal. A águia tinha uma coroa, simbolizando a nova monarquia mexicana. Quando o México converteu-se numa república após a derrubada da primeira monarquia em 1822, a bandeira foi revisada, mostrando a águia sem a coroa. Na década de 1860, quando os [[franceses]] fundaram o [[Segundo Império Mexicano]] sob o comando de [[Maximiliano do México|Maximiliano Habsburgo]], a [[bandeira mexicana]] manteve a emblemática águia e o cacto, com elaborados símbolos da monarquia. Após a derrota dos franceses e de seus colaboradores mexicanos, a República Mexicana foi restabelecida e a bandeira retornou à sua simplicidade republicana.{{sfn|Galindo Leal|2017}} Este emblema também foi adotado como o [[brasão nacional do México]] e é estampado em prédios, selos e símbolos oficiais.{{sfn|Berdan|1997|p=3}}
As tensões dentro do México pós-independência opunham os que rejeitavam as antigas civilizações do país como fonte de orgulho nacional: os ''hispanistas'', principalmente elites mexicanas politicamente conservadoras, e os ''indigenistas'', que os viam como uma fonte de orgulho e que eram principalmente elites mexicanas liberais. Embora a bandeira da República do México tivesse o símbolo dos astecas como seu elemento central, as elites conservadoras eram geralmente hostis às atuais populações indígenas ou de creditá-las com uma gloriosa história pré-hispânica. Sob o presidente mexicano [[Antonio López de Santa Anna]], os intelectuais pró-indigenistas mexicanos não encontraram um grande público. Com a derrubada de Santa Anna em 1854, os liberais e acadêmicos mexicanos interessados no passado indígena tornaram-se mais ativos. Os liberais se inclinavam mais favoravelmente às populações indígenas e à sua história, mas consideravam uma questão urgente o "problema indígena". O compromisso dos liberais com a [[igualdade perante a lei]] significava que para os indígenas ascendentes, como o [[zapoteca]] [[Benito Juárez]], que subiu nas fileiras dos liberais para se tornar o primeiro presidente de origens indígenas do país, e o intelectual e político [[Náuatles|náuatle]] [[Ignacio Altamirano]], um discípulo de [[Ignacio Ramírez]] e defensor dos direitos dos indígenas, o liberalismo apresentava um caminho. Para investigações do passado indígena do México, no entanto, o papel do liberal moderado [[José Fernando Ramírez]] é importante, atuando como diretor do Museu Nacional e fazendo pesquisas utilizando os códices, enquanto se mantinha fora dos conflitos ferozes entre liberais e conservadores que levaram a uma década de guerra civil. Os acadêmicos mexicanos que pesquisaram os astecas no final do {{séc|XIX}} foram Francisco Pimentel, Antonio
[[Imagem:MonumentCuauhtemocPaseo2.jpg|thumb|upright|Monumento a [[Cuauhtémoc]], inaugurado em 1887 por [[Porfirio Díaz]] na [[Cidade do México]]]]
O final do {{séc|XIX}} no México foi um período em que a civilização asteca consolidou-se como um ponto de orgulho nacional. A era foi dominada pelo herói militar liberal
A [[Revolução Mexicana]] {{nwrap||1910|1920}} e a participação significativa dos povos indígenas na luta em muitas regiões desencadearam um amplo movimento político e cultural de [[indigenismo]], patrocinado pelo governo, quando os símbolos do passado asteca do México se
Em suas obras, autores
=== Estudo asteca ===
[[Imagem:Piedra_del_sol_Porfirio_Diaz.png|thumb|esquerda|upright|Presidente [[Porfirio Díaz]] em 1910 no [[Museu Nacional de Antropologia (México)|Museu Nacional de Antropologia]] com a [[Pedra do Sol]]]]
A partir do {{séc|XIX}}, estudiosos na [[Europa]] e nos [[Estados Unidos]]
Nos Estados Unidos, no início do {{séc|XIX}}, o interesse pelo antigo México impulsionou [[John Lloyd Stephens]] a viajar para o México e depois publicar relatos bem ilustrados no início da década de 1840. Mas a pesquisa de um homem parcialmente cego de [[Boston]], [[William Hickling Prescott]], sobre a conquista espanhola do México resultou em sua obra altamente popular e profundamente pesquisada, ''The Conquest of Mexico'' (1843). Embora não tenha sido formalmente treinado como [[historiador]], Prescott recorreu às óbvias fontes espanholas, mas também à história da conquista de Ixtlilxóchitl e [[Sahagún]]. Seu trabalho resultante foi uma mistura de atitudes pró e anti-asteca. Não foi apenas um ''[[best-seller]]'' em [[Língua inglesa|inglês]], também influenciou intelectuais mexicanos, incluindo o principal político conservador, [[Lucas Alamán]]. Na avaliação de [[Benjamin Keen]], a história de Prescott "sobreviveu a ataques de todos os quadrantes e ainda domina as concepções dos leigos, se não do especialista, sobre a civilização asteca".{{sfn|Keen|1971|p=363}}
No final do {{séc|XIX}}, o empresário e historiador [[Hubert Howe Bancroft]] supervisionou um grande projeto, empregando escritores e pesquisadores, para escrever a história das "raças nativas" da [[América do Norte]], incluindo México, [[Califórnia]] e [[América Central]]. Um trabalho inteiro foi dedicado ao Antigo México, metade
=== Idioma e nomes de lugares ===
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[[Imagem:Acercamiento chapulines Oaxaca.jpg|thumb|Chapulinos, [[gafanhoto]]s torrados e polvilhados com pimentas, continuam a ser uma iguaria popular]]
A [[Culinária do México|cozinha mexicana]] continua a ser baseada em elementos básicos da culinária mesoamericana e, particularmente, da [[culinária asteca]]: [[milho]], [[pimenta]], [[feijão]], [[abóbora]], [[tomate]] e [[abacate]]. Muitos desses produtos básicos continuam a ser conhecidos por seus nomes náuatles, levando assim aos laços com o povo asteca que introduziu esses alimentos aos espanhóis e ao mundo. Através da disseminação de antigos elementos alimentares mesoamericanos, particularmente plantas, palavras emprestadas do náuatle ([[chocolate]], tomate, pimenta, abacate, [[tamale]], [[Taco (culinária)|taco]], [[pupusa]], [[chipotle]], [[pozole]], [[atole]]) foram levadas, através do espanhol, para outras línguas em todo o mundo.{{sfn|Haugen|2009}} Através da difusão e da popularidade da culinária mexicana, pode-se dizer que o legado culinário dos astecas tem alcance global. Hoje, imagens astecas e palavras náuatle são frequentemente usadas para dar um ar de autenticidade ou exotismo na comercialização da culinária mexicana.{{sfn|Pilcher|2017|p=184–185}}
=== Na cultura popular ===
A cultura dos astecas cativou a imaginação dos europeus desde os primeiros encontros e forneceu muitos símbolos icônicos à cultura popular ocidental.{{sfn|Cooper Alarcón|1997}} Em seu livro ''The Aztec Image in Western Thought'', Benjamin Keen argumentou que os pensadores ocidentais geralmente viam a cultura asteca através de um filtro de seus próprios interesses culturais.{{sfn|Keen|1971}}
Os astecas e as figuras da [[mitologia asteca]] figuram na cultura ocidental.{{sfn|Carrasco|2012|p=112–120}} O nome de [[Quetzalcoatl]], um deus serpente emplumado, tem sido usado para um gênero de [[pterossauro]]s, ''[[Quetzalcoatlus]]'', um grande réptil voador com uma envergadura de até 11 metros.{{sfn|Witton|2010}} Quetzalcoatl apareceu também como personagem em muitos livros, filmes e videogames. [[D. H. Lawrence]] deu o nome de Quetzalcoatl a um rascunho inicial de seu romance ''The Plumed Serpent'', mas seu editor, Alfred A. Knopf, insistiu em uma mudança de título.{{sfn|Martz|1998|p=iv, ix}} O autor estadunidense [[Gary Jennings]] escreveu dois aclamados romances históricos ambientados no México, ''Aztec'' (1980) e ''Aztec Autumn'' (1997).{{sfn|Smith|1999}} Os romances
A sociedade asteca também foi retratada no cinema. O filme mexicano ''La Otra Conquista'', de 2000, foi dirigido por Salvador Carrasco e ilustrou o resultado colonial da conquista espanhola do México na década de 1520. Adotou a perspectiva de um escriba asteca, Topiltzin, que sobreviveu ao ataque ao templo de [[Tenochtitlan]].{{sfn|O'Leary|2007}} O filme ''Retorno a Aztlán'' de 1989 de Juan Mora Catlett é uma obra de ficção histórica ambientada durante o governo de [[Moctezuma I]], filmado em náuatle e com o título alternativo ''Necuepaliztli em Aztlan''.{{sfn|NAF|2019}}{{sfn|Mora|2005|p=212}} Nos [[Filme B|filmes B]] da década de 1970, uma figura recorrente era a "múmia asteca", assim como os fantasmas e feiticeiros astecas.{{sfn|Greene|2012}}
== Ver também ==
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