Revolução Constitucionalista de 1932: diferenças entre revisões

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{{Info/BatalhaConflito militar
| cores = background:#99ccff;
| nome_batalha= Revolução Constitucionalista de 1932
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| image1 =Manifestação Paulistas 32 Praça da Sé.jpg
| caption1 = Manifestação na [[Praça_daPraça da Sé (São Paulo)|Praça da Sé]], em maio de 1932.
| image2 =Manifestação Praça Patriarca maio 32.jpg
| caption2 = Manifestação na [[Praça do Patriarca]], em maio de 1932.
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O [[Vale do Paraíba]], denominado pelas tropas paulistas como "setor norte" era o principal acesso para o [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] e visto pelos paulistas como principal teatro militar do conflito. O plano dessas tropas previa a tomada da cidade [[Rio de Janeiro (estado)|fluminense]] de [[Resende (Rio de Janeiro)|Resende]], concomitantemente aguardando a adesão de tropas [[Minas Gerais|mineiras]] do Exército e da Força Pública Mineira (atual [[Polícia Militar do Estado de Minas Gerais]]) e, por fim, uma rápida marcha em direção à cidade do [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], até então capital do país, para a deposição de [[Getúlio Vargas]]. Logo, as tropas paulistas demoraram em rumar em direção ao Rio de Janeiro na expectativa da adesão dos mineiros e de outros estados. Porém, as tropas mineiras aderiram às forças federais e logo partiram para a ofensiva contra as tropas paulistas, que foram obrigados a defender seu próprio território das tropas federais, improvisando uma linha defensiva de trincheiras nas fronteiras dos estados de [[Minas Gerais]] e [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]].<ref name=":1" /><ref>{{citar livro|titulo=Capacetes de Aço: a guerra no setor norte|ultimo=Baccarat|primeiro=Samuel|editora=Revista dos Tribunais|ano=1932|local=São Paulo|paginas=5 a 39|acessodata=}}</ref>
 
Nos primeiros dias do conflito, tropas paulistas do 2º Batalhão do 5º R.I. do Exército Brasileiro, sob o comando do major Henrique Quintiliano de Castro e Silva, chegaram a invadir a cidade mineira de [[Passa Quatro]], posteriormente tomada por tropas mineiras do Exército leais a [[Getúlio Vargas]]. Os paulistas então recuaram do território mineiro e tomaram posições privilegiadas no alto da [[Serra da Mantiqueira]], fixadas na divisa entre os estados de [[Minas Gerais]] e [[São Paulo (estado)|São Paulo]], na [[Garganta do Embaú]] e no [[Túnel da Mantiqueira]], ao largo da linha férrea da então [[Rede Mineira de Viação]]. Nesses locais foram onde ocorreram os combates mais disputados, violentos e com o maior número de mortos do conflito, dado ser ponto estratégico. Também ocuparam outras localidades fronteiriças e estratégicas do estado, como [[Piquete]], [[Queluz (São Paulo)|Queluz]], [[Itatiaia]], [[Resende (Rio de Janeiro)|Santana dos Tocos]], [[São José do Barreiro]] e [[Cunha (São Paulo)|Cunha]]. <ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref>{{citar livro|título=1932: o Túnel da discórdia|ultimo=Pinho|primeiro=Celso Luiz|editora=Gregory|ano=2012|local=São Paulo|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
A linha de defesa do Exército Constitucionalista no setor norte era comandada pelo coronel de Exército [[Euclides Figueiredo|Euclides de Oliveira Figueiredo]] e organizada por destacamentos. Na primeira fase do conflito, o destacamento da região de [[Cunha (São Paulo)|Cunha]] era comandado pelo coronel de Exército Mário da Veiga Abreu; o destacamento da região de [[São José do Barreiro]], [[Areias (São Paulo)|Areias]] e [[Silveiras (São Paulo)|Silveiras]] comandado pelo coronel de Exército [[José Joaquim de Andrade]]; o destacamento da região de [[Queluz (São Paulo)|Queluz]] comandado pelo major de Exército Agnelo de Souza; o destacamento de ligação entre Queluz e Areias comandado pelo major de Exército Mariano Gomes da Silva Chaves; o destacamento da região de [[Cruzeiro (São Paulo)|Cruzeiro]] e Túnel da Mantiqueira comandado pelo coronel de Exército Antônio Paiva de Sampaio; o contingente de defesa dos bairros de Batedor e Entre Rios da cidade de Cruzeiro comandado pelo tenente-coronel da Força Pública de São Paulo Otávio Azeredo; e o destacamento da região de Piquete e [[Lorena (São Paulo)|Lorena]] comandado pelo tenente-coronel de Exército Abílio Pereira de Rezende. Em 3 de agosto, o major Agnelo de Souza foi substituído pelo tenente-coronel da Força Pública [[José Teófilo Ramos]] que, diante da iminente queda da cidade de Queluz, determinou recuo da linha para Vila Queimada, a cerca de 10 km daquela cidade. Com a nova situação, fez-se necessário formar um destacamento para defender o flanco esquerdo daquela frente de combate, na cidade Pinheiros (hoje distrito de [[Lavrinhas]]), que foi comandado pelo capitão de Exército Tito Coelho Lamego. A posição de Lavrinhas ainda no mês de agosto foi reforçada por novos contingentes comandados pelos capitães da Força Pública, Antônio Pietscher, José Camilo Valença e [[Reinaldo Ramos de Saldanha da Gama|Reinaldo Saldanha da Gama]].<ref name=":1" /><ref>{{citar livro|título=A Revolução Constitucionalista|ultimo=Carvalho e Silva|primeiro=Herculano|editora=Civilização Brasileira|ano=1932|local=Rio de Janeiro|páginas=398|acessodata=}}</ref>
 
Dado o Vale do Paraíba ser uma região repleta de serras e com terreno muito acidentado os combates foram encarniçados entre as tropas, porém, com o tempo, prevaleceu a superioridade das forças federais em número de tropas, munições e armamentos de artilharia, o que obrigava no contínuo recuo das tropas constitucionalista para retificar as persistentes infiltrações na sua linha defensiva. Com isso as forças federais foram gradativamente ocupando diversas cidades paulistas do Vale do Paraíba como Queluz, São José do Barreiro, Areias, Silveiras, [[Cachoeira Paulista]], Cruzeiro, Piquete e Lorena.<ref name=":1" />
 
O comandante do setor norte e o comandante do Exército Constitucionalista, o general Bertoldo Klinger, além de outros oficiais do levante, tinham influência da doutrina militar alemã. Desse modo, boa parte das estratégias empregadas naquela frente de combate se basearam naquela doutrina, com destaque para a [[defesa em profundidade]]. Esta foi esclarecida pelo chefe do Estado Maior do setor sul, o então capitão Joaquim J. A. Bastos, a qual consistia em camadas de linhas de defesa distribuídas entre postos avançados e trincheiras mais bem guarnecidas na retaguarda, de modo a poupar recursos e retardar o máximo possível o avanço das tropas adversárias, impedir o envolvimento e corte da retaguarda, além de minimizar as baixas. Com esse sistema, sempre que uma camada de defesa se tornava insustentável, recuava-se para trincheiras mais a retaguarda já preparadas ou por concluir pelas unidades de engenharia, construindo-se novas fortificações mais atrás e assim sucessivamente. Com o emprego desse plano, o desgaste das tropas federais foi substancial a despeito de sua superioridade em homens e em recursos bélicos, as quais tomavam as linhas de defesa ao custo de muito atrito de combate, em baixas e dispêndio de recursos. Além disso, mesmo após a tomada das posições, as tropas federais precisavam recuar para se recomporem ou serem substituídas pelas tropas reservas, levando dias para articularem uma nova ofensiva, o que fazia as tropas paulistas ganharem tempo para também recomporem a sua defesa.<ref name=":401" /><ref name=":140" /><ref>{{citar livro|título=Understanding Modern Warfare|ultimo=Jordan, et al.|primeiro=David|editora=Cambridge University Press|ano=2008|local=Cambridge, UK|páginas=387|acessodata=}}</ref>
 
Em setembro de 1932, a linha defensiva das tropas constitucionalistas era situada em [[Guaratinguetá]], no bairro Engenheiro Neiva, onde faziam frente a ofensiva das tropas federais posicionadas em [[Lorena (São Paulo)|Lorena]]. As trincheiras das tropas rebeldes eram alinhadas sentido noroeste-sudeste e tinham como eixo a antiga estação ferroviária Engenheiro Neiva, que era situada a 750 metros à nordeste da atual estação, indo da região da Serra do Quebra-Cangalha até a Serra da Mantiqueira. Trata-se do local da "Última Trincheira" a que [[Guilherme de Almeida]] fez referência em seu famoso poema "''Oração ante a última trincheira''". O poeta e imortal da [[Academia Brasileira de Letras|Acadêmia Brasileira de Letras]] foi combatente nesse setor durante aquele conflito e escreveu o poema quando da retirada geral das tropas paulistas dessa localidade. Consta também que o município de Guaratinguetá foi muito visado pela artilharia e pelos aviões "vermelhinhos" das tropas federais.<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref>{{Citar web|url=http://www.editora-opcao.com.br/ada12.htm|titulo=Artigos|acessodata=2017-04-26|obra=www.editora-opcao.com.br}}</ref><ref>EIRAS, José Guilherme. Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo: M & Silva, 1934. 18p.</ref><ref>{{citar livro|primeiro=Euclydes de Oliveira|ultimo=Figueiredo|título=Contribuição para História da Revolução Constitucionalista|local=São Paulo|editora=Martins|página=357-357}}</ref>
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| caption3 = Trincheira paulista nos arredores de [[Amparo (São Paulo)|Amparo]].
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Essa frente de combate compreendia a região na divisa com Minas Gerais, a nordeste, norte e noroeste de São Paulo. Era defendido por tropas mistas destacadas, compostas por voluntários e integrantes da Força Pública de São Paulo e do Exército. A organização do setor foi considerada como uma das mais instáveis naquela campanha militar, com sucessivas mudanças no comando e na organização das tropas. Nas primeiras semanas, os comandantes dos destacamentos respondiam ao Estado Maior da Força Pública, então chefiado pelo coronel [[Francisco Júlio César de Alfieri]]. Posteriormente, foi oficializado comandante do setor o tenente-coronel da Força Pública João Dias de Campos, que em 1º de setembro se afastou da função a pedido após a queda do subsetor de [[Itapira]], tendo sido substituído pelo coronel de engenharia do Exército Oscar Saturnino de Paiva. Quinze dias depois, este entregou o cargo para os coronéis da Força Pública Eduardo Lejeune e [[Herculano de Carvalho e Silva]], que assumiram o comando do setor e dos destacamentos, respectivamente, até a data da rendição. Na ocasião, o coronel Herculano acumulava também o comando geral da Força Pública.<ref name=":17" />
 
As tropas do setor leste eram organizadas da seguinte forma: o destacamento da região de [[Mogi Mirim]], entre [[Socorro (São Paulo)|Socorro]] e [[Mococa]], comandado pelo tenente-coronel da Força Pública João Dias de Campos, que posteriormente acumulou o comando de todo o setor; o contingente da região de [[Franca]], [[Rio Grande (Minas Gerais)|Rio Grande]], [[Ribeirão Preto]] e de [[Barretos]] comandado pelo capitão Antenor Musa, que depois foi substituído pelo major Junqueira; o contingente da região entre Ribeirão Preto e Mococa comandado pelo tenente-coronel Martiniano de Carvalho; o contingente da região de [[Presidente Venceslau]] e [[Presidente Epitácio]] comandado pelo capitão Shakespeare Ferraz; o contingente da região de [[Bauru]] comandado pelo major Genésio de Castro e Silva, região que semanas depois ficou respectiva ao setor sul, comandado pelo coronel Brasílio Taborda; o contingente da região de [[São José do Rio Preto]] comandado pelo coronel da Força Pública Eduardo Lejeune; e, por fim, o contingente da região de [[Bragança Paulista]] comandado pelo major Labieno Gomes. Algumas semanas após o início do conflito, os contingentes situados ao norte do estado, da região de Mococa até a de Presidente Epitácio, ficaram sob o comando do coronel da reserva da Força Pública Joviniano Brandão de Oliveira, cujo posto de comando era exercido em [[Limeira]]. Ao longo do conflito foram formados novos destacamentos, como aquele comandado pelo capitão Romão Gomes que cobria a região entre [[Espírito Santo do Pinhal]] e [[São João da Boa Vista]], e o destacamento da região entre [[Amparo (São Paulo)|Amparo]] e [[Itatiba]] comandado pelo tenente-coronel da Força Pública Virgílio Ribeiro dos Santos.<ref name=":17" />
 
Os primeiros batalhões paulistas que seguiram para o setor leste tiveram o seu "batismo de fogo" já na primeira semana de guerra. Foi o caso do "''Batalhão Fernão Dias''" ou também "''Batalhão Paes Leme''", formado por civis voluntários. O 1º pelotão da 1ª Cia comandado pelo civil comissionado tenente [[Fernão Salles|Fernão de Morais Salles]] em 15 de julho recebeu ordens do comandante do batalhão, o capitão Antônio Pietscher, para tomar as cidades de [[Jacutinga (Minas Gerais)|Jacutinga]], [[Ouro Fino]] e [[Pouso Alegre]]. As tropas federais, antecipando um ataque paulista, haviam cortado as linhas da estrada de ferro e destruíram os pontilhões, a fim de evitar avanço das forças paulistas. Estas, por sua vez, fazendo reconhecimento do terreno e repondo os trilhos foram avançando na tentativa de tomar Pouso Alegre. Porém, em 20 de julho à tarde, na altura de [[Borda da Mata]], os paulistas foram atacados pela fuzilaria e artilharia da tropas federais vindas daquela cidade. Estes reagiram e improvisaram a sua defesa, em um combate que se estendeu até a manha de 21 de julho. Porém, diante da inferioridade de tropas, os paulistas decidiram recuar para [[Itapira|Eleutério]], com um saldo de dezenas de mortos e feridos. Neste combate, Fernão Salles, comandante naquela unidade, foi morto.<ref name=":17" /><ref name=":32">{{citar periódico|ultimo=Moraes Salles|primeiro=Ibanez|data=09-07-1959|titulo=Bala perdida matou Fernão de Moraes Salles|url=https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19590709-25824-nac-0009-999-9-not|jornal=Estado de S. Paulo|pagina=página 9|acessodata=2019-02-25}}</ref>
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No setor leste foi onde atuou a famosa "''Coluna Romão Gomes''" que chegou a integrar cerca de mil e quinhentos combatentes, entre voluntários e soldados da Força Pública de São Paulo, comandados pelo então capitão da Força Pública [[Romão Gomes]], uma unidade que ao longo da guerra se consolidou como destacamento. Consta que a "Coluna Romão Gomes" jamais perdeu uma batalha durante toda a sua campanha militar.<ref name=":18">{{citar livro|título=A Coluna Romão Gomes. 2ª ed.|ultimo=Levy|primeiro=Hervert|editora=Saraiva|ano=1967|local=São Paulo|páginas=188|acessodata=}}</ref>
 
Segundo o coronel Herculano de Carvalho e Silva, os comandantes Dias de Campos e Saturnino de Paiva falharam ao não anteciparem a necessidade de recuo da linha de defesa e por não terem construído previamente as devidas fortificações em linhas mais na retaguarda da posição de combate, a exemplo da preparação estratégica realizada no setor norte e no setor sul, as quais até a rendição possuíam defesas consistentes apesar das dificuldades na guerra como um todo. O coronel de engenharia Saturnino de Paiva, ao final de setembro, chegou a iniciar a construção de fortificações na Serra dos Cristais, na região de [[Jundiaí]]. Porém, as atividades foram paralisadas após o início das tratativas para o armistício.<ref name=":17" />
 
A resistência paulista do setor era improvisada conforme as circunstâncias de combate, sem se antecipar devidamente a ação militar do adversário e sem uma estratégia geral para o setor, o que deixava mal coordenados os destacamentos. Foram recorrentes situações em que um destacamento avançava e conquistava posições, enquanto o destacamento vizinho recuava em debandada e avisava o comando geral da decisão somente ''a posteriori''. Também era comum o desencontro das próprias ordens entre os comandantes. Por causa dessas falhas, as forças governistas conseguiram se infiltrar pela defesa paulista e, ao identificarem a fragilidade da resistência, intensificaram a ofensiva visando a capital do estado para, enfim, debelar todo o levante. Essa situação culminou em sucessivas modificações na organização das tropas paulistas e no próprio comando geral daquele setor.<ref name=":17" /><ref name=":18" />
 
Um telegrama enviado pelo comandante Joviniano Brandão ao então comandante geral da Força Pública de São Paulo dá uma noção da ofensiva governista enfrentada pelos paulistas em meados de setembro:<ref>{{citar livro|título=A Revolução Constitucionalista|ano=1932|ultimo=Carvalho e Silva|primeiro=Herculano|local=Rio de Janeiro|editora=Civilização Brasileira|página=330-331}}</ref>
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| caption4 = Trincheira paulista em Ligiana, próximo ao Rio Paranapanema, no município de [[Campina do Monte Alegre]].
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O setor sul de combate, que compreendia a região fronteiriça com o estado do [[Paraná]], no início campanha militar era defendido por tropas mistas, as quais respondiam ao Estado Maior da Força Pública, a exemplo do comando exercido no setor leste. A frente de combate de [[Itararé]], nos primeiros dias do conflito, era comandada pelo tenente-coronel da Força Pública de São Paulo Pedro de Morais Pinto. Mais ao sul da fronteira, na localidade de [[Ribeira (São Paulo)|Ribeira]], a posição era defendida por um pequeno contingente comandado pelo tenente-coronel da Força Pública [[Azarias Silva]]. No entanto, a região de Itararé era considerada o principal teatro das operações para ambos os adversário, porém, nos primeiros dias da campanha foi a posição menos guarnecida pelas tropas paulistas, dado a crença do apoio que viria do Rio Grande do Sul, uma expectativa frustrada logo na primeira semana da guerra.<ref name=":40">{{citar livro|título=Palmo a a Palmo: a Luta no Sector Sul|ultimo=Bastos|primeiro=Joaquim Justino A.|ano=1933|editora=Sociedade Impressora Paulista|local=São Paulo|páginas=412}}</ref>
 
Entre 15 a 18 de julho, tropas paulistas estavam estacionadas em Itararé, cidade próxima a divisa entre São Paulo e Paraná. No entanto, aquele comando deixou mal guarnecida a região norte daquela cidade, um local conhecido como "Passo do Cypriano". As tropas também estavam sem suprimentos e apoio logístico, que na ocasião ainda estavam por ser organizadas pelo comando.<ref>ABRAHÃO, Miguel M. - ''[[A Escola]]'' - Ed. Espaço Jurídico, 2007, 312 pg.</ref> Mas, logo na segunda semana do conflito, foram de súbito atacadas por tropas federais comandadas por [[Valdomiro Castilho de Lima|Valdomiro Lima]], além das forças públicas estaduais vindas da região sul do país, as quais, após um breve confronto direto, manobraram pela região norte de Itararé, adentrando no território paulista justamente pelo "Passo do Cypriano", ameaçando cortar a retaguarda das tropas Constitucionalistas. Essa situação resultou na queda de [[Itararé]] em 18 de julho e, em 2 de agosto, do subsetor de [[Ribeira (São Paulo)|Ribeira]], o que obrigou as tropas paulistas a recuarem do largo da fronteira com o Paraná para cidades mais ao interior como [[Buri]], [[Guapiara]] e [[Taquarituba|Taquari]]. Após a queda de Itararé, [[Bertoldo Klinger]], comandante supremo do Exército Constitucionalista, nomeou o então coronel [[Basílio Taborda|Brasílio Taborda]] para assumir o comando geral das tropas da frente sul de combate.<ref name=":40" /> O coronel Azarias Silva, comandante da resistência na região de Ribeira, assim descreveu as razões da queda de Itararé:<ref>{{citar notícia|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_08&PagFis=7776&Pesq=Azarias%20Silva|título=Porque Itararé foi tomada|edição=24384|autor=Correio paulistano|publicado=memoria.bn.br|data=1935-09-18|página=4|acessodata=2018-03-20|idioma=pt}}</ref>
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{{quote2|''"As tropas estacionadas em Itararé por um equivoco imperdoável, deixaram de guarnecer o Passo do Cypriano, situado ao norte, a 12 kilometros a nordeste de Itararé, por onde em 1930 entraram as tropas gauchas, e que era lógico que as que em 1932 vinham contra São Paulo fizessem a mesma coisa. Os inimigos, depois de atravessarem o Passo do Cypriano, rumaram para Ibity, com o fito de cortar a retaguarda do destacamento Moraes Pinto. Por felicidade surgiu o Coronel Klingelhoeffer que, com a sua visão perfeita da situação, determinou a retirada das referidas tropas para Ibity e dahi para Faxina, salvando dessa forma todo o destacamento, composto de 1700 homens. Critica-se a retirada de Itararé sem a destruição da linha ferrea. Mas o que se podia fazer a tropa que guarnecia aquelle sector si não possuia nem um cartucho de dynamite e nem mesmo uma picareta ou marreta?'' &mdash; Correio Paulistano, 18 de setembro de 1935|Correio Paulistano, 18 de setembro de 1935, "Porque Itararé foi tomada", edição 24.384, p4.}}
 
Sob o comando de Taborda, as tropas paulistas ainda no mês de julho conseguiram organizar às pressas a sua linha de resistência na cidade de Buri, contando ainda com a ajuda do Trem Blindado nº 1, que contribuiu para conter o avanço das tropas federais, pois estas já adentravam pela cidade de Buri, entre 26 e 27 de julho. Como nas demais frentes, as tropas federais, em maior número e mais bem equipadas, ocuparam paulatinamente as cidades de Buri e Guapiara, ameaçando avanço sobre a capital paulista. Segundo o então capitão [[Joaquim Justino Alves Bastos|Joaquim J. A. Bastos]], chefe do Estado Maior do coronel Taborda, as forças federais comandadas por Valdomiro Lima totalizavam naquela frente cerca de 15 mil homens contra um efetivo de 5 mil soldados do Exército Constitucionalista que chegou a guarnecer mais de 600 km de extensão na fase final do conflito.<ref name=":40" /><ref name=":17">{{citar livro|título=A Revolução Constitucionalista de 1932|ultimo=Carvalho e Silva|primeiro=Herculano|editora=Civilização brasileira|ano=1932|local=Rio de Janeiro|páginas=444|acessodata=}}</ref><ref name=":40" />
 
Naquela região, ao longo do conflito, foram consolidados os seguintes subsetores de combate: os destacamentos da região de [[Ourinhos]], [[Presidente Prudente]] e [[Itaporanga (São Paulo)|Itaporanga]] comandados pelo coronel da reserva da Força Pública Pedro Dias de Campos; os destacamentos da região de [[Buri]], [[Campina do Monte Alegre]] e [[Capão Bonito]] comandados pelo coronel da reserva do Exército Christiano Klingelhoeffer, o major da Força Pública José Anchieta Torres e o major da Força Pública Genésio de Castro e Silva; o destacamento da região de [[Angatuba]] e Bom sucesso (atual [[Paranapanema]]) pelo tenente-coronel de Exército [[Milton de Freitas Almeida]]; e, na região mais ao sul, em [[Apiaí]] e [[Ribeirão Branco]], com tropas comandadas pelo major da Força Pública [[Luís Tenório de Brito]] onde mais tarde, com o recuo da linha para [[Guapiara]], foi guarnecida pelo destacamento comandado pelo tenente-coronel do Corpo de Bombeiros da Força Pública Álvaro Martins. O major Tenório de Brito posteriormente assumiu o comando de um destacamento de ligação na região de Campina do Monte Alegre. Naquela frente de combate havia também unidades de apoio que reforçavam as defesas daqueles destacamentos, como foi o caso da Brigada do Sul comandada pelo coronel [[Ataliba Leonel]]. Além disso, havia tropas de cavalaria que exerciam apoio com uma atuação móvel, tendo sido a unidade mais notável o Regimento de Cavalaria do Rio Pardo comandado pelo capitão da Força Pública Alfredo Garcia Feijó.<ref name=":40" /><ref name=":17" /><ref>{{citar livro|título=A Epopéia|ultimo=Camargo|primeiro=Aureo de Almeida|editora=Saraiva|ano=1933|local=São Paulo|páginas=225|acessodata=}}</ref><ref>{{citar livro|título=Memórias de um Ajudante de Ordens|ultimo=Brito|primeiro=Luis Tenório de|editora=Nacional|ano=1951|local=São Paulo|páginas=274|acessodata=}}</ref><ref>{{citar livro|título=Regimento de Cavalaria do Rio Pardo: Relato da Participação na Revolução Constitucionalista de 1932|ultimo=Junqueira|primeiro=Oswaldo Ribeiro|editora=Revista dos Tribunais|ano=1935|páginas=172}}</ref>
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No início do conflito, o Exército Constitucionalista compôs um perímetro de defesa do [[Porto de Santos]] por meio de Minas Submarinas e de guarnições de artilharia e infantaria situadas no [[Forte de Itaipu]] e em outros pontos estratégicos na região de [[Santos]], de modo a impossibilitar a aproximação da esquadra da Marinha Brasileira ou um assalto de seus fuzileiros navais, na época comandada pelo Ministro da Marinha [[Protógenes Guimarães]]. Porém, essa esquadra cercou o litoral paulista impossibilitando o envio de recursos e suprimentos às tropas paulistas bem como a população, o que comprometeu seriamente a capacidade bélica bem como o comércio paulista. As minas submarinas foram projetadas e produzidas por engenheiros e técnicos ligados a Escola Politécnica de São Paulo.<ref name=":17" /><ref>{{Citar web|url=http://ultimatrincheira.com.br/Poli_Rev_32_Parte_I.htm|titulo=Última Trincheira - A Escola Politécnica na Revolução de 1932 – Parte 1|acessodata=2017-08-23|obra=ultimatrincheira.com.br}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_04&pagfis=13478&url=http://memoria.bn.br/docreader#|titulo=:::[ DocPro ]:::|acessodata=2017-08-23|obra=memoria.bn.br}}</ref><ref>{{citar livro|título=A Revolução de 32|ultimo=Donato|primeiro=Hernani|editora=Circulo do Livro|ano=1982|local=Rio de Janeiro|páginas=224|acessodata=}}</ref>
 
O destacamento do litoral paulista era comandado pelo coronel Cristovão Colombo de Mello Mattos. A defesa paulista compreendia todo o litoral do estado e localidades na serra do mar, com guarnições instaladas em pontos estratégicos, como Santos, [[Praia Grande (São Paulo)|Praia Grande]], [[Guarujá]], [[Peruíbe]], [[Cananéia|Cananeia]], [[Ubatuba]], entre outros, e também em [[Jacupiranga]] e Xiririca (atual [[Eldorado (São Paulo)|Eldorado]]). No litoral sul, houve combates importantes em Cananeia, Colônia Santa Maria e Xiririca, bem como da fronteira com o Paraná, em [[Guaraqueçaba]], entre a polícia paranaense e unidades paulistas compostas pela Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro, voluntários locais e pelo 9º B.C.P. da Força Pública paulista. O litoral do estado ficou nas mãos dos paulistas até o fim do conflito, ocorrido em 2 de outubro de 1932.<ref name=":17" /><ref>{{citar livro|título=Álbum de Santo Amaro: A História dos Santamarenses|ultimo=Caldeira|primeiro=João Netto|editora=Bentivenga e Netto|ano=1935|local=Santo Amaro|páginas=|acessodata=}}</ref><ref name=":17" /><ref>{{citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=1932-09-17|titulo=Uma vitória Constitucionalista em Cananeia|url=https://acervo.folha.com.br|jornal=Folha da Manhã|pagina=1|acessodata=2018-10-25}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=1932-09-24|titulo=Como o delegado de Cananéia descreve os vários combates travados na fronteira com o Paraná|url=https://acervo.folha.com.br/leitor.do?numero=27470&anchor=4576217&origem=busca|jornal=Folha da Manhã|local=São Paulo|pagina=1|acessodata=2018-10-25}}</ref>
 
;Sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul)
 
O então estado do Mato Grosso foi o único aliado de São Paulo no conflito. Após a deflagração do levante, a região sul do estado, atualmente contemplada pelo [[Mato Grosso do Sul]], se emancipou ao declarar a sua autonomia e apoiar o levante. O novo estado passou a ser denominado como estado de Maracaju, cuja capital era [[Campo Grande]] e tendo [[Vespasiano Barbosa Martins]] a cargo da chefia do governo estadual.<ref name=":23">{{Citar periódico|ultimo=Parreira|primeiro=Luiz Eduardo S.|data=2010-07-09|titulo=E o sul do Mato Grosso foi às armas!|url=https://www.correiodoestado.com.br/noticias/e-o-sul-do-mato-grosso-foi-as-armas/5281/|jornal=Correio do Estado|lingua=pt-br|acessodata=2018-05-31}}</ref><ref name=":24">{{citar livro|título=História de Mato Grosso do Sul|ultimo=Campestrini|ultimo2=Guimarães|primeiro=Hildebrando|primeiro2=Acyr V.|editora=IHGB|ano=2002|local=Campo Grande|páginas=287|acessodata=}}</ref>
 
Em julho de 1932, o general Bertoldo Klinger comandava a Circunscrição Militar de Mato Grosso e, durante as preparações para o levante, prometia levar 5 mil soldados e copiosa munição daquele estado para engrossar as fileiras da tropas paulistas. Contudo, com a súbita exoneração do general ocorrida em 8 de julho, por conta de uma carta em termos ofensivos enviada no dia 1º daquele mês ao Ministro da Guerra [[Augusto Inácio do Espírito Santo Cardoso|Augusto Espírito Santo Cardoso]], ficou comprometida as conspirações em curso no Mato Grosso, bem como a adesão total ao levante das unidades do Exército sediadas naquele estado, em especial, aquelas unidades situadas em [[Cuiabá]] e na região de [[Corumbá]], que ficaram alheias a situação e acabaram por permanecerem leais ao governo federal ou tiveram seus oficiais comandantes presos na ocasião da deflagração do conflito. Em substituição ao general Klinger, o coronel de engenharia Oscar Saturnino de Paiva foi nomeado interinamente ao comando daquela Circunscrição Militar. Contudo, Saturnino de Paiva veio a também aderir ao levante deflagrado em São Paulo no dia seguinte, o que em muito facilitou a aliança entre os paulistas e aquelas unidades do Exército e da Força Pública Mato-grossense. O coronel também participou da cerimônia de criação do novo estado e da posse do seu governador aclamado, Vespasiano Martins, ocorrida na tarde de 11 de julho de 1932.<ref name=":17" /><ref name=":23" /><ref name=":24" /><ref>{{citar web|url=http://www.seer.ufms.br/index.php/AlbRHis/article/viewFile/4056/3239|título=A posse do dr Vespasiano Martins na Interventoria do Estado|publicado=UFMS|data=2013}}</ref><ref name=":25">{{citar periódico|ultimo=Klinger|primeiro=Bertholdo|data=1934|titulo=Memorial de Klinger|url=https://memoria.bn.br|jornal=Revista Brasileira|pagina=238-242|acessodata=2018-01-31|wayb= 20180216185443|urlmorta= sim}}</ref>
[[ImageImagem:Combatentes sul-mato-grossenses durante a Revolução Constitucionalista de 1932.jpg|thumb|220px|Combatentes sul-mato-grossenses durante a Revolução Constitucionalista de 1932]]
O setor respectivo ao estado de Maracaju então comandado pelo coronel Oscar Saturnino de Paiva foi entregue ainda no mês de julho para o coronel Francisco Jaguaribe de Mattos, que a princípio de setembro veio a ser substituído pelo coronel Nicolau Bueno Horta Barbosa.<ref>{{citar notícia|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=763900&pesq=Nicolau%20Horta%20Barbosa|título=O commando da Circumscripção Militar de Matto Grosso|data=1932-09-05|edição=07988|publicado=A Gazeta|acessodata=2018-06-01|página=1|idioma=pt}}</ref> O coronel Saturnino de Paiva veio a assumir no mês seguinte o comando do destacamento paulista respectivo ao denominado setor leste de combate, situado na região de Campinas.<ref name=":17" /> Desde os primeiros combates o destacamento constitucionalista de Maracaju assumiu a ofensiva para garantir posições estratégicas para o controle da região. À leste, aquela tropa desbaratou uma coluna de soldados federais em [[Paranaíba|Santana do Paranaíba]], e também outra vinda de [[Goiás]], com vários elementos tendo sido presos. Também repeliram forças federais em [[Três Lagoas]] e [[Porto XV de Novembro]]. Ao norte, em [[Coxim]], também debelaram uma coluna vinda de Cuiabá, composta por duas Cia reduzidas do 16º B.C. e do 1º B.C. da Força Pública, que visavam a tomada de Campo Grande. Mais ao sul, em [[Bela Vista]], os rebeldes tomaram a cidade após súbita resistência do interventor municipal Mário Garcia e do comandante do 10º R.C.I. que inicialmente haviam declarado apoio a Revolução. A oeste, os combates foram mais intensos, tendo as tropas revolucionárias tomado a cidade de [[Corumbá]], a [[Base Fluvial de Ladário]], [[Porto Esperança]], o [[Forte Coimbra]] e, por fim, [[Porto Murtinho]], em 12 de setembro de 1932, onde lá desbarataram a flotilha liderada pelo monitor fluvial ''Pernambuco'' e o destacamento governista comandado pelo coronel do Exército Leopoldo Nery da Fonseca Junior. As batalhas pela tomada de Porto Murtinho e Porto Esperança foram os feitos mais notáveis daquelas tropas no conflito, cuja vitória também garantiu para os rebeldes o controle de toda a região atualmente contemplada pelo Estado do Mato Grosso do Sul. Além disso, garantiram o acesso ao [[Oceano Atlântico]] pelo [[Rio Paraguai]], ao [[Rio Paraná]] e a fronteira brasileira com a Bolívia e o Paraguai para viabilizar a entrada de recursos bélicos em favor das tropas revolucionárias, uma vez que o [[Porto de Santos]] estava sob bloqueio da esquadra naval governista. Ainda em meados de setembro, parte daquela força mato-grossense viria dar reforço na frente sul e frente leste paulista de combate, com o Batalhão Visconde de Taunay junto com uma unidade de artilharia se deslocando para [[Capão Bonito]] para combater tropas gaúchas. O controle da região sul do então Estado do Mato Grosso viabilizou o acesso dos revolucionários ao estrangeiro, algo que até então estava restringido, inclusive por meio dele conseguiram realizar o translado dos novos aviões adquiridos dos EUA. A atuação das tropas de Maracaju foi mais tarde reconhecida como notável pelos comandantes paulistas.<ref name=":17" /><ref name=":23" /><ref name=":24" /><ref name=":25" /><ref name=":19">MIRANDA, Alcibíades (coronel). A Rebelião de São Paulo. Curitiba: scp, 1934, 249p. v.2</ref><ref name=":23" /><ref name=":24" /><ref name=":25" />
 
Em uma carta dirigida ao general Bertoldo Klinger após o conflito, o coronel Horta Barbosa rememorou orgulhoso as conquistas de sua tropa em Maracaju:<ref name=":25" />
 
{{quote2|''Por toda parte faziamos pressão, e também a guerra pelo radio; assim, reinstallamos-nos em Porto Esperança; isolado Coimbra de Corumbá e da flotilha, fomos buscar esta no seu pretendido repouso e a inquietamos tanto que fizemos o panico e preparavamos a nossa entrada naquella cidade; ao mesmo tempo que Porto Murtinho, também isolado e sabedor do desamparo em que se achava, ia novamente ser hostilizado e occupado finalmente. Feito isso, Coimbra teria que se resignar a entregar-se sem hostilidades inúteis. Emfim, estavamos com a iniciativa e a preponderância moral; 'expremiamos' o adversário no Paraguay, emquanto Coxim repousava tranquilo e em Três Lagôas o major Noronha apenas aguardava uns dias mais para dar o bote seguro e fechar a bocca do sacco em que, entre o Sucuriú e o Paraná, se haviam intromettido os imprudentes adversários...''}}
Até a data de rendição, ocorrida em 2 de outubro, o território do estado de Maracaju permaneceu com livre-trânsito para os paulista, tendo inclusive boa parte dos líderes do levante fugido via Campo Grande do cerco governista na véspera do armistício. Porém, entre 3 e 4 de outubro, as tropas rebeldes situadas em Campo Grande, após tomarem conhecimento do armistício em São Paulo, se amotinaram e prenderam o seu comandante, o coronel Nicolau Horta Barbosa. No entanto, as demais regiões do estado continuaram nas mãos dos revoltosos por mais algumas semanas até negociarem a deposição de armas e sua rendição às tropas federais. O último reduto revolucionário foi na região de Bela Vista e [[Ponta Porã]], cujo destacamento constitucionalista comandado pelo coronel Jaguaribe de Mattos se rendeu somente no dia 25 de outubro perante as tropas federais comandadas pelo tenente-coronel Castelo Branco. Apesar da derrota militar dos rebeldes, em 1º de janeiro de 1979 a divisão regional ocorrida em 1932 foi consumada com a criação dos estados de [[Mato Grosso]] e [[Mato Grosso do Sul]], uma divisão desejada desde o término da [[Guerra do Paraguai]].<ref name=":1" /><ref name=":23" /><ref name=":24" /><ref name=":19" /><ref>{{citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=1932-10-30|titulo=Telegrammas: serviço especial d'O Matto Grosso|url=https://memoria.bn.br|jornal=O Matto Grosso|local=Bela Vista|pagina=página 1|acessodata=2019-02-24|wayb= 20190417093119|urlmorta= sim}}</ref>
 
;Rio Grande do Sul
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O projeto inicial foi concebido numa parceria entre a [[Escola Politécnica da Universidade de São Paulo|Escola Politécnica de São Paulo]], o Instituto de Pesquisas Tecnológicas e [[Estrada de Ferro Sorocabana|Cia Ferroviária Sorocabana]]. O protótipo surgido foi o denominado TB-1, sigla para “Trem Blindado nº 1”. O projeto foi do engenheiro francês Clèment de Baujaneau radicado ao Brasil após a Primeira Guerra Mundial, que conheceu as experiências com esse tipo de blindado naquele conflito. A montagem do protótipo foi do engenheiro Augusto Ferreira Velloso, da Escola Politécnica.<ref name=":9" /><ref name=":11" />
 
Na Frente Sul, na divisa com o [[Paraná]], apesar das dificuldades iniciais com a falta de suprimentos e a coordenação das tropas, que culminou com a perda da posição da cidade de [[Itararé]] e recuo para [[Buri]], os paulistas estabeleceram nessa cidade uma linha defensiva suficiente para fazer frente às tropas federais, tendo sido o TB-1 fundamental para tanto, pois conteve o avanço das tropas federais enquanto as tropas constitucionalistas articulavam sua linha defensiva. Fernando Penteado Medici, em seu livro “Trem blindado” de 1933, deu o seu testemunho sobre a primeira atuação do protótipo, na cidade de Buri, em 26 de julho de 1932:<ref name=":9" />
 
{{quote2|''Dois quilômetros e o inimigo à vista. Os homens avançavam, certos de que era um trem de mercadoria, ou de víveres, realmente como estava disfarçado, e, em posição de atirar, ajoelhavam pelos trilhos. As nossas metralhadoras picotaram os inconscientes. A primeira impressão foi dolorosa. Pungente mesmo. Presenciar umas cenas destas.''|Fernando Penteado Medici, 1933}}
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Em meados de setembro de 1932, as condições econômicas do estado de São Paulo eram precárias, dado o cerco militar e o isolamento comercial. Além disso, as cidades do interior do estado estavam sendo paulatinamente invadidas pelas tropas de Getúlio Vargas e a [[capital paulista]] cada vez mais ameaçada pela ocupação militar. A asfixia comercial era em grande parte causada pelo bloqueio ao [[porto de Santos]], impedindo a remessa de suprimentos básicos à população do estado e também inviabilizando o reabastecimento de recursos militares às tropas constitucionalistas, o que tornava cada vez mais insustentável seu poder defensivo que até então era viabilizado pelas contribuições feitas por seus cidadãos e pela mobilização de voluntários na produção e distribuição de suprimentos. Soma-se ainda o fato de que praticamente toda indústria paulista ou estava paralisada devido ao conflito ou estava a se dedicar na produção de materiais e suprimentos para as tropas constitucionalistas.<ref name=":0">{{citar livro|titulo=A Revolução Constitucionalista|ultimo=Carvalho e Silva|primeiro=Herculano|editora=Civilização Brasileira|ano=1932|local=Rio de Janeiro|paginas=39 a 66 e 345 a 356.|acessodata=}}</ref>
 
Os comandantes do Exército Constitucionalista, durante os três meses de conflito, tinham a expectativa de um ponto de inflexão no curso da guerra, de modo a saírem do cerco militar para reassumirem a ofensiva e, enfim, cumprir o objetivo do movimento armado, que previa a deposição do governo provisório então presidido por Getúlio Vargas. Porém, com os sucessivos revezes no campo militar, político, diplomático, econômico e logístico, os comandantes das Forças Constitucionalistas se resignaram e pediram o armistício ao governo provisório para iniciar as tratativas para a rendição. Entre os fatores que sustentaram essa decisão estava a dificuldade dos paulistas em fabricarem recursos bélicos em tempo e suficientes; a frustração com a aquisição de recursos bélicos no estrangeiro após a atuação ostensiva da diplomacia do governo provisório, que conseguiu sustar as compras iniciadas; a frustração com o não reconhecimento internacional do estado de beligerância; o aliciamento político ou a prisão pelo governo federal de importantes aliados estaduais aos rebeldes; a debelação dos revoltosos no Rio Grande do Sul; o cerco e a iminente queda da praça militar de Campinas e Limeira, o que significaria praticamente a tomada da capital paulista pelos governistas e, com isso, a inviabilidade das demais frentes de combate; e, por fim, a asfixia comercial resultante do cerco militar que resultou na escassez generalizada de alimentos, combustíveis, peças de reposição, materiais bélicos, entre outros recursos fundamentais para os rebeldes sustentarem a guerra.<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref name=":50" >{{citar periódico|ultimo=Klinger|primeiro=Bertholdo|data=1934|titulo=Memorial de Klinger|url=https://memoria.bn.br|jornal=Revista Brasileira|pagina=332|acessodata=2018-04-19|wayb= 20180319080555|urlmorta= sim}}</ref>
 
Ciente da iminente derrota militar, o comandante supremo do Exército Constitucionalista, o general [[Bertoldo Klinger]], juntamente com o comandante geral da [[Polícia Militar do Estado de São Paulo|Força Pública de São Paulo]], o coronel [[Herculano de Carvalho e Silva]], obtiveram um armístico e se engajaram na negociação com o general [[Pedro Aurélio de Góis Monteiro|Pedro de Aurélio de Góis Monteiro]], representante do governo provisório, para o fim definitivo do conflito. Após alguns dias de negociação, no 2 de outubro de 1932, na cidade de [[Cruzeiro (São Paulo)|Cruzeiro]], foi enfim assinada a rendição e consequentemente dando por encerrado o conflito. Entre os termos do acordo, foi estabelecido que a Força Pública de São Paulo retornaria aos quartéis para reassumir suas funções na segurança pública do estado e o coronel [[Herculano de Carvalho e Silva]] assumiria interinamente o governo do [[São Paulo (estado)|estado de São Paulo]] até a chegada do interventor designado por [[Getúlio Vargas]]. Com a retirada geral das tropas da Força Pública paulista, as demais tropas constitucionalistas compostas por elementos do Exército e voluntários, vendo-se incapazes de sustentar os combates devido a esse grande desfalque em suas linhas defensivas, também abandonaram as trincheiras em direção a capital e definitivamente encerrando os combates.<ref name=":0" /><ref name=":1" />
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Ao fim do conflito, com exceção dos membros da Força Pública de São Paulo, os principais líderes civis e militares do Movimento Constitucionalista foram enviados para o exílio em [[Portugal]]. Entre os [[paulistas]], as baixas são estimadas em mais de mil mortos. Atualmente, no mausoléu do [[Obelisco de São Paulo|Obelisco do Ibirapuera]] é guardada as cinzas de 713 ex-combatentes, além dos cinco jovens mortos em decorrência do protesto contra o governo de Getúlio Vargas em 23 de maio de 1932. Do lado federal, jamais foram liberados estimativas de baixas, entre mortos e feridos. A Revolução de 1932 foi considerada por historiadores como um dos maiores conflitos na história brasileira no [[século XX]].<ref>{{Citar web|url=http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=85743|titulo=Estado investe cerca de R$ 1 milhão na manutenção do Obelisco do Ibirapuera {{!}} Notícias {{!}} Portal do Governo do Estado de São Paulo|acessodata=2016-02-22|website=Portal do Governo do Estado de São Paulo}}</ref><ref name=":21">{{Citar web|url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/revolucao-de-1932-1|titulo=Revolução de 1932 - CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|acessodata=2018-02-10|obra=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|ultimo=Brasil|primeiro=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do|lingua=pt-br}}</ref>
 
Na versão do governo provisório, então presidido por Getúlio Vargas, o conflito não foi necessário, pois as eleições gerais já haviam sido agendadas para o ano seguinte. Em contrapartida, na versão dos líderes do levante, não teriam ocorrido as eleições de 1933 e a Assembleia Constituinte, tampouco a redemocratização e o Estado de Direito no Brasil não fosse o Movimento Constitucionalista de 1932. Porém, com exceção do estado de [[São Paulo (estado)|São Paulo]], no restante do país prevalece a versão de Getúlio Vargas e de seus apoiadores, segundo a qual a bandeira da constitucionalização do país era um mero subterfúgio para os velhos políticos paulistas retomarem o poder após terem sido alijados dele com a [[Revolução de 1930]] e, portanto, seriam eles os verdadeiros responsáveis pelo movimento armado. A tese varguista defende ainda que se tratou de uma conspiração orquestrada pela elite paulista que, de posse dos meios de comunicação da época no estado e utilizando a população paulista como massa de manobra, visava depor Vargas da Presidência da República para então reconduzir ao poder um representante da oligarquia paulista, que até então se encontrava no ostracismo político. Alega também que, com o fracasso desse objetivo inicial, a rebelião teria assumido um velado caráter separatista. Por fim, essa versão exalta a figura de Getúlio Vargas devido ao esforço do governo provisório na pacificação nacional no pós-conflito, atribuindo a ele o crédito das concessões políticas aos revoltosos, com o atendimento de praticamente todas as reivindicações que motivaram a revolução, além da reconciliação com os líderes paulistas.<ref name=":1" /><ref name=":21" /><ref name=":22">Mesquita Filho, Julio de. Memórias de um Revolucionário. São Paulo: scp, 1956.</ref><ref name=":1" /><ref name=":3" /><ref>MOREIRA, Regina da Luz. ''Revolução de 1932''. CPDOC, FGV]</ref><ref name=":21" /><ref name=":51" >{{citar livro|título=Nós e a Dictadura: a jornada revolucionária de 1932|primeiro=Bertholdo|ultimo=Klinger ''et al''|ano=1932|editora=scp|páginas=175}}</ref>
 
Após o conflito, apesar da vitória militar do governo provisório, Getúlio Vargas foi pressionado pela coalizão política e militar que o apoiou, pois ele havia assumido diversos compromissos políticos e financeiros com os líderes estaduais e militares, penhorados como moeda de troca na aliança para combater os rebeldes, somado ainda ao considerável endividamento do Tesouro Nacional para o financiamento da ofensiva contra os revoltosos. Além disso, as lideranças da coalizão de apoio ao governo provisório exigiam, a partir do fim do conflito, um esforço de pacificação nacional para a normalização política e econômica do país. Para tanto, a eleição para a Assembleia Constituinte era decisiva. Por outro lado, o governo provisório perdeu importantes bases de apoio que até então sustentavam a diretriz vigente do regime, como foi o caso dos "tenentes" representados pelo [[Clube 3 de Outubro]], que eram contrários a Constitucionalização do país e acabaram perdendo sua influência política no pós-conflito. Nesse novo contexto, Getúlio Vargas ficou acuado politicamente e teve que fazer concessões para sustentar o seu grupo político no poder. <ref name=":1050"/><ref name=":1310"/><ref name=":5013"/><ref name=":51"/><ref name=":52">{{citar livro|ultimo=Hilton|primeiro=Stanley E.|título=A Guerra Civil Brasileira: história da Revolução Constitucionalista de 1932|local=Rio de Janeiro|editora=Nova Fronteira|ano=1982|páginas=384|idioma=pt}}</ref><ref name=":53">{{citar livro|ultimo=Lima|primeiro=Luiz Octávio|título=1932:São Paulo em chamas|local=Rio de Janeiro|editora=Planeta|ano=2018|páginas=352|idioma=pt}}</ref>
 
As concessões do governo provisório foram de ordem política e econômica, as quais incluíram São Paulo, no esforço de pacificação nacional e da normalização dos negócios no país, além de também prevenir novas divergências políticas, de modo a obter o mínimo de apoio político necessário dos estados para o Poder Executivo Federal operar. Na época, o estado de São Paulo era uma das maiores economias do país e os diversos estados brasileiros tinham forte vínculo econômico e político com o estado, e a partir dele com o exterior, o que era motivo de grande preocupação para a União no pós-guerra. Um dos principais esforços nesse sentido foi a decisão técnica do Banco do Brasil, então autoridade monetária na época, em assumir as obrigações do bônus de guerra emitido pelo Governo de São Paulo durante o conflito, para prevenir uma crise econômica de liquidez no país. O governo federal provisório também buscou normalizar o comércio interno entre os estados e com o exterior a partir do Porto de Santos, em São Paulo, ao desobstruir acessos e ao reativar a plena atividade operacional e produtiva no estado. Porém, a maior parte das concessões de Getúlio Vargas a São Paulo foi por meio de seu interventor militar no estado, o general Valdomiro Lima, que ao assumir a interventoria em 6 de outubro de 1932 encontrou um terreno hostil, com ressentimentos e boicotes por parte dos paulistas. Por conta da alarmante situação no estado, o interventor realizou várias medidas para arrefecer a hostilidade da população, entre as quais, a chancela de Teodoro Augusto Ramos para prefeito da capital após ter sido indicado pelo Instituto de Engenharia de São Paulo, o atendimento das principais reivindicações dos cafeicultores paulistas, a concessão de moratória para o pagamento da taxa de 2% sobre as mercadorias importadas, libertação de combatentes presos, suspensão da censura à imprensa e preservação da maior parte dos delegados de polícia em seus postos.<ref name=":1350" /><ref name=":5013" /><ref name=":51" /><ref name=":52" /><ref name=":53" /><ref>{{citar web|url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/valdomiro-castilho-de-lima|título=Valdomiro Castilho de Lima - Verbete Biográfico|publicado=FGV CPDOC|local=Rio de Janeiro|acessodata=2018-04-22}}</ref>
[[Imagem:Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932.jpg|thumb|Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932 no interior do [[Obelisco de São Paulo]]]]
Em 3 de maio de 1933 foram enfim realizadas as eleições para a [[Assembleia Nacional Constituinte]], quando as mulheres votaram pela primeira vez no Brasil em eleições nacionais. Nesta eleição, graças à criação da Justiça Eleitoral, as fraudes deixaram de ser rotina nas eleições brasileiras. Em 17 de junho de 1934, durante a Assembleia Constituinte, Getúlio Vargas foi eleito indiretamente para a Presidência da República para um mandato de 4 anos, cuja posse ocorreu em 20 de julho. Ao final da Assembleia, em 16 de julho, foi promulgada a [[Constituição brasileira de 1934|Constituição de 1934]], o que marcou a volta da democracia e do estado de direito no país, bem como a pacificação entre os grupos políticos, além do retorno do exílio dos líderes rebeldes e da reincorporação dos militares rebeldes aos seus respectivos postos nas [[Forças Armadas do Brasil]], embora a anistia destes últimos tenha sido em muito resultado da influência e pressão do general [[Pedro Aurélio de Góis Monteiro|Pedro Góis Monteiro]] sobre o governo federal. Ainda naquele ano, o Presidente da República nomeia um interventor civil e paulista para o governo de São Paulo, [[Armando de Sales Oliveira]], em mais um esforço de pacificação nacional.<ref name=":2213"/><ref name=":21" /><ref name=":322" /><ref name=":133" /><ref>{{Citar web|url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/pedro-aurelio-de-gois-monteiro|titulo=Pedro Aurelio de Gois Monteiro - CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|acessodata=2018-02-10|obra=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|ultimo=Brasil|primeiro=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do|lingua=pt-br}}</ref><ref name=":21" /><ref>OSÓRIO, Manoel. A Guerra de São Paulo, 1932: esboço crítico do maior movimento armado no Brasil. 2a ed. São Paulo: Americana, 1932. 192p.</ref><ref>{{citar web|url=http://www.tse.jus.br/eleitor/glossario/termos/eleicao-indireta|título=Eleição indireta|publicado=tse.jus.br|acessodata=2018-04-22}}</ref>
 
Anos mais tarde, durante o regime do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], dois interventores federais em São Paulo saíram das hostes do [[Partido Republicano Paulista|PRP]]: [[Adhemar Pereira de Barros|Ademar de Barros]] (1938-1941) e [[Fernando de Sousa Costa]] (1941-1945), que havia sido secretário da agricultura do ex-governador de São Paulo, [[Júlio Prestes]]. Tornaram-se ambos grandes aliados de Getúlio Vargas em São Paulo.<ref>{{Citar web|url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/ademar-pereira-de-barros|titulo=Ademar Pereira de Barros - CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|acessodata=2018-02-10|obra=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|ultimo=Brasil|primeiro=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/fernando-de-sousa-costa|titulo=Fernando de Souza Costa - CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|acessodata=2018-02-10|obra=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil|ultimo=Brasil|primeiro=CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do|lingua=pt-br}}</ref>
 
Apesar da derrota militar, as lideranças paulistas consideraram terem obtido uma vitória moral e política.<ref name="expo1932">[http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_1932/legado.php O legado de 1932]</ref> Conforme expressou o general [[Bertoldo Klinger]], alguns anos após o conflito:<ref>{{citar periódico|ultimo=Klinger|primeiro=Bertholdo|data=1934|titulo=Memorial de Klinger|url=https://memoria.bn.br|jornal=Revista Brasileira|pagina=303-303|acessodata=2018-04-19|wayb= 20180319080555|urlmorta= sim}}</ref>
 
{{quote2|''Ao entrarmos no sólo paulista, para assumir o commando supremo, declarei que desembainhava a minha espada em continencia á Lei (...) Fomos obrigados a uma rendição incondicional, para poupar a S. Paulo, a todo o Brasil, dias mais amargos ainda. Mas fizemos triumphar a nossa idéa: a volta do paiz ao regimen constitucional. Obrigamos o governo a realizal-a. E, conseguido o nosso objectivo, podemos mais uma vez dizer que a santa guerra em que São Paulo e Matto Grosso se bateram pelo Brasil livre contra o Brasil escravisado, o vencido venceu o vencedor.''|Bertoldo Klinger, 1934}}
 
No estado de [[São Paulo (estado)|São Paulo]], a Revolução de 1932 se transformou na mais importante referência histórica da cidadania, dos valores e dos princípios de sua gente, a exemplo do que é a [[Guerra dos Farrapos]] para os [[gaúcho|gaúchos]]s. Ainda durante o conflito, por meio da propaganda, foram reavivadas as tradições [[bandeirantes]] do estado, por exemplo, com imagens dos principais bandeirantes paulistas nas ilustrações das notas da moeda paulista colocada em circulação, no rádio, em cartazes e em outras várias publicações. A data 9 de julho é feriado em São Paulo e conta com eventos comemorativos por todo estado. Contudo, no restante do país não há qualquer comemoração referente a Revolução Constitucionalista de 1932 e também é pouco lembrado, mesmo nos círculos acadêmicos e escolares, embora tenha ficado marcado na história do Brasil como um dos principais conflitos civil e militar, tanto pela mobilização ocorrida quanto pelo número de mortos, que em muito superou as baixas ocorridas na campanha militar brasileira na Itália na [[Segunda Guerra Mundial]].<ref>Oliveira, Benedito Fernandes de. Revolução Paulista de 1932. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 1950. 132p. (ilust.)</ref><ref name=":3">{{citar livro|titulo=A revolução de 1932 Constituição e cidadania|ultimo=Villa|primeiro=Marco Antônio|editora=Imprensa Oficial|ano=2010|local=São Paulo|paginas=10 a 85|acessodata=}}</ref><ref>Oliveira, Benedito Fernandes de. Revolução Paulista de 1932. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 1950. 132p. (ilust.)</ref><ref>{{Citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Revolucao1932|titulo=A revolução constitucionalista de 1932 - CPDOC|acessodata=2018-02-10|obra=cpdoc.fgv.br|lingua=pt-br}}</ref>
 
=== Preservação da memória e dos ideais de 1932 ===
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O 9 de julho é feriado civil no Estado de São Paulo e também é a sua data magna, instituído pela lei nº 9.497 de 5 de março de 1997. Porém, desde 1934 anualmente nessa data é realizado o desfile cívico-militar comemorativo de 9 de julho na capital paulista, atualmente sediado no [[Parque do Ibirapuera]], e também é realizado em cidades do interior do estado, em memória ao conflito e em homenagem àqueles que tombaram pela causa Constitucionalista. Nesta solenidade, são depositados no Mausoléu do Soldado Constitucionalista os restos mortais de veteranos. O evento durante muitos anos contou com a participação dos batalhões de veteranos do conflito.<ref>{{citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=1934-07-01|titulo=9 de julho: cresce de dia para dia o enthusiasmo pelas commemorações da nossa maior data histórica|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_08&pesq=desfile%20de%209%20de%20julho&pasta=ano%20193|jornal=Correio Paulistano|pagina=1|acessodata=2019-05-29}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_08&PagFis=7776&Pesq=Azarias%20Silva|título=O projecto do coronel Azarias Silva sobre as commemorações do 9 de julho|data=1935|página=5|autor=Correio Paulistano|local=São Paulo|edição=24302|idioma=pt}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_08&PagFis=7776&Pesq=Azarias%20Silva|título=As commemorações de 23 de maio e do 9 de julho|data=1935-05-25|página=5|edição=24285|autor=Correio Paulistano|local=São Paulo|idioma=pt}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.al.sp.gov.br/norma/?id=9458|título=Lei nº 9.497 de 5 de março de 1997|publicado=Alesp|data=1997-03-06|acessodata=2019-05-30}}</ref>
 
Como parte das comemorações há também a [[Prova Ciclística 9 de Julho]] criada pelo jornalista [[Cásper Líbero]] e realizada desde 1933 na cidade de São Paulo.<ref>{{Citar web|titulo=Prova Ciclística 9 de Julho|url=https://www.gazetaesportiva.com/prova9dejulho/|obra=Gazeta Esportiva|acessodata=2019-05-29}}</ref> Além disso, todos os anos no início de julho um grupo de paulistas faz a "''Caminhada 9 de Julho''", percorrendo a pé 927 kmquilômetros pelo estado de São Paulo, saindo de [[Rubineia]], no extremo oeste do estado, e concluindo o trecho no município de [[Cruzeiro (São Paulo)|Cruzeiro]], no Vale do Paraíba, onde foi assinada a rendição dos paulistas. Os organizadores da caminhada cívica almejam entrar para o livro [[Guinness World Records|Guiness]] dos recordes como a maior caminhada cívica do mundo.
 
Em 25 de Janeiro de 1934, foi inaugurado o primeiro monumento em homenagem aos combatentes mortos durante o conflito, na cidade de [[Itapira]]-SP. O Monumento do Morro do Gravi é considerado um dos principais marcos em homenagem aos soldados mortos em todo o "Setor Leste" Paulista.<ref>{{citar notícia|url=http://cidadedeitapira.com.br/portal/newsShow/9-de-julho--revitalizacao-do-monumento-do-gravi-e-entregue/1414|título=9 de julho: revitalização do Monumento do Gravi é entregue|data=2017-07-12|acessodata=2019-05-30|publicado=Cidade de Itapira}}</ref>
 
Em 1935, foi iniciada a campanha pró-[[Obelisco de São Paulo|Monumento e Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932]], com o objetivo de preservar a memória da campanha cívica e militar ocorrida em 1932, a causa constitucionalista defendida pelos revolucionários e também homenagear aqueles que tombaram no conflito. Em março daquele ano, a comissão formada iniciou suas atividades com medidas para angariação de fundos e a abertura da seleção dos melhores projetos para a obra artística e arquitetônica, baseada em condições formuladas por um grupo de arquitetos, engenheiros e artistas plásticos, que julgaram os trabalhos apresentados. O monumento foi construído no [[Parque do ibirapuera|Parque Ibirapuera]] e inaugurado em 9 de julho de 1955, embora efetivamente concluída as obras somente em [[1970]].<ref>{{citar livro|título=Cruzes paulistas (edição digital)|ultimo=Montenegro|primeiro=Benedicto|editora=Civilização brasileira|ano=1936|local=São Paulo|páginas=82 e 84-86|acessodata=}}</ref>
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