Jan Huygen van Linschoten: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 19:
'''Jan Huygen van Linschoten''' ([[Haarlem]], [[1563]] – [[Enkhuizen]], [[8 de Fevereiro]] de [[1611]]), por vezes grafado '''Jan Huijgen van Linschoten''', foi um explorador [[Países Baixos|neerlandês]] que viajou extensamente pelas zonas de influência [[Portugal|portuguesa]] na [[Ásia]]. Convivendo intimamente com mercadores e navegadores portugueses, Linschoten terá copiado mapas e obtido outras informações sobre a navegação e práticas mercantis daquela nação na Ásia, que permitiram a entrada dos seus compatriotas nas então denominadas Índias Orientais e, na senda destes, dos [[Inglaterra|ingleses]]. O interesse despertado nos Países Baixos e na Inglaterra pelas informações de viajantes como Linschoten e [[Cornelis de Houtman]], esteve na origem do movimento de expansão comercial para a [[Índia]] e sueste asiático que levou à fundação da [[Companhia Neerlandesa das Índias Orientais]] e da [[Companhia Britânica das Índias Orientais]].<ref name="CK">Cornelis Koeman, "Jan Huygen Van Linschoten", in ''Revista da Universidade de Coimbra'', vol. XXXII, pp. 27-47. Coimbra, 1985.</ref><ref>[[Pieter Anton Tiele]], "Introduction" à reedição da versão em língua inglesa do ''Itinerario'' promovida pela [[Hakluyt Society]], Londres, 1885. [cf.: [[Arthur Coke Burnell]] (editor), ''[https://books.google.pt/books?id=zgckDwAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false The Voyage of John Huyghen van Linschoten to the East Indies: From the Old English Translation of 1598. The First Book, containing his Description of the East'', Volume 1]. London : Taylor & Francis, 1885].</ref><ref>Roelof van Gelder, Jan Parmentier & Vibeke Roeper (edts.), ''Souffrir pour parvenir. De wereld van Jan Huygen van Linschoten''. Haarlem: Arcadia, 1998.</ref><ref>Arub Saldanha, "The itineraries of geography: Jan Huygen van Linschoten's Itinerario and the first Dutch expeditions to the Indian Ocean, 1595-1602", in Shanti Moorthy & Ashraf Jamal (eds.), ''Indian Ocean Studies: Cultural, Social, and Political Perspectives''. New York: Routledge, 2011.</ref>
== Biografia ==
Jan Huygen era filho de um notário da cidade de [[Haarlem]], mas na sua infância a família fixou-se na aldeia de [[Enkhuizen]]. A adopção do apelido ''van Linschoten'' parece indicar que a sua família era originária da aldeia do mesmo nome, [[Linschoten]], nos arredores de [[Utreque]].<ref name="ihit">Jan Parmentier, «"Souffrir pour parvenir". The Life and Adventures of Jan Huygen van Linschoten, 1562-1611» in ''Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira'', vol. LV (1997), pp. 9-29. IHIT, Angra do Heroísmo, 1997.</ref>
 
Partiu para [[Espanha]] em Dezembro de [[1576]], com 16 anos de idade, para se juntar aos seus meio-irmãos Floris e Willelm Tin, que eram mercadores em [[Sevilha]].<ref name="CK"/> Ali fez a sua aprendizagem nas artes do comércio internacional, acabando por se associar a mercadores portugueses e trabalhando entre [[Lisboa]] e Sevilha, actividade que manteve durante pelo menos seis anos. Para além de gosto por viagens, Jan Huygen era dotado para a aprendizagem das línguas.<ref>[[Abraham van der Moer]], ''Een zestiende-eeuwse Hollander in het verre Oosten en het hoge Noorden: leven en werken, reizen en avonturen van Jan Huyghen van Linschoten (1563-1611)''. Edit. Martinus Nijhoff, 's-Gravenhage, 1979 (ISBN 90-247-2149-0).</ref>
 
Dificuldades no comércio, o desejo de aventura ou eventualmente uma missão de espionagem comercial a soldo de mercadores neerlandeses e flamengos, fizeram com que, apesar de originariamente protestante, aceitasse acompanhar, na qualidade de guarda-livros, o [[Ordem dos Pregadores|dominicano]] frei [[Vicente da Fonseca]], nomeado arcebispo de [[Goa]]. Desse modo, integrado na comitiva do prelado, partiu para o [[Estado da Índia]] a [[8 de Abril]] de [[1583]], chegando a Goa cinco meses depois, tendo feito as escalas usuais na [[ilha da Madeira]], na [[Guiné]], no [[cabo da Boa Esperança]], em [[Madagáscar]] e em [[Moçambique]].<ref name="ihit"/>
 
Durante a sua estadia em Goa e nas suas viagens, Jan Huyghens teve acesso a mapas e a outras informações privilegiadas sobre o comércio e navegação dos portugueses no sueste asiático, utilizando a sua capacidade [[cartografia|cartográfica]] e de desenho para copiar e desenhar novos [[mapa]]s, produzindo um muito considerável acervo de informação náutica e mercantil. Algumas das cartas náuticas que copiou tinham sido mantidas cuidadosamente secretas por mais de um século.<ref name="ihit"/>
 
A morte do arcebispo em [[1587]], durante uma viagem a [[Lisboa]], fez com que Jan Huygen deixasse a Índia e regressasse à [[Europa]]. Partiu de Goa em Janeiro de [[1589]], escalando a [[ilha de Santa Helena]] em Maio daquele ano.
 
A viagem de regresso foi interrompida nos [[Açores]], na altura da [[ilha do Corvo]], quando o comboio de seis embarcações em que viajava (cinco da Índia e uma de [[Malaca]]), começou a ser perseguido por [[galeão|galeões]] [[corsário]]s ingleses,<ref>No contexto do ataque e derrota da [[Invencível Armada]] espanhola, no ano anterior ([[1588]]).</ref> forçando a que as embarcações portuguesas se dirigissem a Angra, na [[Terceira]], em busca de refúgio. A [[4 de agosto]], entretanto, uma violenta tempestade abateu-se sobre a cidade e os navios ancorados na baía, vindo o galeão de Malaca a naufragar.<ref name="ihit"/> Sobre este infausto, o próprio Linschoten referiu, posteriormente, no seu ''Itinerario'':
 
:"''Neste naufrágio da nau de Malaca perderam-se muitas valiosas mercadorias, pois era a mais rica de todas as naus, e trazia da China, das Molucas e de outras ilhas muitas preciosidades, tais como sedas, damascos, objetos de ouro e de prata, porcelanas e outras coisas de valor, cujos fardos andava à tona de água e vinham dar à costa, recolhendo-se ainda alguns, bem como alguma quantidade de pimenta, cravo e noz moscada (…). Estes despojos foram levados para a Alfândega, que é o lugar dos impostos, a fim de que não deixassem de pagar a sua taxa, não havendo consideração pela condição miserável daqueles que, depois de fadigas incríveis e da miséria extrema da viagem de três anos, tinham sofrido uma tão grande perda com o naufrágio desta nau.''" (''Itinerário'')
Linha 58:
 
A versão integral da sua obra ''«Itinerario: Voyage ofte schipvaert van Jan Huyghen van Linschoten naer Oost ofte Portugaels Indien, 1579-1592»'' foi publicada em português por iniciativa da [[Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses]] no ano de 1997.<ref>Jan Huygen van Linschoten, ''Itinerário, viagem ou navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas'' (edição de Arie Pos e Rui Manuel Loureiro). Lisboa : Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997.</ref>
 
== Obras publicadas ==
* ''Reys-gheschrift vande navigatien der Portugaloysers in Orienten'' (1595);