Acidente radiológico de Goiânia: diferenças entre revisões

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{{Info/Evento histórico
|nome = Acidente radiológico de Goiânia
|imagem = rua26a.jpg
[[Imagem:rua26a.jpg|thumb |legenda = Área que abrigava o ferro-velho da Rua 26-A.]]
|outros_nomes = Acidente com o césio-137
|localização = {{nowrap|[[Goiânia]], [[Goiás]], {{flag|Brasil}}}}
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== Descrição da fonte contaminadora ==
[[Imagem:Teletherapy Capsule2.svg|250px|thumb|Esquema do cilindro que continha o [[césio]], composto por:
A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha [[cloreto de césio]] — um sal obtido a partir do [[radioisótopo]] 137 do elemento químico [[césio]]. A cápsula radioativa era parte de um equipamento [[radioterapêutico]] onde, dentro deste, encontrava-se revestida por uma caixa protetora de [[aço]] e [[chumbo]]. Essa caixa protetora possuía uma janela feita de [[irídio]], que permitia a passagem da radiação para o exterior.
[[Imagem:Teletherapy Capsule2.svg|250px|thumb|Esquema do cilindro que continha o [[césio]], composto por:
A.) um detentor de fonte radioativa (geralmente chumbo), que retém a radiação excedente;
B.) um anel de retenção;
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G.) um cilindro de material radioativo, muitas vezes, mas nem sempre de [[cobalto]]-60 . No caso do incidente era césio-137 . O diâmetro da "fonte" é cerca de 30 [[milímetro|mm]].
]]
A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha [[cloreto de césio]] — um sal obtido a partir do [[radioisótopo]] 137 do elemento químico [[césio]]. A cápsula radioativa era parte de um equipamento [[radioterapêutico]] onde, dentro deste, encontrava-se revestida por uma caixa protetora de [[aço]] e [[chumbo]]. Essa caixa protetora possuía uma janela feita de [[irídio]], que permitia a passagem da radiação para o exterior. A caixa contendo a cápsula radioativa estava, por sua vez, posicionada num contentor giratório que dispunha de um [[colimador]]. Este servia para direcionar o feixe radioativo, bem como para controlar a sua intensidade.<ref name="Cola da Web"/>
 
Não se pôde conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa, mas pensa-se que ela tenha sido produzida por volta de 1970 pelo Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos [[Estados Unidos]]. O material radioativo dentro da cápsula totalizava 0,093&nbsp;kg, e a sua radioatividade era, à época do acidente, de 50,9&nbsp;[[Becquerel|TBq]] (= 1375 Ci).<ref name="iaea">International Atomic Energy Agency. [http://www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PubDetAR.asp?pubId=3684 ''The Radiological Accident in Goiânia'']. Vienna, 1988, pp. 18-22, ISBN 92-0-129088-8</ref>
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== Eventos ==
[[Imagem:culturaconvencoesgyn.jpg|thumb|Centro de Cultura e Convenções, erguido sobre as ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia.]]
[[Imagem:rua26a.jpg|thumb|Área que abrigava o ferro-velho da Rua 26-A.]]
 
=== Origem do acidente ===
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Tão logo expostas à presença do material radioativo, em algumas horas as pessoas começaram a desenvolver [[sintoma]]s: [[náuseas]], seguidas de [[tontura]]s, com [[vômito]]s e [[diarreia]]s. Alarmados, os familiares dos contaminados foram inicialmente a [[drogaria]]s procurar auxílio, alguns procuraram postos de saúde e foram encaminhados para [[Hospital|hospitais]].
 
=== Demora na detecção ===
[[Imagem:rua57.jpg|thumb|esquerda|O que restou do terreno na Rua 57, onde a cápsula de césio 137 começou a ser desmontada.]]
Os profissionais de saúde, observando os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa desconhecida, medicando os doentes em conformidade com os sintomas descritos. Maria Gabriela desconfiou que aquele pó que emitia um brilho azul era o responsável pelos sintomas que ocorriam na sua família.<ref name="InfoEscola"/> Ela e um empregado do ferro-velho levaram a cápsula de césio para a [[Vigilância Sanitária]], que ainda permaneceu durante dois dias abandonada sobre uma cadeira. Durante a entrevista com [[medicina|médicos]], a esposa do dono do ferro-velho relatou para a junta médica que os [[vômito]]s e [[diarreia]] se iniciaram depois que seu marido desmontou aquele "aparelho estranho".<ref name="Mundo Vestibular"/> Só então, no dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi um dos pacientes tratados no [[Hospital Naval Marcílio Dias]], no [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] e foi uma das primeiras vitimas da contaminação.
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O governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população, que foi submetida a uma "seleção" no [[Estádio Olímpico Pedro Ludovico]]; os governantes da época escondiam a tragédia da população, que aterrorizada procurava por auxílio, dizendo ser apenas um vazamento de [[gás]].<ref name=MTCDPub/> Outra razão é que Goiânia sediava, na época, o GP Internacional de Motovelocidade no [[Autódromo Internacional Ayrton Senna (Goiânia)|Autódromo Internacional Ayrton Senna]] e o governador do estado [[Henrique Santillo]] não queria que o pânico fosse instalado nos estrangeiros.<ref name=MTCDPub/>
 
== ContaminaçãoConsequências ==
Após o acidente, os imóveis em volta do acidente radiológico tiveram os seus valores reduzidos, pois quem morava na região queria sair daquele lugar, mas o medo da população da existência de radiação no ar impedia a compra e construção de novas habitações<ref name="InfoEscola"/>. Além da desvalorização dos imóveis, por muito tempo a população local passou por uma certa discriminação devido ao medo de passar a radiação para outras pessoas, dificultando o acesso aos serviços, educação e viagens. Muitas lojas e o comércio que existiam antes do acidente acabaram fechando ou mudando de endereço, sobrando alguns poucos comerciantes que ainda resistiam em continuar na região.<ref name="Ciência hoje"/>
[[Imagem:ruinasestadioolimpico.jpg|thumb|Terreno onde estava edificado o Estádio Olímpico Pedro Ludovico]]
A [[Comissão Nacional de Energia Nuclear]] (CNEN) mandou examinar toda a população da região. No total 1000 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas<ref name="Brasil Escola"/>. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo<ref name="Cola da Web"/>.
 
=== Vítimas fatais ===
Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis<ref name="Mundo Vestibular"/>. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o [[Parque Estadual Telma Ortegal]].<ref name="Cola da Web"/>
[[Imagem:brazilcesiumhuman.png | thumb|500px | centro upright=1.3|Gráfico de barras mostrando o resultado para as 46 pessoas mais contaminadas e uma estimativa de dose. As pessoas são divididas em sete grupos de acordo com a dose.]]
* '''Leide das Neves Ferreira''', de 6 anos (6,0 Gy, 600 REM), era filha de Ivo Ferreira e foi a vítima com a maior dose de radiação do acidente.<ref name="Cola da Web">{{citar web |url=http://www.coladaweb.com/quimica/quimica-nuclear/cesio-137-e-o-maior-acidente-nuclear-do-brasil|título=Césio 137 e o maior acidente nuclear do Brasil |acessodata=16 de julho de 2012 |autor=Vanessa Andrade |data= |publicado=Cola da Web }}</ref> Inicialmente, quando uma equipe internacional chegou a tratá-la, ela estava confinada a um quarto isolado no hospital porque os funcionários estavam com medo de chegar perto dela. Ela desenvolveu gradualmente inchaço na parte superior do corpo, perda de cabelo, danos nos rins, pulmões e hemorragia interna. Ela morreu em 23 de outubro de 1987 de [[septicemia]] e infecção generalizada no [[Hospital Naval Marcílio Dias]], no Rio de Janeiro.<ref>{{Citar web | url=http://www.cesio137goiania.go.gov.br/index.php?idEditoria=9786 | título=O Brilho da Morte (página do governo de Goiás)}}</ref> Ela foi enterrada em um cemitério comum em Goiânia, em um caixão especial de fibra de vidro revestida com chumbo para evitar a propagação da radiação. Apesar destas medidas, ainda houve um início de tumulto no cemitério, onde mais de {{fmtn|2000}} pessoas, temendo que seu cadáver envenenasse toda a área, tentaram impedir seu enterro usando pedras e tijolos para bloquear a rua do cemitério.<ref>{{Citar web|url=http://www.greenpeace.org.br/nuclear/cesio/flash_cesio.html|título=Césio 137 - 20 anos de descaso|data=|acessodata=2017-03-05|publicado=[[Greenpeace]]|ultimo=|primeiro=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110706161121/http://www.greenpeace.org.br/nuclear/cesio/flash_cesio.html|arquivodata=2011-07-06|urlmorta=yes}}</ref> Depois de dias de impasse, Leide foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado, erguido por um guindaste, devido às altas taxas de radiação<ref name="Brasil Escola"/> e para que esta fosse contida<ref name="Mundo Vestibular"/>.
* '''Maria Gabriela Ferreira''', de 37 anos (5,7 Gy, 570 REM), esposa do proprietário do ferro-velho Devair Ferreira, ficou doente cerca de três dias depois de entrar em contato com a substância. Seu estado de saúde piorou e ela desenvolveu hemorragia interna, principalmente nos membros, nos olhos e no trato digestivo, além da perda de cabelo. Ela morreu em 23 de outubro de 1987, cerca de um mês após a exposição.
* '''Israel Baptista dos Santos''', de 22 anos (4,5 Gy, 450 REM), foi um empregado de Devair Ferreira que trabalhou na fonte radioativa principalmente para extrair o chumbo. Ele desenvolveu doença respiratória grave e complicações linfáticas. Acabou por ser internado no hospital e morreu seis dias depois, em 27 de outubro de 1987.
* '''Admilson Alves de Souza''', de 18 anos (5,3 Gy, 530 REM), também foi funcionário de Devair Ferreira, que também trabalhou na fonte radioativa. Ele desenvolveu lesão pulmonar, hemorragia interna e danos ao coração. Morreu em 28 de outubro de 1987.
 
==== Outras vítimas posteriores ====
Até hoje todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.<ref name="Ciência hoje"/>
* '''Devair Alves Ferreira''', o dono do ferro-velho sobreviveu em primeira mão à exposição, apesar de ter recebido 7 Gy de radiação. Os efeitos corporais incluíram a perda de cabelo e problemas em diversos órgãos.<ref>{{Citar web | url=http://noticias.terra.com.br/brasil/goiania-25-anos-depois-perguntam-ate-se-brilhamos-diz-vitima,bb12dc840f0da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html| título=Goiânia, 25 anos depois: 'perguntam até se brilhamos', diz vítima|trabalho=Terra|data=15 de janeiro de 2011}}</ref> Sentindo-se culpado por abrir a cápsula, tornou-se [[alcoolismo|alcoólatra]] e contraiu câncer pela radiação, morrendo 7 anos depois, em 1994.<ref name=bbc2011>{{Citar web | url=http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/04/110421_cesio_entrevista_jc.shtml| título=Vítima do césio-137 lembra depressão e preconceito após acidente|trabalho=BBC|data=15 de janeiro de 2011}}</ref>
* '''Ivo Ferreira''', pai da menina Leide das Neves Ferreira, teve baixa contaminação. No entanto, tornou-se [[depressão|depressivo]] depois da morte da filha e passou a fumar em torno de seis maços de cigarro por dia, falecendo por [[enfisema pulmonar]] em 2003, 16 anos depois.<ref name=bbc2011/>
 
A '''Associação das Vítimas do Césio 137''' afirma que até o ano de 2012, quando o acidente completou 25 anos, cerca de 104 pessoas morreram nos anos seguintes pela contaminação, decorrente de câncer e outros problemas, e cerca de {{fmtn|1600}} tenham sido afetadas diretamente.<ref>{{Citar web|url=http://www.istoe.com.br/reportagens/237475_GOIANIA+25+ANOS+DEPOIS+PERGUNTAM+ATE+SE+BRILHAMOS+DIZ+VITIMA|data=2012-09-13|acessodata=2017-03-05|obra=[[ISTOÉ|ISTOÉ Independente]]|publicado=[[Editora Três]]|ultimo=|primeiro=|título=Goiânia, 25 anos depois: ‘Perguntam até se brilhamos’, diz vítima}}</ref> Os resultados para as 46 pessoas com maior nível de contaminação estão mostrados no gráfico de barras abaixo. Várias pessoas sobreviveram, apesar das altas doses de radiação. Isto pode ter acontecido, em alguns casos, porque receberam doses fracionadas. Com o tempo, os mecanismos de reparo do corpo poderão reverter o dano celular causado pela radiação.
Após trinta anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo.<ref name=MTCDPub>{{citar web | url=http://www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PDF/Pub815_web.pdf | título=The Radiological Accident in Goiania }} (em [[Língua inglesa|inglês]]) IAEA, 1988</ref> E muitas pessoas contaminadas ainda vivem nas redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, Avenida Paranaíba, Rua 74, Rua 80, Rua 70 e Avenida Goiás; essas pessoas não oferecem, contudo, mais nenhum risco de contaminação à população.<ref name="Ciência hoje"/>
 
=== Contaminação ===
Em uma casa em que o césio foi distribuído, a residente, esposa do comerciante vizinho à Devair, jogou o elemento radioativo no vaso sanitário e, em seguida, deu descarga. O imóvel ficou conhecido como "casa da fossa". Entretanto, a ''Saneago'' alegou que a casa não possuía fossa, sendo construída com cisterna, para a população não pensar que a água da cidade estaria hipoteticamente contaminada.<ref name="Ciência hoje">{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/04/radiacao-um-problema-tambem-brasileiro |título=Radiação, um problema também brasileiro |acessodata=16 de julho de 2012 |autor=Sofia Moutinho |data=11 de abril de 2011 |publicado=Ciência hoje |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110812023741/http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/04/radiacao-um-problema-tambem-brasileiro |arquivodata=2011-08-12 |urlmorta=yes }}</ref>
A [[Comissão Nacional de Energia Nuclear]] (CNEN) mandou examinar toda a população da região. No total 1000 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas<ref name="Brasil Escola"/>. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo<ref name="Cola da Web"/>.
[[Imagem:ruinasestadioolimpico.jpg|thumb|upright=1.3|Terreno onde estava edificado o Estádio Olímpico Pedro Ludovico]]
 
Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis<ref name="Mundo Vestibular"/>. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o [[Parque Estadual Telma Ortegal]].<ref name="Cola da Web"/> Até hoje todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.<ref name="Ciência hoje"/>
== Vítimas fatais e seus níveis de radiação ([[Gray (unidade)|Gy]]) ==
* '''Leide das Neves Ferreira''', de 6 anos (6,0 Gy, 600 REM), era filha de Ivo Ferreira e foi a vítima com a maior dose de radiação do acidente.<ref name="Cola da Web">{{citar web |url=http://www.coladaweb.com/quimica/quimica-nuclear/cesio-137-e-o-maior-acidente-nuclear-do-brasil|título=Césio 137 e o maior acidente nuclear do Brasil |acessodata=16 de julho de 2012 |autor=Vanessa Andrade |data= |publicado=Cola da Web }}</ref> Inicialmente, quando uma equipe internacional chegou a tratá-la, ela estava confinada a um quarto isolado no hospital porque os funcionários estavam com medo de chegar perto dela. Ela desenvolveu gradualmente inchaço na parte superior do corpo, perda de cabelo, danos nos rins, pulmões e hemorragia interna. Ela morreu em 23 de outubro de 1987 de [[septicemia]] e infecção generalizada no [[Hospital Naval Marcílio Dias]], no Rio de Janeiro.<ref>{{Citar web | url=http://www.cesio137goiania.go.gov.br/index.php?idEditoria=9786 | título=O Brilho da Morte (página do governo de Goiás)}}</ref> Ela foi enterrada em um cemitério comum em Goiânia, em um caixão especial de fibra de vidro revestida com chumbo para evitar a propagação da radiação. Apesar destas medidas, ainda houve um início de tumulto no cemitério, onde mais de {{fmtn|2000}} pessoas, temendo que seu cadáver envenenasse toda a área, tentaram impedir seu enterro usando pedras e tijolos para bloquear a rua do cemitério.<ref>{{Citar web|url=http://www.greenpeace.org.br/nuclear/cesio/flash_cesio.html|título=Césio 137 - 20 anos de descaso|data=|acessodata=2017-03-05|publicado=[[Greenpeace]]|ultimo=|primeiro=|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110706161121/http://www.greenpeace.org.br/nuclear/cesio/flash_cesio.html|arquivodata=2011-07-06|urlmorta=yes}}</ref> Depois de dias de impasse, Leide foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado, erguido por um guindaste, devido às altas taxas de radiação<ref name="Brasil Escola"/> e para que esta fosse contida<ref name="Mundo Vestibular"/>.
* '''Maria Gabriela Ferreira''', de 37 anos (5,7 Gy, 570 REM), esposa do proprietário do ferro-velho Devair Ferreira, ficou doente cerca de três dias depois de entrar em contato com a substância. Seu estado de saúde piorou e ela desenvolveu hemorragia interna, principalmente nos membros, nos olhos e no trato digestivo, além da perda de cabelo. Ela morreu em 23 de outubro de 1987, cerca de um mês após a exposição.
* '''Israel Baptista dos Santos''', de 22 anos (4,5 Gy, 450 REM), foi um empregado de Devair Ferreira que trabalhou na fonte radioativa principalmente para extrair o chumbo. Ele desenvolveu doença respiratória grave e complicações linfáticas. Acabou por ser internado no hospital e morreu seis dias depois, em 27 de outubro de 1987.
* '''Admilson Alves de Souza''', de 18 anos (5,3 Gy, 530 REM), também foi funcionário de Devair Ferreira, que também trabalhou na fonte radioativa. Ele desenvolveu lesão pulmonar, hemorragia interna e danos ao coração. Morreu em 28 de outubro de 1987.
 
Após trinta anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo.<ref name=MTCDPub>{{citar web | url=http://www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PDF/Pub815_web.pdf | título=The Radiological Accident in Goiania }} (em [[Língua inglesa|inglês]]) IAEA, 1988</ref> E muitas pessoas contaminadas ainda vivem nas redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, Avenida Paranaíba, Rua 74, Rua 80, Rua 70 e Avenida Goiás; essas pessoas não oferecem, contudo, mais nenhum risco de contaminação à população.<ref name="Ciência hoje"/>
=== Outras vítimas posteriores ===
* '''Devair Alves Ferreira''', o dono do ferro-velho sobreviveu em primeira mão à exposição, apesar de ter recebido 7 Gy de radiação. Os efeitos corporais incluíram a perda de cabelo e problemas em diversos órgãos.<ref>{{Citar web | url=http://noticias.terra.com.br/brasil/goiania-25-anos-depois-perguntam-ate-se-brilhamos-diz-vitima,bb12dc840f0da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html| título=Goiânia, 25 anos depois: 'perguntam até se brilhamos', diz vítima|trabalho=Terra|data=15 de janeiro de 2011}}</ref> Sentindo-se culpado por abrir a cápsula, tornou-se [[alcoolismo|alcoólatra]] e contraiu câncer pela radiação, morrendo 7 anos depois, em 1994.<ref name=bbc2011>{{Citar web | url=http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/04/110421_cesio_entrevista_jc.shtml| título=Vítima do césio-137 lembra depressão e preconceito após acidente|trabalho=BBC|data=15 de janeiro de 2011}}</ref>
* '''Ivo Ferreira''', pai da menina Leide das Neves Ferreira, teve baixa contaminação. No entanto, tornou-se [[depressão|depressivo]] depois da morte da filha e passou a fumar em torno de seis maços de cigarro por dia, falecendo por [[enfisema pulmonar]] em 2003, 16 anos depois.<ref name=bbc2011/>
 
Em uma casa em que o césio foi distribuído, a residente, esposa do comerciante vizinho à Devair, jogou o elemento radioativo no vaso sanitário e, em seguida, deu descarga. O imóvel ficou conhecido como "casa da fossa". Entretanto, a ''Saneago'' alegou que a casa não possuía fossa, sendo construída com cisterna, para a população não pensar que a água da cidade estaria hipoteticamente contaminada.<ref name="Ciência hoje">{{citar web |url=http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/04/radiacao-um-problema-tambem-brasileiro |título=Radiação, um problema também brasileiro |acessodata=16 de julho de 2012 |autor=Sofia Moutinho |data=11 de abril de 2011 |publicado=Ciência hoje |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110812023741/http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/04/radiacao-um-problema-tambem-brasileiro |arquivodata=2011-08-12 |urlmorta=yes }}</ref>
A '''Associação das Vítimas do Césio 137''' afirma que até o ano de 2012, quando o acidente completou 25 anos, cerca de 104 pessoas morreram nos anos seguintes pela contaminação, decorrente de câncer e outros problemas, e cerca de {{fmtn|1600}} tenham sido afetadas diretamente.<ref>{{Citar web|url=http://www.istoe.com.br/reportagens/237475_GOIANIA+25+ANOS+DEPOIS+PERGUNTAM+ATE+SE+BRILHAMOS+DIZ+VITIMA|data=2012-09-13|acessodata=2017-03-05|obra=[[ISTOÉ|ISTOÉ Independente]]|publicado=[[Editora Três]]|ultimo=|primeiro=|título=Goiânia, 25 anos depois: ‘Perguntam até se brilhamos’, diz vítima}}</ref> Os resultados para as 46 pessoas com maior nível de contaminação estão mostrados no gráfico de barras abaixo. Várias pessoas sobreviveram, apesar das altas doses de radiação. Isto pode ter acontecido, em alguns casos, porque receberam doses fracionadas. Com o tempo, os mecanismos de reparo do corpo poderão reverter o dano celular causado pela radiação.
 
==== Lixo atômico ====
[[Imagem:brazilcesiumhuman.png | thumb|500px | centro |Gráfico de barras mostrando o resultado para as 46 pessoas mais contaminadas e uma estimativa de dose. As pessoas são divididas em sete grupos de acordo com a dose.]]
 
== Lixo atômico ==
A limpeza produziu {{fmtn|13500}} [[quilograma]]s de [[lixo atômico]], que necessitou ser acondicionado em 14 contêineres que foram totalmente lacrados. Dentro destes estão {{fmtn|1200}} caixas e {{fmtn|2900}} tambores, que permanecerão perigosos para o meio ambiente por 180 anos<ref name="InfoEscola"/>. Para armazenar esse lixo atômico e atendendo às recomendações do [[IBAMA]], da [[CNEN]] e da CEMAM, o [[Parque Estadual Telma Ortegal]] foi criado em Goiânia, hoje pertencente ao município de [[Abadia de Goiás]], onde se encontra uma "montanha" artificial onde foram colocados no nível do solo, revestida de uma parede de aproximadamente 1 (um) metro de espessura de concreto e chumbo.<ref name="Mundo Vestibular">{{citar web |url=http://www.mundovestibular.com.br/articles/4580/1/O-CESIO-137-E-O-ACIDENTE-NUCLEAR-EM-GOIANIA/Paacutegina1.html|título=O CÉSIO-137 E O ACIDENTE NUCLEAR EM GOIÂNIA |acessodata=16 de julho de 2012 |autor=Luiz Molina Luz |data= |publicado=Mundo Vestibular }}</ref>
 
=== Revitalização da região ===
== Consequências ==
[[Imagem:Mercado Popular de Goiânia.JPG|thumb|300pxupright=1.3|Mercado Popular da Rua 57 após a reforma.]]
Após o acidente, os imóveis em volta do acidente radiológico tiveram os seus valores reduzidos, pois quem morava na região queria sair daquele lugar, mas o medo da população da existência de radiação no ar impedia a compra e construção de novas habitações<ref name="InfoEscola"/>. Além da desvalorização dos imóveis, por muito tempo a população local passou por uma certa discriminação devido ao medo de passar a radiação para outras pessoas, dificultando o acesso aos serviços, educação e viagens. Muitas lojas e o comércio que existiam antes do acidente acabaram fechando ou mudando de endereço, sobrando alguns poucos comerciantes que ainda resistiam em continuar na região.<ref name="Ciência hoje"/>
 
== Revitalização da região ==
[[Imagem:Mercado Popular de Goiânia.JPG|thumb|300px|Mercado Popular da Rua 57 após a reforma.]]
Somente no final dos [[anos 90]], a região começou a passar uma imagem menos "assustadora" para os novos inquilinos, através de ações do município e do governo estadual para a revitalização da região, revalorizando as casas que estavam nas imediações do acidente.
 
Linha 88 ⟶ 85:
Aos poucos, a região atingida pelo acidente vem sendo valorizada, aumentando o interesse de grandes empreiteiras construírem prédios de luxo, onde antes eram apenas casebres abandonados.
 
== Repercussão do acidente ==
O acidente foi descrito em vários documentários internacionais, além de [[filme]]s, [[programas de televisão]], [[canção|canções]], artigos acadêmicos, teses e dissertações e [[livro]]s.
 
Linha 120 ⟶ 117:
* Um episódio do desenho animado ''[[Captain Planet|The New Adventures of Captain Planet]]'' foi escrito fazendo um paralelo com o incidente. Nele, um grupo de crianças encontram uma fonte radioativa em um equipamento médico abandonado e, consequentemente, contaminam-se, embora os heróis intervenham antes que as mortes ocorram.
 
== Ver também ==
'''Teses e Dissertações'''
*[[Acidente nuclear de Chernobil]]
*[[Acidente nuclear de Fukushima]]
 
{{Referências|col=2}}
* OLIVEIRA, Eliézer Cardoso de. "As imagens e a mudança cultural em Goiânia". Dissertação de Mestrado (Mestrado em História), UFG, 1999.
* WIEDERHECKER, Clyce Louise. ''Cidade, promessa, exclusão: o Césio-137 em Goiânia.''  São Paulo, Tese (Doutorado em Geografia), USP, 1998.
 
=== Artigos Acadêmicos ===
 
=== Bibliografia ===
{{dividir em colunas}}
* OLIVEIRA, Eliézer Cardoso de. "As imagens e a mudança cultural em Goiânia". Dissertação de Mestrado (Mestrado em História), UFG, 1999.
* WIEDERHECKER, Clyce Louise. ''Cidade, promessa, exclusão: o Césio-137 em Goiânia.''  São Paulo, Tese (Doutorado em Geografia), USP, 1998.
* "Musealização de eventos críticos: análise da tensão entre múltiplas narrativas da dor". Artigo da antropóloga Telma Camargo da Silva. Publicado em: ''Antropologia e Patrimônio Cultural: Trajetórias e Conceitos''. Organizado por Izabela Tamaso e Manuel Ferreira Lima Filho.DF:ABA.2012. pp.&nbsp;497 – 525.
* "Eventos Críticos: sobreviventes, narrativas, testemunhos e silêncios". Artigo da antropóloga Telma Camargo da Silva.27ª RBA. 2010.Disponível em: <http://www.iconecv.com.br/27rba{{Ligação inativa|1=data=maio de 2019 }}>.
Linha 140:
* " Biomedical discourses and health care experiences: The Goiânia Radiological Disaster". Artigo da antropóloga Telma Camargo da Silva. Publicado em ''The Medical Anthropologies in Brazil''. Berlim: VWB, 1997. pp.&nbsp;67–79.
*"O acidente com o Césio 137 e a estética do sublime". Artigo do historiador Eliézer Cardoso de Oliveira. Publicado na Revista Locus: Revista de História. Disponível em: https://locus.ufjf.emnuvens.com.br/locus/article/view/2815
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== Ligações externas ==
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* [https://web.archive.org/web/20110706161121/http://www.greenpeace.org.br/nuclear/cesio/flash_cesio.html Césio 137 - 20 anos de descaso - Greenpeace Brasil]
 
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