Fernando de Noronha: diferenças entre revisões

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Muitas controvérsias marcam o descobrimento do arquipélago pelos [[europeus]]. Pelo menos três nomes — ''São Lourenço'', ''São João'' e ''Quaresma'' — têm sido associados com a ilha na época de sua descoberta. O que se sabe como certo é que várias expedições alcançaram a costa brasileira entre 1500 e 1503 e que a existência do arquipélago era conhecida em Lisboa pelo menos desde antes de 16 de janeiro de 1504, quando o rei D. [[Manuel I de Portugal]] fez mercê da "ilha de São João" a [[Fernão de Loronha]] — [[fidalgo|cavaleiro da Sua Casa]], [[cristão-novo]], grande comerciante e armador — como uma [[capitania hereditária]], citando o beneficiado [com ou sem razão] como descobridor da ilha.<ref name="Pessoa"/><ref name="Grazielle">Nascimento, Grazielle Rodrigues do. "No Tempo dos Loronhas se Erguia uma Ilha-Presídio no Atlântico (1504-1800)". In: ''Revista Crítica Histórica'', 2010; I (1)</ref> <sup>Ver nota:</sup> <ref>Uma cópia autêntica desta carta nunca foi encontrada. Seu conteúdo e data, no entanto, são resumidos em carta régia de 3 março de 1522, confirmando isso, e ainda numa outra carta régia de 20 de maio de 1559, que identifica a localização de ''São João'' precisamente como a ilha Fernando de Noronha. Duarte Leite (1923: p.276-8); Roukema (1963: p.21).</ref>
 
A ilha sem dúvida havia sido descoberta algum tempo antes disso, mas há mais de um século o autor, a data precisa e as circunstâncias do achado vêm dando motivo para muitos debates. Uma das propostas é de que ela foi descoberta por uma expedição de mapeamento portuguesa que foi enviada em maio de 1501. A expedição de 1501 também é conhecida como a "terceira viagem" de [[Américo Vespúcio]] (e seusua primeiroprimeira sob a bandeira portuguesa). Vespúcio relaciona esta expedição duas vezes — primeiro em uma carta a Lorenzo Pietro Francesco de Medici, escrita no início de 1503, e de novo em suas cartas a [[Piero Soderini]], escritas em 1504-1505.<ref>Markham, Clements (ed.). [http://books.google.com/books?id=8wAuAAAAMAAJ&pg=PA42#v=onepage&q&f=false ''The Letters of Amerigo Vespucci and Other Documents Illustrative of His Career''].
Hakluyt Society, 1894 </ref> Em sua carta, Vespúcio não menciona o nome do capitão dessa expedição de 1501 e sua identidade tem sido especulada. O cronista do século XVI [[Gaspar Correia]] sugeriu que era [[André Gonçalves (explorador)|André Gonçalves]].<ref>[http://books.google.com/books?id=YmVKAAAAYAAJ&dq=editions%3ALCCN05022145&as_brr=1&pg=PA152#v=onepage&q&f=false ''Lendas da India'', p. 152]. </ref> Greenlee (1945) analisou vários nomes possíveis — e se instalou na conjetura de que poderia ser o próprio Fernão de Loronha, hipótese também sugerida por Duarte Leite (1923). Loronha pode ter recebido crédito na descoberta por ter sido o principal financiador de um consórcio de comerciantes que ambicionava explorar as ricas florestas de [[pau-brasil]], que estava em atividade por mercê régia desde 1501, e que manteve um ativo comércio até aproximadamente a década de 1540. Sem dúvida Loronha foi foi um dos financiadores da expedição de 1503-1504, sob o comando do capitão [[Gonçalo Coelho]], que levou Vespúcio a bordo, e Loronha pode ter estado a bordo de uma das naus que em 24 de julho de 1503 avistaram a ilha então chamada da Quaresma, rebatizada em seguida como Ilha de São João, e que mais tarde levaria seu nome. Porém, a historiografia recente considera pouco provável que Loronha tenha participado pessoalmente de qualquer das viagens.<ref name="Grazielle"/><ref name="Pessoa"/>
 
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De acordo com Vespúcio, a expedição de 1501 retornou a Lisboa em setembro de 1502, apenas a tempo de influenciar a composição final do mapa de Cantino. Infelizmente, Vespúcio não relata ter descoberto esta ilha; na verdade, ele é bastante claro que a primeira vez que ele (e seus companheiros marinheiros) viu a ilha foi na expedição de Coelho em 1503. No entanto, há uma carta escrita por um italiano de que um navio chegou "da terra dos [[papagaio]]s" em Lisboa no dia 22 de julho de 1502 (três meses antes Vespúcio). Esta carta foi escrita pelo emissário veneziano Pascualigo em 12 de outubro de 1502 e é citada no diário de Marino Sanuto.<ref>veja Greenlee (1945: p.11n) e Roukema (1963:p.19).</ref> Este poderia ser um navio perdido da expedição de mapeamento que retornou prematuramente, sobre a qual ainda não há informação.<ref>Roukema (1963) aceita a hipótese de uma expedição em separado não registrada em 1501 - e que esta pode ser a única liderado por André Gonçalves. No entanto, Greenlee (1945) rejeita a teoria da expedição não registrada, considerando-a supérflua e abraça a teoria do navio perdido (e que este navio era comandado, pessoalmente, por Fernão de Loronha).</ref> O momento da sua famosa chegada (julho de 1502), faz com que seja possível que ele tenha passado pela ilha em algum momento de março de 1502, na viagem de volta, bem dentro do período da Quaresma.
 
Uma outra teoria é de que a ilha foi descoberta já em 1500, logo após a [[descoberta do Brasil|chegada ao Brasil]] pelada Segunda [[Armadas da Índia|Armada da Índia]], sob a liderança de [[Pedro Alvares Cabral]]. Após sua breve parada em terra firme em [[Porto Seguro]], na [[Bahia]], Cabral despachou um navio de suprimentos sob o comando de [[Gaspar de Lemos]] ou André Gonçalves de volta a Lisboa para relatar a descoberta. Este navio de abastecimento retornando teria seguido em direção ao norte ao longo da costa brasileira e pode ter chegado até a ilha de Fernando de Noronha e relatado a sua existência ao governo de Lisboa em julho de 1500.<ref>Roukema (1963) rejeitou esta teoria.</ref> No entanto, isso contradiz o nome ''Quaresma'', uma vez que o navio de abastecimento partiu bem após o tempo da Quaresma. Uma quarta possibilidade (improvável) é que a ilha foi descoberta pela Terceira Armada da Índia de [[João da Nova]], que partiu de Lisboa em março ou abril de 1501 e chegou de volta em setembro de 1502, também a tempo de influenciar o Planisfério de Cantino. O cronista [[Gaspar Correia]] afirma que na viagem de ida, a Terceira Armada fez uma parada na costa brasileira em torno do [[Cabo de Santo Agostinho]].<ref>Gaspar Correia, ''Lendas da India'' ([http://books.google.com/books?id=YmVKAAAAYAAJ&pg=PA235#v=onepage&q&f=false p.235])</ref> Dois outros cronistas ([[João de Barros]] e [[Damião de Góis]]) não mencionam a terra firme, mas eles relatam a descoberta de uma ilha (que eles acreditam ser identificado como ilha de Ascensão, mas isso não é certo).<ref>João de Barros, ''Decadas da Asia'', vol.1, [http://books.google.com/books?id=Epo2AAAAMAAJ&pg=PA466#v=onepage&q&f=false p.466]; Damião de Góis, ''Chronica de D.Manuel'', [http://books.google.com/books?id=0vTmAAAAMAAJ&pg=PA84#v=onepage&q&f=false p.84]. Veja Roukema (1963).</ref> No entanto, o calendário é muito apertado: a [[Páscoa]] foi em 11 de abril de 1501, enquanto que a data prevista de partida da Terceiro Armada de Lisboa varia de 5 março a 15 abril, não deixando tempo suficiente para chegar a esses locais dentro da Quaresma.
 
A transição do nome de "São João" para "Fernando de Noronha" foi, provavelmente, apenas pelo uso natural. A carta régia datada de 20 de maio de 1559, aos descendentes da família Noronha, ainda se refere à ilha por seu nome oficial, ilha de São João.<ref>Duarte Leite (1923: p.276-8)</ref> No entanto, em outros lugares por exemplo, o diário de bordo de [[Martim Afonso de Sousa]] na década de 1530 referia-se ao arquipélago como "ilha de Fernão de Noronha" ("Noronha" era um erro ortográfico comum de "Loronha"). O nome informal eventualmente se tornou o nome oficial.