José do Patrocínio: diferenças entre revisões

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== Biografia ==
Filho de João Carlos Monteiro, [[vigário]] da [[paróquia]] de [[Campos dos Goytacazes]] e [[orador]] sacro de reputação na [[Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo|Capela Imperial]], com Justina do Espírito Santo, uma jovem escrava [[Sãoescravidão Jorgeno daBrasil|escrava]] [[Mina (etnia)|Minamina]] de quinze anos, cedida ao serviço do [[cônego]] por D.dona Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, proprietária da região.
 
Embora sem reconhecer a paternidade, o religioso encaminhou o menino para a sua fazenda na [[Lagoa de Cima]], onde José do Patrocínio passou a [[infância]] como liberto, porém convivendo com os escravos e com os rígidos castigos[[castigo]]s que lhes eram impostos.
 
Aos catorze anos de idade, tendo completado a sua [[educação primária]], pediu, e obteve ao pai, autorização para ir ao [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. Encontrou trabalho como servente de [[pedreiro]] na [[Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro]] (1868), empregando-se posteriormente na casa de saúde do doutor Batista Santos. Atraído pelo combate à doença, retomou, às próprias expensas, os estudos no externato de João Pedro de Aquino, prestando os exames preparatórios para o curso de [[farmácia]].
 
Aprovado, ingressou na [[Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro|Faculdade de Medicina]] como aluno de [[Farmáciafarmácia]], concluindo o curso em 1874. Nesse momento, desfazendo-se a [[República estudantil|república de estudantes]] comem que conviviavivia, Patrocínio viu-se na iminência de precisar [[aluguel|alugar]] moradia, sem dispor de recursos para tal. Um amigo, antigo colega do externato de Aquino, João Rodrigues Pacheco Vilanova, convidou-o a morar no tradicional bairro de [[São Cristóvão (bairro do Rio de Janeiro)|São Cristóvão]], na casa da mãe, então casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, abastado proprietário de terras e [[imóvel|imóveis]]. Para que Patrocínio pudesse aceitar sem constrangimento a hospedagem que lhe era oferecida, o capitão Sena propôs-lhe que, como pagamento, lecionaria aos seus filhos. Patrocínio aceitou e, desde então, passou também a frequentar o "Clube Republicano" que funcionava na residência, do qual faziam parte [[Quintino Bocaiuva]], [[Lopes Trovão]], [[Pardal Mallet]] e outros. Não tardou que Patrocínio se apaixonasse por Maria Henriqueta, uma das filhas do militar, sendo também por ela correspondido. Quando informado do romance de ambos, o capitão Sena sentiu-se ofendido a princípio, porém vindoveio, após o matrimônio (1879), a auxiliar Patrocínio em diversas ocasiões.
 
Nessa época, Patrocínio iniciou a carreira de jornalista em parceria com [[Dermeval da Fonseca]], publicando o quinzenário [[sátira|satírico]] "[[Os Ferrões]]", que circulou de 1 de junho a 15 de outubro de 1875, no total de dez números. Os dois colaboradores se assinavam com os pseudônimos[[pseudônimo]]s ''Notus Ferrão'' (Patrocínio) e ''Eurus Ferrão'' (Fonseca).
 
Dois anos depois (1877), admitido na [[Gazeta de Notícias]] como [[redator]], foi encarregado da [[Coluna (jornal)|coluna]] ''Semana Parlamentar'', que assinava com o pseudônimo de ''Prudhome''. Foi neste espaço que, em 1879, iniciou a campanha pela Aboliçãoabolição da escravatura no Brasil. Em torno de si, formou-se um grupo de jornalistas e de oradores, entre os quais [[Ferreira de Meneses]] (proprietário da [[Gazeta da Tarde]]), [[Joaquim Nabuco]], [[João Clapp]], [[José Lopes da Silva Trovão|Lopes Trovão]], [[Paula Nei]], [[Teodoro Fernandes Sampaio]] e [[Ubaldino do Amaral]], todos da [[Associação Central Emancipadora]]. Por sua vez, Patrocínio começou a tomar parte nos trabalhos da associação.
 
Fundou, em 1880, juntamente com Joaquim Nabuco, a ''Sociedade Brasileira Contra a Escravidão''. Com o falecimento de Ferreira de Meneses (1881), com recursos obtidos junto ao sogro, adquiriu a Gazeta da Tarde, assumindo-lhe a direção. Em Maiomaio de 1883, articulou a [[Confederação Abolicionista]], congregando todos os clubes abolicionistas do país, cujo manifesto redigiu e assinou, juntamente com [[João Clapp]], [[André Rebouças]] e [[Aristides Lobo]]. Nesta fase, Patrocínio não se limitou a escrever: também preparou e auxiliou a fuga de escravos e coordenou campanhas de angariação de fundos para adquirir alforrias[[alforria]]s, com a promoção de espetáculos ao vivo, comícios[[comício]]s em teatros, manifestações em praça pública, etc.
[[Ficheiro:Lopes_Trovão_charge.jpg|esquerda|thumb|180px|[[Charge]] da [[proclamação da República do Brasil]], com José do Patrocínio em primeiro plano.]]
[[Ficheiro:Lopes_Trovão_charge.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Charge da [[proclamação da República]], com José do Patrocínio em primeiro plano.]]Em 1882, a convite de [[Paula Nei]], Patrocínio visitou a [[província do [[Ceará]], onde foi recebido em triunfo. Essa província seria pioneira no Brasil ao decretar a abolição da escravidão já em 1884.
 
Em 1885, visitou sua cidade natal, Campos dos Goytacazes, sendo também recebido em triunfo. De volta ao Rio de Janeiro, trouxe a mãe, idosa e doente, que viria a falecer no final desse mesmo ano. O sepultamento transformou-se em um ato político em favor da abolição, tendo comparecido personalidades como as doo ministro [[Rodolfo Epifânio de Sousa Dantas|Rodolfo Dantas]], o jurista [[Rui Barbosa]] e os futuros presidentes [[Campos Sales]] e [[Prudente de Morais]].
[[Ficheiro:Lopes_Trovão_charge.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Charge da [[proclamação da República]], com José do Patrocínio em primeiro plano.]]Em 1882, a convite de [[Paula Nei]], Patrocínio visitou a província do [[Ceará]], onde foi recebido em triunfo. Essa província seria pioneira no Brasil ao decretar a abolição já em 1884.
 
No ano seguinte (1886), iniciou-se na [[política]], sendo eleito [[vereador]] da [[Câmara Municipal do Rio de Janeiro]], com votação maciça.
Em 1885 visitou sua cidade natal, Campos dos Goytacazes, sendo também recebido em triunfo. De volta ao Rio de Janeiro, trouxe a mãe, idosa e doente, que viria a falecer no final desse mesmo ano. O sepultamento transformou-se em um ato político em favor da abolição, tendo comparecido personalidades como as do ministro [[Rodolfo Epifânio de Sousa Dantas|Rodolfo Dantas]], o jurista [[Rui Barbosa]] e os futuros presidentes [[Campos Sales]] e [[Prudente de Morais]].
 
Em setembro de 1887, abandonou a "Gazeta da Tarde" para fundar e dirigir um novo periódico: o "[[A Cidade do Rio]]". À frente deste periódico, intensificou a sua atuação política. Aqui, fizeram escola alguns dos melhores nomes do jornalismo brasileiro da época, reunidos e incentivados pelo próprio Patrocínio. Foi nele que Patrocínio saudou, após uma década de intensa militância, a [[13 de maio]] de [[1888]], o advento da abolição. Logo após a assinatura da [[Lei Áurea]], com os entornos do [[Paço Imperial|palácio]] tomados de celebração e uma chuva de flores caindo sobre todos, Patrocínio aproximou-se de Isabel, ficou de joelhos e beijou-lhe as mãos, sendo seguido nesse gesto por outros abolicionistas.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|url=http://www.acordacultura.org.br/artigos/29012014/hoje-na-historia-29-de-janeiro-1905-morria-jose-do-patrocinio-o-tigre-da-abolicao|titulo=A cor da cultura|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
No ano seguinte (1886), iniciou-se na política, sendo eleito vereador da [[Câmara Municipal do Rio de Janeiro]], com votação maciça.
 
EmObtida setembroa devitória 1887na abandonoucampanha aabolicionista, "Gazetaas atenções da Tarde"[[opinião pública]] se voltaram para fundara ecampanha dirigirrepublicana. umPor novoironia periódico:do destino, o "[[A Cidade do Rio]]". À frente deste periódico, intensificoue a suaprópria atuaçãofigura política.de Aqui,Patrocínio fizerampassaram escolaa algunsser dosidentificados melhorespela nomesopinião dopública jornalismocomo brasileirodefensores da época,[[monarquia]] reunidosem ecrise. incentivadosNessa pelo própriofase, Patrocínio., Foirotulado nelecomo queum Patrocínio saudou"isabelista", apósfoi umaapontado décadacomo deum intensados militância,mentores ada chamada [[13Guarda deNegra maio]](Brasil)|Guarda de [[1888Negra]], oum adventogrupo dade Abolição.ex-escravos Logoque apósagia a assinatura dacom [[Lei Áureaviolência]], comcontra os entornoscomícios dorepublicanos. palácioEsse tomadosgrupo deiniciou celebraçãoum everdadeiro umaculto chuvaà deprincesa flores caindo sobre todosIsabel, Patrocínioo aproximou-sechamado de Isabelisabelismo, ficou de joelhos e beijou-lhecombateu asdiversos mãos,[[ativismo|ativistas]] sendocontrários seguidoa nesse gestoum poreventual outrosTerceiro abolicionistasReinado.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|url=httphttps://wwwpt.acordaculturascribd.org.brcom/artigosdoc/29012014114930657/hojeA-naGuarda-historiaNegra-29e-deseu-janeiroculto-1905-morriaa-josePrincesa-do-patrocinio-o-tigre-da-abolicaoIsabel|titulo=A corGuarda daNegra culturae o culto à Princesa Isabel|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
[[Ficheiro:Flag-lopes-trovão.svg|thumb|180px|{{FIAV|historical}} Proposta de bandeira criada por [[José Lopes da Silva Trovão|Lopes Trovão]], içada na [[Câmara Municipal do Rio de Janeiro]] por José do Patrocínio em 15 de novembro de 1889.]]
Obtida a vitória na campanha abolicionista, as atenções da opinião pública se voltaram para a campanha republicana. Por ironia do destino, o "A Cidade do Rio" e a própria figura de Patrocínio passaram a ser identificados pela opinião pública como defensores da [[monarquia]] em crise. Nessa fase, Patrocínio, rotulado como um "isabelista", foi apontado como um dos mentores da chamada "Guarda Negra", um grupo de ex-escravos que agia com violência contra os comícios republicanos. Esse grupo iniciou um verdadeiro culto à princesa Isabel, o chamado isabelismo, e combateu diversos ativistas contrários a um eventual Terceiro Reinado.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|url=https://pt.scribd.com/doc/114930657/A-Guarda-Negra-e-seu-culto-a-Princesa-Isabel|titulo=A Guarda Negra e o culto à Princesa Isabel|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
Após a proclamação da República (1889), entrou em conflito em 1892 com o governo do marechal [[Floriano Vieira Peixoto|Floriano Peixoto]], pelo que foi detido e [[deportação|deportado]] para [[Cucuí]], no alto [[rio Negro (Amazonas)|rio Negro]], no estado do [[Amazonas]].
[[Ficheiro:Flag-lopes-trovão.svg|thumb|{{FIAV|historical}} Proposta de bandeira criada por [[José Lopes da Silva Trovão|Lopes Trovão]], içada na [[Câmara Municipal do Rio de Janeiro]] por José do Patrocínio em 15 de novembro de 1889.]]
 
Retornou discretamente ao Rio de Janeiro em 1893, mas, com o [[Estado de exceção|estado de sítio]] ainda em vigor, a publicação do "A Cidade do Rio" continuou suspensa. Sem fonte de renda, Patrocínio foi residir no [[subúrbio]], deem [[Inhaúma (bairro do Rio de Janeiro)|Inhaúma]].
Após a proclamação da República (1889), entrou em conflito em 1892 com o governo do marechal [[Floriano Vieira Peixoto|Floriano Peixoto]], pelo que foi detido e deportado para [[Cucuí]], no alto [[rio Negro (Amazonas)|rio Negro]], no estado do [[Amazonas]].
 
Nos anos seguintes, a sua participação política foi inexpressiva, concentrando-se a sua atenção no moderno [[invento]] da [[aviação]]. Iniciou a construção de um [[dirigível]] de 45 [[metro]]s, o "Santa Cruz", com o sonho de [[voo|voar]], jamais concluído. Numa homenagem a [[Santos Dumont]], realizada no [[Teatro D. Pedro II|Teatro Lírico]], quando [[discurso|discursava]] saudando o inventor, foi acometido de uma [[hemoptise]], [[sintoma]] da [[tuberculose]] que o vitimou. Faleceu pouco depois, aos 51 anos de idade, aquele que é considerado, por seus biógrafos, o maior de todos os jornalistas da abolição.
Retornou discretamente ao Rio de Janeiro em 1893, mas com o estado de sítio ainda em vigor, a publicação do "A Cidade do Rio" continuou suspensa. Sem fonte de renda, Patrocínio foi residir no subúrbio de [[Inhaúma (bairro do Rio de Janeiro)|Inhaúma]].
 
Nos anos seguintes, a sua participação política foi inexpressiva, concentrando-se a sua atenção no moderno invento da [[aviação]]. Iniciou a construção de um [[dirigível]] de 45 [[metro]]s, o "Santa Cruz", com o sonho de voar, jamais concluído. Numa homenagem a [[Santos Dumont]], realizada no [[Teatro Lírico]], quando discursava saudando o inventor, foi acometido de uma hemoptise, sintoma da [[tuberculose]] que o vitimou. Faleceu pouco depois, aos 51 anos de idade, aquele que é considerado por seus biógrafos o maior de todos os jornalistas da abolição.
 
== Cronologia ==