Fiódor Dostoiévski: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m
Linha 59:
{{Imagem múltipla|align = right |image1=Mikhail Andreyevich Dostoyevsky.jpg|image2=Maria Fyodorovna Dostoyevskaya.jpg|footer=Pai e mãe de Dostoiévski| footer_align=left| width=100}}
 
Fiódor Dostoiévski, filho de Mikhail Dostoiévski e Maria Dostoevskaia,{{sfn | FRANK | 1976| pp=6-14}} nasceu em [[Moscou]] no dia 30 de outubro de 1821.{{sfn| Morson| 2017|p=1}}{{sfn| Mochulsky | 1971|p=4}}{{sfn| Grossman | 1975|p=4}} Ao contrário de outros grandes escritores russos da época - como [[Nikolai Gogol|Gogol]], [[Ivan Turgueniev|Turgueniev]] e [[Liev Tolstói|Tolstoi]] -, seus pais não eram abastados financeiramente:{{sfn | FRANK | 1976| p=6}} seu pai era médico militar e sua mãe dona de casa - a profissão de médico era poucapouco valorizada financeiramente na época -.{{sfn | FRANK | 1976| p=8}} Mesmo com dificuldades financeiras, a família possuía seis serviçais, os quais, segundo o irmão de Dostoiévski, Andrei, serviam para manter o status social perdido da família, tendo em vista que o pai de Dostoiévski possuía um passado relativamente nobre, passado que abandonou por vontade própria.{{sfn | FRANK | 1976| p=8}}
 
Além da educação religiosa no [[Igreja Ortodoxa|cristianismo ortodoxo]],{{sfn | FRANK | 1976| p=43}} Dostoiévski e seus irmãos estudavam literatura e outros estudos de [[Ciências humanas|humanidades]] desde muito cedo, sempre por influência dos pais.{{sfn | FRANK | 1976| p=558}}
 
Os pais de Dostoiévski morreram quando o escritor ainda era muito jovem: a mãe morreu no ano de 1836{{sfn | FRANK | 1976| p=37}} e há suspeitas de que o pai foi assassinado no início de junho de 1839 pelos próprios [[Servidão na Rússia|servos]] de sua propriedade rural em Daravói. A tese de assassinato é hoje muito questionada.{{sfn | FRANK | 1976| p=81-89}}
 
=== Início da carreira literária ===
[[Imagem:Trutovsky 004.jpg|thumb|esquerda|150px|Fiódor Dostoiévski<br><small>Por Kostyantyn Trutovsky, 1847</small>]]
Na Academia Militar de Engenharia de [[São Petersburgo]], além das matérias militares essenciais e de engenharia, Dostoiévski também estudou a obra de [[Victor Hugo]], [[Honoré de Balzac]], [[George Sand]] e [[Eugène Sue]], uma vez que a academia tinha um bom programa de literatura, focado principalmente na produção francesa.{{sfn | FRANK | 1976| p=93}} NestaNessa época, foi também muito influenciado pelo poeta [[Romantismo|romântico]] alemão [[Friedrich Schiller]].{{sfn | FRANK | 1976| p=80}}
 
A partir de agosto de 1841, Dostoiévski passou a morar fora da escola de engenharia, dividindo apartamentos com conhecidos{{sfn | FRANK | 1976| p=113}} e com o irmão Andrei.{{sfn | FRANK | 1976| p=115}} Nesta época escreveu - segundo relatos de um seu conhecido com o qual dividia o apartamento - partes de duas peças românticas, as quais não sobreviveram ao tempo e cujos títulos eram: ''Mary Stuart'' e ''Boris Godunov''.{{sfn | FRANK | 1976| p=117}} TerminaTerminou o curso de engenharia em 1843.{{sfn | FRANK | 1976| p=115}}
 
Em 1845 começacomeçou a escrever sua primeira obra, o [[romance epistolar]] [[Gente Pobre]],{{sfn | FRANK | 1976| p=137}} trabalho que iria fornecer-lhe êxitos da [[crítica literária]], uma vez que [[Vissarion Belínski|Belinski]], o mais influente crítico da literatura russa,{{sfn | FRANK | 1976| p=97}} acreditou e fez acreditar ser Dostoiévski a mais nova revelação do cenário literário do país: Belinski estava extasiado com o movimento [[Realismo|realista]] na Europa e considerou o romance de Dostoiévski como a primeira tentativa do gênero na Rússia.{{sfn | FRANK | 1976| pp=137-139,159-171}} O livro foi publicado no ''Almanaque de Petesburgo'' no ano de 1846.{{sfn | FRANK | 1976| p=159}}
 
ÀA ''Gente Pobre'' seguiu o romance [[O Duplo (romance)|O Duplo]], publicado em 1846,{{sfn | FRANK | 1976| p=296}} e os seguintes contos: [[Senhor Prokhartchin]], publicado no volume de outubro de 1846 da revista ''Notas da Pátria'',{{sfn | FRANK | 1976| p=313}} e dois contos escritos em 1846:, [[Romance em Nove Cartas]] e [[Polzunkov]],{{sfn | FRANK | 1976| p=322-323}} [[A Senhoria]], escrito entre 1846-47,{{sfn | FRANK | 1976| p=334-340}} [[Coração Fraco]], escrito em 1848,{{sfn | FRANK | 1976| p=321}} três contos escritos entre 1847-48: [[O Ladrão Honesto]], [[Uma Árvore de Natal e uma Boda]], [[A mulher alheia e o marido debaixo da cama]]{{sfn | FRANK | 1976| p=326}} e [[Noites Brancas]]{{sfn | FRANK | 1976| p=332}} e, ainda, o conto [[Netochka Nezvanova]], cuja última parte foi publicada no volume de maio da ''Notas da pátria'' no ano de 1849, sem, entretanto, conter o nome de Dostoiévski, uma vez que ele tinha sido preso em 23 de abril.{{sfn | FRANK | 1976| p=349-365}} Estas obras não tiveram o êxito esperado e sofreram críticas muito negativas, inclusive de BielínskiBelinski.{{sfn | FRANK | 1976| p=295}}
 
Nesta época,{{sfn | FRANK | 1976| p=240}} desde que terminou o curso na academia militar até sua prisão, Dostoiévski entrou em contato com alguns grupos da [[Intelligentsia]] russa, sendo os principais do qual participou o ''[[Círculo Petrashevski]]''{{sfn | FRANK | 1976| pp=239-257}} e o ''[[Círculo Palm-Durov]]''.{{sfn | FRANK | 1976| pp=273-291}} O primeiro era dedicado à discussão sobre literatura e [[Ciências humanas|humanidades]] em geral, centrado nas obras da biblioteca de obras proibidas de [[Mikhail Petrashevski|Petrashevski]],{{sfn | FRANK | 1976| p=241}} obras que, segundo os registros da sociedade, Dostoiévski consultou em várias ocasiões.{{sfn | FRANK | 1976| pp=251-252}} O segundo, o ''Círculo Palm-Durov'', foi formado a partir do ''Círculo Petrashevski'' e servia de fachada para radicais revolucionários, incluindo Dostoiévski,{{sfn | FRANK | 1976| p=282}} o qual foi preso muito por conta de suas atividades neste círculo,{{sfn | FRANK | 1976| p=282}} em que pese as acusações terem sido direcionadas apenas ao círculo principal de Petrashevski, uma vez que o ''Círculo Palm-Durov'' não chegou a ser descoberto pelas autoridades.{{sfn | FRANK | 1976| p=283}}
 
{{quote2|''Mais do que um sósia, era o seu duplo, o desdobramento dêle mesmo.''|autor=Dostoiévski''{{sfn | Dostoiévski| 1960-1961|loc=v.9| p=240}}}}
Linha 82:
==== Detenção, julgamento e falsa execução ====
[[Imagem:B pokrovsky kazn 1849.jpg|thumb|direita|A falsa execução do Círculo Petrashevski]]
Dostoiévski foi detido na noite de 22-23 de abril de 1849 por participar do [[Círculo Petrashevski]] sob acusação de conspirar contra o [[czar]] [[Nicolau I da Rússia|Nicolau I]].{{sfn | FRANK | 1983 | p=3}}<ref name="Brit"/> O czar mostrou-se, depois das [[revoluções de 1848]] na [[Europa]], vigoroso contra qualquer organização clandestina que pudesse pôr em risco seu reinado.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=3-4}}<ref name="Brit"/> Apesar dode o Círculo Petrashevski não ser em si nem clandestino nem revolucionário, como chegou aà conclusão o relatório oficial,{{sfn | FRANK | 1983 | p=49}} existiam vários grupos menores orbitantoorbitando ao seu redor e alguns de seus membros eram de fato revolucionários, como era o caso de Dostoiévski.<ref>Frank, 1976, 173-291</ref> A ordem de detenção foi emitida baseada nos relatórios da chancelaria imperial russa da época, mais conhecida como "polícia secreta", realizados em conjunto com o Ministério dos Assuntos Internos, após mais de um ano de investigação.<ref>{{Harv | Frank | 1983 | p=6}}</ref> A principal acusação contra Dostoiévski foi de ter lido em público passagens de uma carta semi-abertasemiaberta de [[Vissarion Belínski]] ao escritor [[Nikolai Gogol]], na qual o escritor foi criticado por suas visões políticas e sociais conservadoras. Dostoiévski leu esta carta tanto no Círculo Petrashevski quanto no [[Círculo Palm-Durov]], além de ter ajudado a disseminá-la.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=42,169}}
 
Por conta do processo, Dostoiévski passou oito meses na [[Fortaleza de São Pedro e São Paulo]], onde trabalhou escrevendo várias notas para diferentes obras.<ref>Pisma, I:124; July 18, 1849. Trad. Frank, 1983, p.25</ref> As notas não sobreviveram e a única obra concluída desta época foi [[O Pequeno Herói]].{{sfn | FRANK | 1983 | p=25169}} Nestes oito meses continuaram as investigações do Círculo Petrashevski, as quais foram finalizadas apenas em 17 de setembro de 1849, quando foram enviadas ao czar, o qual ordenou a abertura de um tribunal misto (civil e militar) para julgar, sob leis militares, 28 acusados. Destes, 15, incluindo Dostoiévski, foram condenados no dia 16 de novembro à pena de morte por fuzilamento.
Linha 88:
Após diversos recursos, Nicolau I perdoou muitos dos sentenciados à morte. Dostoiévski foi então condenado a oito anos de trabalhos forçados, pena reduzida para quatro anos seguida de serviço militar por tempo indeterminado.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=49-51}} Mesmo assim, em 22 de dezembro os prisioneiros foram transferidos e levados ao lugar da suposta execução, a Praça Semenovski, onde suas sentenças de morte foram lidas publicamente.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=51-55}} Três membros do grupo - Petrashevski, Mombelli e Grigoriev - foram amarrados aos postes em frente ao pelotão de fuzilamento. Dostoiévski era um dos três próximos {{sfn | FRANK | 1983 | p=55}} e neste momento de aguardo disse a Nikolai Spetchniev, o qual se encontrava atrás: -"Nós estaremos com Cristo", o revolucionário respondeu -"Um pouco de poeira".{{sfn | FRANK | 1983 | p=58}}
 
Antes do comando para o fuzilamento, entretanto, chegou uma ordem do czar para que a pena fosse comutada para prisão com trabalhos forçados. Soube-se, depois, que a ordem havia sido assinada dias antes, mas que o czar exigira a falsa execução - através do Príncipe Michkin de [[O Idiota]], Dostoiévski oferece uma descrição desta experiência de quase morte -.{{sfn | FRANK | 1983 | p=56}} Dostoiévski, então, recebeu os grilhões e partiu para a [[Sibéria]] poucos dias depois.{{sfn | FRANK | 1983 | p=59}} É comumente aceito e afirmado pelo próprio Dostoiévski, que após a simulação da execução, ele passou a apreciar a vida de uma maneira muito diferente da anterior, iniciando um processo de transformação existencial, literária e política, que estaria terminada quando de seu retorno a [[São Petersburgo]], 10 anos depois.<ref name="Brit"/> {{sfn | FRANK | 1983 | pp=59,87-88,303}}{{sfn| FRANK | 1986 | p=4}}
 
{{quote2|''- Nós estaremos com Cristo. - Um pouco de poeira.|autor=Dostoiévski, Spechniev.''{{sfn | FRANK | 1983 | p=58}}}}
Linha 94:
==== Sibéria ====
[[Imagem:Evening - Applying handcuffs.PNG|thumb|esquerda|300px|''Prisioneiros em [[Katorga]]''<br><small>Por Aleksander Sochaczewski</small>]]
Dostoiévski foi primeiramente enviado a uma prisão localizada em [[Tobolsk]], onde os presos eram redistribuidosredistribuídos para diversos campos de trabalho a fim de cumprirem suas penas de trabalho forçado (chamado sistema [[Katorga]]). Fato curioso, foi que, em Tobolsk, Dostoiévski encontrou muitos [[Revolta Dezembrista|dezembristas]], diversos dos quais estavam acompanhados de suas esposas, as quais se exilavam espontaneamente para acompanhar seus maridos. Foram elas que forneceram a Dostoiévski, e aos outros prisioneiros recém -chegados, seus exemplares do [[Novo Testamento]], o único livro permitido na prisão.{{sfn | FRANK | 1983 | p=73}}
 
Dostoiévski foi, então, encaminhado para uma prisão em [[Omsk]], centro administrativo da [[Sibéria]], onde cumpriu por quatro anos a sentença de trabalhos forçados. Esta prisão estava em péssimapéssimas condições, tendo Dostoiévski escrito em carta ao irmão, que o local deveria ter sido demolido anos atrásantes.{{sfn | FRANK | 1983 | p=76}} Na prisão em Omsk era possível, apesar de difícil, conseguir outro tipo de literatura além do Novo Testamento.{{sfn| FRANK | 1983 | p=77}}
 
Um dos fatos que tiveram mais impacto em Dostoiévski nestanessa época foi descobrir que na prisão, em que pese diluídas as diferenças de classe, os [[Servidão na Rússia|servos]] não aceitavam as antigas (de fora da prisão) classes superiores como camaradas, como iguais.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=87-103169}} Dostoiévski conta como os camponeses zombavam dos intelectuais por sua falta de destreza física nos trabalhos{{sfn | FRANK | 1983 | p=98}} e quando Dostoiévski, sem querer, acabou se juntando a um protesto contra a má qualidade da comida da prisão, os prisioneiros não o aceitaram e o expulsaram, uma vez que Dostoiévski podia comprar reforço alimentar, não pertencendo, assim, à manifestação.{{sfn | FRANK | 1983 | p=101}}
 
Foi na prisão da Sibéria que Dostoiévski sofreu seu primeiro ataque de [[epilepsia]], doença que o acompanharia pelo resto da vida e que também atinge vários de seus personagens, como o Príncipe Míchkin de [[O Idiota]], Kiríllov de [[Os Demônios]] e Smerdiákov de [[Os Irmãos Karamazov]]. As cartas que Dostoiévski enviou ao irmão deixam claro que os ataques epilépticos iniciaram na Sibéria, em que pese ele já ter apresentado problemas nervosos antes disso.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=80-81}}
Linha 106:
==== Exército e primeiro casamento ====
[[Imagem:Maria Dostoevskaya.jpg|thumb|150px|Maria Dostoevskaya (1824-1864)]]
Após libertado da prisão de [[Omsk]], Dostoiévski foi mandado para cumprir pena servindo no exército russo em seuno Sétimo Batalhão do Corpo Militar da Sibéria por tempo indeterminado,{{sfn | FRANK | 1983 | p=165}} permanecendo por quatro anos na fortaleza de [[Semey|Semipalatinsk]], no [[Cazaquistão]].<ref name="Brit"/>
 
Neste período, apaixonou-se por Maria Dmitriévna, mulher casada e mãe de um filho chamado Pável Issáiev (Pasha), do qual Dostoiévski era tutor.{{sfn | FRANK | 1983 | p=183}} Ela sofria de [[tuberculose]].{{sfn | FRANK | 1986 | p=15}} Quando Maria Dmitriévna mudou-se com seu marido e filho para [[Kuinetsk]], ambos trocaram cartas semanalmente e uma destas cartas ainda sobrevive.{{sfn | FRANK | 1983 | p=201}} Em agosto de 1855, morreu Alexander Ivanovich Isaev, marido de Maria Dmitriévna,{{sfn | FRANK | 1983 | p=203}} e como em novembro de 1855 Dostoiévski foi promovido,{{sfn | FRANK | 1983 | p=203}} ele pediu a amada em casamento. Não sem muitas idas e vindas (inclusive um caso com outro homem),{{sfn | FRANK | 1983 | pp=200-219}} Maria Dmitriévna aceitaaceitou, em dezembro de 1856, se casar com Dostoiévski e em 7 de fevereiro de 1857 ocorreu a cerimônia.{{sfn | FRANK | 1983 | p=213}}
 
Na noite de núpcias, Dostoiévski sofreu uma violenta crise de [[epilepsia]], quando recebeu pela primeira o diagnóstico médico de tal doença.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=215-216}} Aproximadamente um ano depois, em meandrosmeados de janeiro de 1858, Dostoiévski entrou oficialmente com pedido de aposentadoria do exército, a fim de receber tratamento médico.
 
Já no início de 1859, Dostoiévski conseguiu ser dispensado do exército para tratar da saúde, sob a condição de não residir nem em [[São Petersburgo]], nem em [[Moscou]]. Escolheu mudar-se para [[Tver]], meio caminho entre as duas cidades proibidas. No início de julho de 1859 iniciainiciou sua viagem para sua nova residência.{{sfn | FRANK | 1983 | p=290}}
 
==== A conversão de Dostoiévski ====
[[Imagem:Image dost 01.jpg|thumb|esquerda|150px|Dostoiévski em uniforme (1858)]]
Por ''conversão de Dostoiévski'' entende-se a mudança radical de convicções [[Existência|existenciais]], [[Religião|religiosas]], [[Moral|morais]] e [[política]]s pelas quais passouele Dostoiévskipassou no período entre suaa detenção e seuo retorno a [[São Petersburgo]], conversão afirmada pelo próprio autor.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=116-145}}
 
Segundo o próprio Dostoiévski, o momento exato da conversão foi durante as festividades de [[Páscoa]] do segundo ano que passara na [[Sibéria]]: após assistir a uma extremamente violenta, e para ele insuportável, festividade dos [[Servidão na Rússia|servos]] na prisão, Dostoiévski lembrou-se do caso do [[Servidão|servo]] Marei (servo de seu pai), o qual teria ocorrido quando ele ainda era criança. O servo Marei teria tratado Dostoiévski com extremo amor paternal, quando este, com oito anos, estava desesperado de medo por acreditar ter ouvido uivos de lobos na propriedade da família. Esta lembrança modificou o modo como ele vinha compreendendo os servos desde que chegou ao presídio - com muito rancor, por não ser aceito como um igual. -: depoisDepois desta experiência e lembrança, como por um milagre, o rancor desapareceu.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=121-124}}
 
Colocando de forma mais completa o significado da citada conversão, pode-se dizer que Dostoiévski começou com uma crença [[Socialismo|socialista]] ingênua de que poderia liderar os servos como um igual - crença que sustinha antes da condenação -, passou por uma posição de extrema repulsa em relação aos servos da prisão - causada pelo fato dosde os servos não o aceitarem como igual - e chegou, finalmente, a ter fé na moral dos servos ([[cristianismo]] [[Igreja Ortodoxa|ortodoxo]]), do povo russo, não mais, porém, como movimento político, mas como seres humanos capazes de infinito amor{{sfn | FRANK | 1983 | p=125}} e, como qualquer ser humano, do infinito mal.{{sfn| FRANK | 1983 | p=136}} Trata-se de amor cristão, o que mostra que a conversão também foi religiosa.{{sfn | FRANK | 1983 | p=126}}
 
=== Carreira literária pós-exílio ===
==== Regresso e contexto sociopolítico ====
[[Imagem:Zar Alexander II.jpg|thumb|200px|[[Alexandre II da Rússia|Alexandre II]], czar da Rússia]]
O reinício de Dostoiévski como escritor ocorre, de fato, antes mesmo de ser liberado do exército, isto é, logo após começar a receber seu ordenado como oficial (março de 1857) e de ser restituído de seus direitos civíscivis - incluindo o direito de publicação (maio de 1857) -, quando então publicou seu único texto já completo na época, aquele escrito enquanto detido para investigação: [[O Pequeno Herói]].{{sfn | FRANK | 1983 | p=257}} Entre 1857 e 1859 escreveu ainda dois contos cômicos: [[O Sonho do Tio]] e [[Aldeia de Stiepantchikov e Seus Habitantes]], não obtendo nenhum deles sucesso.{{sfn | FRANK | 1983 | p=262}}{{sfn | FRANK | 1986 | p=19}}
 
No final de dezembro de 1859, regressou finalmente com sua família (suaa esposa e o enteado) a [[São Petersburgo]].{{sfn | FRANK | 1983 | pp=290,301}} O retorno não foi dos mais fáceis, tendo em vista que sua longa ausência não só o afastou dos antigos contatos de São Petersburgo, como também de toda a produção cultural russa, incluindo a literatura e o jornalismo, uma vez que o acesso aos livros era bem difícil durante o tempo em que cumpriu pena.{{sfn | FRANK | 1983 | p=241}}
 
A situação política que encontrou em São Petersburgo não foi conflituosa: uma vez que os impulsos revolucionários dos literatos e de Dostoiévski tinham como principal finalidade a libertação dos [[Servidão na Rússia|servos]] da Rússia e na medida em que [[Alexandre II da Rússia|Alexandre II]], [[czar]] que assumiu o trono em 1855,{{sfn | FRANK | 1986 | p=20}} estava determinado a libertá-los, tanto a [[Intelligentsia|Inteligência Russa]] como Dostoiévski estavam favoráveis ao czar.{{sfn | FRANK | 1986 | p=6}} No caso de Dostoiévski, também sabemos que sua conversão, a qual o impulssionouimpulsionou contrariamente ao [[socialismo]], tornavam o czar e sua política ainda mais simpáticos (v. seção [[Fiódor Dostoiévski#A conversão de Dostoiévski|A conversão de Dostoiévski]] deste artigo). A abolição da [[servidão]] veio de direito em 16 de fevereiro de 1861,{{sfn | FRANK | 1995 | p=6}} entretanto a trégua não durou muito, uma vez que a forma da libertação não parecia favorecer muito os servos.{{sfn | FRANK | 1986 | pp=133ss}}
 
Na época do retorno de Dostoiévski a São Petersburgo, isto é, no início dos anoanos 1860, os escritores mais aclamados eram [[Nikolai Gavrilovitch Tchernichevski|Tchernitchevski]] e [[Nikolay Dobrolyubov|Dobroliubov]].{{sfn | FRANK | 1986 | p=32}} Ambos, assim como a maioria dos pensadores da época, acreditavam em uma ética [[utilitarismo|utilitarista]] e tinham uma visão inocente da [[ciência]] e do [[racionalismo]], assim como da possibilidade deles de desvendarem e responderem, por si mesmos, todas as questões humanas.{{sfn | FRANK | 1986 | p=6}}
 
==== O reinício em São Petersburgo ====
[[Imagem:Mikhail Dostoyevsky.jpg|thumb|200px|esquerda|Mikhail Dostoiévski, irmão de Fiódor Dostoiévski, ca. 1864]]
A primeira obra publicada por Dostoiévski após seu retorno a [[São Petersburgo]] foi a autobiográfica e de enorme sucesso [[Recordações da Casa dos Mortos]], esta obra foi baseada em suas experiências como prisioneiro,<ref name="Brit"/> {{sfn | FRANK | 1983 | p=297}} inaugurando este gênero literário russo.{{sfn | FRANK | 1986 | p=214}} A obra chegou a ser considerada por [[Liev Tolstói]] como o melhor livro de toda a literatura moderna.<ref>Jackson, 1993, p.111.</ref> Ela foi publicada no revista ''O Mundo Russo'' (''Russkii Mir''): seus dois primeiros capítulos foram publicados em 1860 e republicados no início de 1861, seguidos de três capítulos publicados semanalmente, quando a publicação foi então interrompida e nunca mais retomada.{{sfn | FRANK | 1986 | pp=28,33}} Muito tempo depois, em 1922, foi encontrado e publicado um capítulo esquecido das ''Recordações da Casa dos Mortos'', o qual tinha sido escrito para reveterreverter uma censura governamental feita à obra, porém, uma vez que a obra acabou publicada sem este capítulo, ele ficou esquecido nos arquivos do governo.{{sfn | FRANK | 1986 | pp=28-30}} Este capítulo esquecido continha, pela primeira vez nos escritos de Dostoiévski, aquilo que seria um dos temas de suas grandes obras: a liberdade humana como bem supremo, contraposta, p.ex.por exemplo, a uma suposta supressão total das necessidades vitais do ser humano pela utopia socialista.{{sfn | FRANK | 1986 | p=31}}
 
Em 8 de julho de 1860, Mikhail, irmão de Dostoiévski, foi autorizado a publicar a revista literária [[Tempo (revista russa)|Tempo]] (''Vremia''), da qual seria editor juntamente com Dostoiévski, estaa revistaqual foi muito bem sucedida.{{sfn | FRANK | 1986 | p=110}} A posição política defendida pelos editores de ''Tempo'' era a fusão mediadora de [[ocidentalismo]] e [[eslavofilia]],{{sfn | FRANK | 1986 | p=26}} podendo por isso ser entendida como a principal referência de um novo movimento no cenário literário russo, o [[Pochvennichestvo]], cujos principais membros, além do próprio Dostoiévski, eraeram [[Strakhov]] e [[Grigoriev]].{{sfn | FRANK | 1986 | p=34}} O movimento ''potchvennitchestvo'' acreditava que a questão mais emergencial a ser tratada pelos escritores era a síntese cultural pacífica entre os "bem educados" e a massa russa, entre ocidentalismo e eslavofilia, e não uma revolução violenta guiada por intelectuais educados na cultura europeia, a qual teria como finalidade impor ao povo russo um ideal de vida iluminista.{{sfn | FRANK | 1986 | p=35}} Na revista ''Tempo'', além de suas próprias ficções, Dostoiévski também publicava traduções, resenhas, comentários e alguns estudos,{{sfn | FRANK | 1986 | pp=64ss}} incluindo, p.ex.por exemplo, um estudo sobre [[Edgar Allan Poe]].{{sfn | FRANK | 1986 | pp=74ss}}
 
Desde a autorização para a publicação de ''Tempo'', enquanto Mikhail terminava os preparos burocráticos para publicação da revista, Dostoiévski escrevia seu primeiro romance pós-Sibéria, o romance em folhetim [[Humilhados e Ofendidos]], o qual também foi agraciado com grande sucesso.<ref name="Brit"/> O romance começou a ser publicado desde o primeiro volume de ''Tempo'', em janeiro de 1861, continuando por vários dos seus números.{{sfn | FRANK | 1986 | p=110}} Esse romance, segundo Joseph Frank, teria inaugurado um estilo melodramático que Dostoiévski usaria mais tarde em suas grandes obras.{{sfn | FRANK | 1986 | p=7}} Segundo Frank, portanto, nesta época Dostoiévski fundafundou o estilo{{sfn | FRANK | 1986 | p=7}} e o tema{{sfn | FRANK | 1986 | p=31}} de suas grandes obras: a dramatização da contraposição entre liberdade e racionalidade. Neste período, Dostoiévski também começou a frequentar o círculo literário que se encontrava na casa de Miliukov, ex -membro do círculo [[Palm-Durov]].{{sfn | FRANK | 1986 | p=22}}
 
Em 7 de junho de 1862, partiu Dostoiévski para sua primeira viagem pela Europa (Alemanha, Bélgica, França e Inglaterra).{{sfn | FRANK | 1986 | p=180,186}} Nesta viagem, ele jogou roleta pela primeira vez, adquirindo um vício que o acompanharia por quase toda a vida, apesar de praticado apenas durante viagens.{{sfn | FRANK | 1986 | p=183}} Também foi nesta viagem que Dostoiévski visitou o [[The Crystal Palace|Palácio de Cristal]], símbolo dos avanços tecnológicos europeus, o qual seráseria usado pelo autor em alguns de seus textos posteriores.{{sfn | FRANK | 1986 | p=187}} Já no final de 1862, após seu retorno da Europa, Dostoiévski publicou [[Uma História Desagradável]] e depois, como a última importante obra publicada na revista ''Tempo'', publicou [[Notas de Inverno sobre Impressões de Verão]],{{sfn | FRANK | 1986 | pp=180,233}} obra que retratava e comentava sua viagem à Europa do ano anterior.{{sfn | FRANK | 1986 | p=233}}
 
Em maio de 1863, a autorização de funcionamento da revista foi cancelada pelo governo, sob falsa acusação de apoio à revolta polonesa.{{sfn | FRANK | 1986 | pp=,197,199,210-212}} Então, em abril de 1864, Dostoiévski e seu irmão Mikhail iniciaram a edição de uma segunda revista literária, a [[Época (revista russa)|Época]] (''Epokha''), seguindo a mesma orientação política e editorial que sua antecessora, a ''Tempo''.{{sfn | FRANK | 1986 | p=284}} Na ''Época,'' Dostoiévski publicaria suas [[Notas do Subterrâneo]], dando início às suas grandes obras.{{sfn | FRANK | 1986 | p=292}}
 
==== As grandes obras I: ''Notas do Subterrâneo'', ''Crime e Castigo'' e ''O Jogador'' ====
Linha 149:
[[Notas do Subterrâneo]], texto que abre o período das grandes obras de Dostoiévski, foi escrito em um momento extremamente difícil para o autor, uma vez que a saúde de sua esposa, Maria Dmitrievna, por conta de sua tuberculose, havia piorado muito, vindo ela a falecer em 12 de abril de 1864.{{sfn | FRANK | 1986 | pp=295,297}} Se não bastasse a morte da esposa, Dostoiévski perdeu seu irmão Milkhail logo em seguida, no dia 9 de julho de 1864.{{sfn | FRANK | 1986 | p=348}} Em ''Notas do Subterrâneo'', Dostoiévski retratou a necessidade humana insuperável de liberdade, podendo ele fazer qualquer coisa para mantê-la, inclusive o masoquismo.{{sfn | FRANK | 1986 | p=298}} Nesta época, também escreveu alguns artigos e o conto [[O Crocodilo]],{{sfn | FRANK | 1986 | p=351}} texto inacabado que compôs o último número da revista [[Época (revista russa)|Época]], que fechou por problemas financeiros em março de 1865.{{sfn | FRANK | 1986 | pp=348-361}}{{sfn | FRANK | 1995 | p=9}}
 
Após o fechamento da ''Época'', da morte da primeira mulher e do seu irmão (sempre ao seu lado na edição das revistas), Dostoiévski entrou em uma nova fase de sua vida: ele não mais procurou se inserir no agitado movimento político/literário russo, mas, ao contrário, se isolou a fim de escrever seus romances de forma mais tranquila.{{sfn | FRANK | 1995| p=3}} Apesar de afastado das obrigações burocráticas e sociais das revistas, entretantonão alcançou a tranquilidade que desejava, por causa das dívidas e do seu vício em jogos, não alcançou a tranquiliade que desejava.{{sfn | FRANK | 1995| pp=25-42}} ForamFoi nestes seis anos de isolamento social que ele escreveu as obras -primas [[Crime e Castigo]], [[O Idiota]] e [[Os Demónios|Os Demônios]], além de obras menores como [[O Jogador (livro)|O Jogador]] e [[O Eterno Marido]].{{sfn | FRANK | 1995| p=3}}
 
Planejado inicialmente para ser um simples conto, [[Crime e Castigo]] se tornou um romance de peso, uma das obras mais importantes do autor.{{sfn | FRANK | 1995| p=42}} Seus primeiros dois capítulos foram publicados, respectivamente, nos números de janeiro e fevereiro de 1865 da revista ''O Mensageiro Russo'', adquirindo grande fama e muita crítica.{{sfn | FRANK | 1995| p=42}} Um curioso fato, que teria aumentado em muito o interesse geral pela obra, foi o assassinato de um agiota e seu criado visando o roubo do seu apartamento, cometido por um estudante chamado A.M. Danilov em 12 de janeiro de 1866. Este episódio era muito semelhante ao enredo do romance de Dostoiévski{{sfn | FRANK | 1995| p=45}} e o sucesso dos dois primeiros capítulos trouxe à revista ''O Mensageiro Russo'' nada menos que 500 novos assinantes.{{sfn | FRANK | 1995| p=46}} Esse fato, entretanto, não aliviou a tensão entre o escritor e seus editores, os quais continuaram demandando diversas correções dos textos apresentados por Dostoiévski, além de apressarem constantemente a finalização do romance,. Eles recomendandorecomendaram a Dostoiévski, inclusive, a contratação de uma [[Estenografia|estenógrafa]] para ajudá-lo com um romance que deveria ser entregue antes mesmo de ''Crime e Castigo'', e o qual Dostoiévski nem mesmo havia começado, o romance [[O Jogador (livro)|O Jogador]]. O manuscrito de ''O Jogador'' foi entregue ao editor no dia 29 de outubro de 1866, dentro do prazo combinado, portanto.{{sfn | FRANK | 1995| pp=57-59}}{{sfn | FRANK | 1995| pp=158,163}}
 
A contratada como estenógrafa foi Anna Grigorievna Snitkina (futura Anna Dostoievskaia){{sfn | FRANK | 1995| p=59}} com quem Dostoiévski se casou pela segunda vez,{{sfn | FRANK | 1995| p=152}} quando Anna tinha vinte anos.{{sfn | FRANK | 1995| p=193}} Não devemosse deve confundir a esposa de Dostoiévski com a também conhecida sua Anna Korvin-Krukovskaia: esta escreveu dois textos para a revista [[Época (revista russa)|Época]] sob o pseudônimo de Iury Orbelov, denominados ''Um sonho'' e ''Mikhail''{{sfn | FRANK | 1995| p=13}} e, apesar de ter sido pedida em casamento por Dostoiévski, recusou o pedido.{{sfn | FRANK | 1995| p=13}}
 
Após o casamento, para fugir da pressão dos credores, entre outros problemas, o casal resolveu viajar pela Europa e partirampartiu em abril de 1867. A viagem estava programada para durar alguns meses, mas acabou durando quatro anos.{{sfn | FRANK | 1995| p=184-190}} Eles residiram em [[Dresden]],{{sfn | FRANK | 1995| pp=184-192}} [[Genebra]],{{sfn | FRANK | 1995| p=223}} [[Vevey]],{{sfn | FRANK | 1995| p=293}}, [[Milão]],{{sfn | FRANK | 1995| p=276}} [[Florença]]{{sfn | FRANK | 1995| p=276}} e novamente em ''Dresden''.{{sfn | FRANK | 1995| p=361}} Durante a viagem, Dostoiévski jogou muito na roleta e acabou perdendo algumas vezes o seu próprio dinheiro, assim como o de sua mulher, a qual tinha pago os custos iniciais da viagem, uma vez que Dostoiévski estava muito endividado na época.{{sfn | FRANK | 1995| p=13}} Em Geneva, no dia 5 de março de 1868, nasceu a primeira filha do casal, Sônia{{sfn | FRANK | 1995| p=283}}{{sfn | FRANK | 1995| p=282}}{{sfn | FRANK | 1995| p=303}} ou Sofia.{{sfn | FRANK | 1995| p=281}}<ref group=nota>O nome Sofia é antiga forma familiar do nome Sônia, segundo Paulo Bezerra em sua tradução de Crime e Castigo (pag.35)</ref> Sônia morreu pouco tempo depois, em 12 de maio de 1868, por causa de um gripe e foi enterrada no dia 24 de maio.{{sfn | FRANK | 1995| p=293}}
 
{{quote2|''Finalmente robei seus últimos pertences e os perdi no jogo.|autor=Dostoiévski.''{{sfn | FRANK| 1995 | p=207}}}}
Linha 162:
[[Imagem:Dostoevskij 1872.jpg|thumb|200px|esquerda|''Retrato de Fiódor Dostoiévski''<br><small>Por Vassilij Grigorovič Perov, 1872</small>]]
 
Nos meses de outubro e novembro de 1867, Dostoiévski já estava elaborando rascunhos para sua próxima grande obra, ''[[O Idiota]]''.{{sfn | FRANK| 1995| p=261}} A história da composição deste romance está bem registrada nos três cadernos de notas deixados pelo escritor, cadernos que demonstram a grande dificuldade e intensidade com que o autor trabalhou em seu perssonagempersonagem principal, Príncipe Mitchkin. {{sfn | FRANK| 1995| p=256}} ''O Idiota'' foi publicado na revista ''O mensageiro russo'', sendo que seus primeiros capítulos foram publicados em janeiro de 1868{{sfn | FRANK| 1995| p=276}} e o último em dezembro de 1869.{{sfn | FRANK| 1995| p=310}} A obra é considerada a mais original de Dostoiévski,{{sfn | FRANK| 1995| p=340}} expondo, em sua máxima força, a compreensão do autor sobre o "Tipo [[Dom Quixote]]" (ver seção [[Fiódor Dostoiévski#Personagens|abaixo]]), isto é, o tipo [[Cristianismo|cristão]], o ideal existencial de Dostoiévski.{{sfn | FRANK| 1995| pp=316-341}}
 
Já na primeira semana de dezembro de 1869, Dostoiévski terminou de escrever o conto "[[O Eterno Marido]]", o qual foi considerado "o mais bem acabado conto de Dostoiévski", mesmo tendo sido escrito exclusivamente por questões financeiras,.{{sfn | FRANK| 1995| pp=353,370}} "o mais bem acabado conto de Dostoiévski",{{sfn | FRANK| 1995| p=394}} esseEste texto foi publicado no início de 1870 pela revista russa ''Dawn''.{{sfn | FRANK| 1995| pp=353,370}} Nesta época, Dostoiévski já possuía rascunhos para uma gigantesca obra em resposta a [[Guerra e Paz]] de [[Lev Tolstoy]], a obra não escrita ''A vida de um grande pecador''.{{sfn | FRANK| 1995| pp=365-381}} Estas notas dariam origem a três romances de Dostoiévski: ''[[Os Demônios]]'', ''[[O Adolescente]]'' e ''[[Os Irmãos Karamazov]]'':{{sfn | FRANK| 1995| pp=381,395}} A mudança de rumo ocorreu logo após a publicação de "''O Eterno Marido"'', entre dezembro de 1869 e fevereiro de 1870, quando Dostoiévski deixou de desenvolver "''A vida de um grande pecador"'' para iniciar a elaboração dos rascunhos para ''[[Os Demônios]]''.{{sfn | FRANK| 1995| pp=353,355,396}} O fato que desencadeou a mudança de rumo foi o assassinato de um estudante chamado Ivan Ivanov em Moscou pelo grupo revolucionário secreto liderado por [[Sergei Netchaev]], ao qual Ivan Ivanov pertencia.{{sfn | FRANK| 1995| p=396}}
 
Em 26 de setembro de 1870, enquanto escrevia ''Os Demônios'', nasceu a segunda filha do casal, Liubov, {{sfn | FRANK| 1995| p=368}} e em 8 de junho de 1871,{{sfn | FRANK| 2003| p=14}} com o livro ainda pela metade, Dostoiévski retornou à Rússia.{{sfn | FRANK| 1995| p=413}} Na viagem de retorno apostou pela última vez na roleta.{{sfn | FRANK| 1995| p=425}} Já em [[São Petersburgo]], onde residiu após o retorno, nasceu, no dia 16 de julho de 1871, o terceiro filho do casal, Fiódor.{{sfn | FRANK| 1995| p=430}} Procurando tranquilidade para criar os filhos, a família se mudou para [[Staraia]] na primavera de 1872.{{sfn | FRANK| 1995| p=430}} Os últimos capítulos de ''Os Demônios'' foram publicados no volume de novembro e dezembro de 1872 da revista ''O Mensageiro Russo'', tendo sido publicado em forma de livro no ano seguinte,{{sfn | FRANK| 1995| p=434}} editorado pelo próprio Dostoiévski e sua esposa.{{sfn | FRANK| 2003| p=35}}
 
Outra atividade editorial de Dostoiévski foi seu envolvimento com a revista russa ''O cidadão'', da qual se tornou editor em 1 de janeiro de 1873.{{sfn | FRANK| 2003| p=37}} Nesta revista escreveu sua famosa coluna [[Diário de um escritor]],{{sfn | FRANK| 2003| p=38}} a qual se tornaria uma publicação separada. Durante as atividades de editoração, no início de 1874, Dostoiévski começou a adoecer, início do que seria sua [[Enfisema|efisemaenfisema pulmonar]],{{sfn | FRANK| 2003| p=63}} deixando a edição da revista em abril{{sfn | FRANK| 2003| p=63}} e partindo em junho para [[Bad Ems]] na Alemanha, visando tratamento médico.{{sfn | FRANK| 2003| pp=120-129}} Em ''Diário de um escritor'', encontrava o público encontrava uma síntese das posições políticas do seu tempo encarnadas em personagens vividamente criados por Dostoiévski.{{sfn | FRANK| 2003| pp=87,88}} Nestes textos, entretanto, é possível encontrar apenas uma obra ficcional completa, o conto [[Bobok]].{{sfn | FRANK| 2003| p=116}}
 
Dostoiévski retornou a Staraia já melhor de saúde no dia 1 agosto de 1873, iniciando imediatamente seus trabalhos em ''[[O Adolescente]]'',{{sfn | FRANK| 2003| p=130}} obra que publicou na popular revista ''Notas da Pátria'',{{sfn | FRANK| 2003| pp=140-141}} tendo a última parte do romance sido publicada no inverno de 1875.{{sfn | FRANK| 2003| p=199}} A obra não foi bem recebida nem pela crítica da época nem pela atual.{{sfn | FRANK| 2003| pp=171-172}} NestaNessa mesma época, mais precisamente em 10 de agosto de 1875, nasceu o quarto filho do casal, Aleixo (em alusão a [[Santo Aleixo]], "o homem de Deus").{{sfn | FRANK| 2003| p=199}}
 
A fim de gerenciar a retomada do ''Diário de um Escritor'' (de 1876 a 1877),{{sfn | FRANK| 2003| p=254}} agora de forma autônoma,{{sfn | FRANK| 2003| pp=200,202,254-281}} Dostoiévski e sua família voltaram para São Petersburgo em meados de setembro de 1875.{{sfn | FRANK| 2003| p=205}} Sua nova publicação chegou a ser o periódico mais influente até então visto na Rússia{{sfn | FRANK| 2003| p=253}} e com o qual Dostoiévski alcançou uma fama nunca antes experimentada.{{sfn | FRANK| 2003| pp=215-224,233}} Também ésão dignodignos de nota os contos publicados neste periódico: em fevereiro de 1976 publicou [[O Mujique Marei]],{{sfn | FRANK| 2003| p=342}} em novembro de 1876 publicou [[Uma Criatura Gentil]]{{sfn | FRANK| 2003| p=345}} e em abril de 1877 publicou [[O Sonho de um Homem Ridículo]].{{sfn | FRANK| 2003| p=317}} O último número de ''Diário de um Escritor'' desta época foi publicado em dezembro de 1877.{{sfn | FRANK| 2003| p=361}}
 
{{quote2|''Se alguém me provar que Cristo está fora da verdade, e que na realidade a verdade está fora de Cristo, então eu preferiria ficar com Cristo a ficar com a verdade.|autor=Dostoiévski.''{{sfn | Dostoiévski | 1928-1959| |loc=Pisma, I:142; 20.02.1854|}}}}
Linha 178:
=== Obra prima e morte ===
[[Imagem:Dostoyevsky on his Bier, Kramskoy.jpg|thumb|direita|150px|''Dostoiévski em seu leito de morte'' <small>Por I. N. Kramskoy</small>]]
Pouco antes de começar a escrever sua obra -prima, [[Os Irmãos Karamazov]], ocorreram dois fatos importantes na vida de Dostoiévski: em fevereiro de 1878 o escritor aceitou convite do [[czar]] [[Alexandre II da Rússia|Alexandre II]] para ser tutor em conversas informais dos seus filhos mais novos, Sergei e Paulo, {{sfn | FRANK | 2003| p=380}} e em 16 maio de 1878 morreu seu filho Aleksei (Aliosha).{{sfn | FRANK | 2003| pp=362,377}}
 
Os primeiros rascunhos de ''Os Irmãos Karamazov'' foram escritos em abril de 1878{{sfn | FRANK | 2003| p=390}} e a publicação de sua primeira parcela ocorreu no dia 1 de fevereiro de 1879 pela revista "O mensageiro russo",{{sfn | FRANK | 2003| pp=361,407}} elasque fizeramfez sucesso imediato.{{sfn | FRANK | 2003| p=407}} Em 7 de novembro ele terminou a última parte de ''Os Irmãos Karamazov'' e enviou para o editor.{{sfn | FRANK | 2003| p=563}} Em 9 de dezembro do mesmo ano foi publicada a versão em dois volumes de ''Os Irmãos Karamazov'', cuja venda nos primeiros dias foi da metade das 30003 000 cópias impresasimpressas.{{sfn | FRANK | 2003| p=716}} Ainda antes de terminar os ''Irmãos Karamazov'', em agosto de 1880, Dostoiévski havia reativado o seu ''Diário de Escritor'',{{sfn | FRANK | 2003| pp=497-532}} publicação que durou até a morte do autor, seucujo último volume foi publicado em janeiro de 1881.{{sfn | FRANK | 2003| p=729}}
 
Fatos marcantes desta época foram: o atentado, em abril de 1879, contra o czar por Alexander Soloviev e{{sfn | FRANK | 2003| p=425}} a participação de Dostoiévski, entre 5 e 9 de junho de 1880,{{sfn| FRANK | 2003| pp=493,497-532}} na inauguração do monumento a [[Alexandre Pushkin]] em [[Moscou]], onde proferiu um discurso memorável sobre o destino da [[Rússia]] no mundo.{{sfn | FRANK | 2003| pp=497-532}}
 
Após três dias de cama, porém sem dor, morreu em 28 de janeiro de 1881{{sfn | FRANK | 2003| p=740}} de uma hemorragia pulmonar associada com [[enfisema]].{{sfn | FRANK | 2003| pp=740,742}} Uma procissão fúnebre foi organizada com representantes de diversos grupos sociais, uma grande multidão (aproximadamente {{fmtn|30000}} pessoas) seguiu o corpo,{{sfn | FRANK | 2003| p=754}} o qual foi velado na Igreja do Espírito Santo.{{sfn | FRANK | 2003| p=755}}
 
{{quote2|''[...] tomai sôbre vossos ombros os pecados humanos, e tornai-vos responsáveis por êles.|autor=Dostoiévski.''{{sfn | Dostoiévski| 1960-1961|loc=v.7| p=729}}}}
Linha 192:
 
* '''[[Jesus Cristo]]''' — Provavelmente a maior influência nos trabalhos de Dostoiévski foi a pessoa, o símbolo, de Cristo tal como contado pela [[Bíblia]] e através da interpretação [[Igreja Ortodoxa|ortodoxa]]. Dostoiévski nunca deixou de ser cristão e teve intenso contato com o texto bíblico na prisão, onde apenas este texto era permitido.{{sfn| FRANK | 1983 | p=77}} Comentando um de seus textos, afrmou que o que ele queria dizer era a "impossibilidade de se viver sem Cristo".{{sfn| FRANK | 2003| p=222}} Além do mais, muitas de suas obras contêm reflexões sobre o cristianismo e inclusive apologia, como é o caso de [[O Idiota]], o tipo cristão perfeito,{{sfn| FRANK | 1995 | pp=256-275}} o mito do [[O Grande Inquisidor|Grande Inquisidor]] em [[Os Irmãos Karamazov]], entre outros.
* '''[[Victor Hugo]]''' — Dostoiévski conhecia muito bem as obras de VitorVictor Hugo, e sua obra [[O Último Dia de um Condenado à Morte]] teria influenciado o autor russo no seu realismo fantástico. Segundo Dostoiévski, em referência aà obra citada, apesar de um condenado a morte não poder escrever um diário, foi exatamente este elemento fantástico que tornou possível a descrição realista por VitorVictor Hugo da mente de um condenado.{{sfn| FRANK | 2003| pp=346-347}}
* '''[[Friedrich Schiller]]''' — Dostoiévski entrou em contato com Schiler,Schiller ainda quando jóvemjovem, quando seu pai lhe apresentou [[Os Bandoleiros]], e em 1840 ajudou seu irmão, Michail, a traduzir parte da mesma obra para o russo. Esta obra teria, futuramente, grande influência em [[Os Irmãos Karamazov]].{{sfn| FRANK | 2003| pp=394-397}}
* '''[[Liev Tolstói|Tolstói]]''' — Dostoiévski considerava Tolstói um grande escritor, ao ponto de desejar escrever um imenso romance (''A vida de um grande pecador'') para fazer frente a sua obra prima, [[Guerra e Paz]].{{sfn | FRANK| 1995| pp=365-381}} Dostoiévski também debatedebateu e criticacriticou, em ''Diário de um Escritor'', as posições políticas de TolstoíTolstói, assim como sua obra [[Anna Karenina]].{{sfn| FRANK | 2003| pp=324ff}} Dostoiévski se comparava muitas vezes com Tolstói também no que se refere asàs condições financeiras: enquanto Tolstói teriatinha possibilidade financeira de escrever calmamente e publicar no tempo correto, Dostoiévski, ao contrário, precisava escrever por dinheiro, deixando assim as obras menos bem acabadas.{{sfn| FRANK | 2003| p=411}}
* '''[[Alexandre Pushkin|Pushkin]]''' — Um vez que PuskinPushkin tinha sido muito lido na Rússia e, por isso mesmo, muito criticado pelos revolucionários da época de Dostoiévski, este último defendeu o poeta contra o que ele considerava ao denegriçãodenegrimento da arte pelo [[utilitarismo]].{{sfn| FRANK | 2003| p=492}} A defesa ocorreu publicamente quando da leitura pública por Dostoiévski em Moscou durantesdurante os ''Festivais Pushkin'', os quais ocorreram entre 5 e 9 de junho de 1880.{{sfn| FRANK | 2003| pp=493,497-532}}
* '''[[Ivan Turgueniev|Turgueniev]]''' — A controvérsia entre Dostoiévski e TurgenevTurgueniev não iniciou, mas ficou clara e acentuada, durante os festivais dedicados a Pushkin, na medida em que ambos falaram publicamente e defenderam posições diferentes em relação ao lugar do poeta na literatura russa, refletindo a contraposição mais ampla entre [[ocidentalismo]] e [[eslavofilia]];{{sfn| FRANK | 2003| p=514}}: enquanto TurgenevTurgueniev colocava Pushkin como um introdutor da cultura europeia na Russia, mas que não chegava, mesmo assim, a se comparar aos europeus.{{sfn| FRANK | 2003| pp=515,517}} Dostoiévski idolatrava Pushkin como a maior manifestação do espírito russo, totalmente original em relação aà europaEuropa.{{sfn| FRANK | 2003| pp=520,525}}
* '''[[Grigori Gradovski|Gradovski]]''' — Gradovski, apesar de aceitar a tese dostoievskiana de que a ''inteligentsia'' russa não se aproximava do povo para aprender com ele, mas para ensináensinar-lolhe sobre a cultura europeia, alertaalertava que sem este aprendizado europeu o cristianismo sozinho nunca teria libertado os [[Servidão na Rússia|servos]] russos (política libertária, com a qual Dostoiévski concordava e tinha sido preso por defendê-la). Em contrapartida, Dostoiévski alegou que teriam sido muito mais os [[eslavofilia|eslavófilos]] que os [[ocidentalismo|ocidentalistas]], aqueles que contribuíram com a libertação dos servos e que, caso o cristianismo tivesse sido levado à perfeição, teria sim libertado os servos.{{sfn| FRANK | 2003| pp=543-547}}
* '''[[Nikolai Gogol]]''' — GógolGogol é citado diversas vezes em ''[[O Idiota]]'', sendo um de seus personagens, o Podkolióssin, modelo para o personagem-tipo de Dostoiévski de mesmo nome.{{sfn| DOSTOIÉVSKI | 1960| p=264-267}}
 
=== Temas ===
Joseph Frank considera que o tema mais característico e marcante das obras de Dostoiévski é a descrição das consequenciasconsequências psicológicas da assunção de determinadas [[ideia]]s ([[ideologia]]s), como é o caso, entre vários outros, do homem doente, o Homem do Subsolo ([[Notas do Subterrâneo]]) ao assumir a ideologia [[determinismo|determinista]].{{sfn | FRANK | 2003| p=11}}
 
Neste sentido ainda, no período pós-siberiano, o tema recorrente de Dostoiévski foi aquele por ele mesmo chamado de "conflito entre ideias e coração"{{sfn | FRANK | 1983 | p=169}} ou entre razão e fé cristã.{{sfn | FRANK | 2003 | p=567}} Este tema foi nomeado por Joseph Frank de "crítica da ideologia" e explicado como a contraposição entre as ideias europeias da época, principalmente o socialismo, e a moral cristã ortodoxa viseralvisceral do povo russo, [[Servidão na Rússia|servos]] principalmente.{{sfn | FRANK | 1983 | pp=69-146}} Trata-se, portanto, de tematizar sua própria conversão (v. [[Fiódor Dostoiévski#A conversão de Dostoiévski|A conversão de Dostoiévski]] neste mesmo artigo). Este tema também pode ser descrito como a defesa da liberdade enquanto o bem humano supremo,{{sfn | FRANK | 1986 | p=33}} i.e., a contraposição entre as leis de Cristo e as leis do ego.{{sfn | FRANK | 1986 | p=309}} Outro modo de denominar o mesmo tema, um modo mais sintético, é afirmar que, no período pós-sibériaSibéria, mais especificamente a partir de [[Notas do Subterrâneo]], o tema central de Dostoiévski é a superação do niilismo.{{sfn | Drucker| 2006| p=113}}
 
Dostoiévski tinha por tema, diferentemente dos outros escritores que descreviam o círculo da família moldados na tradição e nas "belas formas", o caos familiar, a humilhação, o sadismo, o masoquismo, a ganância, a doença, etc.<ref name="Brit"/> Essencialmente um escritor de mitos (e às vezes comparado por isso a [[Herman Melville]]), criou um trabalho com uma enorme vitalidade e de um poder quase hipnótico, caracterizado por cenas febris e dramáticas, onde os personagens apresentam comportamento escandaloso, e atmosferas explosivas, envolvidas em diálogos socráticos apaixonados, a busca de [[Deus]], do mal e do sofrimento dos inocentes.<ref name="Brit"/>
 
[[Reinhold Niebuhr]] atribui a Dostoiévski um "universalimo ético" pelo qual o escritor defenderia e pregaria o destino da Rússia como o lugar de onde partiria o reino do bem e da justiça na terraTerra.{{sfn | FRANK| 1995| p=254}}
 
=== Estilo e estética ===
Ao contrário do estilo utilizado na prosa da época, Dostoiévski não se fixava muito em uma descrição fotográfica dos personagens e do ambiente em que estavam, concentrando-se mais no enredo. Este fato teria contribuído, segundo Joseph Frank, para a má recepção por parte da crítica da época de muitos textos de Dostoiévski.{{sfn | FRANK | 1983 | p=267}} Este estilo - grande atenção para os elementos do enredo em prol da descrição fotográfica - utilizou Dostoiévski em todos os seus grandes romances, fato que trouxe uma certa homogeneidade estilística a estas obras. Os elementos comuns foram enumeradasenumerados por Joseph Frank da seguinte maneira: a) um enredo de ação extremamente rápido e condensado - muitos elementos ocorrendo em um breve espaço de tempo -; b) viradas inesperdasinesperadas e abruptas; c) personagens que são caracterizados mais pelos seus diálogos que pelas suas descrições fotográficas; e d) clímax ocorrendo entre diversas cenas tumultuosas.{{sfn | FRANK | 1983 | p=268}}
 
Estudiosos como [[Mikhail Bakhtin]] têm caracterizado o trabalho de Dostoiévski como diferente do de outros romancistas, pois ele parece não aspirar por uma visão única e vai além da descrição sob diferentes ângulos, caracterizando-o como romance [[Polifonia (linguística)|polifônico]]. Dostoiévski engenhoucriou romances cheios de força dramática em que os personagens e os opostos pontos de vista são realizados livremente, em violenta dinâmica.<ref>Bajtín, 1984, p. 211</ref>
 
Em relação ao [[narrador]], segundo Joseph Frank, a partir de [[Crime e Castigo]] Dostoiévski acentuaacentuou uma tradição provinda de [[Jane Austen]] de aproximar o ponto de vista do narrador ao ponto de vista do personagem principal, inclusive com técnicas de mudanças de tempo, retratação de memórias do personagem, entre outras.{{sfn | FRANK | 1995 | p=93}} Este estilo seria continuado por [[Henry James]], [[Joseph Conrad]], [[Virginia Woolf]] e [[James Joyce]], estes dois últimos inaugurando a técnica do [[fluxo de consciência]].{{sfn|FRANK|1995|p=93}}
 
O próprio Dostoiévski chamachamou seu estilo de realismo fantástico (não confundir com o movimento literário sul -americano), indicando que suas obras dramatizam aspectos da realidade, a fim de, no presente, retratar o passado e as possibilidades futuras. É o caso do ''Homem do Subsolo'': fantástico porque improvável do exato modo como descrito, real porque possível, e, sobretudo real-fantástico porque consequência do processo histórico de ocidentalização da Rússia e projeção no futuro, na medida em que profetiza um tipo existencial. Estas explicações de Dostoiévski são fornecidas, sobretudo, quando de sua análise da pintura [[Rebocadores do Volga (Repin)|Rebocadores do Volga]]. {{sfn | FRANK | 2003| p=112}}
 
{{quote2|''O que é mais belo, Shakespeare ou botas, Rafael ou petróleo?|autor=Dostoiévski.''{{sfn| Dostoiévski | 1972-1980 |loc=v.10| p=372}}}}
Linha 224:
 
* Tipo [[Dom Quixote]]
São cristãos humildes e modestos. Neste tipo enquadram-se: [[Príncipe Michkin|''Príncipe Michkin'']], ''Sonia Marmeládova'', ''Aliocha Karamazov'', ''Aliocha Valkovski'', ''Coronel Rostanev'' ([[Aldeia de Stiepantchikov e Seus Habitantes]]) e ''Aleksei Valkovski'' ([[Humilhados e Ofendidos]]).{{sfn| FRANK | 1986 | pp=12,128}}{{sfn| FRANK | 2003| pp=280,300}} Dostoiévski trabalhou o tipo ''Dom Quixote'' mais ampla e detalhadamente através do ''Príncipe Michkin'' em [[O Idiota]].{{sfn| FRANK | 1995 | pp=256-275}}
 
O tipo ''Dom Quixote'' é para Dostoiévski o mais perfeito exemplo moral de cristão.{{sfn| FRANK | 1995 | p=274}} Uma tal comparação entre ''Dom Quixote'' e [[Cristo]] não ocorre pela primeira vez com Dostoiévski: também [[Søren Kierkegaard|Kierkegaard]], [[Ivan Turgueniev|Turgueniev]], o próprio [[Cervantes]] com ''Dom Quixote'', [[Charles Dickens]] com [[Pickwick]], e [[Voltaire]] com ''[[Pangloss]]'' estabeleceram tais paralelos.{{sfn | BROCA| 1960| p=XVI e XVII}}{{sfn| FRANK | 1995 | p=274}}{{sfn| FRANK | 1995 | p=288}} Diferentemente do que ocorre com ''Dom Quixote'', ''Sr. Pickwick'' e ''Pangloss'', entretanto, Dostoiévski não utiliza a comédia para conseguir a identificação do leitor com seu personagem, ele utiliza a idiotia ou inocência: o ''Príncipe Michkin'' é um inocente idiota.{{sfn| FRANK | 1995 | p=288}}
 
* Tipo [[Cleópatra]].
 
São cínicos e libertinos. Neste tipo enquadram-se ''Cleópatra'' (''Notas do Subterrâneo''), ''Svidrigáilov'' (''Crime e Castigo''), ''Fiódor Karamazov'' ''(Irmãos Karamazov''), ''Stavroguin'' (''Os Demônios''), ''Príncipe Valkorski'' (''Humilhados e Ofendidos'').{{sfn| FRANK | 1986 | p=87}}{{sfn| FRANK | 2003| p=288}} O tipo ''Cleópatra'' ilustra o sadismo amoroso e erótico.{{sfn| FRANK | 1995 | p=489}}
 
* Tipo [[Homem do subsolo]]
Neste tipo enquadram-se [[Homem do subsolo]] (''Notas do Subterrânero''){{sfn| FRANK | 2003| p=350}}, [[Mr. Golyadkin]] (''O Duplo''),{{sfn| FRANK | 1986 | pp=3,275,292}} ''Jovem esposa'' (''Uma Criatura Gentil'').{{sfn| FRANK | 2003| p=350}} O tipo ''Homem do subsolo'' caracteriza o sofredor em busca de ser amado, busca que se transforma em perversão ([[sadismo]]), por causa do egoísmo e da impossibilidade de amar.{{sfn| FRANK | 2003| p=350}}
 
*Tipo [[Niilismo|Niilista]]
Neste tipo são retratados principalmente jovens com ideias europeias revolucionárias, possuindo como princípio máximo de ação o interesse próprio - princípio sistematizado sob o título de [[Utilitarismo]] -.{{sfn| DOSTOIÉVSKI | 1960| p=267}} ExemplosComo são:exemplos, a)temos, em ''O Idiota,'' temos ''Antíp Burdóvskii'', ''Vladmímir Doktorénko'', ''Keller'' e ''Ippolít Tieriéntiev''.{{sfn| DOSTOIÉVSKI | 1960| p=264-267}}
 
*Tipo [[Podkolióssin]]
 
Neste tipo enquadram-se as pessoas absolutamente comuns. Dostoiévski reconhece como antecessores deste tipo tanto ''Podkolióssin'' de [[Nikolai Gogol|Gogol]] como ''Georges Dandin'' de [[Molière]]. Em ''O Idiota'' são exemplos deste tipos os personagens: ''Varvára Ardaliónovna Ptítsina'', ''Sr. Ptítsin'' e ''Gavrìl Ardaliónovitch''.{{sfn| DOSTOIÉVSKI | 1960| p=264-267}}
 
== Posição política ==
=== Niilismo ===
{{VT|Movimento niilista russo}}
No final de 1862 a posição de Dostoiévski, e de sua revista ''Tempo'', por conta dos constantes ataques aos radicais niilistas, já fora entendida por um colaborador, Pomialovski, como reacionária. A esta "acusação" que teria respondido Dostoiévski, segundo tradução de Joseph Frank: -"O nosso jornal é reacionário? Não, nem mesmo aos olhos de nossos inimigos." Frank afirma, entretanto, que a posição de Dostoiévski não pode ser entendida como reacionária, na medida em que continuava confrontando o governo.{{sfn | FRANK | 1986 | p=207}} Na mesma época, 19621862-19631863, a revista literária ''O Contemporâneo'' afirmava que ''Tempo'' padecia por não escolher posição.{{sfn | FRANK | 1986 | p=208}} No entanto, mesmo nestanessa época a opinião geral não podia deixar de reconhecer que Dostoiévski era progressista, principalmente quando se olhavaolhavam obras como [[Recordações da Casa dos Mortos]].{{sfn | FRANK | 1986 | p=216}}
 
Segundo Joseph Frank, pode-se dizer que a matriz teórica dos niilistas russos era uma mistura de: [[Utilitarismo| utilitarismo inglês]], [[socialismo utópico| socialismo utópico francesfrancês]], [[ateísmo]] [[Ludwig Feuerbach|feuerbachniano]], [[materialismo]] [[mecanicismo (filosofia)|mecânicistamecanicista]] e [[determinismo]].{{sfn | FRANK | 1995 | p=6}} A esse movimento se contrapôs Dostoiévski desde seu retorno da Sibéria até seu último romance, [[Os Irmãos Karamazov]]: a estratégia artística usada por Dostoiévski em [[Notas do Subterrâneo]], [[Crime e Castigo]] e [[Os Demônios]] para combater o niilismo foi a apresentação de como absurda era a vida de personagens que defendiam as teses niilistas do ponto de vista moral e psicológico.{{sfn | FRANK | 1995 | pp=6-7}} (v. Frank{{sfn | FRANK | 1995 | p=435}})
 
=== Relação entre Intelligentsia e povo ===
Linha 255 ⟶ 257:
=== Nacionalismo e imperialismo ===
{{VT|Nacionalismo|Imperialismo}}
Embora criticasse a servidão, Dostoiévski era cético quanto à criação de uma Constituição, acreditando ser um conceito não relacionado à história da Rússia. Ele descreveu isso como um mero "governo de cavalheiros" e acreditava que "uma Constituição simplesmente escravizaria o povo". Ele defendeu mudanças sociais, por exemplo, o fim do sistema feudal e o enfraquecimento das divisões entre o campesinato e as classes abastadas. Seu ideal era uma Rússia utópica e cristianizada, de forma que "se todos fossem cristãos ativos, nenhum questionamento social surgiria ... Se fossem cristãos, tudo se resolveria".<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/62349008|título=The Dostoevsky encyclopedia|ultimo=A.|primeiro=Lantz, K.|data=2004|editora=Greenwood Press|local=Westport, Conn.|isbn=9780313303845|oclc=62349008}}</ref>
 
Dostoiévski acreditava no povo russo. Era [[nacionalismo|nacionalista]] uma vez que, para ele, a palavra nova adviria da Rússia para o mundo.{{sfn | Drucker| 2006| pp=193-213}} Neste sentido, era contra os defensores da independência cultural da [[Ucrânia]]), em outras palavras, era [[Imperialismo|imperialista]]{{sfn | FRANK | 2003| p=220}} e apoiava o [[czar]] (apesar de sempre ter sido a favor da liberação dos [[Servidão na Rússia|servos]], v. seção acima [[Fiódor Dostoiévski#Detenção, julgamento e falsa execução|Detenção, julgamento e falsa execução]]).{{sfn | FRANK | 2003| p=234}}
 
O seu nacionalismo não o torna apenas contrário à causa ucraniana, mas, também, contrário a qualquer causa que, em sua perspectiva, possa ser contra a nação imperial russa, como é o caso da causa [[judeu|judaica]].{{sfn | FRANK | 2003| p=301}} Sua posição em relação aos judeus não foi sempre contrária: a revista ''Tempo'', da qual era editor, defendeu mais de uma vez a causa judaica em nome do amor cristão.{{sfn | FRANK | 2003| p=302}} Esta dicotomia voltavoltou a se repetir em um artigo publicado em ''Diários de um Escritor'' no mês demarçode março de 1877, uma vez que, Dostoiévski, ao mesmo tempo que considerava os judeus como "um estado dentro do estado" e, portanto, prejudicial à nação russa,{{sfn | FRANK | 2003| p=307}} defendia a extensçãoextensão total dsdos direitos civis para eles.{{sfn | FRANK | 2003| p=315}}
 
Sua alternativa à estruturação racional da sociedade, ao [[niilismo]], éera a sociedade construída a partir do amor entre os seres humanos, o amor cristão (o cristianismo que estaria enraizado no povo russo, i.e. o [[Igreja Ortodoxa|ortodoxo]]).{{sfn | FRANK | 2003| p=191}} Ou ainda, como resumiria Josef Bohatec: Dostoiévski defendia um imperialismo do amor, que era, em todo caso, um imperialismo.{{sfn | Bohatec | 1951}}
 
=== Conservadorismo ===
{{VT|Conservadorismo}}
O local de melhor apreensão da posição política de Dostoiévski é o mito [[O Grande Inquisidor]] (parte da obra [[Os Irmãos Karamazov]]), onde o escritor se coloca, ao mesmo tempo, contra as ideias [[Socialismo|socialistas]], mais especificamente contra o [[socialismo científico]] (posição que o fez ser visto como conservador){{sfn | FRANK | 2003| p=509}}, e contra a [[Igreja Católica]], entendendo que ambos são frutos do [[niilismo]] i.e., do [[iluminismo]] europeu (v. também [[ocidentalismo]]).{{sfn | FRANK | 2003| p=119}} Dostoiévski representa o niilismo socialista e católico através da imágemimagem da terceira [[Tentação de Cristo]], uma vez que ambos estariam atrás deodo poder mundano em troca do pão diário.{{sfn | FRANK | 2003| p=438}} O que não significa, em hipótese alguma, que Dostoiévski era contra a igualdade social, lembrando que ele foi inclusive preso por defendê-la (v. neste artigo a seção [[Fiódor Dostoiévski#Exílio na Sibéria|Exílio na Sibéria]]): ele era contra uma igualdade social construída a partir do racionalismo europeu: para ele, a fonte moral da igualdade já se encontrava na Rússia antes mesmo do iluminismo, i.e. no cristianismo ortodoxo.{{sfn | FRANK | 2003| p=264}} Dostoiévski parece mesmo nunca ter largado o sonho dos [[Socialismo utópico|socialistas utópicos]] ao qual se identificou quando jóvemjovem, como é possível conferir em [[O Sonho de um Homem Ridículo]].{{sfn | FRANK | 2003| p=356}}
 
{{quote2|''Quando se tornaram criminosos, inventaram a justiça e promulgaram para si mesmos códigos a fim de mantê-la, e para a execução dos códigos, usavam a guilhotina.|autor=Dostoiévski.''{{sfn| Dostoiévski | 1972-1980 |loc=v.25| p=116}}}}
Linha 282 ⟶ 284:
{{VT|Existencialismo}}
 
[[Jean-Paul Sartre]] classifica Dostoiévski como o ponto de partida do movimento filosófico conhecido como [[existencialismo]], pelos questionamentos apresentados no livro [[Os Irmãos Karamazov]]: "DostoievskiDostoiévski escreveu: — 'Se Deus não existe, tudo é permitido'. Eis o ponto de partida do existencialismo."{{sfn | Sartre| 1946|}} Já para [[Walter Kaufmann]] Dostoiévski foi o principal precursor do existencialismo devido principalmente ao seu livro [[Notas do Subterrâneo]],{{sfn | Kaufmann| 1975|}} uma vez que, para Dostoiévski, a guerra seria a revolta do povo contra a [[ideia]] de que a razão orienta tudo.{{sfn | Kaufmann| 1975|}}
 
Já [[Albert Camus]] tem as [[Notas do Subterrâneo]] e personagens como ''Raskolnikov'' ([[Crime e Castigo]]), e ''Kirillov'' ([[Os Demônios]]) como referência,{{sfn | Sartre| 2002|p=xi}} lugares onde Dostoiévski defende a liberdade como uma necessidade psicologicopsicológico-moral de todo indivíduo.{{sfn | Sartre| 2002|p=73}} Albert Camus chegou a afirmar que "O verdadeiro profeta do século XIX foi Dostoiévski, não Karl Marx".{{sfn | OpenCulture}}{{sfn | Oddo| 2016}} A relação entre niilismo, história/política e psicologia/suicídio, tal como abordada por Dostoiévski principalmente em ''Os Demônios'', foi uma influência central no pensamento de Camus, tendo o mesmo chegado a adaptar tal livro para o teatro no fim de sua vida.{{sfn | Oddo| 2016}}{{sfn | Davison | 1997|pp=136–160}}{{sfn | OpenCulture}}{{sfn | Camus| 2010}}
 
; Nietzsche
{{VT|Friedrich Nietzsche}}
Friedrich Nietzsche referiu-se a Dostoiévski como "o único psicólogo, diga-se de passagem, do qual tive algo a aprender: ele está entre os mais belos golpes de sorte de minha vida, mais até do que [[Stendhal]]."{{sfn | Nietzsche| 2006| p=95}}. Um ano antes de sofrer seu colapso mental (1888), Nietzsche escreveu: “Conheço apenas um único psicólogo que viveu num mundo onde o Cristianismo é possível, onde um Cristo pode surgir a qualquer instante… É DostoievskiDostoiévski. Ele adivinhou Cristo: e ele permaneceu sobretudo instintivamente protegido de se representar esse tipo com a vulgaridade de um [[Ernest Renan|Renan]].”{{sfn| Nietzsche| 1980 |loc=v.13| p=409}}{{sfn | Oswaldo Giacoia Júnior}}
 
=== Psicanálise ===
Linha 298 ⟶ 300:
=== Religião ===
[[Imagem:The Body of the Dead Christ in the Tomb, and a detail, by Hans Holbein the Younger.jpg|thumb|direita|200px|<small>Cristo morto no sepulcro''por [[Hans Holbein, o Jovem]]</small>]]
Dostoiévski também tem exercido grande influência no [[Cristianismo]], incluindo [[Igreja Ortodoxa Russa]], [[Igreja Católica]] e [[Igreja Anglicana]]. O [[Papa Francisco]] ressaltou que as pessoas devem "ler e reler Dostoiévski",{{sfn | Oddo| 2016}} e a [[Lumen fidei|encíclica papal Lumen fidei]], de 2013, incorpora trechos de [[O Idiota]] escolhidos pelo [[Papa Bento XVI]], a saber: "Na sua obra ''O Idiota'', Fiódor Mikhailovich Dostoiévski faz o protagonista - o príncipe MyskinMichkin - dizer, à vista do quadro de Cristo morto no sepulcro, pintado por Hans Holbein, o Jovem: 'Aquele quadro poderia mesmo fazer perder a fé a alguém.'."{{sfn | Papa Francisco}} O quatro de que trata o Papa Francisco é aquele intitulado ''Cristo morto no sepulcro'' de [[Hans Holbein, o Jovem|Hans Holbein]], trata-se de imagem de cristoCristo morto, morto comcomo um mortal, apodrecendo.
 
{{quote2|''ÊsseEsse quadro... êsseesse quadro só serve para fazer muita gente perder a fé.|autor=Dostoiévski''{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960|p=225}}}}
 
=== Outros ===
[[Albert Einstein]] escreveu: "Dostoiévski oferece-me mais do que qualquer cientista, mais do que [[Gauss]]" ("o mais influente dos matemáticos"), descrevendo também o russo como "grande escritor religioso" que explora "o mistério da existência espiritual".{{sfn | Vucinich| 2001| p=181}}
 
{{quote2|Eram noites esclarecedoresesclarecedoras e assustadoras, líamos ''Os Demônios'' e suas notas [...] líamos, líamos e não podíamos acreditar em nossos olhos:<br /><center>''Não pode ser, como ele pôde saber tudo isso?''</center>|autor=Iuri Kariakin''<ref>Iuri Kariakin, Dostoiévski i Kanun XXI Veka (Moscou,1989), ps.204-205</ref>}}
 
=== Obras influenciadas por Dostoiévski ===