Raça (categorização humana): diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m
m Foram revertidas as edições de Juan M.S. Arteaga para a última revisão de CarlosCunha, de 12h04min de 22 de fevereiro de 2019 (UTC)
Etiqueta: Reversão
Linha 1:
{{Raça}}
'''Raça''' pode ser entendida como um [[constructo social]], usado para distinguir pessoas em termos de uma ou mais marcas físicas.<ref>{{Citar web|título=Definition of race&nbsp;– ethnic group, anthropology, personal attribute|url=http://oxforddictionaries.com/definition/english/race--2|obra=Oxford Dictionaries|publicado=Oxford University Press|acessodata=5 de outubro de 2012|citação=a group of people sharing the same culture, history, language, etc.}}</ref><ref name="Keita1">{{citar periódico|último =Keita|autor2 =Kittles, Royal, Bonney, Furbert-Harris, Dunston, Rotimi|periódico=Nature|ano=2004|volume=36|número=11s|páginas=S17–S20|doi=10.1038/ng1455|url=http://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/full/ng1455.html|citação=Religious, cultural, social, national, ethnic, linguistic, genetic, geographical and anatomical groups have been and sometimes still are called 'races'|pmid=15507998|título=Conceptualizing human variation|primeiro1 =S O Y|último3 =Royal|primeiro3 =C D M|último4 =Bonney|primeiro4 =G E|último5 =Furbert-Harris|primeiro5 =P|último6 =Dunston|primeiro6 =G M|último7 =Rotimi|primeiro7 =C N}}</ref> Em outras palavras, ''raça'' é uma categoria usada para se referir a um grupo de pessoas cujas marcas físicas são consideradas socialmente significativas. Desse modo, ''raça'' é um importante instrumento analítico para a [[Sociologia]], pois entende-se que as percepções e concepções de raça podem afetar e organizar a vida social das pessoas, sendo responsável principalmente pela criação e manutenção de um sistema de desigualdade social.<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/123941688|título=La razón salvaje : la lógica del dominio : tecnociencia, racismo y racionalidad|ultimo=Sánchez Arteaga, Juanma, 1974-|data=2007|editora=Lengua de Trapo|isbn=848381000X|oclc=123941688}}</ref><ref>{{citar livro|nome = Florestan|sobrenome = Fernandes|título = A Integração do Negro na Sociedade de Classes|ano = 1978|isbn = }}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo = Guimarães|primeiro = A. S. A.|titulo = Racismo e Anti-Racismo no Brasil|jornal = |doi = |url = http://novosestudos.org.br/v1/files/uploads/contents/77/20080626_racismo_e_anti_racismo.pdf|acessadoem = }}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo = Hasenblag, Silva|primeiro = C., N. V.|titulo = Relações Raciais no Brasil Contemporâneo|jornal = |doi = |url = |acessadoem = }}</ref>
 
Usado em primeiro lugar para se referir a falantes de uma [[idioma]] comum e, posteriormente, para denotar filiações [[Nação|nacionais.]] No século XVII, iniciou-se o uso do termo para relacionar os [[Fenótipo|traços físicos observáveis]] das pessoas. Tal uso promoveu hierarquias favoráveis ​​a diferentes [[grupos étnicos]]. A partir do século XIX, o termo passou a ser usado frequentemente, em um sentido [[Taxonomia|taxonômico]], para designar as populações humanas geneticamente diferentes, definidas pelo fenótipo. As concepções sociais e agrupamentos de [[raça]]s variaram ao longo do tempo, envolvendo taxonomias populares<ref name="montagu">''See:''
Linha 11:
 
== Conceito ==
Concepções de raça (em [[taxonomia]], raça é o mesmo que [[subespécie]]), bem como as formas específicas de agrupá-las, variam de cultura em cultura e através do tempo, e são frequentemente [[controvérsia|controvertidas]] por razões científicas, [[identidade social|sociais]] e [[identidade política|políticas]] <ref>{{Citar periódico|ultimo=Sánchez-Arteaga|primeiro=Juanma|ultimo2=Rasella|primeiro2=Davide|ultimo3=Garcia|primeiro3=Laia Ventura|ultimo4=El-Hani|primeiro4=Charbel|data=2015-9|titulo=Alterização, biologia humana e biomedicina|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662015000300615&lng=pt&nrm=iso&tlng=en|jornal=Scientiae Studia|lingua=en|volume=13|numero=3|paginas=615–641|doi=10.1590/S1678-31662015000300007|issn=2316-8994}}</ref>. A controvérsia, finalmente, gira em torno da questão de se as raças são ou não tipos naturais ou socialmente construídos, e o grau no qual diferenças observadas em capacidade e realizações, categorizadas em bases raciais, são um produto de fatores herdados (isto é, genéticos) ou de fatores ambientais, sociais e culturais.
 
Alguns argumentam que embora "raça" seja um conceito taxonômico válido em outras espécies, não pode ser aplicada a [[humano]]s.<ref>S O Y Keita, R A Kittles, C D M Royal, G E Bonney, P Furbert-Harris, G M Dunston & C N Rotimi, 2004 "Conceptualizing human variation" in ''Nature Genetics'' 36, S17 - S20 [http://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/full/ng1455.html Conceitualizando a variedade humana]</ref> Muitos cientistas têm argumentado que definições de raça são imprecisas, arbitrárias, oriundas do [[costume]], possuem muitas exceções, têm muitas gradações e que o número de raças descritas varia de acordo com a cultura que está fazendo as diferenciações raciais; assim, rejeitaram a noção de que qualquer definição de raça pertinente a humanos possa ter rigor taxonômico e validade.<ref>Por exemplo, esta declaração que expressa o ponto de vista oficial da ''American Anthropological Association'' em [http://www.aaanet.org/stmts/racepp.htm seu websítio]: "Evidências obtidas com a análise genética (p.ex., DNA) indicam que a maioria das variações físicas originam-se dentro dos assim chamados grupos 'raciais'. Isto significa que há uma variação muito maior dentro de grupos 'raciais' do que entre eles."</ref> Hoje em dia, a maioria dos cientistas estudam as variações [[genótipo|genotípicas]] e [[fenótipo|fenotípicas]] humanas usando conceitos tais como "população" e "[[gradação clinal]]". Muitos antropólogos debatem se enquanto os aspectos nos quais as caracterizações raciais são feitas podem ser baseados em fatores genéticos, a ideia de raça em si, e a divisão real de pessoas em grupos de características hereditárias selecionadas, seriam [[construção social|construções sociais]].<ref name="Society in Focus">{{citar livro|último = Thompson |primeiro = William |autorlink = |coautor= Joseph Hickey |ano= 2005 |título= Society in Focus |publicado= Pearson |local= Boston, MA| id = 0-205-41365-X}}</ref><ref>Daniel A. Segal ''[http://links.jstor.org/sici?sici=0268-540X%28199110%297%3A5%3C7%3A%27EAORP%3E2.0.CO%3B2-7&size=LARGE&origin=JSTOR-enlargePage 'The European': Allegories of Racial Purity]'' Anthropology Today, Vol. 7, No. 5 (Out., 1991), pp. 7-9 doi:10.2307/3032780</ref><ref>Bindon, Jim. University of Alabama. "[http://www.as.ua.edu/ant/bindon/ant275/presentations/POST_WWII.PDF#search=%22stanley%20marion%20garn%22 Post World War II"]. 2005. [[28 de Agosto]] de [[2006]].</ref>
Linha 40:
=== Era moderna ===
[[Imagem:Carl von Linné.jpg|thumb|[[Lineu]], [[século XVII]].]]
A diferenças visíveis entre diferentes tipos físicos dentre os grupos humanos, descendentes do [[Homo sapiens]] produziram, na era da ciência moderna—correspondente à descoberta do "novo mundo" onde foram descobertas novas populações—tentativas que visavam classificar a espécie humana em função de "raças", descritas geralmente segundo a [[cor da pele]]. Outros critérios apareceriam progressivamente, com a emergência da [[antropologia física]], da [[antropometria]], etc <ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/123941688|título=La razón salvaje : la lógica del dominio : tecnociencia, racismo y racionalidad|ultimo=Sánchez Arteaga, Juanma, 1974-|data=2007|editora=Lengua de Trapo|isbn=848381000X|oclc=123941688}}</ref> .
 
As ciências naturais se iniciam pelo estabelecimento das [[classificação|classificações]], a fim de catalogar e depois comparar os seres vivos. No [[século XVIII]], [[Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon|Buffon]] e [[Carl von Linné|Lineu]] eram os principais naturalistas. Os seres vivos eram classificados por [[espécie]]s e [[sub espécie]]s, [[família (biologia)|famílias]], [[gênero (biologia)|gêneros]], mas trata-se apenas do estudo das plantas e animais, e se mais tarde usariam a palavra "raça", ela fica reservada apenas aos animais domésticos.
Linha 49:
 
=== Século XIX ===
É somente no [[século XIX]] que se começa a falar de ''raças'' dentro da espécie humana. Foi o [[Arthur de Gobineau|Conde de Gobineau]] que popularizou, em meados do século XIX, um novo significado, em seu [[ensaio]] [[racismo|racista]] ''[[Essai sur l'inégalité des races humaines]]'' ("Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas", [[1853]]-[[1855]]), no qual toma partido a favor da tese [[poligenismo|poligenista]] segundo a qual a humanidade poderia ser dividida em várias raças distintas, as quais seriam, outrossim, passíveis de serem tratadas numa base hierárquica.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Sánchez Arteaga|primeiro=Juan Manuel|data=2007|titulo=La racionalidad delirante: el racismo científico en la segunda mitad del siglo XIX|url=http://dx.doi.org/10.4321/s0211-57352007000200011|jornal=Revista de la Asociación Española de Neuropsiquiatría|volume=27|numero=2|doi=10.4321/s0211-57352007000200011|issn=0211-5735}}</ref>
 
O ''[[racialismo]]'' ou ''[[racismo científico]]'', tornou-se a partir daí a [[ideologia]] predominante nos meios eruditos, na [[antropologia física]] etc, em conjunto com o [[evolucionismo]], com o [[darwinismo social]] e com as teorias [[eugenia|eugênicas]] desenvolvidas por [[Francis Galton]]. A tentativa de prover um discurso científico para os [[preconceito]]s racistas (aquilo que [[George Canguilhem|Canguilhem]] denominaria "ideologia científica"), seria fortemente desacreditado após o [[Holocausto|genocídio dos judeus da Europa]] praticado pela [[Alemanha Nazista]].
Linha 103:
=== Raça e biometria ===
[[Imagem:Head-Measurer of Tremearne (side view).jpg|thumb|"estudo" de [[antropologia]]]]
Os partidários da classificação da espécie humana em raças buscaram por um instrumento de medida capaz de prover critérios para a diferenciação. Assim, recensearam as características fenotípicas visíveis, sendo esse o primeiro meio de categorizar a espécie humana em diferentes raças. O método consistia nesta época em estudar essas características físicas de maneira sistemática: foi o nascimento da [[biometria]] como meio de quantificar as diferenças em meio a espécie humana <ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/123941688|título=La razón salvaje : la lógica del dominio : tecnociencia, racismo y racionalidad|ultimo=Sánchez Arteaga, Juanma, 1974-|data=2007|editora=Lengua de Trapo|isbn=848381000X|oclc=123941688}}</ref>.
 
Graças a essa ferramenta foram definidas as raças humanas em função de suas características físicas: pigmentação, formato do rosto, etc. Essa definição implica, de certa maneira, na existência de uma "pureza racial", ilustrada por indivíduos "típicos". A disciplina encantou os interessados na classificação das raças e quem era persuadido de sua existência.
Linha 188:
 
== Bibliografia ==
* {{fr}} [[Claude Lévi-Strauss]], [[Race et histoire]]. Unesco. 1961.
* (em espanhol) Sánchez Arteaga, Juanma (2007). La razón salvaje: la lógica del domínio: tecnociência, racismo y racionalidad.
* {{fr}} [[John Maynard Smith]], [[La théorie de l'évolution]]. PB Payot. 1962
 
* {{fr}} [[ClaudeGeorges Lévi-StraussCanguilhem]], [[Race''La connaissance etde histoire]]la vie''. UnescoVrin. 1961.1967
* {{fr}} [[JohnFrançois Maynard SmithJacob]] (Prix Nobel de biologie), [[''La théorielogique du vivant''. Une histoire de l'évolution]]hérédité. PB PayotGallimard. 19621970
* {{fr}} [[Georges Canguilhem]], Qu'est-ce qu'Laune idéologie scientifique ? in ''Idéologie et rationalité dans l'histoire des connaissancesciences de la vie''. Vrin. 19671977
* {{fr}} [[François Gros]], [[François Jacob]], (Prix[[Pierre NobelRoyer]] de: biologie),[[Société ''Laet logiquesciences dude vivant''la vie]]. UneRapport histoireau Président de l'héréditéla République. GallimardLa Documentation française. 19701979.
* {{fr}} [[Albert Jacquard]], ''Éloge de la différence''. La génétique et les hommes. Seuil. 1981.
*{{fr}} [[Georges Canguilhem]], Qu'est-ce qu'une idéologie scientifique ? in ''Idéologie et rationalité dans l'histoire des sciences de la vie''. Vrin. 1977
* {{fr}} [[André Langaney]], ''LaLe philosophiesexe ...et biologiquel'innovation'', BelinLe Seuil, Paris, 19991987 ;
*{{fr}} [[François Gros]], [[François Jacob]], [[Pierre Royer]] : [[Société et sciences de la vie]]. Rapport au Président de la République. La Documentation française. 1979.
* {{en}} Lieberman, Hampton, Littlefield, et Hallead ''Race in Biology and Anthropology: A Study of College Texts and Professors'', Journal of Research in Science Teaching, 29:301-321, 1992.
*{{fr}} [[Albert Jacquard]], ''Éloge de la différence''. La génétique et les hommes. Seuil. 1981.
* {{fr}} [[André Langaney]], ''LeNinian sexeHubert van Blyenburgh et l'innovationAlicia Sanchez-Mazas, ''Tous Parents, LeTous SeuilDifférents'', ParisChabaud, 1987Bayonne, ;1992.
* {{fr}} Léon Poliakov, ''Le Mythe aryen'' (première partie sur l'histoire du racisme), 1993.* {{en}} Luigi L. Cavalli-Sforza, Paolo Menozzi, Alberto Piazza, ''The History and Geography of Human Genes'', Princeton University Press, 1994.
*{{en}} Lieberman, Hampton, Littlefield, et Hallead ''Race in Biology and Anthropology: A Study of College Texts and Professors'', Journal of Research in Science Teaching, 29:301-321, 1992.
* {{fr}} [[André Langaney, Ninian Hubert van Blyenburgh et Alicia Sanchez-Mazas]], ''TousLa Parents,philosophie Tous... Différentsbiologique'', ChabaudBelin, BayonneParis, 1992.1999
* {{en}} Noah A. Rosenberg, Jonathan K. Pritchard, James L. Weber, Howard M. Cann, Kenneth K. Kidd, Lev A. Zhivotovsky, Marcus W. Feldman, ''Genetic Structure of Human Populations'', Science, Vol 298, Issue 5602, 2381-2385, 2002.
*{{fr}} Léon Poliakov, ''Le Mythe aryen'' (première partie sur l'histoire du racisme), 1993.* {{en}} Luigi L. Cavalli-Sforza, Paolo Menozzi, Alberto Piazza, ''The History and Geography of Human Genes'', Princeton University Press, 1994.
* {{fr}} M.W. Feldman, R.C. Lewontin, M.C. King, ''Les races humaines existent-elles ?'', L Recherche, 377, 2004. <small>Article orignal : ''Race: a genetic melting-pot'', Nature, 24; 424(6947):374, 2003.</small>
*{{fr}} [[André Langaney]], ''La philosophie ... biologique'', Belin, Paris, 1999
* {{fr}} Albert Jacquard, ''La Science à l'usage des non-scientifiques'', 2003.
*{{en}} Noah A. Rosenberg, Jonathan K. Pritchard, James L. Weber, Howard M. Cann, Kenneth K. Kidd, Lev A. Zhivotovsky, Marcus W. Feldman, ''Genetic Structure of Human Populations'', Science, Vol 298, Issue 5602, 2381-2385, 2002.
* {{fr}} « ''Un destin en noir et blanc'' », ''[[Libération (journal)|Libération]]'' (quotidien français), 2004.
*{{fr}} M.W. Feldman, R.C. Lewontin, M.C. King, ''Les races humaines existent-elles ?'', L Recherche, 377, 2004. <small>Article orignal : ''Race: a genetic melting-pot'', Nature, 24; 424(6947):374, 2003.</small>
* {{fr}} Trenton C. Holliday, ''Espèces d'hybrides !'', La recherche, 377, 2004.
*{{fr}} Albert Jacquard, ''La Science à l'usage des non-scientifiques'', 2003.
*{{fr}} « ''Un destin en noir et blanc'' », ''[[Libération (journal)|Libération]]'' (quotidien français), 2004.
*{{fr}} Trenton C. Holliday, ''Espèces d'hybrides !'', La recherche, 377, 2004.
 
=== Leitura adicional ===