Liberdade: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Eugène Delacroix - La liberté guidant le peuple.jpg|thumb|350px|''A Liberdade Guiando o Povo'', de [[Delacroix]] (1830): uma personificação da liberdade. A liberdade, antigamente, era vista como resultado de batalhas e de imposição de vontades e justiças.]]
'''Liberdade''', é o segundo corolário da [[Verdade]]: Tudo aquilo que nos torna felizes, nomeadamente, o que nos protege do infortúnio e do abuso de outrem e designadamente o cuidado ou prevenção e a verdade da lei e da justiça. A Igualdade é o primeiro Corolário da [[Verdade]], porque só a verdade nos torna efectivamenteefetivamente iguais. A Fraternidade é o terceiro Corolário da Verdade.
 
Em [[filosofia]], pode ser compreendida sob uma perspectiva que denota a ausência de [[submissão]] e de [[servidão]]. Ou sob outra perspectiva que é a [[autonomia]] e a [[espontaneidade]] de um [[sujeito]] [[razão|racional]].
== Descartes ==
Para o filósofo [[René Descartes]] (1596-1650), age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas que precedem a escolha. Dessa [[premissa]], decorre o [[silogismo]] lógico de que, quanto mais evidente a veracidade de uma alternativa, maiores as chances de ela ser escolhida pelo agente. Nesse sentido, a inexistência de acesso à informação afigura-se óbice à identificação da alternativa com maior grau de veracidade.
 
== Espinoza ==
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Tendemos a associar a fruição da liberdade a uma determinação constante e inescapável. Contudo, os ditames de nossa vida estão sendo realizados a cada passo que damos: assim, a deliberação está também a cargo da vontade humana (na qual se inserem as leis físicas e químicas, biológicas e psicológicas).
 
Diretamente associada à ideia de liberdade, está a noção de [[responsabilidade]], vez que o ato de ser livre implica assumir o conjunto dos nossos atos e saber responder por eles.
 
== Leibniz ==
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== Schopenhauer ==
Para [[Arthur Schopenhauer]] (1788-1860), a ação humana não é absolutamente livre. Todo o agir humano, bem como todos os fenómenos da natureza, até mesmo suas leis, são níveis de objectivaçãoobjetivação da coisa-em-si kantiana que o filósofo identifica como sendo puramente [[vontade]].
 
Para Schopenhauer, o homem é capaz de acessar sua realidade por um duplo registro: o primeiro, o do [[fenômeno]], onde todo o existente reduz-se, nesse nível, a mera [[representação]].
 
No nível essencial, que não se deixa apreender pela intuição intelectual, pela experiência dos sentidos, o mundo é apreendido imediatamente como vontade, [[Vontade de Vida]]. Nesse caso, a noção de vontade assume um aspecto amplo e aberto, transformando-se no princípio motor dos eventos que sucedem-se sucedem na dimensão fenomênica segundo a lei da causalidade.
 
O homem, objeto entre objetos, coisa entre coisas, não possui liberdade de ação porque não é livre para deliberar sobre sua vontade. O homem não escolhe o que deseja, o que quer. Logo, não é livre - é absolutamente determinado a agir segundo sua vontade particular, objetivação da vontade metafísica por trás de todos os eventos naturais. O que parece deliberação é uma ilusão ocasionada pela mera consciência sobre os próprios desejos.É poder viver sem ninguém mandar.
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O tema da liberdade é o núcleo central do pensamento do filósofo francês e resume toda a sua doutrina.
 
Sua tese é: a liberdade é absoluta ou não existe. Sartre recusa todo [[determinismo]] e mesmo qualquer forma de [[condicionamento]]. Assim, ele recusa [[Deus]] e inverte a tese de [[Lutero]]; para este, a liberdade não existe justamente porque Deus tudo sabe e tudo prevê. Mas como, para Sartre, Deus não existe, a liberdade é absoluta. E recusa também o determinismo [[Materialismo|materialista]]: se tudo se reduzisse à [[matéria]], não haveria [[consciência]] e não haveria liberdade. Qual é, então, o fundamento da liberdade? É o nada, o indeterminismo absoluto. Agora, entende-se melhor a má-fé: a tendência a ser termina sendo a negação da liberdade. Se o fundamento da consciência é o nada, nenhum ser consegue ser princípio de explicação do comportamento humano. Não há nenhum tipo de essência - divina, biológica, psicológica ou social - que anteceda e possa justificar o ato livre. É o próprio ato que tudo justifica. Por exemplo: de certo modo, eu escolho inclusive o meu nascimento. Por quê? Se eu me explicasse a partir de meu nascimento, de uma certa constituição psicossomática, eu seria apenas uma sucessão de objetos. Mas o homem não é objeto, ele é sujeito. Isso significa que, aqui e agora, a cada instante, é a minha consciência que está "escolhendo", para mim, aquilo que meu nascimento foi. O modo como sou meu nascimento é eternamente mediado pela consciência, ou seja, pelo nada. A falsificação da liberdade, ou a má-fé, reside precisamente na invenção dos determinismos de toda espécie, que põem no lugar do nada o ser.
 
A liberdade humana revela-se na [[angústia]]. O homem angustia-se diante de sua condenação à liberdade. O homem só não é livre para não ser livre,: está condenado a fazer escolhas, - e a responsabilidade de suas escolhas é tão opressiva que surgem escapatórias através das atitudes e [[paradigma]]s de má-fé, onde o homem aliena-se de sua própria liberdade, mentindo para si mesmo através de condutas e [[ideologia]]s que o isentem da responsabilidade sobre as próprias decisões.
 
== Pecotche ==
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Para ele, não há liberdade sem o mundo material no qual os indivíduos manifestam na prática sua liberdade junto com outras pessoas, em que transformam suas circunstâncias objetivas de modo a criar o mundo objetivo de suas faculdades, sentidos e aptidões. Ou seja, a liberdade humana só pode ser encontrada de fato pelos indivíduos na produção prática das suas próprias condições materiais de existência.
 
Desse modo, se os indivíduos são ''privados'' de suas próprias condições materiais de existência, isto é, se suas condições objetivas de existência são ''[[propriedade privada]]'' (de outra pessoa, portanto), não há verdadeira liberdade, e a sociedade se divide em [[proletariado|proletários]] e capitalistas. Sob o domínio do capital, a manifestação prática da vida humana, a atividade produtiva, se torna coerção, [[trabalho assalariado]]; as faculdades, habilidades e aptidões humanas se tornam mercadoria, [[força de trabalho]], que é vendida no [[mercado de trabalho]], e a vida humana se reduz à mera sobrevivência.
 
Marx diz que as várias liberdades parciais que existem no [[capitalismo]] - por exemplo, a liberdade econômica (de comprar e vender mercadorias), a liberdade de expressão ou a liberdade política (decidir quem governa) - pressupõem que a separação dos homens com relação às suas condições de existência seja mantida, pois, caso essa separação seja atacada pelos homens em busca de sua liberdade material fundamental, todas essas liberdades parciais são suspensas ([[ditadura]]) para restabelecer o capitalismo. Mas, se a luta dos indivíduos privados de suas condições de existência (proletários) tiver êxito e se eles conseguirem abolir a propriedade privada dessas condições, seria instaurado o [[comunismo]], que ele entende como a [[associação livre dos produtores]].
 
== Mikhail Bakunin ==
[[Bakunin]] (1814-1876) não se referia a um ideal abstrato de liberdade, mas a uma realidade concreta baseada na liberdade simétrica de outros. Liberdade consiste no "desenvolvimento pleno de todas as faculdades e poderes de cada ser humano, pela educação, pelo treinamento científico, e pela prosperidade material." Tal concepção de liberdade é "eminentemente social, porque só pode ser concretizada em sociedade," não em isolamento. Em um sentido negativo, liberdade é "a revolta do indivíduo contra todo tipo de autoridade, divina, coletiva ou individual."
 
== Guy Debord ==
No livro [[A Sociedade do Espetáculo]], [[Guy Debord]] (1931-1994), ao criticar a [[sociedade de consumo]] e o [[mercado]], afirma que a liberdade de escolha é uma liberdade ilusória, pois escolher é sempre escolher entre duas ou mais coisas prontas, isto é, predeterminadas por outros. Uma sociedade como a capitalista, onde a única liberdade que existe socialmente é a liberdade de escolher qual mercadoria consumir, impede que os indivíduos sejam livres na sua vida cotidiana. A vida cotidiana, na sociedade capitalista, se divide em tempo de trabalho (que é não livre, submetido à [[hierarquia]] de administradores e às exigências de [[lucro]] impostas pelo mercado) e tempo de lazer (onde os indivíduos têm uma liberdade domesticada que é escolher entre coisas que foram feitas sem liberdade durante o tempo de trabalho da sociedade). Assim, a sociedade da mercadoria faz da passividade (escolher, consumir) a liberdade ilusória que se deve buscar a todo o custo, enquanto que, de fato, como seres ativos, práticos (no trabalho, na produção), somos não livres.
 
== Philip Pettit<ref>A exposição dos argumentos de Philip Petit foi baseada na seguinte obra: Pettit, Philip. "Teoria da Liberdade"; tradução de Renato Sérgio Pubo Maciel; coordenação e supervisão Luiz Moreira – Belo Horizonte: Del Rey, 2007. 272 páginas.</ref> ==
A relevância de Philip Pettit reside em sua construção de uma teoria da liberdade que traz, consigo, implicações práticas para a consecução das finalidades de uma [[democracia]].
 
Para iniciar sua empreitada filosófica, Pettit resgata dois pontos importantes do debate filosófico acerca da liberdade: