Iemanjá: diferenças entre revisões

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== Mito ==
[[Ficheiro:Nigeria o benin, yoruba, iemanjà e ibeji, xx sec..JPG|thumb|right|180px|Iemanjá amamentando os [[Ibeji]]s, início do século XX, [[Museu Afro Brasil]].]]
Muitos atributos e códigos morais de Iemanjá podem ser verificados em suas cantigas e ''[[oriki]]s'',<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA301&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, pp. 301-306].</ref> tradições orais entre os [[iorubás]],<ref>Jegede, Olutoyin Bimpe. ''[http://www.ces.fe.uc.pt/publicacoes/rccs/artigos/47/Olutoyin%20Bimpe%20Jegede%20-%20A%20poesia%20laudatoria%20e%20a%20sociedade%20nigeriana,%20a%20Oriki%20entre%20os%20Yoruba.pdf A Poesia Laudatária e a Sociedade Nigeriana: a Oriki entre os Yoruba]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }}.'' pp. 76-78</ref> seus ''[[itan]]'' ou mitos e demais tradições também se preservaram de mesmo modo,<ref group="nb">Originalmente os yorubás eram ágrafos.</ref> estando segundo R. Ogunleye suscetíveis às limitações da memória e à extinção de saberes com a morte dos que a preservam.<ref>Ogunleye, Adetunbi Richard. ''[http://www.inkanyiso.uzulu.ac.za/journals/vol7i1/08%20Ogunleye%20prs.pdf Cultural identity in the throes of modernity: an appraisal of Yemoja among the Yoruba in Nigeria].'' Department of Religion & African Culture, Adekunle Ajasin University Akungba-Akoko Ondo State, Nigeria, 2015. p. 66</ref> Com a perda de muitos de seu culto durante as guerras sofridas pelo povo Egba, que resultaram na sua [[Migração humana|migração]] para uma nova região,<ref name="notasverger.293"/> não é espantoso que seus mitos originais só aludam ao suporte de seu culto na nova localidade, o rio Ògùn e não seu predecessor como adiante verificamos.
 
Os primeiros registros literários de seus mitos assim, como de alguns outros orixás, foram prejudicados por diversos equívocos. A. B. Ellis a ela associa uma gênese incestuosa influenciada por P. Baudin e repetida diversas vezes por autores como R. E. Dennett, Stephen Septimus Farrow, Olumide Lucas e [[Richard Francis Burton|R. F. Burton]] influenciados uns pelos outros,<ref name="notasverger.295">[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA295&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, p. 295]</ref> e ecoada no Brasil por [[Arthur Ramos]] e [[Nina Rodrigues]].<ref>Da Costa, Valdeli Carvalho. ''Umbanda: os seres superiores e os orixás/santos : um estudo sobre a fenomenologia do sincretismo umbandístico na perspectiva da teologia católica.'' Volume 1, Edições Loyola, 1983, p. 185</ref> [[Pierre Verger|P. Verger]] inicialmente influenciado por tais mitos já alertava que os mesmos não eram mais conhecidos ou possível de se verificar na costa da [[África]]<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA296&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, p. 296]</ref> e posteriormente conclui tratar-se de uma série de equívocos e os rebate duramente em obras posteriores.<ref name="artigoverger">[[Pierre Verger|Verger, Pierre]]. ''[http://blackpagesbrazil.com.br/?p=2206 Etnografia religiosa iorubá e probidade científica].'' Revista Religião e Sociedade - nº 8, ISER, Editora Cortez São Paulo, 1982.</ref> Essas influências ocidentais imprecisas refutadas por Verger aderiram na interpretação de Iemanjá em sua associação com a gênese do mundo, sendo objeto de estudo assim retomado por diversos autores que vêem em Iemanjá unida a Aganju (apresentado como irmão e marido) e posteriormente violada pelo filho,<ref>[https://books.google.com.br/books?id=GGgkDwAAQBAJ&pg=PT10&dq=false Seljan, p. 10]</ref><ref>Iwashita, p. 52</ref><ref>Moura,
Clóvis. ''[https://books.google.com.br/books?id=6Zcz0fIj91cC&pg=PA194&dq=false Dicionário da escravidão negra no Brasil].'' EdUSP, 2004, p. 194. ISBN 85-314-0812-1</ref> uma síntese da [[cosmogonia]] yorubá, passando a figurar como "mãe de todos os orixás" tal como apresentado por Poli<ref>Poli, pp. 88-90</ref> ou culminando na visão poética de Prandi com Iemanjá ajudando pessoalmente Olodumaré na construção do mundo.<ref>[http://olorum.lendas.orixas.nom.br/classificados/ebooks/015_iyamiosoronga.pdf Prandi, 2001 apud Y. Manzini, p. 19] {{Wayback|url=http://olorum.lendas.orixas.nom.br/classificados/ebooks/015_iyamiosoronga.pdf |date=20160306073758 }}.</ref>
 
Para Poli, mesmo a concepção de Iemanjá que vislumbramos na obra de Verger é uma divindade já sincrética, como podemos conferir em sua associação a [[Yewá]] e também Yeyemowo.<ref>Poli, p. 87</ref><ref>[[Confer|Cf.]] [https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA298&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, p. 298]</ref> Tal confusão não é grave no seu culto no Brasil por exemplo, onde Iemanjá tornou-se em uma nova interpretação segunda esposa de [[Oxalá]]<ref>[https://books.google.com.br/books?id=bcJQBQAAQBAJ&pg=PA65&dq=false#v=onepage&q&f=false Modesto, p. 65]</ref> -uma concepção dos mesmos de Obatalá-, formando o casal da criação.<ref name="sousa">Sousa Junior, p. 128</ref> Alguns autores, como [[Lydia Cabrera|L. Cabrera]] em sua memorável explanação e abordagem sobre Iemanjá e [[Oxum]], abordaram essa visão da [[diáspora africana|diáspora]] centrada no seu novo contexto social, cultural e histórico, como é o caso de Cuba na análise da pesquisadora, não preocupando-se em um resgate propriamente a partir da origem.<ref>[https://books.google.com.br/books?id=6cSpx3vgc8sC&pg=PA13&dq=#v=onepage&q&f=false L. Cabrera, pp. 13-18]</ref>
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[[Ficheiro:Ori Olokun.jpg|thumb|left|180px|''Ori Olokun'' (Cabeça de Olokun), bronze descoberto em [[Ifé]] por Leo Frobenius.]]
Iemanjá, em seu culto original, é um orixá associado aos rios e [[desembocadura]]s, à [[fertilidade]] feminina, à maternidade e primordialmente ao processo de gênese do ''[[Àiyé (yoruba)|Àiyé]]'' (mundo) e a continuidade da vida (''[[emi]]''). Também é regente da pesca, e do plantio e colheita de [[inhame]]s.<ref>Valéria Amim, Ruy do Carmo Póvoas. ''[http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1308314375_ARQUIVO_IEMANJAIMAGENSARQUETIPICASDAGRANDEMAENADIASPORA.pdf Iemanjá: Imagens Arquetípicas da Grande Mãe na Diáspora] {{Wayback|url=http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1308314375_ARQUIVO_IEMANJAIMAGENSARQUETIPICASDAGRANDEMAENADIASPORA.pdf |date=20160307160327 }}.'' p. 4</ref> [[Pierre Verger|P. Verger]], em seu livro ''Dieux d'Afrique'',<ref>[[Pierre Verger|Verger, Pierre]]. ''Dieux D'Afrique''. Paris: Paul Hartmann (1ª edição, 1954; 2ª edição, 1995). 400pp, 160 fotos. ISBN 2-909571-13-0</ref> registra: "''é o orixá das águas doces e salgadas dos [[Egba]], uma nação [[Iorubás|iorubá]] estabelecida outrora na região entre [[Ifé]] e [[Ibadan]], onde existe ainda o rio ''Yemọjá''. As guerras entre nações iorubás levaram os Egba a emigrar na direção oeste, para [[Abeokuta]], no início do [[século XIX]]. (...)O rio ''Ògùn'', que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Iemanjá.''"<ref>[[Confer|Cf.]] Zdenka Kalnická. ''[https://books.google.com.br/books?id=IZCLAAAAQBAJ&pg=PT198&dq=#v=onepage&q&f=false Wagadu: Water & Women in Past, Present & Future, Volume 3].'' Xlibris Corporation, 26 de set de 2007 - 248 páginas. ISBN 978-1-4257-5287-3, ISBN 978-1-4653-3137-3</ref> Após a guerra entre os [[Egba (povo)|egbás]] e os [[Reino do Daomé|daomeanos]], sobraram poucas pessoas desse culto, tendo em vista a dispersão ou mesmo prisão destes pelos inimigos.<ref name="notasverger.293"/> Segundo R. Ogunleye, "''Não está claro se o rio ''Ogun'' precede ''Yemoja'' ou se ''Yemoja'' trouxe o rio ''Ogun'' a existir para que ela pudesse criar um quartel-general como um assento de seu governo. Seja qual for o caso, o rio ''Ogun'' tem vindo a ser aceito pelos iorubás como o "quartel-general" de ''Yemoja''. De seu trono lá, ela se manifesta em qualquer outro corpo de água''".<ref name=ibara>Ogunleye, Adetunbi Richard. ''[http://www.inkanyiso.uzulu.ac.za/journals/vol7i1/08%20Ogunleye%20prs.pdf Cultural identity in the throes of modernity: an appraisal of Yemoja among the Yoruba in Nigeria].'' Department of Religion & African Culture, Adekunle Ajasin University Akungba-Akoko Ondo State, Nigeria, 2015.</ref> A referência da guerra e da fuga dos egbas reflete-se em sua mitologia.
 
Os principais relatos [[mitologia|mitológicos]] de Iemanjá se desenrolam com os [[orixá]]s primordiais da criação iorubá do mundo. Evidenciou-se na segunda metade do [[século XX]] um consenso entre autores de que Iemanjá é filha da divindade soberana dos mares e oceanos [[Olokun]] (esta última uma divindade feminina em Ifé e masculina no [[Benim]]), sendo esse vínculo celebrado na [[cidade]] de [[Ifé]], considerado como berço da civilização [[Iorubás|iorubá]].<ref name="mikelle">Mikelle Smith Omari-Tunkara. ''[Manipulating the sacred: Yorùbá art, ritual, and resistance in Brazilian Candomblé.'' African American life series. Wayne State University Press,‎ 2005. ISBN 9780814328521</ref><ref>[https://books.google.com.br/books?id=oZD9AwAAQBAJ&pg=PA77&dq#v=onepage&q&f=false Assef, p. 77].</ref><ref>Luna, Jayro. ''[https://books.google.com.br/books?id=8Q5CXXRDycoC&pg=PA98&dq#v=onepage&q&f=false Teoria do Neo-Estruturalismo Semiótico].'' 1ª Ed. São Paulo: Vila Rica, 2006. ISBN 85-905231-9-5, p. 98</ref><ref>Póvoas, Ruy do Carmo. ''Da porteira para fora: mundo de preto em terra de branco.'' Universidade Estadual de Santa Cruz. UESC, 2007. p. 183</ref><ref>''Exu'', Edições 1-11. Fundação Casa de Jorge Amado, 1987. p. W-24</ref><ref>Hoornaert, Eduardo. ''O cristianismo moreno do Brasil.'' Ed. Vozes, 1991 - 181 páginas. p.87</ref> R. Ogunleye alude sua origem também a partir de [[Olorun]] (''Olodumaré''), divindade do ''[[orun]]''.<ref>[http://www.inkanyiso.uzulu.ac.za/journals/vol7i1/08%20Ogunleye%20prs.pdf Ogunleye, p. 61]</ref> Se constata então como filha da união mitológica conturbada de Olokun e Olorun e irmã de [[Ajê Salugá]].<ref>Bàbá Osvaldo Omotobàtálá. ''Ajé Salugá: òrìṣà de la riqueza.'' Bayo editores, 2007.</ref> Olokun pelo caráter instável e destrutivo foi atada ao fundo do oceano em seus domínios após uma tentativa de [[dilúvio]] frustrada por Olorun,<ref>Coleção Arthur Ramos. ''Introdução a antropologia brasileira as culturas negras''. Ed. Casa do Estudante do Brasil, 1972; vol. III, pág. 65.</ref> E. L. Nascimento menciona, ao referir-se ao temor aos aspectos antissociais ou negativos dos Orixás femininos, "''Iemanjá, igualmente,<ref group="nb">Aqui a autora E. L. Nascimento, faz uma análise comparativa do lado negativo de Iemanjá com Oxum.</ref> representa em seu aspecto perigoso a ira do mar, a esterilidade e a loucura''".<ref>[https://books.google.com.br/books?id=0e7rpd-Rwg0C&pg=PA126&dq=#v=onepage&q&f=false E. L. Nascimento, p. 126]</ref> Não obstante, é muito frequente referências a natureza benéfica de Iemanjá, [[Lydia Cabrera|L. Cabrera]] assim defende: "''Sem deformar essa definição encantadora e irrefutável, podemos imaginar Iemanjá emanada de Olokun, com seu poder e suas riquezas, mas sem as características tremebundas que o associam mais à morte do que à vida, como sua manifestação feminina - ''Iemanjá é muito maternal'' - e benéfica''".<ref>[https://books.google.com.br/books?id=6cSpx3vgc8sC&pg=PA37&dq=#v=onepage&q&f=false L. Cabrera, p. 37]</ref><ref group="nb">Nesta menção L. Cabrera utiliza-se da hipótese de Olokun ser um orixá masculino.</ref> Na cosmologia e gênese de A. B. Ellis influenciada por P. Baudin é filha da união de [[Obatalá]] com [[Oduduwa]] numa manifestação feminina.<ref>Ellis, Alfred Burdon. ''The Yoruba-Speaking peoples of the Slave Coast of West Africa : their religion, manners, customs, laws, language etc. ; with an appendix containing a comparison of the Tshi, Ga, Ewe and Yoruba languages.'' London. Chapman and Hall, 1894.</ref><ref name=baudin>Baudin, Noel. ''Dictionnaire français-yoruba-français.'' Cotonou, 1967.</ref>
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=== Evolução e Interpretações do Mito ===
[[Ficheiro:Carybè, rilievi degli orixas, yemanjá, recorte.JPG|thumb|180px|right|Detalhe da escultura ''Iemanjá'' de [[Carybé]], onde é possível notar orixás representados dentro do seu ventre, como [[Xangô]] com seu [[oxê]] e [[Ogum]] com sua [[espada]].<ref>da Silva, Vagner Gonçalves. ''[http://pontourbe.revues.org/pdf/1267 Artes do axé. O sagrado afro-brasileiro na obra de Carybé].'' p. 10</ref> [[Museu Afro-Brasileiro]], [[Salvador (Bahia)|Salvador]], [[Bahia]].]]
Muito da interpretação de Iemanjá e de sua mitologia deve-se aos seus primeiros registros escritos como observa-se em P. Baudin e outros, o seu atributo de ''Mãe de todos os orixás'' é oriundo do relato de sua união com [[Aganju]], da qual teria surgido o orixá Orungã, este último atraído pela mãe teria tentado possuí-la em um momento de ausência do pai. Da consumação do incesto ou da mera tentativa da mesma, sucedeu-se uma fuga da parte de Iemanjá, como noutros episódios, que horrorizada cai sobre a terra e de seus seios rasgados surgem dois lagos e sucede-se assim o parto coletivo de diversos orixás, juntamente do [[Sol]] e da [[Lua]], porém este relato possui sérias inconsistências inclusive a menção a Olokun como o primeiro a nascer desse parto sendo que a sequência de nascimentos variam de um autor a outro e os desígnios dos orixás citados.<ref name="notasverger.295"/> L. Cabrera ao relatar este mito a partir de depoimentos de alguns santeiros sobrepõe em uma mesma figura duas divindades distintas, Iemanjá e Iemu, a sua ''Yemayá-Yemu'' esposa de Olorun que depois através de um Obatalá, ''Achupá'', deu à luz os orixás e os dois astros anteriormente citados, esta abordagem é comparada pela a autora a outra versão obtida de uma informante em exílio de Iemanjá casada com Aganju, que muito se assemelha ao relato dos autores P. Baudin, A. B. Ellis, R. E. Dennett, Stephen Septimus Farrow, Olumide Lucas e R. F. Burton; Cabrera em nota lança luz quanto a este mito tratar-se de uma variação do mito de Iemu verdadeira mãe de [[Ogum]] e que o incesto teria sido praticado por este,<ref>[https://books.google.com.br/books?id=6cSpx3vgc8sC&pg=PA32&dq#v=onepage&q&f=false L. Cabrera, p. 32]</ref> o mesmo é afirmado por Natalia Bolívar Aróstegui<ref>Mara Lúcia Cristan de Lomba-Viana, José Carlos Veríssimo de Lomba-Viana. ''[http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/ENS4fdb841150529.pdf Desporto: Religiões, Ritos e Mitos Afro-Brasileiros]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }}.'' ISBN 978-972-99645-6-5, p. 20</ref> e outros autores.<ref>[https://books.google.com.br/books?id=fAzYsAsJXDAC&pg=PA50&dq=#v=onepage&q&f=false M. F. Olmos, L. Paravisini-Gebert, p. 50]</ref><ref>Raul Canizares. ''[https://books.google.com.br/books?id=51XAPkinhtkC&pg=PA81&dq=#v=onepage&q&f=false Santería Cubana: El Sendero de la Noche].'' Inner Traditions / Bear & Co, 2002 - 176 páginas. ISBN 0-89281-961-8, p. 81</ref>
 
Verger, que não observa os relatos de A. B. Ellis na costa da África, considera um visão equivocada e extravagante a de padre Baudin, e que só teria cruzado o Atlântico através de Ellis. O mesmo registra: "''Durante a pesquisa que fiz a partir de 1948 nos meios não letrados destas regiões da África, nunca encontrei vestígios das lendas inventadas por Rev. Padre Baudin''". Atualmente, R. Prandi, que rejeita a visão de Verger, defende que o mesmo mito é de grande conhecimento por parte dos praticantes do culto ao orixá na Bahia, com a observação que os mesmos não conservaram o nome de Orungã.<ref name="manzini">Manzini, Yaskara. ''[https://lituca.files.wordpress.com/2012/03/iyami.pdf yami Osoronga (Minha Mãe Feiticeira): O coletivo feminino na cosmogonia do Universo]''. pp. 32 e 33</ref> A visão de Prandi ignora a influência do acesso de religiosos a autores como [[Arthur Ramos]], fortemente influenciado por T. J. Bowen e A. B. Ellis, e demais estudiosos que tentaram atuar como bastiões de resgate do que acreditavam ser a [[Identidade cultural|identidade]] dos negros já perdida. Como destaca Roberto Motta, o papel do [[antropologia|antropólogo]] "''se transforma em doutor da fé, descobridor ou inventor da tradição e da memória''",<ref>Roberto Motta, [http://www.dedc2.uneb.br/wp-content/uploads/2015/09/Revista-Volume-01.pdf Revista Africa(s) — ISSN 2318.1990, p. 26]</ref> esse aparecimento gradativo do mito entre os devotos é reforçado com a comparação de dois relatos de períodos distintos, pelo relato de [[Nina Rodrigues]] em 1934: “''É de crer que esta lenda seja relativamente recente e pouco espalhada entre os nagôs. Os nossos negros que dirigem e se ocupam do culto ''yorubano'', mesmo dos que estiveram recentemente na África, de todo a ignoram e alguns a contestam''”,<ref name="manzini"/> outra menção quanto ao desconhecimento generalizado do mito, mas o seu já aparecimento é a pesquisa do escritor [[Jorge Amado]] que se utiliza da metáfora de Iemanjá e Orungã para seu livro [[Mar Morto (Jorge Amado)|Mar Morto]], o mesmo relata: "''Não são muitos no cais que sabem da história de Iemanjá e de Orungã, seu filho.''"<ref>dos Santos, José Benedito. ''[https://revistagepelip.files.wordpress.com/2013/03/a-recriac3a7c3a3o-do-mito-de-iemanjc3a1-e-orungc3a3.pdf A Recriação do Mito de Iemanjá e Orungã: uma leitura do romance mar morto, de Jorge Amado] {{Wayback|url=https://revistagepelip.files.wordpress.com/2013/03/a-recriac3a7c3a3o-do-mito-de-iemanjc3a1-e-orungc3a3.pdf |date=20160302081641 }}.'' p. 45</ref>
 
Outro atributo que lhe foi associado foi o poder sobre as cabeças e portanto sobre o destino. Na crença [[Religião iorubá|iorubá]], os aspectos que os seres humanos vivenciam em suas vidas são oriundos da escolha do ''[[Ori (yoruba)|ori]]'' (cabeça) que aplica o [[destino]]. Nessa tradição crê-se que após [[Obatalá]] modelar os seres, Ajàlá fornece a cabeça.<ref name="poli">Poli, Ivan da Silva. ''Antropologia dos Orixás: a civilização yorubá através de seus mitos, orikis e sua diáspora''. Ed. Acadêmica Terceira Margem, 2011. ISBN 978-85-7921-046-4</ref> Nas palavras de Abimbọla, "''Ajàlá (outra existência sobrenatural que não é reconhecida como divindade) fornece o ''[[Ori (yoruba)|ori]]'' (cabeça) de sua loja de cabeças...''"<ref>Wande Abimbọla. ''Sixteen Greats of Ifa'', Editora Unesco, ano 1975.</ref> S. Poli evidencia que Ajàlá "''É esquecido e descuidado e devido a isto nem sempre as cabeças saem boas. Como resultado disso a maioria das pessoas escolhem por si mesmas as cabeças sem recorrerem a ''Ajàlá'' e acabam assim por escolher cabeças ruins e imprestáveis"'', sendo devido a isso o motivo de serem necessários rituais como o [[Ebori (Bori)|Bori]] para estabelecer o equilíbrio que o ''[[Ori (yoruba)|ori]]'' necessita.<ref name=poli/> No [[Brasil]] a Iemanjá foi atribuída a tarefa da manutenção das cabeças, em especial no procedimento do [[Ebori (Bori)|Bori]] tornando-se a ''Iyá Ori'' ("Mãe das Cabeças"), a cerca disso [[Reginaldo Prandi|R. Prandi]] nos explica: "''Ajàlá está esquecido no [[Brasil]], tendo sido substituído por Iemanjá, a dona das cabeças, a quem se canta, no xirê, quando os iniciados tocam a cabeça com as mãos para lembrar esse domínio, e na cerimônia de sacrifício à cabeça ([[Ebori (Bori)|Bori]]), rito que precede a iniciação daquela pessoa''".<ref name=prandi/>
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[[Ficheiro:Praia do Rio Vermelho com oferendas para Iemanja.jpg|thumb|[[Ialorixá]] e filhos na entrega da oferenda a Iemanjá]]
 
A tradicional [[Festa de Iemanjá]] na cidade de [[Salvador (Bahia)|Salvador]], capital da [[Bahia]], tem lugar na praia do [[Rio Vermelho (bairro de Salvador)|Rio Vermelho]] todo dia [[2 de Fevereiro]].<ref>http://www.soulbrasil.com/index.php?page=ed/52/07-principal.php&lang=en</ref><ref>{{Citar web |url=http://brazzil.com/component/content/article/229-february-2011/10462-in-brazil-oldies-and-greens-cant-agree-on-how-to-celebrate-the-queen-of-the-sea.pdf |titulo=Cópia arquivada |acessodata=2014-06-13 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160303184222/http://brazzil.com/component/content/article/229-february-2011/10462-in-brazil-oldies-and-greens-cant-agree-on-how-to-celebrate-the-queen-of-the-sea.pdf |arquivodata=2016-03-03 |urlmorta=yes }}</ref> Na mesma data, Iemanjá também é cultuada em diversas outras praias brasileiras, onde lhe são ofertadas velas e flores, lançadas ao mar em pequenos barcos artesanais.
 
A festa católica acontece na [[Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia]], na Cidade Baixa, enquanto os [[terreiro]]s de [[candomblé]] e [[umbanda]] fazem divisões cercadas com cordas, fitas e flores nas praias, delimitando espaço para as casas de santo que realizarão seus trabalhos na areia.
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== Ligações externas ==
{{Commons|Category:Iemanjá}}
* [https://web.archive.org/web/20091005013018/http://www.cantinhodeyemanja.com.br/ Cantinho de Yemanjá]
* [http://g1.globo.com/Carnaval2008/0,,MUL252412-9772,00.html Festa de Iemanjá (vídeo)]
* [http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1270956-EI6607,00.html A Outra origem de Janaína]