Língua tupi: diferenças entre revisões

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Não existe um "povo" tupi-guarani e sim uma família linguística tupi-guarani. Ref.: Aryon Rodrigues (1986)
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m →‎Vogais: Acrescentada tabela contendo os símbolos para as vogais, com referências sobre a pronúncia
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Nos séculos XVI e XVII, era chamado pelos portugueses de "língua brasílica"<ref name="NAVARRO, E. A. 2005. p. 11">NAVARRO, E. A. ''Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. ''3ª edição revista e aperfeiçoada. São Paulo. Global. 2005. p. 11.</ref> por ser o idioma mais usado no Brasil (a expressão "língua tupi" somente se generalizou a partir do século XIX.<ref name="NAVARRO, E. A. 2005. p. 11"/> Os europeus que iam viver no Brasil, bem como os [[Escravidão no Brasil|escravos africanos]] que eram trazidos para o país, a aprendiam e falavam-na no seu dia-a-dia, usando o português apenas nas suas relações com a Coroa Portuguesa. Teve sua [[gramática]] estudada pelos jesuítas (os quais a utilizavam como instrumento de [[catequese]]). Deixou de ser falada no final do século XVII, quando foi suplantada pela [[Língua geral (Brasil)|língua geral]].<ref name="NAVARRO, E. A. 2013. p. 537">NAVARRO, E. A. ''Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. ''São Paulo. Global. 2013. p. 537.</ref>
 
Com a proibição da língua pelo [[Marquês de Pombal]] em 1758, o tupi deixou de ser a língua mais falada no Brasil, sendo substituída pelo português.<ref>''A proibição do tupi e o fortalecimento da língua portuguesa''. Disponível em http://www.helb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=57:a-proibicao-do-tupi-e-o-fortalecimento-da-lingua-portuguesa&catid=1029:1758&Itemid=2. Acesso em 26 de dezembro de 2012.</ref> Sua descendente paulista, a [[língua geral paulista]], continuou, no entanto, a ser falada no interior do atual estado de [[São Paulo (estado)|São Paulo]] até o início do século XX<ref name="NAVARRO, E. A. 2013. p. 537"/> e a sua descendente [[amazônia|amazônica]], o [[nheengatu]], continua a ser falada até hoje no vale do [[Rio Negro (Amazonas)|rio Negro]], na [[Amazônia]].<ref>NAVARRO, E. A. ''Método moder|no de tupi antigo'': a língua do Brasil dos primeiros séculos. Terceira edição revista e aperfeiçoada. São Paulo. Global. 2005. p. 13.</ref> A língua tupi também continua presente no cotidiano dos brasileiros através de vários nomes tupis que se encontram na geografia brasileira e nas denominações de vários animais e plantas [[Espécie nativa|nativos]] do Brasil.<ref name="NAVARRO, E. A. 2005. p. 9"/>[[File:Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil - José de Anchieta-corte.jpeg|thumb|236x236px|[[Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil]], de [[José de Anchieta]]. <br><small>Edição da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933. [[Fac-símile]] da 1ª edição (1595)</small>]]Geralmente, são descrições das coisas a que se referem, envolvendo uma explicação inteira. Cada palavra pode ser uma verdadeira frase. Decifrar o significado das palavras requer, muitas vezes, uma visita ao local a que se refere o termo. Um exemplo disso é o [[Toponímia|topônimo]] [[Paranapiacaba]] = ''paraná'' + ''epiak'' + ''-(s)aba'', "mar" + "ver" + "lugar" = "lugar de onde se vê o mar", que se refere a um ponto da [[serra do Mar]] onde se pode avistar o mar.<ref name="Ayrosa1933">{{citar livro|autor =Plínio Ayrosa|título=Primeiras noções de Tupi|url=http://books.google.com/books?id=5849AAAAIAAJ|acessodata=17 de julho de 2015|ano=1933|publicado=Typ. Cupolo|local=University of California|página=101|authormask=|trans_title=|formato=|anooriginal=|oclc=|doi=|bibcode=|id=|citação=|laysummary=|laydate=}}</ref> A língua tupi é [[Língua aglutinante|aglutinante]], não possui artigos (assim como o [[latim]]) e não flexiona nem em [[Gênero gramatical|gênero]] nem em [[Número (gramática)|número]].
 
Geralmente, são descrições das coisas a que se referem, envolvendo uma explicação inteira. Cada palavra pode ser uma verdadeira frase. Decifrar o significado das palavras requer, muitas vezes, uma visita ao local a que se refere o termo. Um exemplo disso é o [[Toponímia|topônimo]] [[Paranapiacaba]] = ''paraná'' + ''epiak'' + ''-(s)aba'', "mar" + "ver" + "lugar" = "lugar de onde se vê o mar", que se refere a um ponto da [[serra do Mar]] onde se pode avistar o mar.<ref name="Ayrosa1933">{{citar livro|autor =Plínio Ayrosa|título=Primeiras noções de Tupi|url=http://books.google.com/books?id=5849AAAAIAAJ|acessodata=17 de julho de 2015|ano=1933|publicado=Typ. Cupolo|local=University of California|página=101|authormask=|trans_title=|formato=|anooriginal=|oclc=|doi=|bibcode=|id=|citação=|laysummary=|laydate=}}</ref> A língua tupi é [[Língua aglutinante|aglutinante]], não possui artigos (assim como o [[latim]]) e não flexiona nem em [[Gênero gramatical|gênero]] nem em [[Número (gramática)|número]].
 
Atualmente, existem iniciativas isoladas que buscam resgatar o uso da língua tupi antiga por algumas etnias indígenas que usavam essa língua no passado, como os [[potiguaras]] da [[Paraíba]]<ref>''Educação indígena''. Disponível em http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/site:abralin2009/simas.pdf. Acesso em 9 de março de 2017.</ref> e do [[Rio Grande do Norte]]<ref>''Tribuna do Norte''. Disponível em http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/reaprendendo-a-ser-potiguar/344227?utm_campaign=noticia&utm_source=rel. Acesso em 9 de março de 2017.</ref> e os [[tupiniquins]] das aldeias de Caieiras Velhas e Comboios, na cidade de [[Aracruz]], no [[Espírito Santo (estado)|Espírito Santo]].<ref>''O tupi na aldeia tupiniquim de Caieiras Velhas em Aracruz-ES''. Disponível em http://repositorio.ufes.br/bitstream/10/3803/1/tese_9318_O%20tupi%20na%20aldeia%20tupinikim%20de%20Caieiras%20Velha%20em%20Aracruz%20ES_Filipe%20Siqueira%20Fermino.pdf. Acesso em 9 de março de 2017.</ref>
 
==Fonologia, grafêmica e as várias ortografias do tupi==
[[File:Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil - José de Anchieta-corte.jpeg|thumb|180px|[[Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil]], de [[José de Anchieta]]. <br><small>Edição da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933. [[Fac-símile]] da 1ª edição (1595)</small>]]
Levantar informações confiáveis sobre a [[fonologia]] da língua tupi para uma possível reconstrução fonológica seria uma tarefa difícil ou até mesmo impraticável, não tivesse o [[tronco tupi]], e mais especificamente a [[tupi-guarani|família tupi-guarani]], da qual o tupi faz parte, uma ampla distribuição geográfica. Preponderante a uma reconstrução fonológica, já realizada, foi o fato de o nheengatu, língua que descende do tupi, ser falado ainda hoje na Amazônia. Somando-se a este fato, já bastante favorável, não se pode deixar de citar a continuidade do [[Língua guarani antiga|guarani antigo]], língua distinta mas muito próxima ao tupi, nos atuais [[Dialeto mbiá|guarani-mbyá]], [[Nhandevas|guarani-nhandéva]], [[Dialeto caiouá|guarani-kaiowá]] e [[Língua guarani|guarani paraguaio]]. Sendo tão fortes os pontos favoráveis, tornou-se factível a reconstrução da [[fonologia]] tupi.
 
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===Vogais===
O tupi antigo possui um sistema vocálico simétrico, com sete qualidades vocálicas em pares de vogais orai e nasais. Com excessão da vogal central fechada /ɨ/, os demais sons vocálicos do tupi antigo ocorrem também no [[Fonologia da língua portuguesa|português]]<ref name="NAVARRO, E. A. 2005. p. 14">NAVARRO, E. A. ''Método moderno de tupi antigo'': a língua do Brasil dos primeiros séculos. Terceira edição revista e aperfeiçoada. São Paulo. Global. 2005. p. 14.</ref>. De acordo com Cristófaro-Silva, o som da vogal /ɨ/ pode ocorrer como pronúncia pós-tônica de /e/ no português brasileiro atual em palavras como “núm'''e'''ro” [ˈnu.mɨ.ɾʊ].<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/42644938|título=Fonética e fonologia do português : roteiro de estudos e guia de exercícios|ultimo=Silva, Thaïs Cristófaro.|data=1999|editora=Contexto|local=São Paulo, SP|isbn=8572441026|oclc=42644938}}</ref>
a ɛ i ɔ u ɨ ã ɛ̃ ĩ ɔ̃ ũ ɨ̃ î
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Na [[ortografia]] tupi, as [[vogal|vogais]] são a, e, i, o, u, y (som inexistente na língua portuguesa, intermediário entre o "i" e o "u". É pronunciada dizendo-se u e abrindo-se os lábios até chegar à posição em que se pronuncia i).<ref name="NAVARRO, E. A. 2005. p. 14">NAVARRO, E. A. ''Método moderno de tupi antigo'': a língua do Brasil dos primeiros séculos. Terceira edição revista e aperfeiçoada. São Paulo. Global. 2005. p. 14.</ref>
! colspan="2" |[[Vogal anterior|Anteriores]]
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|-
!<small>oral</small>
!<small>[[Vogal nasal|nasal]]</small>
!<small>oral</small>
!<small>nasal</small>
!<small>oral</small>
!<small>nasal</small>
|-
![[Vogal fechada|Fechada]]
|i
|ɨ̃
|u
|-
![[Vogal Média|Média]]
|ɛ̃
|
|
|ɔ̃
|-
![[Vogal aberta|Aberta]]
|
|
|a
|
|
|}
<br />
 
=== Semivogais e consoantes===
j (ɲ) w ɨ̆ β p m (m<sup>b</sup>) t r n (n<sup>d</sup>) k ɣ ŋ ʔ s ʃ
 
<br />
 
=== Ortografia ===
Na [[ortografia]] tupi, as [[vogal|vogais]] são representadas pelas letras a, e, i, o, u, y.
 
Na ortografia tupi, as [[consoante]]s e [[semivogal|semivogais]] são: ' (um [[fonema]] que não existe no português e que se caracteriza por uma pequena interrupção no fluxo de ar), b (como na palavra "huevo" do castelhano), j (semivogal próxima à vogal i), nh, k, m, mb), n, nd), ng, p, r (sempre brando, como no português "aranha"), s, t, u (a semivogal próxima à vogal u), x (como no português "chácara") e ŷ (a semivogal próxima à vogal y).
 
=== Metaplasmo: fenômeno comum ===
 
== Morfologia ==