Decápodes: diferenças entre revisões

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Muitas espécies de decápodes de água doce pertencem à família [[Aeglidae]], que compreende 3 gêneros, Aegla, Protaegla e Haumuriaegla. Desta família, apenas o gênero Aegla é vivente atualmente, e os outros dois gêneros foram extintos e são conhecidos apenas através de fósseis de sedimentos marinhos, o que indica a origem marinha do grupo.
 
O gênero Aegla é constituído por cerca de 69 espécies, todas adaptadas à vida em água doce e [[Endemismo|endêmicas]] de áreas [[temperadas]] e [[subtropicais]] da América do Sul. Elas foram agrupadas filogeneticamente em cinco grandes clados, refletindo, em grande parte, sua distribuição geográfica no sul da América do Sul <ref name=":44">Santos etHepp al.LU, Fornel R, Restello RM, Trevisan A, Santos S 2012. Intraspecific morphological variation in a freshwater crustacean Aegla plana in southern Brazil: effects of geographical isolation on carapace shape. Journal of Crustacean Biology 32: 511–518..</ref> <ref name=":45">SL de Siqueira Bueno, RM Shimizu, &JCB Moraes. A global overview of the conservation of freshwater decapod crustaceans, 23-64, 2016. 13, 2016.</ref>.
 
Também encontramos decápodes de água doce em muitas outras famílias, como por exemplo as famílias [[Astacidae]], [[Atyidae]], [[Palaemonidae]], Euryrhynchidae, Kakaducarididae, [[Typhlocarididae]], Desmocarididae, [[Xiphocarididae]], [[Nephropidae]], [[Alphaidae|Alpheidae]], entre outras.
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=== '''Suturas na carapaça''' ===
A presença de linhas de junção na carapaça é o padrão que diferencia os decápodes de água doce daqueles de água salgada. Encontradas nas superfícies lateral e dorsal da carapaça, as suturas dorsais na metade posterior da carapaça demarcam áreas cardíacas e [[Brânquia|branquiais]] bem definidas. A calcificação ao longo das suturas é mais fraca que nas placas exoesqueléticas.
 
=== '''Morfologia das brânquias''' ===
Decápodes do gênero [[Aegla]] possuem respiração [[Tricobrânquia|tricobranquial]], o que os separa das famílias de Galatheoidea que possuem filobrânquias, vistas em diversos anomuros marinhos. As tricobrânquias dos aeglídeos de água doce possuem uma estrutura única. Os filamentos das brânquias são longos tubos semelhantes a dedos, estes se estendem para frente a partir da base da brânquia. A porção proximal da brânquia assemelha-se à de uma filobrânquia de [[Braquiúros|braquiúro]] por ter lamelas em forma de placa que se estendem sobre o eixo branquial (<ref name=":46"> Martin, &Joel W. and Abele, Lawrence G. 1988. "External morphology of the genus Aegla (Crustacea, Anomura, Aeglidae)." Smithsonian Contributions to Zoology. 1–46. https://doi.org/10.5479/si.00810282.453.</ref>.
 
=== '''Desenvolvimento pós-embrionário, cuidado parental e ciclo de vida''' ===
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Uma característica singular para os crustáceos é a fase larval, pois a mesma reflete a ontogenia do grupo e pode conter  traços específicos para algumas espécies, de diferentes famílias, sendo assim alvo de estudos.
 
A abreviação ou supressão do estágio larval (desenvolvimento direto) e a extensão do cuidado parental são características importantes para o sucesso evolutivo dos decápodes de água doce. Por exemplo, espécies do gênero [[Macrobrachium]], que vivem em águas salobras, estuários, lagoas costeiras e cabeceiras de rios, têm mostrado uma impressionante relação entre adaptação lacustre e abreviação do estágio larval. O maior exemplo encontrado neste gênero é a espécie ''Macrobrachium dayanum'', que possui um estágio larval bentônico de vida livre protegido por sua mãe nos primeiros dias após a [[desova]], o que contrasta muito bem com o padrão de estágios larvais encontrado na família, que concentra-se entre nove e onze estágios zoécios (Vogt,<ref 2013)name=":42" />.
 
Para haver um sucesso evolutivo no desenvolvimento direto, é necessário um sistema de fixação de ovos altamente eficaz. Em Peracarida, por exemplo, tal desenvolvimento foi propiciado graças a “berços” no corpo da fêmea conhecido como “câmara de incubação”; nos caranguejos de água doce, nos lagostins e nos caranguejos primários de água doce, o cuidado parental é obrigatório e realizado sob o pleón (abdômen); nos caranguejos secundários de água doce, o cuidado parental é menos frequente, mas bastante variável, incluindo o transporte das crias nos pleópodes ou em cima da carapaça e a criação de larvas e juvenis livres em habitações parecidas com ninhos; nos aeglídeos, os ovos são carregados nos quatro pares de [[Pleópode|pleópodes]] e são incubados por um período de quatro a oito meses (<ref name=":47">Burkenroad, M. D. (1963). The evolution of the Eucarida (Crustacea, Eumalacostraca), in relation to the fossil record. Tulane Studies in Geology. 2: 3- 17.</ref>.
 
O desenvolvimento pós-embrionário dos aeglídeos de água doce (gênero Aegla), por exemplo, diferentemente dos anomuros marinhos, é direto em 75% dos casos, o que significa a supressão total da fase larval e eclosão de juvenis bentônicos que, de maneira geral, se assemelham morfologicamente aos indivíduos adultos, embora os traços morfológicos associados aos estágios zoea e megalopa ainda possam ser reconhecidos dentro do ovo em desenvolvimento (<ref name=":42" /> <ref name=":48">Rabalais, &N.N., and R.H. Gore (1985;) Abbreviated development in decapods. Pp. 67–126 in Crustacean Issues 2: Larval Growth, A.M. Wenner, ed., Volume 2.</ref> <ref name=":49">Anger, K. 2001;. The Biology of Decapod Crustacean Larvae. Crustaceans Issues, 14. Lisse/ Abingdon/ Exton (PA)/ Tokyo, A.A. Balkema Publishers., p. 419.</ref> <ref name=":50">Lizardo-Daudt, H. M. & Bond-Buckup, G. (2003;) VogtMorphological aspects of the embryonic development of Aegla platensis (Decapoda, 2013;Aeglidae). Crustaceana, 76(1), 13–25.</ref> <ref name=":51">Anger, 2016K (2006): Contributions of larval biology to crustacean research: a review, Invertebrate Reproduction & Development, 49:3, 175-205.</ref>. Isso é conseguido, como dito anteriormente, transportando os embriões nos pleópodos maternos até a eclosão deles como juvenis, ou pela incubação de estágios zoea nascidos antes, ou nos pleópodos maternos, ou em poças ou tocas de viveiros de água doce até que o estágio juvenil seja atingido (Vogt,<ref 2016)name=":42" />. Esses dados contrastam muito com os decápodes marinhos, nos quais este tipo de desenvolvimento só foi descrito em cerca de 20 a 30 espécies (Anger,<ref 2001;name=":42" Vogt,/> 2013)<ref name=":49" />.
 
Cerca de 15 a 20% dos decápodes de água doce apresentam desenvolvimento indireto com estágio larval abreviado (Vogt, 2013). Outros decápodes que apresentam desenvolvimento indireto possuem estágio larval longo que necessita de água salgada, pois as larvas ainda não possuem as adaptações fisiológicas necessárias para sobreviver às condições de estresse osmótico (Vogt, 2013; Anger, 2016).