Jardim Duque da Terceira: diferenças entre revisões

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A fase inicial, correspondente ao talhão que é hoje conhecido pelo «Jardim de Baixo», abriu em finais de 1882, com o portão e a vedação para a Rua Direita com a configuração que ainda mantêm, ocupando essencialmente os terrenos antes pertencentes ao Colégio, com a implantação de uma cascata em [[obsidiana]], canteiros e um lago, cujo repuxo se elevava a alguns metros de altura.
 
Desde o início da construção do jardim, iniciada em finais de 1882, foram várias as conceçõesconcepções estéticas adoptadas. Apesar disso, o jardim mantém a marca do belga François Joseph Gabriel, que ao desenhar o «Jardim de Baixo» e ao chefiar nos primeiros anos o andamento dos trabalhos, imprimiu àquele espaço um claro cunho clássico francês, estilo desenvolvido dois séculos antes por [[André Le Nôtre]]. Esta opção estilística foi depois replicado, embora com modificações, nas zonas posteriormente construídas. Na parte desenhada por François Gabriel os caminhos cuidadosamente delineados realçam a simetria conferida pelos tapetes relvados, sobre os quais estão montados canteiros sazonais e se alinham e emparelham árvores e arbustos. A repetição de elementos vivos, como as roseiras, os corpos de água geometricamente dispostos, as podas de [[topiaria]] que impõem formas exóticas às árvores e arbustos, são as características dominantes desta parte do jardim.<ref name="siaram"/>
 
Em redor da zona ajardinada permaneciam muros altos, que separavam o «passeio público» dos quintais circundantes e da zona de aclimatação de plantas, que foram sendo retirados ao longo da década seguinte. A zona sul, hoje contígua ao hotel e onde se localiza o «babão», inicialmente separada por alto um muro, era mais baixa, sendo ocupada por viveiros de plantas. Aquela zona assim permaneceu até se proceder ao seu ajardinamento e plantio com roseiras, o que levou à criação de um espaço em estilo tipicamente francês, tendo o coreto na zona de separação, então transformada num talude ajardinado. O desnivelamento entre os dois tabuleiros foi sempre motivo de alguma contestação, sendo desde o início proposto o aterro com terras a retirar do adro da [[Igreja de Nossa Senhora da Guia]] do contíguo Convento de São Francisco.<ref name="CE"/>
 
Por deliberação de 18 de Janeiro de 1888 este local de experimentação e de aclimatizaçãoaclimatação de culturas, passa a denominar-se «Passeio Duque da Terceira», ficando Angra com um recanto verde estrategicamente situado no coração da cidade. Com a generalização da designação de «jardim» o local nas décadas seguintes passou a ser conhecido pela sua designação actual, passando a ser o «Jardim Duque da Terceira», tendo como [[epónimo]], o 1.º [[duque da Terceira]], uma das figuras mais relevantes da implantação do liberalismo em Portugal.
 
O nivelamento do «Jardim de Baixo» apenas foi conseguido na década de 1920, por proposta do vereador [[Eduardo de Abreu]] que para tal se socorreu de um projecto elaborado pelo então major [[Eduardo Gomes da Silva]]. A obra iniciou-se em 1922, ficando concluída em meados de 1923, altura em que aquela plataforma ganhou a configuração que ainda mantém. Por esta altura o Jardim ganhou nova vitalidade, especialmente pelo empenhamento de [[Henrique Brás]], ao tempo presidente da Câmara Municipal, invertendo-se a degradação que então se verificava no asseio e na decoração.<ref name="CE"/> A zona mais próxima do Convento de São Francisco, hoje conhecida pelo «Jardim de Cima», era então uma mata, em boa parte abandonada e com árvores secas a necessitar de limpeza e reposição.
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A transição entre o «Jardim de Baixo» e o «Jardim de Cima» é feita por um talude que tem como elementos decorativos pequenos muretes em «pedra queimada», ou seja em grandes pedras de [[bagacina]] basáltica castanho-avermelhada, de aspecto rústico, entre os quais estão plantados diversos arbustos. A construção desta estrutura foi concluída em 1928, ano em que a pedido de um particular foi construído o quiosque em madeira ainda existente na extremidade sul daquela zona, destinado a venda de doçaria e bebidas.<ref name="CE"/> Em 1929 foi aprovada a construção de um aviário, para aves decorativas, projecto que não se concretizou, mas que levou à criação do espaço que depois seria a estufa fria do jardim, hoje a casa de chá e restaurante ali existente. No extremo sul desta área subsiste do tempo dos franciscanos, um conjunto de quatro painéis de azulejos, datados de cerca de 1740, que representam passagens da [[Parábola do Filho Pródigo]], e estão enquadrados num espaço sobranceiro ao quiosque, com banquetas e muros.<ref name="CE"/>
 
A plataforma superior, o «Jardim de Cima», que inicialmente foi zona de aclimatação e depois bosque, começou a ganhar a presente configuração em 1922, com a abertura dos primeiros caminhos. Contudo, apenas na década de 1940 passou a ser jardim, com a criação dos canteiros e do pequeno lago ali existente. Foi nessa década que se instalaram os taludes relvados, um novo tanque, a escadaria de acesso ao «Tanque do Preto», os bancos de jardim e a [[pérgula]] que serviu de estufa fria até à construção da actual casa de chá. No início da passagem existe um tanque rectangular sobre cujo bordo sul está instalada uma famosa estátua, o «Preto do Jardim», que ostenta na cabeça um [[Cocar (indígena)|cocar de índio brasileiro]]. O «Tanque do Preto» já ali existia, provindo da cerca do antigo Convento de São Francisco, alimentado inicialmente pela levada da Ribeira dos Moinhos, servindo a água que corre, por um cano saído da boca ddada estátua, para regar as culturas que ali se faziam. A estrutura é o que resta do sistema de rega da antiga cerca dos franciscanos. Nas décadas de 1950 e 1960 realizaram-se no relvado confinante com a pérgula sessões teatrais e de cinema, muito frequentadas no verão.<ref name="CE"/>
 
No início do talude que liga o «Jardim de Cima» ao «Tanque do Preto» foi por iniciativa da Câmara Municipal, foi descerrado a 16 de outubro de 1949 um pequeno busto em mármore, que homenageia [[Manuel António Lino]], um médico nascido a 4 de Janeiro de 1865 em Angra, que para além reputado profissional da medicina foi floricultor exímio, poeta, jornalista, dramaturgo consagrado e melómano e autor musical. Na cerimónia, em que participaram os alunos do [[Liceu Nacional de Angra do Heroísmo]], então a funcionar no vizinho Convento de São Francisco, foram lidos textos do poeta, e no discurso do professor liceal [[Joaquim Moniz de Sá Corte-Real e Amaral|Joaquim Moniz Corte-Real]] foi lembrado o amor que o homenageado dedicava às plantas, nomeadamente o seu empenho na cultura de [[crisântemo]]s.<ref name="CE"/>
 
A partir da plataforma onde se localiza o «Tanque do Preto» parte uma ampla e sinuosa escadaria que liga o jardim à [[Alto da Memória|Memória]]. A ligação à Memória foi construída em 1898, por iniciativa de [[Silva Sarmento]], que por duas vezes foi presidente da Câmara Municipal entre 1896 e 1898, ficando designada por «Passagem Silva Sarmento», topónimo que se mantém. O projecto, considerado ao tempo como caro, veio permitir uma ligação pedonal entre a baixa da cidade e o Bairro de São João de Deus e o Outeiro, ao mesmo tempo que aproveita a ampla paisagem sobre a cidade que sele se desfruta. Ao tempo tinha como atractivo adicional a presença das rodas das azenhas da [[Ribeira dos Moinhos (Angra do Heroísmo)|Ribeira dos Moinhos]], já que seguia ao longo daquela levada, da qual hoje pouco resta. Após ser estabelecida a ligação à plataforma da «Memória», ao longo da encosta, a área total do jardim aumentou para 17&nbsp;500&nbsp;m<sup>2</sup>. Acompanha esta elegante escadaria uma serpenteante alameda de plátanos, que ladeiam, ensombram e refrescam os degraus que gradualmente se elevam sobre a cidade, até ao admirável miradouro de horizontes dilatados e panorâmicas deslumbrantes, verdadeiro ''ex-libris'' da cidade de Angra do Heroísmo.<ref name="siaram"/>