Islamismo: diferenças entre revisões

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{{Multitag|mnot|fref|corr-var|p1=soc|data=junho de 2019}}
{{Islã}}
{{PEPB|Islão|islã}} ({{langx|ar|إسلام||''Islām''}}) ou '''Islamismoislamismo'''{{Nota de rodapé|O termo '''islamismo/islamista''', unicamente utilizado em português como sinónimo daquele que segue o islão<ref>{{citar enciclopédia|título=Lello Universal |enciclopédia= Dicionário enciclopédico Luso-Brasileiro - Página 1321 - Volume 1|acessodata=1-1-2014}}</ref> é um [[galicismo]] aparecido no {{séc|XX}} que hoje em dia é usado em alguns países para definir,<ref name=cites/> não só a sua visão religiosa, mas principalmentes uma visão mais política dessa mesma doutrina.{{ref infopedia dic|islamismo|24-6-2019}} Assim, em {{ling|fr}} o islamismo tanto se pode referir a uma "escolha consciente da doutrina do islão como guia para a acção política" como de uma "ideologia de manipulação do islão com vistas de projectos políticos". Nesta ultima acepção fala-se também do '"islamismo radical", o [[fundamentalismo islâmico]], como forma de combater a agressão que supostamente seria feita pelos ocidentais à identidade araboárabe-muçulmana, com o fim de transformar um sistema político e social de um [[Estado]] usando a [[xaria]], ou seja a interpretação unívoca é imposta à sociedade.<ref name=cites/>}} é uma [[Religiões abraâmicas|religião abraâmica]] [[Monoteísmo|monoteísta]] articulada pelo [[Alcorão]], um texto considerado pelos seus seguidores como a palavra literal de [[Deus no Islã|Deus]] ([[Alá]], {{langx|ar|الله |nome|''Allāh''}}), e pelos ensinamentos e exemplos normativos (a chamada ''[[suna]]'', parte do [[hádice]]) de [[Maomé]], considerado pelos fiéis como o último [[Profetas do islão|profeta de Deus]]. Um adepto do islamismoislão é chamado de [[muçulmano]].
 
Os muçulmanos acreditam que Deus é [[Tawhid|único e incomparável]] e o [[Sentido da vida|propósito da existência]] é [[Adoração|adorá-lo]].<ref>{{citar web|url=http://www.pbs.org/empires/islam/faithgod.html|título=God|obra=Islam: Empire of Faith|citação=For Muslims, God is unique and without equal.|publicadopor=[[Public Broadcasting Service|PBS]]|acessodata=2010-12-18}}</ref> Eles também acreditam que o islão é a versão completa e universal de uma fé primordial que foi revelada em muitas épocas e lugares anteriores, incluindo por meio de [[Abraão]], [[Moisés]] e [[Jesus]], que eles consideram [[Profetas do islão|profetas]].<ref name="People-of-the-Book">{{citar web|url=http://www.pbs.org/empires/islam/faithpeople.html|título=People of the Book|obra=Islam: Empire of Faith|publicadopor=[[Public Broadcasting Service|PBS]]|acessodata=2010-12-18}}</ref> Os seguidores do islão afirmam que as mensagens e revelações anteriores foram parcialmente [[Tahrif|alteradas ou corrompidas]] ao longo do tempo,<ref name="Distorted">SeeVer:
* Accad (2003): According to Ibn Taymiya, although only some Muslims accept the textual veracity of the entire Bible, most Muslims will grant the veracity of most of it.
* Esposito (1998), pp.&nbsp;6,12
* Esposito (2002b), pp.&nbsp;4–5
* F. E. Peters (2003), p.&nbsp;9
* {{citar enciclopédia|título=Muhammad |enciclopédia=Encyclopaedia of Islam Online|autor=F. Buhl|coautor=A. T. Welch|acessodata=2-5-2007}}
* {{citar enciclopédia|título=Tahrif |enciclopédia=Encyclopaedia of Islam Online|autor=Hava Lazarus-Yafeh|acessodata=2-5-2007}}</ref> mas consideram o Alcorão (ou Corão) como uma versão inalterada da revelação final de Deus.<ref>{{citar livro|publicadopor= Continuum International Publishing Group|isbn=9780826499448|último=Bennett|primeiro=Clinton|título=Interpreting the Qur'an: a guide for the uninitiated|ano=2010|página=101}}</ref> Os conceitos e as práticas religiosas incluem os [[cinco pilares do islão]], que são conceitos e atos básicos e obrigatórios de culto, e a prática da [[Xaria|lei islâmica]], que atinge praticamente todos os aspectos da vida e da sociedade, fornecendo orientação sobre temas variados, como [[Banco islâmico|sistema bancário]] e [[Zakat|bem-estar]], à guerra e ao meio ambiente.<ref>Esposito (2002b), p.&nbsp;17</ref><ref>SeeVer:
* Esposito (2002b), pp. 111,112,118
* {{citar enciclopédia|título=Shari'ah |enciclopédia=Encyclopædia Britannica Online|acessodata=2007-05-02}}</ref>
 
A maioria dos muçulmanos pertence a uma das duas principais denominações; com 80% a 90% sendo [[Sunismo|sunitas]] e 10% a 20% sendo [[Xiismo|xiitas]].<ref name="CIA">{{citar web|url=https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2122.html|título=Religions|acessodata=2010-08-25|obra=[[Central Intelligence Agency]]|publicadopor=[[The World Factbook]]|ano=2010}}</ref> Cerca de 13% de muçulmanos vivem na [[Indonésia]], o maior país muçulmano do mundo.<ref name="Miller 2009, pp.8,17">Miller (2009), pp.8,17</ref> 25% vivem no [[Sul da Ásia]],<ref name="Miller 2009, pp.8,17"/> 20% no [[Oriente Médio]],<ref>SeeVer:
* Esposito (2002b), p.&nbsp;21
* Esposito (2004), pp.&nbsp;2,&nbsp;43
* Miller (2009), pp.&nbsp;9,&nbsp;19</ref> 2% na [[Ásia Central]], 4% nos restantes países do [[Sudeste Asiático]] e 15% na [[Islão na África|África Subsaariana]]. Comunidades islâmicas significativas também são encontradas na [[República Popular da China|China]], na [[Rússia]] e em partes da [[Europa]]. Comunidades convertidas e de imigrantes são encontradas em quase todas as partes do mundo (veja: [[Lista de muçulmanos por país|muçulmanos por país]]). Com cerca de 1,41-1,57 bilhão de muçulmanos, compreendendo cerca de 21-23% da [[população mundial]],<ref name="CIA Factbook">{{citar web|url=https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/xx.html|título=The World Factbook|publicadopor=CIA Factbook|acessodata=2010-12-08}}</ref> o islão é a [[Principais grupos religiosos|segunda maior religião]] e uma das que mais crescem no mundo.<ref name="FP">{{citar web|url=http://www.foreignpolicy.com/story/cms.php?story_id=3835|título=The List: The World's Fastest-Growing Religions|publicadopor=[[Foreign Policy]]|data=14-5-2007|acessodata=2010-05-16}}</ref><ref name="Islam-Today"/><ref>{{citar web|url=http://www.pewresearch.org/fact-tank/2017/04/06/why-muslims-are-the-worlds-fastest-growing-religious-group/|titulo=Why Muslims are the world’s fastest-growing religious group|data=6-4-2017|publicado=Pew Research Center|ultimo=Lipka|primeiro=Michael (e Conrad Hackett)|citacao="As principais razões para o crescimento do Islão, em última análise envolvem demografia simples. Para começar, os muçulmanos têm mais filhos do que os membros dos outras sete principais grupos religiosos analisados no estudo. As mulheres muçulmanas têm uma média de 2,9 filhos, significativamente acima do próximo maior grupo (cristãos em 2,6) e a média de todos os não-muçulmanos (2.2). Em todas as principais regiões onde existe uma população muçulmana considerável, a fertilidade muçulmana excede a fertilidade não-muçulmana." (Trad. de parte do estudo citado)}}</ref> Contudo, estes dados devem ser aceites com alguma reserva, dado que, por motivos óbvios, não existem estatísticas fiáveis sobre o número de muçulmanos que abandonam a religião.<ref>{{citar web|url=https://islamqa.info/en/20327|titulo=Why is the apostate to be executed in Islam? (Porque deve o apóstata ser executado no Islão?)|data=1 fevereiro de 2010|publicado=Islam Question and Answer|ultimo=Saalih al-Munajjid|primeiro=Shaykh Muhammad}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.bbc.com/news/magazine-34357047|titulo=The ex-Muslim Britons who are persecuted for being atheists|língua=en|títulotrad=Os ex-muçulmanos britânicos que são perseguidos por ser ateístas|data=28-9-2015|publicado=BBC|ultimo=Ahmed|primeiro=Samira}}</ref><ref>{{citar livro|título=Tahrir al-Wasilah - Vol.4 - Khomeini Ruhollah Institute for Editing & Publication of Imam Khomeini's Works 2001|ultimo=Khomeini|primeiro=Ruhollah|editora=Institute for Editing & Publication of Imam Khomeini's Works|ano=2001|páginas=255-257}}</ref><ref>{{citar livro|título=Umdat as-Salik (Reliance of the Traveller: A Classic Manual of Islamic Sacred Law) Section O-8.7|ultimo=Naqib al-Misri|primeiro=Ahmad ibn (trad. de Nuh Ha Mim Keller)|ano=1997|páginas=596-598}}</ref>
 
== Etimologia ==
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Na tradição muçulmana, [[Maomé]] (c 570 - 8 de junho de 632) é visto como o último de uma série de [[profeta]]s principais.<ref>Ver:
* {{Harvtxt|Esposito|1998|p=12}}
* {{Harvtxt|Esposito|2002b|pp=4–5}}
* F. E. Peters (2003), p. 9
* {{citar enciclopédia|título=Muhammad |enciclopédia=Encyclopædia Britannica | ref=harv}}</ref> Durante os últimos 22 anos de sua vida, começando aos 40 anos, em 610, de acordo para as primeiras biografias restantes, Maomé relatou revelações que ele acreditava serem de Deus, transmitidas a ele através do [[arcanjo]] [[Gabriel (anjo)|Gabriel]] (''Jibril''). O conteúdo dessas revelações, conhecido como o Alcorão, foi memorizado e gravado por seus companheiros.<ref>Ver:
* {{citar enciclopédia|título=Muhammad |enciclopédia=Encyclopaedia of Islam Online|autor=F. Buhl|coautor=A. T. Welch | ref=harv}}</ref>
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By Ali Ünal Page 1323 [http://books.google.co.uk/books?id=DyuqdDIjaswC&pg=PA1323]</ref><ref>Encyclopedia of the Qur'an, Slaves and Slavery</ref><ref>Bilal b. Rabah, Encyclopedia of Islam</ref><ref>The Cambridge History of Islam (1977), p.&nbsp;36</ref>
 
Depois de 12 anos de perseguição de muçulmanos por os habitantes de Meca, Maomé, sua família e os primeiros muçulmanos realizaram a [[Hégira]] ("emigração") para a cidade de [[Medina]] (anteriormente conhecida como [[Iatrebe]]) em 622. Lá, com os convertidos de Medina (''[[Ansar]]'') e os migrantes de Meca (''[[muhajirun]]''), Maomé estabeleceu sua autoridade política e [[Teocracia|religiosa]]. Um [[Estado]] foi estabelecido em conformidade com a jurisprudência econômica islâmica. A [[Constituição de Medina]] foi formulada, instituindo uma série de direitos e responsabilidades para os muçulmanos, [[judeus]], [[cristãos]] e para as comunidades [[Paganismo|pagãs]] de Medina, unindo-os dentro de uma comunidade - a ''[[Umma]]''.<ref>Serjeant (1978), p. 4.</ref><ref>Watt. ''Muhammad at Medina''. pp. 227-228 Watt argues that the initial agreement was shortly after the hijra and the document was amended at a later date specifically after the battle of Badr (AH [anno hijra] 2, = AD 624). Serjeant argues that the constitution is in fact 8 different treaties which can be dated according to events as they transpired in Medina with the first treaty being written shortly after Muhammad's arrival. R. B. Serjeant. "The Sunnah Jâmi'ah, Pacts with the Yathrib Jews, and the Tahrîm of Yathrib: Analysis and Translation of the Documents Comprised in the so-called 'Constitution of Medina'." in ''The Life of Muhammad: The Formation of the Classical Islamic World'': Volume iv. Ed. Uri Rubin. Brookfield: Ashgate, 1998, p. 151 and see same article in BSOAS 41 (1978): 18 ff. See also Caetani. ''Annali dell'Islam, Volume &nbsp;I''. Milano: Hoepli, 1905, p. 393. Julius Wellhausen. ''Skizzen und Vorabeiten'', IV, Berlin: Reimer, 1889, p 82f who argue that the document is a single treaty agreed upon shortly after the hijra. Wellhausen argues that it belongs to the first year of Muhammad's residence in Medina, before the battle of Badr in 2/624. Even Moshe Gil a skeptic of Islamic history argues that it was written within 5 months of Muhammad's arrival in Medina. Moshe Gil. "The Constitution of Medina: A Reconsideration." ''Israel Oriental Studies'' 4 (1974): p. 45.</ref>
[[Imagem:Kairouan Mosque Stitched Panorama.jpg|thumb|esquerda|A [[Grande Mesquita de Cairuão]], estabelecida em 670 em [[Cairuão]], [[Tunísia]], representa um dos melhores marcos arquitetônicos da civilização islâmica.<ref>{{citar web|url=http://www.muslimheritage.com/topics/default.cfm?articleID=358|título=Great Mosque of Kairouan|publicadopor=Muslim Heritage.com|data=24-4-2003|acessodata=16-5-2010|wayb=20111018065839|urlmorta=yes}}</ref>]]
 
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</ref> Neste período, o Alcorão foi compilado em um único volume.
 
A morte de Abacar, em 634, resultou na sucessão de [[Omar]] como o califa, seguido por [[Otomão]], [[Ali]] e [[Haçane ibne Ali]]. Os primeiros califas são conhecidos como ''al-khulafā' ar-rāshidūn'' ("[[Califado Ortodoxo|califas bem orientados]]"). No governo deles, o território sob o domínio muçulmano expandiu profundamente em regiões [[Pérsia|persas]] e em territórios [[bizantinos]].<ref>SeeVer:
* {{Harvtxt|Holt|1977a|p=74}}
* {{citar enciclopédia|título=Islam |enciclopédia=Encyclopaedia of Islam Online|autor=L. Gardet|coautor=J. Jomier | ref=harv}}</ref>
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* {{citar enciclopédia|título=Angel |enciclopédia=Encyclopaedia of the Qur'an Online|autor=Gisela Webb | ref=harv}}</ref>
 
Para além dos anjos, o islamismoislão reconhece a existência dos ''[[Gênio (mitologia árabe)|jinnis]]'', espíritos que habitam o mundo natural e que podem influenciar os acontecimentos. Ao contrário dos anjos, os ''[[jinn]]is'' possuem vontade própria; alguns são bons, mas de uma forma geral são maus. Um desses espíritos maus é ''[[Iblis]]'' ([[Azazel]]), também ele um ''jinn'', segundo a crença islâmica, que desobedeceu a Deus e dedica-se a praticar o mal.<ref name="Anjo"/>
 
=== Os livros sagrados ===
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[[Imagem:Miraj by Sultan Muhammad.jpg|thumb|[[Iluminura|Miniatura]] [[Pérsia|persa]] que retrata a ascensão de [[Maomé]] ao [[céu]]]]
 
O islamismoislão ensina que Deus revelou a sua vontade à humanidade através de [[profetas do islão|profetas]]. Existem dois tipos de profeta: os que receberam de Deus a missão de dar a conhecer aos homens a vontade divina (''anbiya''; singular ''nabi'') e os que para além dessa função lhes foi entregue uma escritura revelada (''rusul''; singular ''rasul'', "mensageiro"). Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a unicidade de Deus, esquecida pelos homens. Para os muçulmanos, a lista dos profetas inclui [[Adão e Eva|Adão]], [[Abraão]] (''Ibrahim''), [[Moisés]] (''Musa''), [[Jesus]] (''[[Isa (profeta)|Isa]]'') e Maomé (''Muhammad''), todos eles pertencentes a uma sucessão de homens guiados por Deus. Maomé é visto como o ''Último Mensageiro'', trazendo a mensagem final de Deus a toda a humanidade sob a forma do Alcorão, sendo por isso designado como o "Selo dos Profetas". Quando Maomé começou a revelar o Alcorão, ele não acreditou que isso teria proporções mundiais, mas sim que somente reforçaria a fé no Deus.<ref>Ver:
* {{Harvtxt|Momem|1987|p=176}}
* {{citar enciclopédia|título=Islam |enciclopédia=Encyclopædia Britannica | ref=harv}}</ref>
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=== A predestinação ===
 
Os muçulmanos acreditam no ''quadar'', uma palavra geralmente traduzida como "[[predestinação]]", mas cujo sentido mais preciso é "medir" ou "decidir quantidade ou qualidade". Uma vez que, para o islamismoislão, Deus foi o criador de tudo, incluindo dos seres humanos, e sendo uma das suas características a omnisciência, ele já sabia, quando procedeu à criação, as características que cada elemento da sua obra teria. Assim sendo, cada coisa que acontece a uma pessoa foi determinada por Deus. Essa crença não implica a rejeição do livre arbítrio, pois o ser humano foi criado por Deus com a faculdade da razão, pelo que pode escolher entre praticar ações positivas ou negativas.<ref>Ver:
* {{Harvtxt|Farah|2003|pp=119–122}}
* {{Harvtxt|Patton|1900|p=130}}</ref>
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[[Imagem:Madhhab Map3.png|thumb|upright=1.7|Mapa do mundo muçulmano com as principais escolas da lei islâmica (''madhhab'')]]
[[Imagem:Countries with Sharia rule.png|thumb|upright=1.7|Mapa dos países que adotam a [[xaria]], o código de leis islâmico]]
Não há uma autoridade oficial que decide se uma pessoa é aceita ou excluída da comunidade de crentes. O islão é aberto a todos, independentemente de raça, idade, género ou crenças prévias. É suficiente acreditar na doutrina central do islamismoislão, acto formalizado pela recitação da ''[[chahada]]'', o enunciado de crença do islão, sem o qual uma pessoa não pode ser considerada um muçulmano.
 
Embora não exista no islamismoislão uma estrutura [[clero|clerical]] semelhante à existente nas [[denominações cristãs]], existe contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas [[ulemás]]. Os homens que se destacam pelo seu grande conhecimento da lei islâmica podem receber o título de ''[[mufti]]'', sendo responsáveis pela emissão de pareceres sobre determinada questão da lei islâmica; em teoria esses pareceres (''[[fatwa]]s'') só devem ser seguidos pela pessoa que o solicitou.
 
=== Lei islâmica (Xaria) ===
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{{Artigo principal|Sunismo}}
[[File:Islam by country.png|thumb|upright=1.7|
Islamismoislão no mundo moderno
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{{color box|#036704}}{{color box|#4b934a}}{{color box|#80b281}} Países com maioria [[Sunismo|sunita]]<br />
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{{Artigo principal|Xiismo}}
[[Imagem:ImamHusaynMosqueKarbalaIraqPre2006.JPG|thumb|esquerda|Mesquita Imam Husayn, no [[Iraque]], o local mais sagrado para os muçulmanos [[xiitas]]]]
Os [[xiitas]] constituem 10-20% dos muçulmanos e são o segundo maior do ramo do islamismoislão.<ref name=Shia>Ver:
* {{citar enciclopédia|url=http://www.britannica.com/EBchecked/topic/540503/Shiite|título=Shīʿite|citação=Shīʿites have come to account for roughly one-tenth of the Muslim population worldwide. |enciclopédia=Encyclopædia Britannica|acessodata=25-8-2010}}
* {{citar web|url=http://www.pewforum.org/2009/10/07/mapping-the-global-muslim-population/|título=Mapping the Global Muslim Population: A Report on the Size and Distribution of the World's Muslim Population|data=7-10-2009|acessodata=24-9-2013|obra=[[Pew Research Center]]|citação=The Pew Forum's estimate of the Shia population (10-13%) is in keeping with previous estimates, which generally have been in the range of 10-15%. Some previous estimates, however, have placed the number of Shias at nearly 20% of the world's Muslim population.}}
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===Carijitas/Ibadismo===
{{Artigo principal|Carijitas|Ibadismo}}
Outra denominação que tem origem nos tempos históricos do islão é a dos [[carijitas]]. Historicamente, consideravam que qualquer homem, independentemente da sua origem familiar, poderia ser líder da comunidade islâmica, opondo-se às polémicas de sucessão entre sunitas e xiitas. Os ideais carijitas ainda existem no mundo Islâmico, mesmo que de forma diferente da original, através do takfirismo, que é excomungar alguém do Islamismoislão por ter cometido um pecado grave. Como as formas de julgamento desses grupos são extremamente subjetivas e não tomam por base a aplicação correta da Charia, esses grupos se tornam extremamente violentos contra muçulmanos e não muçulmanos<ref>{{citar web|URL=http://lostislamichistory.com/who-were-the-kharijis/|título=Quem são os carijitas|data=30-7-2014 |acessadoem =30-1-2015}}</ref>. Os membros de uma vertente desse grupo hoje são mais comumente conhecidos como muçulmanos [[ibaditas]]. Um grande número de muçulmanos ibaditas vive hoje no [[Omã]].
 
=== Sufismo ===
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[[Imagem:Whirling Dervishes 2.JPG|thumb|[[Sufismo|Sufis]] da ordem Melevi, conhecidos no [[Ocidente]] como [[dervixe]]s rodopiantes]]
 
Às vezes visto pelos fiéis muçulmanos comuns como um ramo separado do islamismoislão,<ref name="Adherents-2005-10-28">{{citar web|url=http://www.adherents.com/adh_branches.html#Islam|titulo=Sufistas no Mundo Islâmico - ''Major Branches of Religions Ranked by Number of Adherents''|data=28-10-2005|publicado=Adherents.com|lingua=en|acessodata=28-6-2009}}</ref> o [[sufismo]] é antes uma forma de [[mística]] que pretende alcançar um contacto direto com Deus através de uma série de práticas que geralmente incluem o [[ascetismo]], a [[meditação]], os jejuns, cantos e danças.
 
Desconhece-se de onde deriva a palavra sufismo (em [[Língua árabe|árabe]]: ''tasawwuf''). O termo poderá provir de ''sūf'', "[[lã]]", o que se encontra relacionado com o facto de os primeiros sufis vestirem roupas feitas com o material, imitando os [[asceta]]s [[Cristianismo|cristãos]] da [[Síria]] e da [[Palestina (região)|Palestina]]. Outra teoria procura relacionar sufismo com a palavra árabe ''safa'', que significa "pureza".<ref>Jamal J. Elias, ''Islamismo'', Lisboa, Edições 70, 2003, p. 53</ref>
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{{Artigo principal|Fundamentalismo islâmico|Terrorismo islâmico}}
[[Imagem:"Freedom go to hell".jpg|thumb|esquerda|Protesto em [[Londres]] (2006) contra as caricaturas de [[Maomé]]. O cartaz, que é carregado por um manifestante com um [[Keffiyeh|lenço palestino]], diz em inglês: "Liberdade, vá para o inferno"]]
Correntes radicais do islamismoislão frequentemente são acusadas de atos [[terrorista]]s, como os atentados às [[Torres Gêmeas]], protagonizados nos [[ataques de 11 de setembro de 2001]] pela ''[[Al Qaeda]]''. E a defesa intolerante da extinção do Estado de [[Israel]] defendida pelo grupo terrorista ''[[Hamas]]''. Em sua carta de fundação, por exemplo, o ''Hamas'' é claro na defesa da destruição do [[sionismo|Estado Sionista]] <ref>[http://educacao.uol.com.br/atualidades/ult1685u225.jhtm UOL]</ref>, sendo apoiado pela maioria do [[Palestinos|povo palestino]]. [[Fundamentalista]]s também defendem a submissão da mulher, a perseguição a cristãos e o assassinato de dissidentes em países islâmicos <ref>{{Citar web|url=http://www.pmibrasil.org.br/persegui.php|titulo=PMI|acessodata=2019-04-24|wayb=20091020173010|urlmorta=yes}}</ref>. Estima-se que aproximadamente quatro milhões de cristãos [[líbano|libaneses]] emigraram de seu país em consequência das pressões impostas pelos muçulmanos <ref>[http://www.beth-shalom.com.br/artigos/perseguicao.html ''Beth-Shalon'']</ref>.
 
A condição de vida das mulheres também é precária em países fundamentalistas islâmicos, como a [[Arábia Saudita]]: "Para o pensamento ortodoxo muçulmano, a mulher vale menos do que o homem, explica Leila Ahmed, especialista em estudos da mulher e do Oriente Próximo da [[Universidade de Massachusetts]], nos Estados Unidos […]"<ref>{{Citar web|url=http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/islamismo/contexto_debate.html|titulo=Abril|acessodata=2019-04-24|wayb=20160426142210|urlmorta=yes}}</ref>. Assim sendo, violências físicas e tratamentos desumanos, como o apedrejamento, são constantes entre os países fundamentalistas: "Segundo a lei islâmica denominada [[Sharia]] (Shari'ah ou Charia), uma mulher considerada adúltera deve ser enterrada até o pescoço (ou as axilas) e apedrejada até a morte […]".
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|título=Number of Muslim by country|publicadopor=nationmaster.com|acessodata=30-5-2007}}</ref>
 
A maioria das estimativas indicam que a [[República Popular da China]] tem de 20 a 30 milhões de muçulmanos (1,5% a 2% da população).<ref>{{citar web|url=https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ch.html|título=The World Factbook – China|publicadopor=CIA World Factbook|acessodata=15-6-2009}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.state.gov/j/drl/rls/irf/2006/71338.htm|título=China (includes Hong Kong, Macau, and Tibet)|publicadopor=State.gov|acessodata=24-9-2013}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.chinadaily.com.cn/bizchina/2008-07/09/content_6831389.htm|título=NW China region eyes global Muslim market|jornal=China Daily|data=9-7-2008|acessodata=14-7-2009}}</ref><ref>{{citar web|url=http://muslimmedianetwork.com/mmn/?p=1922|título=Muslim Media Network|publicadopor=Muslim Media Network|data=24 de março de 2008|acessodata=14-7-2009|wayb=20080327140607|urlmorta=yes}}</ref> No entanto, os dados fornecidos pelo Internacional de Universidade Estadual de San Diego sugerem que a China tem 65,3 milhões de muçulmanos.<ref>[http://www.usnews.com/usnews/graphics/religion/islams_global_reach.htm Secrets of Islam] {{Wayback|url=http://www.usnews.com/usnews/graphics/religion/islams_global_reach.htm|date=20130927112834}}, U.S. News & World Report. Information provided by the International Population Center, Department of Geography, [[San Diego State University]].</ref> O Islão é a segunda maior religião depois do [[cristianismo]] em muitos países [[Europa|europeus]],<ref>SeeVer:
* {{Harvtxt|Esposito|2004|pp=2,43}}
* {{citar enciclopédia|título=Islamic World |enciclopédia=Encyclopædia Britannica | ref=harv}}
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=== Lugares sagrados ===
A [[Caaba]] ("O Cubo"), um edifício situado dentro da mesquita principal de [[Meca]] (A [[Grande Mesquita de Meca|Grande Mesquita]]), na [[Arábia Saudita]], é o local mais sagrado do islão. De acordo com o Alcorão, ela foi construída por [[Abraão]] (''Ibrahim'') para que todas as pessoas fossem ali celebrar os ritos da [[haje]]. O segundo local sagrado do islamismoislão é a [[Mesquita do Profeta]], na cidade de [[Medina]], cidade para a qual Maomé e os primeiros muçulmanos fugiram (num movimento conhecido como [[Hégira]]), e onde se encontra o seu túmulo. A cidade de [[Jerusalém]] é o terceiro local sagrado do islão. Este estatuto advém da sua associação aos [[Profetas do Islão|profetas]] anteriores a Maomé e sobretudo pelo facto de os muçulmanos acreditarem que o profeta teria viajado para esse local durante a noite, cavalgando um ser denominado ''[[Buraq]]'', numa viagem conhecida como ''Isra''. Uma vez em Jerusalém, ele teria ascendido ao céu (''Mi’raj''), onde dialogou com Deus e outros profetas, entre os quais [[Moisés]] e [[Jesus]]. No local de Jerusalém onde se acredita que Maomé subiu ao céu, foi construída a [[Cúpula da Rocha]], em cerca de 690, e a mesquita de [[Mesquita de Al'Aqsa|Al'Aqsa]], sobre as ruínas do antigo [[Templo de Salomão]] dos [[judeus]].<ref>{{citar web|url=http://www.saudiembassy.net/about/country-information/Islam/guardian_of_the_Holy_Places.aspx|título=Guardian Of The Holy Places|editor=Embaixada Saudita em Washington, DC|acessodata=4-4-2015|wayb=20150322203338|urlmorta=yes}}</ref>
 
Os muçulmanos xiitas consideram ainda como sagradas as cidades de [[Carbala]] e [[Najafe]], ambas no [[Iraque]]. Na primeira, ocorreu o martírio de Hussein (filho de [[Ali]] e neto de Maomé) e dos seus companheiros, quando este contestava o [[Califado Omíada]]. No [[Irão]], devem também ser salientadas duas cidades sagradas para os xiitas, [[Mexad]] e [[Qom]].<ref>{{citar web|url=http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-11113841|editor=[[BBC]]|data=27-8-2010|acessodata=4-4-2015|título=Shia Islam's holy sites in Iraq}}</ref>
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| footer = Lugares sagrados do islamismoislão (da esquerda para a direita): [[Grande Mesquita de Meca|Grande Mesquita]], em [[Meca]], [[Arábia Saudita]], considerada o maior centro de [[peregrinação]] do mundo e o local mais sagrado do islamismoislão; [[Mesquita do Profeta]], em [[Medina]], local do túmulo de [[Maomé]]; [[Cúpula da Rocha]], em [[Jerusalém]], cidade sagrada para os muçulmanos.
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| image1 = A packed house - Flickr - Al Jazeera English.jpg
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{{Artigo principal|Islamismo e outras religiões}}
 
O islamismoislão reconhece elementos de verdade no [[judaísmo]] e no cristianismo. Todos os profetas do judaísmo são reconhecidos também como profetas no islão, assim como [[Jesus]], que de acordo com a perspectiva muçulmana teria anunciado a vinda de [[Maomé]]. Para os seguidores dessas duas crenças, o Alcorão reservou a noção de "Povos do Livro" (''Ahl al-Kitab''), estabelecendo que devem ser tolerados devido ao facto de possuirem escrituras sagradas..<ref name="People-of-the-Book"/> À medida que os muçulmanos tomaram contacto com outras religiões detentoras de revelações escritas, acabaram em alguns casos por conceder-lhes também esse estatuto (caso do [[zoroastrismo]]).
 
Porém, se o islão reconhece o papel preparatório do judaísmo e do cristianismo, considera igualmente que os seguidores dessas religiões acabaram por seguir caminhos errados.<ref name="People-of-the-Book"/> Os judeus tendo tornado-se idólatras e procederam mal ao adorarem o bezerro de ouro, e por rejeitarem [[Jesus]] como profeta de Deus. Os muçulmanos acreditam que os cristãos erraram ao considerar [[Jesus]] como filho de [[Deus]] e ao defender doutrinas como a da [[Santíssima Trindade]], porém acreditam que [[Jesus]] é uma criatura de [[Deus]] e um profeta de [[Alá]], assim como [[Adão e Eva|Adão]]. Tais erros, segundo os muçulmanos, acarretaram a vinda de outro e último profeta enviado por Deus, [[Maomé]].