O Cruzeiro: diferenças entre revisões

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'''''O Cruzeiro''''' (originalmente '''''Cruzeiro''''') foi uma revista semanal ilustrada [[brasil]]eira, lançada no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], em {{DataExt|10|11|1928|Lang=br}}, editada pelos [[Diários Associados]], de [[Assis Chateaubriand]]. [[Carlos Malheiro Dias]] foi seu diretor no período de [[1928]] a [[1933]], sendo sucedido por [[Accioly Neto|Antonio Accioly Neto]]<ref name=AN1998>{{citar livro |sobrenome= Accioly Netto |título=O Império de papel |subtítulo=os bastidores de O Cruzeiro |local=Porto Alegre |editora=Sulina |ano=1998 |páginas=166 |notas=Ilustrado}}</ref> e depois por [[José Amádio]] que, em 1960 imprimiu um novo design editorial que ficou conhecido como "bossa nova".<ref>{{citar web|url=http://web.archive.org/web/20160327111509/http://www.agitprop.com.br/index.cfm?pag=ensaios_det&id=48&titulo=|título=1960: ano em que até o design gráfico foi bossa nova |autor=José Estevam Gava|data=16/07/2009|publicado=Agitprop - revista de propaganda e design, ano II, Nº 19 ISSN: 1983-005X}}</ref> Foi a principal [[revista]] [[ilustração|ilustrada]] [[brasil]]eira da primeira metade do [[século XX]].<ref name=AN1998/> Deixou de circular em julho de [[1975]].
 
Estabeleceu uma nova linguagem na imprensa brasileira: inovações gráficas, publicação de grandes reportagens, ênfase ao fotojornalismo.<ref>{{citar livro |sobrenome=Scalzo |nome= Marília |título= Jornalismo de revista |local= São Paulo |editora= Contexto |ano= 2003 |página=30}}</ref> Fortaleceu a parceria com as duplas repórter-fotógrafo, a mais famosa sendo formada por [[David Nasser]] e [[Jean Manzon]] que, nos [[década de 1940|anos 401940]] e [[Década de 1950|501950]], fizeram reportagens de grande repercussão.<ref name=LMC>{{citar livro |sobrenome=Carvalho |nome= Luiz Maklouf |título= Cobras criadas |subtítulo= David Nasser e O Cruzeiro |local= São Paulo |editora= Senac |ano= 2001 |páginas= 599}}</ref>
 
Em [[1941]], ''O Cruzeiro'' também passou a ser o nome da [[O Cruzeiro (editora)|Editora do grupo Diários Associados]]<ref>{{citar livro|autor=Jacques Alkalai Wainberg|título=Império de palavras|editora=EDIPURS|ano=2003|páginas=169|id=9788574303765}}</ref>
== Lançamento e linha editorial ==
[[Ficheiro:Senador Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello.tif|miniaturadaimagem|Assis Chateaubriand, em 1957.]]
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== Sedes da revista e tiragem ==
Em 1931, a redação da revista ficava no recém-inaugurado prédio dos [[Diários Associados]] na rua 13 de Maio, no Rio de Janeiro. Dezoito anos depois, a revista mudou-se para um novo prédio, projeto de [[Oscar Niemeyer]] na rua do Livramento, no Rio de Janeiro. Este último foi o endereço que a revista permaneceu até a sua falência.<ref name=":0" /> A revista também contava com um escritório em [[São Paulo]] e correspondentes no [[Brasil]] inteiro.<ref name=":2" /> Durante a década de 1940 e 1950, ''O Cruzeiro'' contou com sucursais em [[Paris]], [[Nova Iorque|Nova York]], [[Roma]] e [[Tóquio]].<ref name=":1" />
 
''O Cruzeiro,'' em 1942, tinha uma tiragem de 48 mil e passou, em 1949, para 300 mil.<ref name=":2" /> A edição mais vendida da ''O Cruzeiro'' foi o exemplar que noticiava a morte de [[Getúlio Vargas|Vargas]] que chegou a 720 mil exemplares vendidos.<ref name=":0" />
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A decadência de ''O Cruzeiro'' começou com a brusca queda na venda de exemplares que passou de 710 mil cópias para 400 mil durante toda a década de 1960. Além disso, era o fim da ''O Cruzeiro Internacional'' que circulou de 1957 até setembro de 1965 em diversos países da [[América Latina]] como [[Uruguai]], [[Paraguai]], [[Argentina]], [[Chile]], [[Peru]], [[Venezuela]], [[Bolívia]] e em países do [[Caribe]] e no sul dos [[Estados Unidos]].<ref name=":1" /> O surgimento de novas publicações, como as revistas [[Manchete (revista)|''Manchete'']] e ''Fatos & Fotos,'' o fortalecimento da televisão e o controle da mídia impressa pelas editoras [[Editora Abril|Abril]] e [[Bloch Editores|Bloch]] também colaboraram para a decadência do ''O Cruzeiro''. Ainda, a ida para o exterior de Chateaubriand que se tornou embaixador na Inglaterra proporcionou vários problemas dentro da revista.<ref name=":1" /><ref name=":2" />
 
A revista, junto com outros veículos do [[Diários Associados]], estava mergulhada em dívidas e não resistiu levando-a a falência em 1975. Antes disso, ''O Cruzeiro'' perdeu parte do prédio da redação e o título da revista foi vendido à Hélio Lo Bianco para pagar dívidas. Além disso, suas máquinas importadas foram vendidos por preços muito baixos.<ref name=":0" /><ref name=":1" />
 
=== Arquivos ===
A maior parte dos exemplares da revista ''O Cruzeiro'' foram levados para a sede do [[Estado de Minas]] (único título que restou do [[Diários Associados]]) após o fim da revista. O acervo é considerado o arquivo mais completo da revista.<ref name=":0" />
== Contexto histórico ==
A revista ''O Cruzeiro'' surgiu durante o governo de [[Washington Luís|Washington Luiz Pereira de Souza]]. Foi um momento de grande migração do campo para a cidade, onde as indústrias tomavam o cenário do país e a ideia de urbanização e modernidade eram cada vez mais reforçadas pelos políticos e pelo jornalismo. Na década de 1950, foi feita uma pesquisa sobre como homens e mulheres consumiam revista e isso impactou diretamente na escolha da posição das seções de ''O Cruzeiro.'' Foi constatado que os homens começavam a ler pelo início que era onde ficavam as seções de política e notícias de capa e, as mulheres, que liam do final para o começo, se deparava com seções de crônicas ou de assuntos considerados femininos como beleza e cozinha.<ref name=":5" />
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=== Reportagem sobre o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) ===
 
Em 1968, uma reportagem de Pedro Medeiros (falecido em 1999), publicada na extinta revista ''O Cruzeiro'' incluiu, entre os membros do [[Comando de Caça aos Comunistas]] (CCC), o jogador de basquete [[Antônio Salvador Sucar]], o apresentador de TV [[Boris Casoy]] e o advogado [[José Roberto Batochio]], presidente do Conselho Federal da [[OAB]] em 1994.<ref>[http://pt.scribd.com/doc/25019616/Revista-O-Cruzeiro-com-Boris-Casoy-no-CCC]</ref> Porém, segundo matéria - no site ''Consultor Jurídico'' em 2010, o próprio autor da reportagem na revista ''O Cruzeiro'', reconhecera que a lista de supostos integrantes do CCC teria sido resultado de mera ilação do autor, a partir dos nomes constantes da agenda de telefones de um suposto integrante do grupo.<ref>[http://www.conjur.com.br/2010-dez-13/post-boris-casoy-termina-retratacao-paulo-henrique-amorim Paulo Henrique Amorim se explica a Boris Casoy]. Consultor Jurídico, 13 de dezembro de 2010.</ref> De Boris a reportagem da revista ''O Cruzeiro'' diz que seu sobrenome era "Casoy ou Kossoy". É Casoy, pronto. Existe um [[Boris Kossoy]], mas é outra pessoa. Entre os depoimentos há um relato impagável: [[Boris Casoy]], vestido de couro preto, de pé na garupa de uma moto, girando uma corrente. Tendo sofrido de [[poliomielite]], como explicar sua capacidade acrobática?<ref>[http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/importante-e-a-manada-e-a-noticia-que-se-dane Importante é a manada e a notícia que se dane]. Carlos Brickmann. Observatório da Imprensa, 2 de fevereiro de 2010.</ref>
 
=== Operação O Cruzeiro ===
 
''O Cruzeiro'', editado pelos [[Diários Associados]], do jornalista [[Assis Chateaubriand]], circulou de 1928 a 1975. [[Alexandre von Baumgarten]] buscou relançar o título da revista de mesmo nome para criar uma corrente de opinião pública favorável à ditadura militar.<ref>[http://www.arqanalagoa.ufscar.br/tesesdisserta/MONOGRAFIA%5B1%5D..pdf O caso Baumgarten e a crise da ditadura (1983-1985)]. Lauriani Porto Albertini, Universidade Federal de São Carlos, 2003.</ref> Alexandre von Baumgarten adquiriu os direitos do título da revista em 1979 e possuía um contrato de publicidade com a Capemi ([[Caixa de Pecúlios, Pensões e Montepios Beneficente]]) no valor de Cr$ 12 milhões.<ref>[http://jornalggn.com.br/noticia/paulo-malhaes-revela-assassino-de-alexandre-von-baumgarten-jornalista-ligado-ao-sni Paulo Malhães revela assassino de Alexandre Von Baumgarten, jornalista ligado ao SNI]. 25 de março de 2014.</ref> Outros anunciantes: Prefeitura de Santos em 1981 (que possuía um prefeito nomeado pela ditadura militar chamado [[Paulo Gomes Barbosa]]), [[Nuclebrás]], [[Pró-álcool]], Superintendência da [[Zona Franca de Manaus]], [[Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste]] (Sudene), [[Embraer]], [[Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos]].<ref>[http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0246.htm Uma história de espionagem]</ref>
 
=== Revista ''O Cruzeiro'' contra a ''Life Magazine'' e ''Paris Match''===
Em 15 de setembro de 1951, a revista ''O Cruzeiro'' publicou uma reportagem chamada "As noivas dos deuses sanguinários" em resposta a uma matéria publicada pela revista francesa [[Paris Match]] que abordava de forma pejorativa o [[candomblé]] e que deixou muitos intelectuais brasileiros furiosos. A reportagem da revista brasileira teve ampla divulgação em [[Salvador]] e fez tanto sucesso que a tiragem da revista passou de 300.000 para 330.000 exemplares. Ainda, com o sucesso da reportagem, houve a oportunidade de levar a ''O Cruzeiro'' para a capital da [[Bahia]], que ainda não recebia a revista.<ref name=":4">{{Citar periódico|ultimo=Tacca|primeiro=Fernando de|data=2016-11-14|titulo=O Cruzeiro versus Paris Match e Life Magazine: um jogo especular|url=http://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/view/750|jornal=LÍBERO. ISSN impresso: 1517-3283 / ISSN online: 2525-3166|lingua=pt|volume=0|numero=17|paginas=63–71|issn=2525-3166}}</ref>
[[Ficheiro:Gordon Parks.jpg|miniaturadaimagem|Gordon Parks, 1963]]
O embate com a revista francesa não foi a única da Revista ''O Cruzeiro.'' A revista norte-americana [[Life (revista)|Life]] criou um especial de cinco blocos chamado "Pobreza" com o objetivo de mostrar "a crise geral" da [[América Latina]]. Essa série faz parte das medidas política dos [[Estados Unidos]] para mostrar que a pobreza e miséria era "campo fácil" para o comunismo. [[Gordon Parks]], famoso fotógrafo da revista, visitou a cidade do [[Rio de Janeiro]] em 1961 e tirou uma foto que criou grande polêmica. A foto ficou conhecida como "Flávio da Silva, 1961" e mostrava um garoto esquelético na cama com uma luz que deixava a fotografia um tanto dramática. Na reportagem, junto da foto, o texto trazia a vida da família de Flávio na favela, o objetivo era ressaltar e denunciar que, no Brasil, famílias brancas viviam na miséria. Nos Estados Unidos, a reportagem repercutiu e muitos doaram dinheiro à revista. Gordon voltou ao Brasil, comprou uma casa e roupas para a família de Flávio e leva o menino para os Estados Unidos, onde sua asma é tratada em um hospital e é adotado por uma família portuguesa. Toda a história da família carioca e o desfecho de Flávio nos Estados Unidos é narrada em reportagens na revista norte-americana. Em resposta, ''O Cruzeiro'' manda à [[Nova Iorque|Nova York]] o fotógrafo Henri Ballot que faz uma fotorreportagem muito parecida com a versão da ''Life'', porém com uma história semelhante com o objetivo de mostrar que também existia pobreza em solo norte-americano: Ballot encontrou uma família porto-riquenha que vivia em extrema pobreza em um cortiço nova-iorquino e reproduziu seu dia a dia do mesmo modo que foi feito com a família brasileira.<ref name=":4" />
 
A foto que mais fez sucesso na fotorreportagem de Ballot foi a imagem de um menino dormindo e, ao mesmo tempo, baratas sobem em seu corpo. Mais tarde, a revista ''Life'' descobriu que aquela foto foi uma montagem de Ballot que ficou proibido de voltar aos Estados Unidos.<ref name=":4" />