Carlos Alberto da Sardenha: diferenças entre revisões

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Em 1821, Carlos Alberto teve um papel não muito claro nas agitações [[Liberalismo|constitucionais]] que aconteceram no [[Reino da Sardenha]]. Certamente ele teve contato com os rebeldes, mas na última hora parece que voltou atrás, enquanto os conjurados, em boa ou em má-fé, continuaram a contar com ele.
 
Após a abdicação do rei [[Vítor Emanuel I da Sardenha|Vítor Emanuel I]] em 1821, tornou-se [[Regência (governo)|regente]] e promulgou uma [[constituição]], a valer com a aprovação do rei, ou seja de [[Carlos Félix da Sardenha|Carlos Félix]], mas este, ao contrário, desautorizou o feito, chamou os [[Império Austríaco|austríacos]] ao [[Piemonte (então parte do [[Reino deda Sardenha|Piemonte-Sardenha]]), e ordenou a Carlos Alberto de acompanhar as tropas fieis a [[Novara]], coisa que ele fez sem hesitar. Por causa das suas atitudes, ele se tornou suspeito não somente aos olhos dos [[Carbonária|carbonários]], que o acusaram de traição, mas também aos olhos da corte. Primeiro ficou exilado na casa do sogro, na [[Toscana]], depois participou da repressão a revolução liberal espanhola lutando em [[Trocadero]] atraindo, assim, o ódio dos seus antigos amigos políticos.
 
== Ascensão ao trono da Sardenha ==
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{{Artigo principal|Reino da Sardenha}}
 
Depois da morte de [[Carlos Félix da Sardenha|Carlos Félix]] em 1831, subiu ao trono sem dificuldade em 27 de abril de 1832 (é lenda o fato de que [[Metternich]] tramouteria tramado para excluí-lo da sucessão). Converteu-se na maior esperança dos liberais; contudo, temendo o [[Império Austríaco]], cuja influência ainda se fazia sentir largamente em [[península Itálica|Itália]], prosseguiu uma atitude política anti-revolucionária, (não fazendo a ruptura com o que havia sucedido com os seus predecessores), embora tenha conseguido introduzir algumas melhorias em termos sociais, tais como suprimir as jurisdições [[feudais]] na [[Sardenha]] e promulgar um [[código civil]] de tipo liberal. Também ousou desafiar os [[conservadores]], acolhendo no seu reino alguns refugiados [[vêneto]]s e [[Lombardia|lombardos]]. Dedicou-se à reorganização do [[Estado]], saneando as finanças, promovendo o desenvolvimento econômico do reino, reorganizando o exército e impulsionando as reformas administrativas, das quais as mais notáveis foram a instituição do "Conselho de Estado" (órgão jurisdicional tipo [[senado]] com que o soberano limitava, de certa forma, a própria autoridade).
 
== Política externa ==
Na política externa, distinguiu-se pelo apoio dado à causa do [[legitimismo]] [[monárquico tradicionalista]], não [[absolutista]], regime baseado nas decisões das [[Cortes (política)|cortes]], ajudando em [[Portugal]] os [[miguelista|"Miguelistas"miguelistas]] e na [[Espanha]] os [[Carlista|"Carlistas"carlistas]], tomando partido, nas duas ocasiões, em prol dos reacionários e contra os liberais.
 
Embora inimigo dado [[Império Austríaco|Áustria]], aliou-se a ela em 1831 por temer a [[França]] de [[Luís Filipe de França|Luís Filipe de Orleans]], todavia, após a crise egípcia de 1840 (ocasião em que a Áustria demonstrou a sua vontade de não socorrer o [[Reino de Sardenha]] em caso de agressão francesa) Carlos Alberto destacou-se cada vez mais de [[Viena]], porém, sem agir de modo concreto em virtude de seus escrúpulos religiosos. Estes escrúpulos desapareceram em 1846, quando a eleição de [[Papa Pio IX|Pio IX]] pareceu dar corpo à concepção [[Vincenzo Gioberti|giobertiana]] de um papado cônscio de uma missão italiana.
 
Carlos Alberto tinha uma teoria própria segundo a qual os únicos soberanos legítimos eram os [[Casa de Saboia|Saboia]] e o papa, e quando ele notou que o sumo-pontífice era contra o [[absolutismo]] e contra a Áustria, pensou que tinha chegado a hora de tornar-se a "espada da Itália". Começou apoiando energicamente o papa no conflito com a Áustria em razão da ocupação de [[Ferrara]] (verão de 1847), e no outono do mesmo ano apoiou o [[Grão-ducado da Toscana|grão-duque de Toscana]] no conflito com o [[Ducado de Módena e Reggio|duque de Modena]] (este apoiado por Viena).
 
== Política interna ==
Na política interna concedeu algumas reformas que a opinião pública exigia, mas somente depois que [[Fernando II das Duas Sicílias]] prometeu a constituição (29 de janeiro de 1848) ele também prometeu promulgar a tão almejada carta constitucional aos seus súbitos (8 de fevereiro de 1848). A promessa foi mantida até 4 de março, com crise de consciência e hesitações (razão pelo qual foi chamado de "Rei Hesitação"). O desabamento do "sistema [[Metternich]]" (nome do diplomata austríaco, homem forte do [[absolutismo]], figura de proa da política europeia da primeira metade do século XIX) levou-o a aprovar a nova constituição (16 de março de 1848). A constituição, chamada de "Estatuto Albertino" ou "[[Estatuto Fundamental]]" (''statuto fondamentale''), era cópia da carta francesa de 1830 e não instaurava o [[parlamento|governo parlamentarista]] e sim o constitucional (portanto sem responsabilidade dos ministros em frente às câmaras).
 
== Revolução e guerra ==
[[Imagem:Carlo Alberto firma lo Statuto (4 marzo 1848).jpg|thumb|direita|upright=1.1|''Proclamação do "Estatuto Albertino" ou "Fundamental"'', [[Museo nazionale del Risorgimento italiano]].]]
Dois dias depois da criação do ministério constitucional piemontês (ministério "constitucional"), entregue a [[César Balbo]], estourou em [[Milão]] a agitação revolucionária conhecida com o nome de "[[Cinco Dias de Milão|Cinco Dias]]". Sob a pressão dos acontecimentos e depois novas, mas breves incertezas e influenciado pelo jornal ''Il Risorgimento'' do [[Conde de Cavour]], Carlos Alberto decidiu pela intervenção armada contra os austríacos, para a qual não estava preparado (tendo mesmo consciência disso), a fim de expulsá-los da [[Lombardia]] e do [[Vêneto]]. A guerra, conduzida pessoalmente pelo rei, teve como resultado imediato a libertação da Lombardia, arrancada ao jugo austríaco; contudo, o Império Austríaco rapidamente se recuperou e o infortúnio deste monarca começara com o desastre de [[Batalha de Custoza (1848)|Custoza]]. Finalmente, aconteceu a grande derrota dos piemonteses emna [[Batalha de Novara]] (28 de março de 1849). A derrota, causada por diversos motivos, entre os quais a incapacidade do rei como comandante supremo, originou graves mas infundadas dúvidas sobre a sua lealdade.
 
Alguns, lembrando de 1821, insinuaram também que Carlos Alberto teria perdido a batalha intencionalmente para se ver forçado a abolir o estatuto. Na realidade, o rei não somente deixou que, até o mês de julho de 1848, o governo continuasse parlamentarista, como também tolerou que fossem retirados do emprego público aqueles militares e civis que a opinião pública julgava contrários ao novo regime, e no final do ano convocou os democratas para fazerem parte do governo, com [[Vincenzo Gioberti|Gioberti]] no comando. Chegou até a opor-se ao plano de intervenção na [[Toscana]] para derrubar o governo democrático de [[Guerrazzi]] e restituir o governo ao [[Grão-ducado da Toscana|grão-duque]] Leopoldo II, preferindo demitir o ministro e recomeçar, como queria a opinião pública, a guerra contra a Áustria, também tendo a profunda convicção da enorme dificuldade da empreitada e tendo que renunciar a ser o comandante supremo do exército, cargo preenchido por um [[êxul]] [[poloneses|polonês]], [[Wojciech Chrzanowski]], que tranquilizava a opinião pública não pelas suas capacidades militares, mas pela sua retidão política.
 
A breve campanha acabou em três dias, com a desastrosa [[Batalha de Novara]]. Carlos Alberto abdicou no mesmo dia em favor do filho [[Vítor Emanuel II]], retirando-se para a cidade do [[Porto]], em [[Portugal]], onde morreu três meses depois (28 de julho) na [[Quinta da Macieirinha]], atual [[Museu Romântico]], vitimado quer pela doença que se agravou depois da fadiga do último ano, quer pela estafa da terrível viagem de Novara até ao Porto, a qual foi realizada sem nenhuma parada.
 
O seu rápido fim causou um ralo de benévola simpatia em torno dele que nunca recebeu quando em vida, corrente que cresceu até rasar a [[hagiografia]].
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== Legado político ==
[[Ficheiro:Carlo alberto.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Carlos Alberto]]
Figura complexa, ele viveu num período de transição sem ter programas definidos, excluindo o seu ódio pelo [[Império Austríaco]], o respeito pela [[Igreja Católica]] e o desejo de expandir os domínios da [[Casa de Saboia]]. Somaram-se às naturais indecisões que ele viveu nos períodos de passagem de uma forma política para outra (e nisto teve como companheiros [[Leopoldo II de Toscana]], [[Fernando II das Duas Sicílias]], e outros) ulteriores doses de incerteza devidas a sua natureza e a sua infeliz juventude. É a luz destas considerações que se pode explicar muitas das suas atitudes que lhe valeram o apelido de "'''Ítalo Amleto'''".
 
== Legado no Porto ==
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Ao chegar, o monarca destronado hospedou-se na [[Hospedaria do Peixe]], a funcionar no majestoso [[Palácio dos Viscondes de Balsemão]], na então Praça dos Ferradores, hoje na referida Praça Carlos Alberto. Acabou mais tarde por se mudar para a [[Quinta da Macieirinha]], onde hoje funciona o [[Solar do Vinho do Porto]] e o Museu Romântico. Ali morreu.
 
O seu corpo foi transladado para o Panteão dos Saboia, em Itália, mas a sua meia -irmã, filha de sua mãe com o príncipe de Montléart, Frederica Augusta de Montléart, mandou construir a referida capela nos terrenos da quinta actualmente incorporados nos [[jardins do Palácio de Cristal]]<ref>{{citar web | url=http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/316268/ | título=A Princesa Frederica Augusta de Montléart e a capela de Carlos Alberto, Arquivo Municipal do Porto | publicado=gisaweb.cm-porto.pt }}</ref>.
 
== Dados genealógicos ==