Mestre Ataíde: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Demarne---ataide.jpg|thumb|''A visita dos anjos a Abraão''. Acima a gravura de Demarne; abaixo, a interpretação de Ataíde num painel lateral da capela-mor da Igreja de São Francisco, Ouro Preto.]]
 
::"Note-se que Manuel da Costa Ataíde, em todas estas pinturas, observou fielmente o modelo das gravuras no que concerne à composição geral, à distribuição das luzes e sombras, à posição das figuras e à indumentária. Observe-se, também, que o pintor mineiro, em todas essas obras, simplificou os planos de fundo (paisagem ou arquitetura) em comparação com os das gravuras e que, quase sempre, aproveitou das estampas apenas os grupos principais do tema representado, eliminando figuras ou cenas não diretamente ligadas ao assunto principal. A nosso ver, esta redução das cenas a seus grupos principais foi motivada pelas dimensões do espaço de que dispunha o mestre de Ouro Preto. [...] Não tratou de transformar a composição de Demarne. Pelo contrário: conservou cuidadosamente todos os pormenores das estampas, limitando-se a deixar simplesmente de lado os grupos que não lhe interessavam. É curioso verificar que mesmo mutilando, por assim dizer, a composição original do gravador, Ataíde não introduz senão modificações insignificantes na composição dos grupos que ele aproveita. E nem por isto as suas pinturas deixam de aparecer como composições artisticamente completas. [...] porém, desejamos chamar a atenção para o fato de que o artista mineiro consagra um carinho especial a todos os pormenores pitorescos ou anedóticos encontrados nos modelos e suscetíveis de dar às cenas um caráter mais íntimo e mais diretamente familiar. Assim é que ele reproduz fielmente, por exemplo, na cena da restituição de [[Sara]], o cachorrinho; na cena da refeição dos anjos, o prato fumegante trazido pelo criado, os vasos de vidro, os pratos na mesa, o copo na mão do médico, a forma característica do pé da mesa, etc. Na sua ânsia de dar um aspecto convincente e humano às cenas sagradas, chega a inventar pormenores pitorescos, que não se encontram em Demarne, como, entre outros, o da escarradeira por baixo da cama de [[Abraão]]".<ref name="Levy"/>
 
É preciso reiterar que em seu tempo a tradição recebida pronta tinha um peso enorme na determinação dos aspectos formais e ideológicos da obra. Nesta colônia, onde não havia um ensino artístico institucionalizado nem aulas de [[anatomia]] para artistas, os modelos visuais disponíveis eram essas reproduções de grande circulação. Eram a referência central de trabalho.<ref name="Hauser"/><ref name="Morato, pp. 53-56"/> Além dessas gravuras, circulavam em Minas — e no resto do Brasil — diversos tratados teóricos, que certamente contribuíam para aprofundar os conhecimentos técnicos dos artistas locais. Segundo Claudina Moresi, os pintores de Minas Gerais tiveram acesso a obras como os estudos de [[simetria]], perspectiva e pintura do poeta e pintor lusitano [[Filipe Nunes]] e os tratados ''Ciências das sombras relativas ao desenho'', ''Segredos necessários para a arte da pintura'', ''Arte da pintura'', ''Segredos necessários para os ofícios, artes e manufaturas, e para outros objetos sobre economia doméstica'', onde havia importantes referências para o preparo de tintas, vernizes, têmperas e douramentos; Ataíde possuiu um desses tratados, como consta em seu inventário. Também com certeza estava familiarizado com as lições de um outro tratado, que se tornara canônico, ''[[Perspectiva Pictorum et Architectorum]]'', de [[Andrea Pozzo]], o maior sistematizador da pintura de arquitetura ilusionística, técnica que veio a ser popularíssima na pintura colonial brasileira, embora numa abordagem modificada.<ref name="Paiva"/><ref>Faria, Patrícia Souza de. [http://bndigital.bn.br/redememoria/mestreathayde.html ''Mestre Athayde (1762-1830)'']. Projeto Rede da Memória Virtual Brasileira, Fundação Biblioteca Nacional</ref>
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[[Imagem:Ataíde-Sé de Mariana.jpg|thumb|''Anjos'', Sé de Mariana.]]
 
Muitos críticos celebram Ataíde como um mestre original por ter conseguido plasmar em suas imagens as feições mestiças do povo brasileiro. Da mesma maneira, se aplaude sua rica paleta de cores luminosas em originais combinações, seu desenho preciso mas sensível e fluente, seus corpos humanos de formas cheias e sinuosas, quase lânguidas, os traços humanizados e familiares de seus santos, bem como a lhaneza e intimidade do seu tom que imprimiu em diversas obras.<ref name="Itaú"/><ref name="Campos"/><ref name="Morato2">Morato, Elisson Ferreira. [http://www.semeiosis.com.br/wp-content/uploads/2011/05/Elisson-Morato.-A-forma-e-a-cor-do-sentido.pdf "A forma e a cor do sentido: a pintura barroca em Minas à luz da semiótica plástica"]. In: ''Semeiosis: semiótica e transdisciplinaridade'', 2011 (05)</ref> Marly Spitali analisou o uso das cores por Ataíde dizendo que ele é "um sinfonista da cor, não só pela expressão e suntuosidade da mesma mas também pela extraordinária habilidade instrumental, realmente sinfônica, de harmonizar as mais variadas tonalidades e dissonâncias cromáticas".<ref name="Encurralado"/> Fez ainda um uso frequente e inovador dos tons azuis, até então raros na pintura brasileira.<ref name="Sousa"/> Junto com [[Bernardo Pires da Silva]], [[Antônio Martins da Silveira]] e [[João Batista de Figueiredo]], formou a chamada "Escola de Mariana".<ref name="Cronologia"/>
[[Imagem:Manuel da Costa Ataíde - Elementos Ornamentais e Anjos.jpg|thumb|left|Detalhe da pintura arquitetônica no teto de São Francisco de Ouro Preto.]]
[[Imagem:Manuel da Costa Ataíde - Assunção da Virgem2.jpg|thumb|left|''Assunção da Virgem'', Rosário dos Pretos em Mariana.]]