Filipe II de França: diferenças entre revisões

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=== Casamento com Ingeborg da Dinamarca ===
Após a morte da rainha, o [[Anexo:Lista de monarcas da França|rei da França]] sabia que devia voltar a casar-se o mais rapidamente possível, uma vez que a sucessão dinástica ainda não estava assegurada: só tinha um filho com quatro anos, que acabara de sobreviver a uma grave [[doença]]. A escolha de [[Ingeborg da Dinamarca, rainha de França|Ingeborg da Dinamarca]] continua um mistério. Irmã do rei [[Canuto VI da Dinamarca]], com dezoito anos de idade, era apenas uma de muitas possíveis esposas para o francês.
 
[[Ficheiro:Ingeborg Psalter 02f 1200.jpg|thumb|left|200px|Página do [[Saltério (Bíblia)|saltério]] de [[Ingeborg da Dinamarca, rainha de França]]]]
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O conde Filipe I de Namur, irmão de Balduíno que assegurou a [[regência (governo)|regência]] do [[condado]], acabou por jurar fidelidade à França, contra a opinião dos seus conselheiros. Para estabilizar o condado, o rei casou em [[1211]] a única herdeira de Balduíno, a sua filha [[Joana da Flandres|Joana de Constantinopla]], com [[Fernando de Portugal, Conde da Flandres|Fernando de Portugal]], pensado poder contar com este [[vassalo]].
 
Por fim, fez uma aposta de maior risco nos assuntos germânicos. Com a morte do [[imperador]] [[Hohenstaufen]] [[Henrique VI da Germânia]] em [[1197]], o seu sucessor deveria ser designado pelo [[papa Inocêncio III]]. Declararam-se dois candidatos: [[Otão IV da Germânia|Otão de Brunswick]], favorito do papa e apoiado pelo seu tio [[João I da Inglaterra]], e [[Filipe da Suábia]], irmão de Henrique VI apoiado por Filipe Augusto e coroado [[rei dos Romanos]] em [[1205]].
 
Filipe da Suábia foi [[assassinato|assassinado]] em [[21 de Junho]] de [[1208]] e, agora sem rival, Otão foi coroado [[Lista de imperadores do Sacro Império Romano-Germânico|imperador]] em Outubro de [[1209]]. Inocêncio arrepender-se-ia do apoio que lhe dera, pois rapidamente o germânico mostraria as suas ambições sobre a [[Itália]]. Com Otão [[excomunhão|excomungado]] em [[1210]], Filipe Augusto negociou com [[Frederico II da Germânia]], [[Reino da Sicília|rei da Sicília]] e filho de Henrique VI. Coroado [[rei dos Romanos]] em [[Mogúncia]] em [[1212]], era um [[Aliados|aliado]] com que o francês contava para se opôr à ambição de Otão.
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Havia uma interdição absoluta de [[cristão]]s combaterem aos domingos, mas Otão decidiu passar à ofensiva, contando surpreender o inimigo na travessia. O exército de Filipe foi mesmo surpreendido pela retaguarda, mas esta organizou-se rapidamente em resposta antes que as forças se enfrentassem na ponte. Voltaram-se rapidamente contra os inimigos e a ala direita francesa enfrentou os cavaleiros [[flamengos]], liderados por [[Fernando de Portugal, Conde da Flandres|Fernando de Portugal]].
 
No centro, Filipe e Otão encontraram-se. Na refrega da [[cavalaria medieval|cavalaria]], o rei francês foi derrubado do [[cavalo]] mas os seus cavaleiros protegeram-no, oferecendo-lhe uma montada descansada, e assim voltou à luta até obrigar Otão a bater em retirada. Por fim, na ala esquerda, os partidários de Filipe venceram [[Reinaldo de Dammartin]], capturado depois de grande resistência.
 
A sorte favoreceu os franceses, apesar da inferioridade numérica (1.300 [[cavalaria medieval|cavaleiros]] e 4.000 a 6.000 homens de [[infantaria medieval|infantaria]], contra 1.300 a 1.500 cavaleiros e 7.500 de infantaria da coligação<ref name="Baldwin">''Philippe Auguste et son gouvernement - Les fondations du pouvoir royal en France au Moyen Âge'', John Baldwin, traduzido para [[língua inglesa|inglês]] por Béatrice Bonne, prefácio de Jacques Le Goff, Fayard, 1991</ref>). A vitória foi total: o imperador foi posto em fuga, as forças de Filipe fizeram 130 prisioneiros, dos quais cinco [[conde]]s, e entre estes Reinaldo de Dammartin e Fernando de Portugal.
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A coligação foi dissolvida com a derrota. A [[18 de Setembro]] de [[1214]], em [[Chinon]], Filipe assinou uma trégua de ''[[statu quo]]'' por cinco anos com João, que continuou a ameaçar as suas posições no [[sul]] até voltar à Inglaterra em [[1214]].
 
Pelo tratado de [[Chinon]] do mesmo ano, o rei inglês abandonou todas os seus territórios a [[norte]] do [[rio Loire]]: [[Bourges|Berry]], [[Touraine]], [[Província de Maine|Maine]] e [[Anjou (província)|Anjou]] voltaram os domínios reais franceses que, livres de ameaças, passaram a cobrir um terço da França. Segundo o [[historiador]] [[Georges Duby]], a batalha de Bouvines deu origem à França moderna.<ref>''Le Dimanche de Bouvines'', [[Georges Duby]], Gallimard, 1973, reed. Folio Histoire</ref>
 
== Depois da vitória (1214-1223) ==
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Quando se encontrava em [[Pacy-sur-Eure]], o rei decidiu assistir à reunião eclesiástica organizada em [[Paris]] para a preparação de novas [[cruzadas]], contra os conselhos dos seus [[médico]]s. Não sobreviveu à fadiga da viagem e morreu de [[febre]] a [[14 de Julho]] de [[1223]], em [[Mantes-la-Jolie]], na [[Île-de-France]]. Diz-se que sorria tranquilamente ao morrer, ao lado do filho [[Luís VIII de França]] e sua nora [[Branca de Castela]].
 
O seu corpo foi transportado para [[Paris]], e o [[funeral]] foi rapidamente organizado, em [[Saint-Denis (Seine-Saint-Denis)|Saint-Denis]], na presença dos poderosos do reino. Pela primeira vez, o corpo do [[Anexo:Lista de monarcas da França|rei da França]], vestido com toda a ''regalia'', foi exposto para veneração do povo antes da [[sepultura]] em um rito solene inspirado nos dos [[Lista de monarcas britânicos|reis da Inglaterra]].<ref>''Chronique rimée'', Philippe Mouskès, ed. Reiffenberg, Bruxelles, 1836-1838, t.II, p.431-432</ref>
 
== Legado ==
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Graças à sua grande vitória na [[batalha de Bouvines]], Filipe conseguiu obter um importante apoio [[povo|popular]] no seu reinado. Neste contexto desenvolveu-se uma [[ideologia]] real, talvez o sinal mais notável da emergência de um [[estado]].
 
Muito se comentou sobre a utilização crescente do termo ''Francia'' nos textos contemporânios, e sobretudo da fórmula ''rex Francia'' em um [[decreto]] [[diplomacia|diplomático]] de [[1204]]. No entanto, só [[Luís IX de França]] alteraria o título oficial de ''rex Francorum'' (rei dos [[Francos]]) para ''rex Franciæ'' (rei de França).<ref>''Naissance de la nation France'', Colette Beaune, Paris, Gallimard, 1985, reed. Folio histoire, p.419</ref>. Há outros progressos ideológicos mais evidentes, tal como os funerais solenes, ou a utilização da [[flor-de-lis]] como símbolo real, iniciada pelo seu pai [[Luís VII de França]].
 
No fim deste reinado é possível ver desenvolver-se uma verdadeira tentativa de [[propaganda]] real através das [[crônica (história)|crónica]]s oficiais. Desde [[1186]], o [[monge]] [[Rigordo de Saint-Denis]] redigia a ''Gesta Philippi Augusti'' em [[latim]] (tal como fizera o abade [[Suger de Saint-Denis]]), que ofereceu a Filipe em [[1196]] e depois foi actualizada até [[1208]]. Esta obra não foi encomendada pelo rei, mas tornou-se numa crónica quase oficial à glória de Filipe, com a excepção de algumas críticas ao caso do seu [[casamento]] com [[Ingeborg da Dinamarca, rainha de França|Ingeborga da Dinamarca]].
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[[Ficheiro:Miniature_Naissance_Louis_VIII.jpg|thumb|250px|Miniatura [[medieval]] do [[nascimento]] de [[Luís VIII de França]]]]
Do seu [[matrimónio]] celebrado em [[Bapaume]], [[Pas-de-Calais]], a [[28 de Abril]] de [[1180]] com [[Isabel de Hainaut]] ([[1170]]-[[1190]]), [[condessa]] de [[Artois]], filha de [[Balduíno V de Hainaut]], nasceu:
* [[Luís VIII de França]], seu sucessor no [[Anexo:Lista de monarcas da França|trono da França]]
 
Filipe casou-se em segundas núpcias em [[Amiens]], a [[14 de Agosto]] de [[1193]], com [[Ingeborg da Dinamarca, rainha de França|Ingeborg da Dinamarca]] ([[1176]]-[[1238]]), filha do rei [[Valdemar I da Dinamarca]] e irmã do rei [[Canuto VI da Dinamarca]]. Repudiou-a em [[1193]], e restabeleceu oficialmente a sua posição em [[1200]], apesar de nunca mais tomar o seu lugar conjugal. Deste casamento não houve descendência.
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* ''Philippe Auguste et son temps'', A. Luchaire, in Lavisse E., ''Histoire de France des origines à la révolution'', t.III, Paris, 1902, reed. Paris, Tallandier, 1980
 
=== {{Ligações externas}} ===
* {{link|fr|http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k94606h|''Chroniques de Rigord et Guillaume le Breton'', tradução de François Guizot, ''Collection de mémoires relatifs à l'histoire de France'', vol.11, J.-L.-J. Brière, 1825 ''in'' Gallica}}
* {{link|fr|http://www.philippe-auguste.com|Paris na época de Filipe Augusto}}