Pedro Américo: diferenças entre revisões

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A "pintura histórica", que é definida pelo seu seu assunto e propósito, e não pelo seu estilo, tem uma origem imemorial, mas se consolidou no período [[Barroco]], quando se desenvolvia o [[absolutismo]] europeu. Neste sistema o poder é centralizado, e todos os meios são usados para garantir a total independência e supremacia do soberano e afirmar sua glória. A partir do Barroco, o gênero histórico entrou em sua fase dourada, quando o potencial da sua retórica visual foi percebido e explorado em profundidade pelas elites e governos, e, indiferente à passagem dos estilos pelos séculos sucessivos, continuou servindo aos mesmos propósitos, sempre mais ligada à esfera civil da sociedade, embora muitas vezes pudesse incorporar elementos religiosos em um período em que Religião e Estado conviviam em íntima proximidade e se articulava a doutrina do [[direito divino dos reis]].<ref name="Machado"/><ref name="Green"/> A iconografia produzida, exaltando o Estado e seu Rei ou representantes, seus feitos e conquistas militares, não raro mostrando-os abençoados por Deus ou seus anjos e santos, ou cercados de divindades míticas, justificava, através de uma arte que deveria maravilhar, seduzir e sobretudo ''convencer'' e ''doutrinar'' tanto súditos como estrangeiros, a manutenção de um sistema que era capaz de façanhas tão impressionantes na política como nas artes, que atuavam em mútuo favorecimento. Ao chegar o [[Neoclassicismo]], o modelo simplesmente foi mais uma vez revisitado.<ref name="Machado"/><ref name="vicissitudes"/><ref name="Fernandes"/><ref name="Schwarcz"/><ref name="Cardoso"/><ref name="Schlichta"/>
[[Ficheiro:TiradentesPedro escuartejadoAmérico - (Tiradentes supliciado) by Pedro Américo 1893Esquartejado.jpg|thumb|left|''Tiradentes esquartejado'', 1893, [[Museu Mariano Procópio]]]]
 
O gênero não enraizara no [[barroco no Brasil|Brasil barroco]] porque não houve uma corte que o patrocinasse nem academias que o ensinassem; o território era uma colônia portuguesa que só servia para ser explorada, e sua pintura, quase toda voltada ao culto religioso, era praticada em sistema corporativo e semi-artesanal.<ref>Schwarcz, pp. 189-216</ref> Quando [[Joachim Lebreton]], o líder da [[Missão Francesa]], definiu a estrutura da primeira academia do Brasil em memorando para [[Dom João VI]], isso em 1816, a pintura histórica já estava "prevista" no currículo, pois Lebreton, ele mesmo um acadêmico, não fez mais que decalcar seu projeto na estrutura da Academia de Paris, na época, e em todo o ocidente, reputada como a mais avançada de todas as que existiam.<ref name="Rafael"/><ref>Lebreton, Joachim. ''Memória do Cavaleiro Joachim Lebreton para o estabelecimento da Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro''. Rio de Janeiro, 12 de junho de 1816</ref> Porém, como a sua versão tropical tardou para funcionar e o Estado, um Império independente desde 1822, estava em perene convulsão e não podia apresentar nada de muito grandioso para se orgulhar diante de uma população insatisfeita e ainda indiferente às artes acadêmicas, o gênero não prosperou de imediato. Os exemplos deixados pelos pintores da Missão, [[Jean-Baptiste Debret]] e [[Nicolas-Antoine Taunay]], foram raros, de escala muito modesta e nem sempre retrataram eventos brasileiros. O nacionalismo ainda não fora adicionado à mistura, a utilidade política da Academia neste momento ainda não fora compreendida, havia poucas verbas para ela e na verdade nem era prioridade oficial mantê-la. Esse cenário desfavorável era a simples expressão de um choque frontal entre duas realidades opostas: um Brasil ainda barroco, religioso e semi-selvagem, e uma França neoclássica, secularizada e sofisticada.<ref name="Fernandes"/><ref name="Memória Virtual"/><ref name="Técnico">Cardoso, Rafael. [http://www.dezenovevinte.net/ensino_artistico/rc_ebatecnico.htm "A Academia Imperial de Belas Artes e o Ensino Técnico"]. ''19&20'', Rio de Janeiro, v. III, n. 1, jan. 2008.</ref><ref>Schwarcz, pp. 215-234</ref> Os franceses sabiam da diferença, e faziam questão de assinalar sua "superioridade",<ref name="Redescobrir">Siqueira, Vera Beatriz. "Redescobrir o Rio de Janeiro". ''19&20''. Volume I, no 3, novembro de 2006.</ref> mas para piorar esses franceses eram antigos [[Napoleão Bonaparte|bonapartistas]], apoiadores daquele que foi o responsável pela invasão de Portugal e fuga da família reinante para o Brasil. Assim, de um lado eram uma ameaça para os artistas barrocos e, de outro, eram vistos com desconfiança pelos diplomatas ingleses, que exerciam grande influência nas decisões oficiais. O governo, por seu turno, tinha muitos outros problemas para resolver. Proclamada a independência, logo o imperador Dom Pedro I abdicou e o país foi entregue a uma regência, entrando em um período tumultuado. Somando-se os fatores adversos, passaram-se décadas antes que esta Academia pudesse funcionar em bases regulares e fazer seus princípios estéticos e ideológicos enraizarem.<ref name="Redescobrir"/><ref name="Memória Virtual">Neves, Lúcia M. B. Pereira das. {{citar web|url= https://bndigital.bn.gov.br/francebr/missao_artistica.htm |título=''A missão artística francesa de 1816''|publicado= BN Digital|wayb= 20180510185507}}</ref><ref>Naves, Rodrigo. "Debret: neoclassicismo e escravidão". In: Naves, Rodrigo. ''A forma difícil''. São Paulo: Ática, 1996</ref><ref>Schwarcz, pp. 205-267</ref>