Línguas celtas: diferenças entre revisões

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*'''Ramo celta nuclear''', que se subdivide em pelo menos três ramos, dos quais dois contêm apenas línguas extintas:
**Sub-ramo cisalpino: inclui o [[Língua gaulesa|gaulês]] propriamente dito e línguas de parentesco próximo como o [[Língua lepôntica|lepôntico]] e o [[língua nórica|nórico]]. Essas línguas eram faladas em um vasto território na EuroapEuropa, desde a [[Bélgica]] moderna ao norte da [[Península Itálica|península itálica]]. Todas as línguas do sub-ramo gaulês estão extintas.
**Sub-ramo gálata: inclui o [[Língua gálata|gálata]] propriamente dito, antigamente falado na região da atual [[Turquia]], há séculos já extinto.
**Sub-ramo celta insular: inclui as línguas celtas vivas nos dias atuais, as quais se subdidivemsubdividem em duas linhagens:
***[[Línguas goidélicas]]: incluem o [[língua irlandesa|irlandês]], o [[língua gaélica escocesa|gaélico escocês]] e o [[língua manx|manês]]. O irlandês é falado atualmente em partes da atual [[República da Irlanda|Irlanda]], mas há registros de falantes do irlandês na costa sudoeste da [[Inglaterra]] e nas costas norte e sul do [[País de Gales|País de Gales.]]
***[[Línguas britônicas]]: inclui o [[língua galesa|galês]], o [[língua bretã|bretão]], o [[língua córnica|córnico]], o [[língua cúmbrica|cúmbrico]] e possivelmente o [[língua picta|picto]], embora este possa constituir um ramo separado ao invés de descender do britônico comum. Destas línguas, apenas o galês e o bretão são falados nos dias atuais.
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** O [[Língua galaica|galaico]], falado antigamente na [[Galécia]], atual Espanha.
** O [[Língua lusitana|lusitano]], falado antigamente no sul de Portugal.
*'''Ramo venético''': inclui o [[Língua venética|venético]] propriamente dito, falado outrora no norte da Itália. O venético é atestado em inscrições breves datando de vários séculos antes da conquista da Península Itálica pelos romanos. ExtindoExtinto há séculos.
 
=== Desafios e controvérsias na classificação ===
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estudiosos distinguem o celta-P do celta-Q, colocando a maioria das línguas celtas continentais no primeiro grupo (exceto pela celtibérica, que é celta-Q).
 
A língua bretã é britônica, não gaulesa, embora possa haver influência desta. Quando os [[anglo-saxões]] chegaram na [[Grã-Bretanha]], várias ondas de [[bretões]] ou [[galeses]] cruzaram o [[canal da Mancha]] e desembarcaram na região da atual França conhecida como [[Bretanha]]. Os imigrantes britônicos levaram consigo sua língua, que evoluiu para o bretão – que ainda é parcialmente inteligível com o galês moderno e o córnico.[[Ficheiro:Celtic Nations.svg|right|thumb|upright=1.0|[[Nações celtas]]: onde concentra-se atualmente a maioria dos falantes de línguas celtas.]]No sistema de classificação P/Q, a primeira língua a se separar do proto-celta foi a gaélica. Ela possui características que alguns estudiosos veem como arcaicas, mas outros também a veem como pertencente às línguas britônicas (ver Schmidt). Com o sistema de classificação insulares/continentais, a divisão da primeira em gaélicas e britônicas é vista como sendo posterior.
 
[[Ficheiro:Celtic Nations.svg|right|thumb|upright=1.0|[[Nações celtas]]: onde concentra-se atualmente a maioria dos falantes de línguas celtas.]]
A distinção do celta nessas quatro subfamílias ocorreu muito provavelmente por volta de 900 a.C., de acordo com Gray e Atkinson, mas, por causa de incertezas de estimativas, poderia ser qualquer época entre 1200 e 800 a.C. Contudo, eles levaram em consideração apenas a gaélica e a britônica. O artigo controverso de Forster e Toth incluiu a gaulesa e estabeleceu a ruptura muito antes, em 3200 a.C. Eles apóiam a hipótese celta insular. Os primeiros celtas geralmente eram associados arqueologicamente com a [[cultura dos Campos de Urnas]], a [[cultura de Hallstatt]] e a [[cultura de La Tène]], embora a antiga suposição de associação entre língua e cultura seja agora considerada menos forte.
No sistema de classificação P/Q, a primeira língua a se separar do proto-celta foi a gaélica. Ela possui características que alguns estudiosos veem como arcaicas, mas outros também a veem como pertencente às línguas britônicas (ver Schmidt). Com o sistema de classificação insulares/continentais, a divisão da primeira em gaélicas e britônicas é vista como sendo posterior.
 
A distinção do celta nessas quatro subfamílias ocorreu muito provavelmente por volta de 900 a.C., de acordo com Gray e Atkinson, mas, por causa de incertezas de estimativas, poderia ser qualquer época entre 1200 e 800 a.C. Contudo, eles levaram em consideração apenas a gaélica e a britônica. O artigo controverso de Forster e Toth incluiu a gaulesa e estabeleceu a ruptura muito antes, em 3200 a.C. Eles apóiamapoiam a hipótese celta insular. Os primeiros celtas geralmente eram associados arqueologicamente com a [[cultura dos Campos de Urnas]], a [[cultura de Hallstatt]] e a [[cultura de La Tène]], embora a antiga suposição de associação entre língua e cultura seja agora considerada menos forte.
 
==== Celta-P e Celta-Q ====
Há dois sistemas concorrentes principais de categorização. O sistema mais antigo, sustentado por Schmidt (1988), entre outros, liga a gaulesa com a britônica em um nó ''[[Hipótese celta-P|celta-P]]'', originalmente deixando apenas a goidélica como ''[[Hipótese celta-Q|celta-Q]]''. A diferença entre línguas P e Q é o tratamento do *''k<sup>w</sup>'' [[Língua proto-celta|proto-celta]], que se tornou *''p'' nas línguas celtas-P mas *''k'' nas goidélicas. Um exemplo é a raiz verbal proto-celta *''k<sup>w</sup>rin-'' "comprar", que se tornou ''pryn-'' em galês, mas ''cren-'' em [[Língua irlandesa antiga|irlandês antigo]]. Entretanto, uma classificação baseada em uma única característica é vista como arriscadas por seus críticos, particularmente porque a mudança sonora ocorre em outros grupos lingüísticoslinguísticos ([[Língua osca|osco]] e [[Língua grega|grego]]).
 
O outro sistema, defendido, por exemplo, por McCone (1996), liga a goidélica e a britônica como um ramo [[Línguas celtas insulares|celta insular]], enquanto a gaulesa e a celtibérica são referidas como [[Línguas celtas continentais|celtas continentais]]. De acordo com essa teoria, a mudança sonora "celta-P" de {{IPA|[kʷ]}} para {{IPA|[p]}} ocorreu de maneira independente ou [[característica areal|arealmente]]. Os defensores da hipótese celta insular apontam para outra inovações compartilhadas entre as línguas celtas insulares, incluindo preposições não-flexionadas, ordem sintática VSO e a lenição de {{IPA|[m]}} intervocálico para {{IPA|[β̃]}}, uma [[fricativa bilabial sonora]] [[nasalização|nasalizada]] (um som extremamente raro). Porém, não se supõe que as línguas celtas continentais descendam de uma ancestral "proto-celta continental" comum. O sistema insular/continental, por sua vez, geralmente considera o celtibérico como o primeiro ramo a se separar do proto-celta, e o grupo restante posterioramenteposteriormente teria se dividido em gaulês e celta insular.
 
Há argumentos acadêmicos legítimos em favor tanto da hipótese celta insular como da hipótese celta-P/celta-Q. Os defensores de cada sistema contestam a precisão e a utilidade das categorias do outro. Porém, desde a década de 1970 a divisão em celta insular e continental se tornou a mais amplamente aceita (Cowgill 1975; McCone 1991, 1992; Schrijver 1995).
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Dentro da família [[Línguas indo-européias|indo-europeia]], as línguas celtas algumas vezes foram colocadas com as [[línguas itálicas]] em uma subfamília [[ítalo-celta]] comum. O ramo ítalo-celta seria um agrupamento dos ramos itálico e celta da família de línguas indo-europeias com base em características compartilhadas por esses dois ramos e nenhum outro. Contudo, há controvérsias sobre as causas dessas semelhanças<ref>{{citar periódico|ultimo=Watkins|primeiro=Calvert|data=1966|titulo=Italo-Celtic revisited|url=|jornal=Ancient Indo-European dialects|acessodata=}}</ref>.
 
Os pontos semelhantes entre os dois ramos poderiam ter convergido através de inovações independentes, as quais teriam se desenvolvido após a dispersão inicial dos falantes da língua proto-indo-europeia. É possível, contudo, que algumas das semelhanças não sejam inovações, mas sim traços retidos da língua ancestral, ou seja, características da língua proto-indo-europeia originais que desapareceram em todos os outros ramos da família linguística. Há também uma hipótese de [[Contacto linguístico|contato lingüísticolinguístico]] entre as comunidades falantes do proto-celta e do proto-itálico. Alguns estudiosos ainda consideram a hipótese do ítalo-celta válida.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/166291751|título=Italo-Celtic origins and prehistoric development of the Irish language|ultimo=1946-|primeiro=Kortlandt, F. H. H. (Frederik Herman Henri),|data=2007|editora=Rodopi|local=Amsterdam|isbn=9781429481304|oclc=166291751}}</ref>
 
Além das semelhanças [[Morfossintaxe|gramaticais]], há diversas palavras do vocabulário básico das línguas celtas e itálicas que apresentam um maior número de [[Cognato|cognatos]] e, dentre os cognatos, maior semelhança [[fonética]] entre si que comparadas a palavras dos demais ramos, sobretudo no que tange às [[Consoante|consoantes]]. A tabela abaixo [[Linguística comparativa|compara palavras]] do português (ramo itálico) com o galês moderno (ramo celta) e línguas indo-europeias de outros ramos tais como [[Língua islandesa|islandês moderno]] ([[Línguas germânicas|ramo germânico]]), [[Polonês (idioma)|polonês]]/polaco ([[Línguas eslavas|ramo eslavo]]) e [[Língua arménia|armênio moderno]] (ramo armênico):