Pirâmide de Unas: diferenças entre revisões

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{{principal|Textos das Pirâmides}}
[[Ficheiro:Burial chamber in Unas' pyramid.jpg|thumb|upright=1.15|A câmara mortuária com [[Apotropismo|feitiços de proteção]] preenchendo o frontão ocidental a fim de proteger o sarcófago abaixo.]]
Inscrições, conhecidas como [[Textos das Pirâmides]], foram a grande inovação implementada da Pirâmide de Unas,<ref name=arnold250 /><ref name=malek102 /> em cujas paredes subterrâneas foram primeiro gravados.<ref name=malek102 /><ref name=verner57 > {{harvnb|Verner|1994|p=57}} </ref> Os Textos das Pirâmides são o conjunto de escrituras religiosas conhecidos mais antigos do [[Antigo Egito]].<ref name=malek102 /> Um total de 283 feitiços,<ref name=lehner154 /> de pelo menos mil conhecidos e um número indeterminado de desconhecidos,<ref name=allen95 > {{harvnb|Allen|2001|p=95}} </ref> aparecem na Pirâmide de Unas.<ref name=verner57 /> Os feitiços são a menor e mais bem preservada coleção dos Textos das Pirâmides conhecida oriunda do período do Império Antigo.<ref name=allen15 > {{harvnb|Allen|2005|p=15}} </ref> Apesar de terem aparecido pela primeira vez na Pirâmide de Unas, muitos dos textos são mais antigos.<ref> {{harvnb|Allen|2005|p=4}} </ref>{{nota de rodapé|Muitos dos textos do ritual de oferendas possuem semelhanças com uma "lista de oferendas" que foi descoberta em outras tumbas da Quinta Dinastia. O exemplo intacto mais antigo veio da tumba não real de Debeheni, aparentemente dotado para ele pelo faraó [[Miquerinos]] da [[IV dinastia egípcia|Quarta Dinastia]]. Listas precursoras foram datadas em tumbas não reais do reinado de [[Quéops]], dois séculos antes de Unas.<ref> {{harvnb|Hays|2012|pp=86–89}} </ref> Fragmentos da lista foram descobertos em templos mortuários dos faraós Sahuré, [[Neferirkaré]] e Niuserré da Quinta Dinastia.<ref> {{harvnb|Smith|2009|pp=8–9}} </ref>}} Os textos depois apareceram nas pirâmides de faraós e rainhas das [[VI dinastia egípcia|Sexta]] e [[VIII dinastia egípcia|Oitava Dinastias]],<ref name=allen95 /><ref> {{harvnb|Verner|2001c|p=92}} </ref> até o final do Império Antigo.<ref name=malek102 /> Com a exceção de um único feitiço, cópias dos textos de Unas apareceram até o [[Império Médio]] e depois, incluindo uma réplica quase completa na tumba do sumo-sacerdote Sesóstris-Ankh em [[Lixte]].<ref name=allen15 /><ref> {{harvnb|Hays|2012|pp=5–6}} </ref>
 
As crenças do Antigo Egito mantinham que o indivíduo era formado por três partes básicas: o [[Alma egípcia#Partes da Alma Egípcia|corpo]], o ''[[Alma egípcia#Partes da Alma Egípcia|ka]]'' e o ''[[Alma egípcia#Partes da Alma Egípcia|ba]]''. Quando uma pessoa morria, o ''ka'' se separava do corpo e voltava para jundo dos deuses da onde tinha originalmente partido, enquanto o ''ba'' permanecia com o corpo.<ref name=allen7 > {{harvnb|Allen|2005|p=7}} </ref> O corpo do indivíduo enterrado na câmara mortuária nunca deixava o local fisicamente;<ref name=lehner33 /> porém o ''ba'' despertava e saía do corpo a fim de iniciar uma jornada para uma nova vida.<ref name=lehner33 /><ref name=allen96 > {{harvnb|Allen|2001|p=96}} </ref> Uma parte importante dessa jornada era o Akhet: o horizonte, a junção entre terra, céu e o [[Tuat]], o reino dos mortos.<ref name=janak3 > {{harvnb|Janák|2013|p=3}} </ref> O Akhet, para os antigos egípcios, era o local de onde o sol nascia, simbolizando assim um lugar de nascimento ou ressurreição.<ref name=janak3 /><ref> {{harvnb|Hays|2009|p=195}} </ref> Nos textos, o faraó é chamado para se transformar em um ''akh'' no Akhet.<ref> {{harvnb|Hays|2009|pp=209–212}} </ref><ref> {{harvnb|Hays|2012|pp=212–213}} </ref> O ''akh'', literalmente "ser efetivo", era a forma ressuscitada do falecido,<ref name=allen7 /><ref name=lehner24 > {{harvnb|Lehner|2008|p=24}} </ref> alcançado por meio de ação individual e performances ritualísticas.<ref> {{harvnb|Janák|2013|p=2}} </ref> Caso o falecido não conseguisse completar a transformação, ele se transformava em um ''mutu'', "o morto".<ref name=allen7 /><ref name=janak3 /> A função dos textos, em congruência com toda a literatura funerária, era permitir a reunião do ''ba'' e do ''ka'' do faraó levando à transformação em um ''akh'',<ref name=lehner24 /><ref> {{harvnb|Allen|2005|pp=7–8}} </ref> com o objetivo de garantir vida eterna entre os deuses no céu.<ref name=verner57 /><ref name=grimal126 > {{harvnb|Grimal|1992|p=126}} </ref><ref> {{harvnb|Hays|2012|p=10}} </ref>
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A antecâmara e o corredor foram inscritos com textos mais pessoais.<ref name=allen15 /> As paredes oeste, norte e sul da antecâmara contém textos para a transição do reino humano para o próximo e a ascensão do faraó para o céu.<ref> {{harvnb|Hays|2012|pp=106–109, 282}} </ref> A parede oriental tinha um segundo conjunto de feitiços protetores, iniciando-se com o "Hino Canibal".<ref> {{harvnb|Allen|2005|pp=11, 16}} </ref> Neste, Unas consome os deuses a fim de absorver seu poder para a ressurreição.<ref> {{harvnb|Eyre|2002|p=134}} </ref><ref name=wilkinson1 > {{harvnb|Wilkinson|2016|p=1}} </ref> O egiptólogo Toby Wilkinson escreveu que o hino mitificava o "ritual da chacina", em que um touro era sacrificado.<ref name=wilkinson1 /> O ''serdab'' não possuía inscrições.<ref> {{harvnb|Lehner|2008|p=158}} </ref> A seção sul das paredes e do corredor contém textos<ref> {{harvnb|Hays|2012|pp=108–109}} </ref>{{nota de rodapé|Apenas as seções sul da passagem horizontal foram inscritas na Pirâmide de Unas.<ref name=lehner154 /><ref name=allen12 > {{harvnb|Allen|2005|p=12}} </ref> A mesma coisa ocorreu na Pirâmide de Teti, porém as pirâmides de Merenré e [[Pepi II]] tinham inscritos em toda passagem horizontal e no vestíbulo com três nichos, enquanto a Pirâmide de Pepi I também tinha textos em parte do corredor em declive.<ref name=allen12 />}} que focam-se na ressurreição e ascensão do faraó.<ref> {{harvnb|Hellum|2012|p=42}} </ref> Acreditava-se que a mera presença dos feitiços{{nota de rodapé|Acreditava-se fortemente que os símbolos eram imbuídos com enorme poder mágico; tanto que hieroglifos representando animais perigosos, como cobra ou leão, eram danificados intencionalmente depois de serem inscritos com o objetivo de impedir que eles tomassem forma corpórea e ameaçassem o bem-estar do faraó dentro de sua câmara.<ref> {{harvnb|Verner|2001d|pp=42–43}} </ref>}} dentro da tumba possuía eficácia,<ref> {{harvnb|Malek|2003|p=103}} </ref> protegendo o governante mesmo se o culto funerário parasse de ocorrer.<ref> {{harvnb|Lehner|2008|p=145}} </ref><ref> {{harvnb|Allen|2001|p=600}} </ref>{{nota de rodapé|Um motivador para a realização regular do culto era a natureza temporária da oração. Inscrever os textos dava aos ritos permanência.<ref> {{harvnb|Hays|2012|pp=257–258}} </ref> Mesmo como um ''akh'', o falecido necessitava de atenção dos vivos que o sustentavam por meio de rituais e oferendas.<ref name=janak3 />}}
 
Parte do corpo dos Textos das Pirâmides foram passados para os [[Textos dos Sarcófagos]],<ref name=grimal126 /> um conjunto expandido de novos textos escritos em tumbas não-reais do Império Médio, algumas inclusive ainda contendo convenções gramaticais do Império Antigo e com muitas recorrências de formulações dos Textos das Piramides.<ref name=allen95 /><ref> {{harvnb|Lesko|2001|p=574}} </ref><ref> {{harvnb|Verner|2001d|p=44}} </ref> A transição para os Textos dos Sarcófagos começou no reinado de Pepi I e foi finalizada no Império Médio. Os Textos dos Sarcófagos depois formaram a base para o ''[[Livro dos Mortos]]'' no Império Novo e Época Baixa.<ref name=grimal126 /> Os textos ressurgiriam em tumbas e papiros por dois milênios, finalmente desaparecendo durante a ascensão do [[cristianismo]].<ref> {{harvnb|Hays|2012|p=1}} </ref>
 
{{Notas|col=2}}