Era dos Descobrimentos: diferenças entre revisões

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Com a maior variedade de produtos de luxo a entrarem no mercado europeu por via marítima, os anteriores mercados europeus de bens de luxo estagnaram. O comércio do Atlântico suplantou largamente as anteriores potências comerciais italianas ([[repúblicas marítimas]]) e alemãs ([[Liga Hanseática]]), que baseavam as suas relações comerciais no Báltico, com russos e muçulmanos. Os novos produtos causaram também mudanças sociais, à medida que [[açúcar]], [[especiarias]], [[seda]]s e [[porcelana]]s entraram no mercado de luxo da Europa.
 
O centro |páginada =economia 163}}europeia deslocou-se do Mediterrâneo para a Europa Ocidental. A cidade de [[Antuérpia]], parte do [[Ducado de Brabante]], tornou-se "o centro de toda a economia internacional <ref>[[#Braudel1|Braudel]], p.&nbsp;143</ref>, e a cidade mais rica da Europa.{{sfn|Dunton|1896|p=163}} Centrado em Antuérpia e depois em [[Amesterdão]], o "[[Século de Ouro dos Países Baixos]]" esteve fortemente ligado à era dos descobrimentos. [[Francesco Guicciardini]], um emissário veneziano, afirmou que centenas de navios passavam por Antuérpia diariamente, e 2.000 carruagens entravam na cidade a cada semana. Navios portugueses carregados de [[pimenta]] e [[canela]] desembarcavam aí a sua carga. Com muitos [[comerciante]]s residentes na cidade, e governada por uma [[oligarquia]] de aristocratas-banqueiros proibidos de participar no comércio, a economia de Antuérpia era controlada por estrangeiros, o que tornou a cidade muito [[cosmopolita]], com mercadores e comerciantes de Veneza, Ragusa, Espanha e de Portugal e uma política de tolerância que atraiu uma grande [[Sinagoga Portuguesa de Amsterdão|comunidade judaica]]. A cidade experimentou três picos durante a sua idade de ouro, o primeiro baseado no mercado de [[pimenta]], um segundo desencadeado pela [[prata]] americana vinda através de Sevilha (que terminou com a falência de Espanha em 1557), e um terceiro, após a [[paz de Cateau-Cambrésis]], em 1559, com base na [[indústria têxtil]].
O centro da economia europeia deslocou-se do Mediterrâneo para a Europa Ocidental. A cidade de [[Antuérpia]], parte do [[Ducado de Brabante]], tornou-se "o centro de toda a economia internacional <ref>[[#Braudel1|Braudel]], p.&nbsp;143</ref>, e a cidade mais rica da Europa.<ref name="world and its people">{{citar livro
|último = Dunton
|primeiro = Larkin
|titulo = The World and Its People
|publicado = Silver, Burdett
|ano = 1896
|página = 163}}</ref> Centrado em Antuérpia e depois em [[Amesterdão]], o "[[Século de Ouro dos Países Baixos]]" esteve fortemente ligado à era dos descobrimentos. [[Francesco Guicciardini]], um emissário veneziano, afirmou que centenas de navios passavam por Antuérpia diariamente, e 2.000 carruagens entravam na cidade a cada semana. Navios portugueses carregados de [[pimenta]] e [[canela]] desembarcavam aí a sua carga. Com muitos [[comerciante]]s residentes na cidade, e governada por uma [[oligarquia]] de aristocratas-banqueiros proibidos de participar no comércio, a economia de Antuérpia era controlada por estrangeiros, o que tornou a cidade muito [[cosmopolita]], com mercadores e comerciantes de Veneza, Ragusa, Espanha e de Portugal e uma política de tolerância que atraiu uma grande [[Sinagoga Portuguesa de Amsterdão|comunidade judaica]]. A cidade experimentou três picos durante a sua idade de ouro, o primeiro baseado no mercado de [[pimenta]], um segundo desencadeado pela [[prata]] americana vinda através de Sevilha (que terminou com a falência de Espanha em 1557), e um terceiro, após a [[paz de Cateau-Cambrésis]], em 1559, com base na [[indústria têxtil]].
 
Apesar das hostilidades iniciais, a partir de 1549 os portugueses enviavam missões comerciais anuais para [[Sanchoão]], na China.{{sfn|Brook|1998|p=124}} Em 1557 conseguiram convencer a corte Ming a chegar a um tratado comercial que estabelecia [[Macau]] como uma base comercial oficial Portuguesa.{{sfn|Brook|1998|p=124}} Em 1569 o português Frei [[Gaspar da Cruz]] publicou o "Tratado das cousas da China", primeira obra completa sobre a China e a Dinastia Ming publicada na Europa desde Marco Pólo, que incluia informações sobre a geografia, províncias, realeza, funcionários, burocracia, transportes, arquitetura, agricultura, artesanato, assuntos comerciais, de vestuário, costumes religiosos e sociais, música e instrumentos, escrita, educação e justiça.<ref name="dictionary of ming biography">The Ming Biographical History Project of the Association for Asian Studies (1976), 410-411.</ref> influenciando a imagem que os europeus tinham da China.
[[imagem:DelftChina18thCenturyCompanieDesIndes.jpg|thumb|esquerda|Porcelana de [[Delft]] com motivos chineses, século XVIII.<br><small>[[Museu Ernest Cognacq]]</small>]]
As principais importações vindas da China eram [[seda]]s e [[porcelana]]s, adaptadas aos gostos europeus. As porcelanas chinesas eram tão apreciadas na Europa que, em Inglês, ''"china"'' tornou-se sinónimo de ''"porcelana"''. A chamada [[porcelana kraak]] (cujo nome terá origem nas "carracas" portuguesas em que era transportada) estava entre as primeiras cerâmicas chinesas a chegar à Europa em quantidades maciças. Apenas os mais ricos podiam pagar estas primeiras importações, que foram frequentemente representadas nas naturezas mortas holandesas.<ref>Para um estudo sobre os elementos estrangeiros na pintura holandesa veja-se {{harvnb|Hochstrasser, ''Still Life and Trade''.|2007}}</ref>
 
Depressa a [[Companhia Holandesa das Índias Orientais]] estabeleceu um dinâmico comércio com o Oriente, tendo importado 6 milhões de items de porcelana da China para a Europa entre os anos de 1602 para 1682.{{sfn|Volker|1954|p=22}}{{sfn|Brook|1998|p=206}} A mestria chinesa impressionou muitos. Entre 1575 e 1587, a porcelana [[Família Médici|Médici]] de [[Florença]] foi a primeira tentativa bem sucedida para imitar a porcelana chinesa. Apesar dos ceramistas holandeses não terem copiado imediatamente a porcelana chinesa, começaram a fazê-lo quando o abastecimento para a Europa foi interrompido, após a morte do [[Dinastia Ming#Reinado do Imperador Wanli|Imperador Wanli]] em 1620. A porcelana Kraak, principalmente a azul e branca, foi imitada em todo o mundo, primeiro pelos oleiros em Arita, Japão e Pérsia - para onde os comerciantes holandeses se viraram quando a queda da dinastia Ming tornou os originais chineses indisponíveis<ref>Crowe, p. 22; Howard, p. 7 of "Introduction."</ref> - e, em última instância nas porcelanas de [[Delft]]. As loiças holandesas e inglesas inspiradas em desenhos chineses persistiram desde cerca de 1630 até meados do século XVIII, junto com os padrões europeus.
Antonio de Morga (1559-1636), um oficial espanhol em [[Manila]], inventariou exaustivamente os bens negociados pela China Ming na viragem para o século XVII, notando que havia "raridades tais que, se referisse todas elas, nunca iria acabar, nem o papel seria suficiente."{{sfn|Brook|1998|p=205-206}} Num caso, um galeão com destino ao território espanhol no Novo Mundo transportava mais de 50.000 pares de meias de seda. Em troca, a China importava principalmente prata das minas peruanas e mexicanas, transportada através de [[Manila]]. Os comerciantes chineses eram ativos neste comércio, e muitos emigraram para locais como as [[Filipinas]] e o [[Bornéu]] para aproveitar as novas oportunidades comerciais.{{sfn|Ebrey|Walthall|Palais|1999|p=211}}
[[imagem:Heem, Jan Davidsz. de - A Richly Laid Table with Parrots - detail cup.jpg|thumb|''Uma mesa ricamente posta com papagaios'', (pormenor) c. 1650<br><small>[[Natureza morta]] de [[Jan Davidszoon de Heem]]. Baixela de prata</small>]]
O aumento da riqueza experimentado pela Espanha dos [[Habsburgos]] coincidiu com um grande ciclo [[inflacção|inflacionário]] tanto em Espanha como na Europa, conhecido como [[revolução dos preços]]. Em 1520 iniciara-se a extração de prata em grande escala em [[Guanajuato]], no [[México]]. Com a abertura das minas de prata em [[Zacatecas]] e [[Potosí]], na [[Bolívia]], em 1546 grandes carregamentos de prata tornaram-se a fonte da fabulosa riqueza espanhola. Durante o século XVI, Espanha realizou o equivalente a 1,5 triliões de U.S.$ (valor de 1990) em [[ouro]] e [[prata]] da [[Nova Espanha]]. Sendo o mais poderoso monarca europeu numa época cheia de guerras e conflitos religiosos,<ref>{{harvnb|Fernández Álvarez, Manuel|1999}}. ''Felipe II y su tiempo''. Espasa Calpe, Madrid, 6th Ed. ISBN 84-239-9736-7 Na introdução desta obra, Filipe é referido como o mais poderoso monarca europeu em recursos e armamento, retratando a Europa de então como um mundo cheio de problemas por resolver e conflitos religiosos</ref> [[Filipe II de Espanha|Filipe II]] dispersou a riqueza nas artes e nas guerras europeias. "Aprendi aqui um provérbio", afirmava um viajante francês em 1603: "Tudo é estimado em Espanha, excepto a prata."<ref>Citado em [[#Braudel2|Braudel]], p.&nbsp;171</ref> A prata, subitamente espalhada por uma Europa até então carente de moeda, provocou a inflação generalizada.{{sfn|Tracy|1994}} A inflação foi agravada por uma população em crescimento, mas um nível de produção estático, baixos salários e um aumento do custo de vida. Espanha tornou-se cada vez mais dependente das receitas provenientes do império nas Américas, levando à primeira [[falência]] estatal em 1557 devido ao aumento das despesas militares.<ref>{{citar web | url=https://www.geology.ucdavis.edu/~cowen/~GEL115/115CH8.html | título=Gold and Silver: Spain and the New World | acessodata=2010-03-23 | arquivourl=https://web.archive.org/web/20081007054754/http://www.geology.ucdavis.edu/~cowen/~GEL115/115CH8.html | arquivodata=2008-10-07 | urlmorta=yes }} University of California</ref> Filipe II de Espanha, em [[insolvência]] face à sua dívida várias vezes, teve de declarar quatro falências do estado em 1557, 1560, 1575 e 1596, tornando-se a primeira nação soberana da história a declarar falência. O aumento dos preços resultante da circulação monetária estimulou o crescimento de uma [[classe média]] comercial na Europa, que viria a influenciar a política e a cultura de muitos países.
 
== Ver também ==
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* {{citar livro |último=Dunn |primeiro=Ross E. |titulo=The adventures of Ibn Battuta, a Muslim traveler of the fourteenth century |ano=2004 |publicado=University of California Press |isbn=0-5202-4385-4 |idioma=en|páginas=310|ref=harv }}
 
* {{citar livro|sobrenome=Dunton|nome=Larkin|título=The World and Its people|idioma=en|editora=Silver Burdet|páginas=417|url=https://archive.org/details/worldanditspeop01duntgoog/page/n7|ano=1896|ref=harv}}
 
* {{citar livro|sobrenome1=Ebrey|nome1=Patricia Buckley|nome2=Anne|sobrenome2=Walthall|nome3=James B.|sobrenome3=Palais|ano=1999|título=East Asia: A Cultural, Social, and Political History|editora=Houghton Mifflin|ISBN=978-0-618-13384-0|url=https://books.google.com/?id=I7Pf-X2VuokC&lpg|idioma=en|ref=harv}}
 
* {{citar livro|sobrenome=Fernández Álvarez|nome=Manuel|título=Felipe II y su tiempo|idioma=es|isbn=84-239-9736-7|editora=Espasa Calpe|páginas=984|edição=9ª|ano=1999|local=Madrid, Espanha|ref=harv}}
 
* {{citar livro |último=Fernandez-Armesto |primeiro=Felipe |titulo=Pathfinders: A Global History of Exploration |ano=2006 |publicado=W.W. Norton & Company |ref=harv |isbn=0-393-06259-7}}
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* {{citar livro|sobrenome=Gernet|nome=Jacques|ano=1962|título=Daily life in China, on the eve of the Mongol invasion, 1250–1276|idioma=en|editora=Stanford University Press|ISBN=978-0-8047-0720-6|url=https://books.google.com/?id=k5xpXOYxxEEC&lpg=1|ref=harv}}
 
* {{citar livro|sobrenome=Hochstrasser|nome=Julie Berger|título=Still Life and Trade in the Dutch Golden Age|idioma=en|isbn=978-0300100389|editora=Yale University Press|páginas=320|edição=1ª|ano=2007|ref=harv}}
 
* {{citar livro| último= Jensen|primeiro= De Lamar|título= Renaissance Europe: age of recovery and reconciliation|língua=inglês |editora= D.C. Heath|ano= 1992|edição=2|isbn = 0-669-20007-7|ref=harv}}