Cristão-novo: diferenças entre revisões

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'''Cristão-novo''' ou '''converso''' era a designação dada em [[Portugal]] e [[Espanha]] aos [[judeu]]s convertidos ao [[cristianismo]], em contraposição aos [[cristão-velho|cristãos-velhos]].
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Cristão-novo ou Converso era a designação dada em Portugal aos judeus convertidos ao cristianismo e seus descendentes, em contraposição aos cristãos-velhos (genuínos). A expressão foi difundida após a conversão forçada de judeus feita em 1497 pelo rei de Portugal, anos antes da instauração do Tribunal da Inquisição.
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== Expulsão e Conversão Forçada ==
== Antecedentes ==
Sempre existiram minorias étnicas e religiosas em [[Portugal]], sendo os [[judeus]], [[mouros]] e, mais tarde, os contingentes mais expressivos. Os primeiros antecedem provavelmente as invasões dos segundos, tendo gozado muitas vezes de proteção e favorecimento régios, mercê das suas fortunas e atividades mercantis, e até da sua preponderância cultural. Inseridos num Portugal agro-pecuário e [[pesca|piscatório]], dedicar-se-ão aos ofícios ou a atividades liberais (comércio de capitais, ciência, medicina, farmácia, artesanato, ourivesaria, sapataria, alfaiataria e tecelagem) e gradualmente ao [[comércio]] e especialmente à finança, onde não conheciam grande concorrência, por ser vedado ao [[cristão]] a possibilidade de receita de [[juros]] através do [[crédito]] considerando tal [[usura]].
 
Após a expulsão dos judeus da [[Espanha]] por [[Isabel I de Castela]] e [[Fernando II de Aragão]] em [[1492]], cerca de 60.000 judeus que recusaram-se a se converter à [[Cristianismo|religião cristã]]<nowiki/>emigraram para [[Portugal]]. [[João II de Portugal|D. João II]], influenciado por judeus importantes na Corte, acolhe-os, mas impõe o pagamento de oito [[Ducado (moeda)|ducados de ouro]] {{nota de rodapé| Um ducado equivalia a aproximadamente 3,5g.}}
Ao longo da [[Idade Média]], habitaram preferencialmente - de acordo com as suas ocupações profissionais - nas maiores aglomerações urbanas do Reino, em bairros próprios ([[judiaria]]s; [[mouraria]]s no caso dos árabes ou mouros, menos numerosos), praticando o seu culto, falando o seu idioma e mantendo as suas tradições ancestrais. Diplomaticamente, mantinham fidelidade à Coroa, a ela se subordinando. À parte alguns incidentes, principalmente motivados por questões religiosas, a sua vida no Reino não correu nunca grandes riscos de ser posta em causa.
, quantia deveras elevada para a época, para permanecerem em terras lusitanas (os que não podiam pagar este valor viam metade dos seus bens confiscados para a Coroa). Pretendia-se com isso a fixação de artesãos especializados, que faltavam em Portugal. Falecido D. João II, sucede-lhe [[Manuel I de Portugal|Dom Manuel]], monarca que se revelou tolerante para com os judeus que não podiam pagar.
 
Segundo o jornalista e autor Elias Lipiner, Dom Manuel, ao se casar com [[Isabel,_Rainha_de_Portugal|Isabel]], filha de Isabel I e Fernando II, aceitou inserir no contrato de casamento uma cláusula que garantia expressamente a expulsão dos judeus de seu reino, a pedido da noiva. Para cumprir com esta cláusula, D. Manuel expede, em dezembro de 1496, um decreto em que determina a saída de Portugal dos judeus ainda não convertidos ao catolicismo, sob pena de morte, dando o prazo de até outubro de 1497, garantindo-lhes meios de transporte para que pudessem ir embora.<ref name=":0">{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=49-51|capitulo=Verbete "Conversão Forçada"|acessodata=}}</ref>
== Oposição entre cristãos novos e velhos ==
Mesmo assim, temos as grandes revoltas antijudaicas de [[1391]] e depois uma série de campanhas de pregação no início do século XV que conduzem à conversão maciça dessas comunidades ao [[cristianismo]].
 
No entanto, o plano verdadeiro do monarca visava a conversão dos judeus, e não sua partida. Deste modo, em abril de 1497, proclama novas ordens para que os filhos menores de 14 anos dos judeus que optassem pelo exílio ao invés da conversão fossem retirados da família para serem batizados e criados em Portugal dentro da doutrina religiosa católica.
Assim, se em meados do [[século XV]] a maioria dos cristãos novos era artesã, nessa altura, como eram populações altamente educadas e letradas, passam igualmente a ser bispos, abades, consultores do rei, etc. e que até aí, como é óbvio, estavam excluídos dessas carreiras. Rapidamente, num espaço de 50 anos, competem com os antigos para todos estes importantes lugares<ref name=Publico>[http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-imperio-portugues-e-talvez-o-mais-flexivel-a-gerir-populacoes-coloniais-ate-ao-seculo-xviii-1660324 “O império português é talvez o mais flexível a gerir populações coloniais até ao século XVIII”, entrevista a Francisco Bethencourt por Isabel Salema, jornal O Publico, Londres, 27 de Junho de 2014]</ref>.
 
Com a aproximação do prazo dado pela Coroa para a retirada dos judeus, o rei ordena que todos se dirijam à Lisboa para cumprir a promessa de ajuda com os meios de transporte. Porém, ao se reunirem no local, descobrem se tratar de nova armação do monarca, que desta vez se utilizou de violência com os judeus que ainda não haviam aceitado voluntariamente a conversão. Ordenou que fossem então arrancados à força os outros filhos de até 25 anos, avisando aos pais que deviam aceitar a conversão caso quisessem continuar a conviver com seus filhos em vida.<ref name=":0" />
É assim nesta atitude de inveja que surge uma revolta em [[Toledo]], em [[1449]] contra os cristãos novos, acusando-os de cumplicidade com o rei. Isso vai conduzir aos primeiros estatutos de “limpeza de sangue” da [[Península Ibérica]], em que os cristãos novos passam a ser discriminados e segregados, não podendo aceder a lugares públicos dentro do concelho<ref name=Publico/>.
 
Muitos judeus continuaram firmes, ainda que sob a tortura imposta por três dias onde foram privados de comida e bebida, e ao fim deste prazo foram submetidos à mesma violências que seus filhos, sendo arrastados<blockquote>
O rei ainda condenou este processo mas não teve capacidade para o interromper. Depois houve uma tentativa de alargar estes estatutos de “limpeza de sangue” às ordens religiosas em todo o lado. O papa também se opôs mas acabou por ceder. A discriminação passou a ser institucionalizada<ref name=Publico/>.
''"(...) pelas pernas, outros pelas barbas e cabelos, dando-lhes punhadas no rosto, e espancando-os, às igrejas onde lhes deitaram a água, os levaram".''<ref>{{citar livro|título=Consolação às Tribulações de Israel|ultimo=USQUE|primeiro=Samuel|editora=Mendes dos Remédios|ano=1906|local=Coimbra|página=XXX|páginas=|capitulo=61-Diálogo III|acessodata=}}</ref></blockquote>
consumando-se assim a conversão forçada e transformando-os em cristãos, com a alcunha de "cristãos-novos".
 
Tal ato violento, como ressalta Lipiner, trouxe sérias consequências para a Coroa Portuguesa<ref name=":0" />, pois contribuiu para a mistura racial entre portugueses e judeus e também para o domínio de aproximadamente três séculos da Inquisição e seu regime de perseguições, sendo o rei condenado tanto por clérigos e intelectuais liberais quanto pela população. O feito de violência de Dom Manuel foi condenado de forma mais significativa em 1821, quando foi usado como argumento principal pelas Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa para estabelecer a extinção do Santo Ofício, convidando os descendentes das famílias judias prejudicadas à retornar para Portugal.
A [[inquisição]] só é constituída em [[1478]] e começa a perseguir os cristãos novos acusados de judaísmo<ref name=Publico/>.
 
== Outras definições ==
== Expulsão da comunidade judaica de Portugal ==
Após a expulsão dos judeus de [[Espanha]] por [[Isabel I de Castela]] e [[Fernando II de Aragão]] em [[1492]], cerca de 60.000 judeus que recusaram-se a converter-se à [[Cristianismo|religião cristã]] emigraram para [[Portugal]]. [[João II de Portugal|D. João II]], influenciado por judeus importantes na Corte, acolhe-os, mas impõe-lhes o pagamento de oito [[Ducado (moeda)|ducados de ouro]]<ref group=nota>um ducado equivalia a aproximadamente 3,5g</ref>, quantia deveras elevada para a época, para permanecerem em terras lusitanas (os que não podiam pagar este valor viam metade dos seus bens confiscados para a Coroa). Pretendia-se a fixação de operários especializados, que faltavam em Portugal. Falecido D. João II, sucede-lhe [[Manuel I de Portugal|D. Manuel]], monarca que se revelou tolerante para com os judeus que não podiam pagar. No entanto, em Março de [[1497]], é imposta a expulsão da comunidade judaica de Portugal por meio de uma lei que entrou em vigor naquele mesmo ano. Para impedir a saída de tanta gente (e, consequentemente, de [[dinheiro|capital]]) do Reino, D. Manuel decreta a conversão forçada de muçulmanos e judeus ao Cristianismo no prazo de dez meses, criando assim o conceito de cristão-novo. Caso não o aceitassem, teriam que abandonar Portugal e as suas colónias ultramarinas. A medida foi uma tentativa de homogeneizar a religião na [[Península Ibérica]] e consta do acordo de casamento entre D. Manuel e a Infanta [[Isabel de Aragão e Castela, Rainha de Portugal|Isabel de Aragão]], à data herdeira dos [[Reis Católicos]].
 
*'''Meio Cristão-Novo:''' Aquele fruto de um casamento misto (entre um judeu e um cristão-velho), ato condenado pelo clero pois "sujava", maculava o sangue nobre cristão português.<ref name=":6">{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=38|capitulo=Verbete "Casamentos mistos"}}</ref> A quantidade de sangue judaico em uma pessoa era uma das qualificações usadas pela Inquisição em seus réus, dando origem à "Limpeza de Sangue", culto racista em Portugal na época<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=96|capitulo=Verbete "Limpeza de sangue e geração"}}</ref>.
Em Abril de [[1499]], um alvará proíbe a saída do Reino aos cristãos-novos. Todavia, não lhes era limitada a ascensão a cargos políticos ou administrativos e podiam casar-se com cristãos-velhos. No tempo de D. Manuel, o título de cristão-novo não era impedimento à admissão aos cargos eclesiásticos ou do Estado. Apesar de uma certa liberdade de consciência e de alguma protecção régia, a situação assumiu contornos dramáticos na [[Páscoa]] de [[1506]]. Em [[19 de Abril]], iniciou-se uma revolta popular impulsionada por [[Ordem dos Pregadores|frades dominicanos]] contra os cristãos-novos, que se prolongou por três dias. A multidão movida pelo [[fanatismo]] religioso perseguiu, violou, torturou e matou centenas de pessoas acusadas de serem judias. Este episódio, conhecido como o [[Massacre de Lisboa de 1506|Massacre de Lisboa]], acentuou o clima de crescente [[anti-semitismo]] em Portugal e levou muitas famílias a abandonar o Reino.
*'''[[Criptojudaísmo|Criptojudeu]]:''' Cristão-novo vivia publicamente como católico, porém fazia uso da religião cristã apenas no que concerne aos direitos civis e preservava seus cultos e práticas do judaísmo clandestinamente.<ref>{{citar livro|título=Preconceito Racial no Brasil Colônia: Os cristãos-novos|ultimo=CARNEIRO|primeiro=Maria Luiza Tucci|editora=Brasiliense|ano=1983|local=São Paulo|página=52|capitulo=O preconceito racial contra os cristãos-novos em Portugal (Nota 31)}}</ref> Também chamados "Judaizantes". Muitos deles se filiavam às Confrarias ou Irmandades Católicas para manter essas aparências, chegando inclusive a ocupar cargos importantes.<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=46|capitulo=Verbete "Confrarias (os cristãos novos nas)"|acessodata=}}</ref>
*'''[[Marrano]]:''' forma considerada pejorativa de se referir ao cristão-novo, principalmente ao criptojudeu. <ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=99|capitulo=Verbete "Marranos"|acessodata=}}</ref>
*'''Batizado em pé:''' Outro termo relacionado ao cristão-novo, usado com os judeus convertidos e batizados já quando adultos, ao contrário dos cristãos-velhos, batizados sempre quando criança. Foram encontradas ocorrências do uso desse termo nas Mesas de Visitação inquisitoriais no Brasil.<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=32|capitulo=Verbete "Batizado em pé"}}</ref>
*'''Comer em mesa baixa/Varrer a casa às avessas:''' Ser criptojudeu. Termo referente à hábitos judeus e que eram causa de prisão e condenação pelo Santo Ofício.<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=41 e 140|capitulo=Verbetes "Comer em mesa baixa" e "Varrer a casa às avessas"}}</ref>
*Pertinazes: Cristãos-novos que manifestavam a vontade de morrer, quando condenados, na Lei de Moisés. Eram queimados vivos nos [[Auto de fé|autos de fé]].<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=112|capitulo=Verbete "Pertinazes"}}</ref>
*'''Tornadiço''': Judeu convertido que retornou à antiga crença ou também aquele que se converteu antes de 1497.<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=137|capitulo=Verbete "Tornadiço"}}</ref>
*'''Renegado''': Cristão-novo que realmente aceitava a conversão e o catolicismo, inclusive ajudando na perseguição de judaizantes. Renegados eram usados pela Inquisição como espiões.<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=120|capitulo=Verbete "Renegados judeus"}}</ref>
*'''Reconciliado''': Judaizante que conseguia o perdão dos inquisidores, sendo novamente aceito na Igreja, cumprindo penitências.<ref>{{citar livro|título=Santa Inquisição: terror e linguagem|ultimo=LIPINER|primeiro=Elias|editora=Documentário|ano=1977|local=Rio de Janeiro|página=117|capitulo=Verbete "Reconciliados"}}</ref>
 
== Perseguição dapela Inquisição ==
Alguns cristãos-novos, porém, permaneceram fieis à sua religião original (sendo assim denominados de [[marrano]]s ou [[criptojudeu]]s) e inventaram formas de esconder a sua convicção religiosa. As [[Alheira (culinária)|alheira]]s, um tipo de enchido de carne de [[galinha]] e outras aves, foram por exemplo criadas para imitar os tradicionais [[chouriço]]s de carne de porco, proibida aos judeus. O falhanço da seriedade de muitas conversões levou a que [[João III de Portugal|D. João III]] mandasse instalar a [[Inquisição]] em Portugal em [[1536]], e ao estabelecimento de uma política de distinção em relação aos cristãos-novos.
 
Mesmo após a conversão, alguns cristãos-novos permaneceram fiéis à sua religião original (denominados criptojudeus ou, de forma pejorativa, marranos) e inventaram formas de esconder sua convicção religiosa. As [[Alheira|alheiras]], um tipo de enchido de carne de galinha e outras aves, foram, por exemplo, criadas para imitar os tradicionais [[Chouriço|chouriços]] de carne de porco, proibida aos judeus<ref>{{Citar periódico|data=2019-04-08|titulo=Alheira|url=https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Alheira&oldid=54750293|jornal=Wikipédia, a enciclopédia livre|lingua=pt}}</ref>.
Sob o espectro da Inquisição, nunca mais os cristãos-novos, maioritariamente judeus, tiveram tranquilidade em Portugal. Continuaram, clandestinamente, a fugir para os [[Países Baixos]], [[Constantinopla]], [[Norte da África|Norte de África]], [[Salónica]], [[Itália]] e [[Brasil]], mantendo laços secretos e apoiando os cristãos-novos portugueses. Muitas das cerca de 1.500 vítimas mortais da [[Inquisição portuguesa]] eram cristãos-novos, assim como boa parte dos seus 25.000 processos. O Santo Ofício influiria no desaparecimento dos ofícios nas regiões de [[Trás-os-Montes e Alto Douro|Trás-os-Montes]] e [[Beira (Portugal)|Beiras]], onde os judeus eram os dinamizadores da produção de têxteis, [[seda]]s e [[lanifício]]s. Para além do confisco de bens, os cristãos-novos foram também vítimas dos atestados de ''[[limpeza de sangue]]'' nas candidaturas a cargos públicos, militares ou da Igreja, o que os afastava por possuírem confirmação inquisitorial.
 
Em Abril de [[1499]], um alvará proíbe a saída do Reino aos cristãos-novos e a situação de perseguição assumiu contornos drásticos na [[Páscoa]] de [[1506]]. Em [[19 de Abril]], iniciou-se uma revolta popular impulsionada por frades dominicanos contra os cristãos-novos, que se prolongou por três dias. A multidão, movida pelo fanatismo religioso, perseguiu, violou, torturou e matou centenas de pessoas acusadas de serem judias. Este episódio, conhecido como o [[Massacre de Lisboa]], acentuou o clima de crescente [[antissemitismo]] em Portugal e levou muitas famílias a abandonar o Reino.<ref>{{Citar periódico|data=2019-05-04|titulo=Massacre de Lisboa de 1506|url=https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Massacre_de_Lisboa_de_1506&oldid=55037017|jornal=Wikipédia, a enciclopédia livre|lingua=pt}}</ref> A falha da seriedade de muitas conversões levou D. João III a mandar instalar a Inquisição em Portugal em 1536 e a estabelecer uma política de distinção em relação aos cristãos-novos.
== Fim da perseguição ==
No [[século XVII]], o apoio financeiro e político dos cristãos-novos à [[Restauração da Independência|Restauração]] – através das conexões judaicas de origem portuguesa na Europa – ter-lhes-á permitido uma certa ascensão social e algumas liberdades e garantias, iniciando-se o reaparecimento dos grupos mercantis. Com a morte de [[João IV de Portugal|D. João IV]], porém, recomeça a perseguição aos cristãos-novos. Apenas a [[25 de Maio]] de [[1773]], já em plena [[Iluminismo|época das luzes]], [[Sebastião José de Carvalho e Melo]], [[primeiro-ministro]] de [[José I de Portugal|D. José I]], promulga uma lei que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos e cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que discriminavam os cristão-novos.
 
Com a Inquisição, os cristãos-novos, majoritariamente judeus conversos, não mais tiveram tranquilidade em Portugal. Continuaram, clandestinamente, a fugir para os Países Baixos, Constantinopla, Norte da África, Itália e Brasil, mantendo laços secretos e apoiando os cristãos-novos portugueses. A maioria das vítimas, bem como grande parte dos processos da [[Inquisição portuguesa|Inquisição Portuguesa]] eram cristãos-novos, assim como boa parte dos seus 25.000 processos. Para além do confisco de bens que sofriam, os cristãos-novos foram também vítimas dos atestados de ''limpeza de sangue'' nas candidaturas a cargos públicos, militares ou da Igreja, o que os afastava após possuírem confirmação inquisitorial.<ref>{{citar livro|título=Preconceito racial no Brasil-Colônia : os cristãos novos|ultimo=CARNEIRO|primeiro=Maria Luiza Tucci|editora=Brasiliense|ano=1983|local=São Paulo|página=46-47|capitulo=O preconceito racial contra os cristãos-novos em Portugal}}</ref>
Foram queimadas as listas de cristãos-novos no Reino, foi abolida a ''limpeza de sangue'' e passou a ser proibido usar a palavra cristão-novo, quer por escrito, quer oralmente. As penas para quem usasse a expressão eram pesadas. Algumas fontes referem que Sebastião José de Carvalho e Melo tomou estas medidas a favor dos cristãos-novos devido ao facto de estes, sendo na sua grande maioria comerciantes, darem um grande contributo económico a Portugal. A partir daí, os cristãos-novos passaram a poder exercer todos os cargos e empregos públicos, a par do domínio da [[burguesia]], eliminando-se as estruturas do [[Antigo Regime]]. Em [[1779]], no reinado de [[Maria I de Portugal|D. Maria I]], o [[Papa Pio VI]] concedeu autorização aos cristãos-novos para desempenharem cargos eclesiásticos, tendo ainda lhes sido concedida autorização para aderir às [[Ordem militar|ordens militares]]. A Inquisição transformou-se em [[tribunal]] de Estado, acabando com a perseguição daquela instituição clerical contra os cristãos-novos.
 
A partir do Século XVI, as ideias de ''pureza de sangue'' foram legitimadas em Portugal, vedando aos cristãos-novos as possibilidades de ocuparem cargos públicos e religiosos. O casamento misto entre os conversos e cristãos-velhos foi uma forma encontrada pelos primeiros de garantir a "limpeza do sangue" e de encobrir suas origens judaicas, fugindo das perseguições inquisitoriais. Entretanto, foi promulgado um decreto em 1671, influenciado pelo Tribunal do Santo Ofício, no qual se proibia essa prática.<ref name=":6" />
Os cristãos-novos acabaram por ser absorvido pela sociedade católica portuguesa, exceto em pequenos grupos cripto-judaicos, como os judeus de Belmonte.
 
No século XVII, o apoio financeiro e político dos cristãos-novos à [[Restauração da Independência|Restauração]] lhes permitiu uma certa ascensão social e algumas liberdades e garantias, iniciando-se o reaparecimento dos grupos mercantis. Com a morte de [[D. João IV]], porém, recomeça a perseguição aos cristãos-novos. Apenas em 25 de Maio de 1773, já em plena [[Iluminismo|época das luzes]], Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Marquês de Pombal]], primeiro-ministro de D. José I, promulga uma lei que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos e cristãos-novos, tornando inválidos todos os decretos e leis anteriores que discriminavam os conversos.<ref>{{citar livro|título=Inquisição e Cristãos-Novos|ultimo=SARAIVA|primeiro=Antônio José|editora=Editorial Estampa|ano=1985|local=Lisboa|página=232}}</ref>
== Cristãos-novos notáveis ==
[[Samuel Usque]] (que escreveu a famosa ''Consolação às Tribulações de Israel'' e a [[Bíblia de Ferrara]], dedicada a [[Gracia Mendes|Dona Gracia]], natural de Lisboa, [[mecena]]s e protetora dos judeus da [[Diáspora]] depois do [[Decreto de Alhambra]]), [[Pedro Nunes (matemático)|Pedro Nunes]] (matemático), [[Abraão Usque]] (editor e tradutor), [[Garcia de Orta]] (médico e naturalista), [[Abraão Pimentel]] (Rabino da Sinagoga Portuguesa de Amsterdã), [[Ribeiro Sanches]] (médico) e [[Rodrigues Lobo]] (poeta) são alguns dos cristãos-novos portugueses com dimensão histórica e cultural nas áreas do pensamento, técnica, artes e letras. Muitos foram perseguidos por isso: Matias Pereira e Pedro Nunes Pereira, netos de Pedro Nunes, foram acusados de judaísmo e presos pela Inquisição em [[1623]]; António José da Silva foi [[garrote vil|garrotado]] antes de ser queimado num [[auto-de-fé]] em [[Lisboa]] em Outubro de [[1739]]; após a morte de Garcia de Orta, a sua irmã Catarina foi condenada por judaísmo e queimada viva num auto-de-fé em [[Goa]] em [[1569]]. Esta perseguição culminou em [[1580]] com a exumação da [[Sé de Goa]] dos restos mortais do próprio médico, tendo as suas ossadas sido queimadas numa macabra cerimónia da Inquisição.
 
Foram queimadas as listas de cristãos-novos no Reino, abolida a limpeza de sangue e passou a ser proibido usar a palavra “cristão-novo”, quer por escrito ou oralmente. As penas para quem usasse a expressão eram pesadas. A partir daí, os cristãos-novos passaram a poder exercer todos os cargos e empregos públicos, a par do domínio da burguesia, eliminando-se as estruturas do [[Antigo Regime]]. Em 1779, no reinado de [[D. Maria I]], o [[Papa Pio VI]] concedeu autorização aos cristãos-novos para desempenharem cargos eclesiásticos, tendo ainda lhes sido concedida autorização para aderir às ordens militares. A Inquisição transformou-se em tribunal de Estado, acabando com a perseguição da Igreja contra os conversos.
== Ver também ==
* [[Cristão-velho]]
* [[Criptojudeu]]
* [[Marrano]]
* [[Massacre de Lisboa de 1506]]
* [[Inquisição portuguesa]]
* [[Limpeza de sangue]]
* [[Comunidades Judaicas de Portugal]]
* [[Judeus em Portugal]]
* [[Religião em Portugal]]
 
Os cristãos-novos acabaram por ser absolvidos pela sociedade católica portuguesa, exceto em pequenos grupos criptojudaicos, como os judeus de Belmonte.
{{Notas}}
 
== Cristãos-novos no Brasil ==
{{Referências}}
Para fugir das perseguições em Portugal e também na Espanha, muitos cristãos-novos em princípios do século XVI vieram para o então [[Novo Mundo]], terra com um futuro promissor<ref name=":7">{{citar livro|título=Cristãos Novos na Bahia|ultimo=NOVINSKY|primeiro=Anita|editora=Perspectiva|ano=1972|local=São Paulo|página=57-65}}</ref> e, consequentemente, para o Brasil, que apesar de ser colônia do reino que os afugentara, era considerado um local de refúgio e recomeço por não possuir Tribunal da Inquisição nem uma estrutura eclesiástica firme, o que permitia que vivessem menos apreensivos e, junto com a boa convivência com os cristãos-velhos daqui, facilitava o criptojudaísmo.<ref name=":4">{{citar livro|título=A Inquisição em Xeque: temas, controvérsias, estudos de caso|ultimo=ASSIS|primeiro=Angelo Adriano Faria de|editora=UERJ|ano=2006|local=Rio de Janeiro|página=183|páginas=|capitulo=As "mulheres-rabi" e a Inquisição na colônia: narrativas de resistência judaica e criptojudaísmo feminino - os Antunes, macabeus da Bahia (séculos XVI-XVII)|acessodata=}}</ref> Aqueles que não retomavam as práticas judaicas ao chegar, preferiam manter as aparências e ocultar totalmente suas origens para que sua família não fosse discriminada, crescendo seus filhos e gerações seguintes na fé católica e sem ter conhecimento sobre a antiga crença de seus antepassados. <ref>{{citar livro|título=Cristãos-novos e seus descendentes na medicina brasileira (1500/1850)|ultimo=HERSON|primeiro=Bella|editora=Edusp|ano=2003|local=São Paulo|página=36|capitulo=Cristãos-novos judaizantes e cristãos-novos seguidores da fé católica na Colônia}}</ref>
 
Os cristãos novos que se estabeleceram no Brasil voluntariamente provinham de ambientes menos inclinados para a vida intelectual, e eram do ponto de vista religioso os menos ortodóxos. O Brasil não oferecia então, ambiente propício para estudos filosóficos, limitando-se os estudos aos colégios da Companhia de Jesus.<ref name=":7" />
 
Pela já citada convivência harmoniosa com os cristãos-velhos e também oportunidade de enriquecimento rápido com o avanço da produção açucareira no Brasil, muitos dos cristãos-novos que aqui fixaram residência acabaram por se tornar religiosos, vereadores e até senhores de engenho, adquirindo posses e vivendo nas mesmas condições financeiras que antigas famílias cristãs-velhas. Em um primeiro plano isto não era problema, visto que os cristãos, tanto novos quantos velhos, possuíam outros assuntos mais urgentes e relevantes para tratar na colônia, como por exemplo a falta de materiais e ferramentas para trabalho e o risco de doenças tropicais, do que suas diferenças religiosas e financeiras. Todavia, com o tempo a ascensão econômica e social dos cristãos-novos passou a incomodar, sendo as visitações do Santo Ofício a oportunidade encontrada pelos cristãos-velhos para se livrar de seus "concorrentes". <ref name=":4" />
 
No decorrer dos anos de [[Invasões holandesas no Brasil|ocupação holandesa]], aumentou de forma considerável no Brasil a migração de cristãos-novos de Portugal e portugueses cristãos-novos da Holanda.<ref>{{citar livro|título=Cristãos-novos e seus descendentes na medicina brasileira (1500/1850)|ultimo=HERSON|primeiro=Bella|editora=Edusp|ano=2003|local=São Paulo|página=89|páginas=|capitulo=Médicos cristãos-novos no Brasil Holandês|acessodata=}}</ref>Contudo, após a expulsão dos holandeses em 1654, as perseguições voltaram com mais força. Cristãos-velhos denunciaram vários cristãos-novos que, com a liberdade obtida anteriormente sob domínio dos holandeses, praticavam de maneira descarada o judaísmo, sendo que até então ninguém sequer desconfiava que eram judeus. A economia, principalmente açucareira, fonte de renda de grande parte dos cristãos-novos no nordeste e norte do país, foi seriamente prejudicada.<ref name=":5">{{citar livro|título=Cristãos-novos e seus descendentes na medicina brasileira (1500/1850)|ultimo=HERSON|primeiro=Bella|editora=Edusp|ano=2003|local=São Paulo|página=93|páginas=|capitulo=A situação de cristãos-novos no Brasil depois da expulsão holandesa|acessodata=}}</ref>
 
Alguns donos de engenho, lavradores e homens de negócio cristãos-novos da Paraíba e Rio de Janeiro foram arruinados pela Inquisição por meio conforme a leitura de processos identificados na Torre do Tombo, sendo assim o judaísmo motivo da prisão da maioria dos réus do Santo Ofício no Brasil nessa época. Bethencourt fala em cerca de 50% dos réus inquisitoriais no Brasil serem cristãos-novos de origem portuguesa.
 
Por volta de 1760, a ação do Santo Ofício diminui consideravelmente no Brasil, se tornando quase que inexistente depois da instituição das reformas do [[Sebastião José de Carvalho e Melo|Marquês de Pombal]] entre 1768 e 1774<ref>{{citar livro|título=Travessias inquisitoriais das Minas Gerais aos cárceres do Santo Ofício: diálogos e trânsitos religiosos no império luso-brasileiro (sécs. XVI - XVIII)|ultimo=FURTADO|primeiro=Júnia Ferreira|ultimo2=RESENDE|primeiro2=Maria Leônia Chaves de (Org.)|editora=Fino Traço|ano=2013|local=Belo Horizonte|acessodata=30/05/2019}}</ref>. Portugal realizava uma espécie de "troca" de cristãos-novos com o Brasil: mandava para cá os judaizantes e criminosos enquanto levava para Lisboa os cristãos-novos que aqui estavam e eram acusados pela Inquisição. Alguns donos de engenho, lavradores e homens de negócio cristãos-novos da Paraíba e Rio de Janeiro foram arruinados pela Inquisição por meio do [[Lourenço de Mendonça|Dr. Lourenço de Mendonça]], considerado ''"o mais implacável inimigo dos cristãos-novos nos meados do século XVII"'', conforme a leitura de processos identificados na [[Arquivo Nacional da Torre do Tombo|Torre do Tombo]],<ref name=":5" />sendo assim o judaísmo motivo da prisão da maioria dos réus do Santo Ofício no Brasil nessa época. Bethencourt fala em cerca de 50% dos réus inquisitoriais no Brasil serem cristãos-novos de origem portuguesa<ref>{{citar livro|título=História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália - Séculos XV-XIX|ultimo=BETHENCOURT|primeiro=Francisco|editora=Companhia das Letras|ano=2000|local=São Paulo|página=406}}</ref>
 
== Criptojudaísmo Feminino ==
 
Com a instauração dos Tribunais da Inquisição e a imposição de proibições aos ritos e práticas judaicas, a religião se viu ameaçada e muito debilitada, sendo necessário modificar e adaptar seus costumes para que não sumisse completamente e, assim, continuasse a ser passada às novas gerações. Deste modo, não só as práticas religiosas como também o papel da mulher dentro do judaísmo sofreram modificações.<ref name=":1">{{citar livro|título=A Inquisição em Xeque: temas, controvérsias, estudos de caso|ultimo=ASSIS|primeiro=Angelo Adriano Faria de|editora=UERJ|ano=2006|local=Rio de Janeiro|página=180|páginas=|capitulo=As "mulheres-rabi" e a Inquisição na colônia: narrativas de resistência judaica e criptojudaismo feminino - os Antunes, macabeus da Bahia (séculos XVI-XVII)|acessodata=}}</ref>
 
Anteriormente, as funções mais importantes da religião eram atribuídas aos homens. No entanto, após a entrada da doutrina hebraica na ilegalidade, as mulheres acabaram assumindo este papel, se tornando as principais fontes de resistência e disseminadoras dos ideais disfarçados, ajudando, assim, na reestruturação do judaísmo na época inquisitorial. <ref name=":1" />
 
Sendo as mulheres tratadas de maneira inferior e incumbidas dos serviços domésticos, bem como da criação dos filhos e preparação de alimentos e celebrações sagradas enquanto os homens ocupavam cargos, obtinham lugares privilegiados nos cultos e recebiam melhor educação dentro da religião tradicional, foram nas mãos delas que recaiu a responsabilidade de dar continuidade às suas crenças quando Portugal condenou tais práticas. Desta maneira, por não mais serem permitidas sinagogas, escolas e celebrações na lei de Moisés, o aprendizado se dava apenas dentro de casa e na maioria das vezes de forma oral, pois era muito arriscado ter as escrituras sagradas. Com os homens trabalhando fora e constantemente ausentes por conta das distâncias, as mulheres foram então encarregadas de prover a família não só de alimentos e serviços domésticos como também dos ensinamentos religiosos (papel antes reservado aos homens), que eram passados enquanto criavam e educavam seus filhos. <ref name=":2">{{citar livro|título=A Inquisição em Xeque: temas, controvérsias, estudos de caso|ultimo=ASSIS|primeiro=Angelo Adriano Faria de|editora=UERJ|ano=2006|local=Rio de Janeiro|página=181-182|páginas=|capitulo=As "mulheres-rabi" e a Inquisição na colônia: narrativas de resistência judaica e criptojudaismo feminino - os Antunes, macabeus da Bahia (séculos XVI-XVII)|acessodata=}}</ref> Há então uma "suavização" na rigidez dos antigos costumes para que conseguissem lidar com a nova realidade, encontrando-se agora a mulher em situação de destaque no judaísmo e na resistência.<ref name=":1" />
 
Segundo Anita Novinsky, citada por Assis:<blockquote>
''"(...) A casa foi o lugar do culto, a casa tornou-se o próprio Templo. No Brasil colonial, como em Portugal, somente em casa os homens podiam ser judeus. Eram cristãos para o mundo e judeus em casa. Isso teria sido impossível sem a participação da mulher. (...) mulheres cristãs-novas apresentaram no Brasil uma resistência passiva e deliberada ao catolicismo. Foram prosélitas; recebiam e transmitiam as mensagens orais e influenciavam as gerações mais novas".<ref name=":2" />''</blockquote>
Um dos exemplos da influência feminina no criptojudaísmo é a [[Ester|Rainha Ester]]. Apesar de não ser contemporânea da Inquisição, era judia e escondia sua origem e crenças de seu marido [[Assuero]], Rei da Pérsia, vivendo como os criptojudeus. Seu sofrimento era comparado às perseguições sofridas pelos cristãos-novos e sua prece, a "Oração de Ester", acabou se tornando uma espécie de hino criptojudaico, ajudando na resistência dos cristãos-novos ao forçado catolicismo.<ref name=":2" />
 
No Brasil colônia temos também [[Ana Rodrigues]], esposa de Heitor Antunes. De origem judia, seu marido se orgulhava de descender dos antigos [[Macabeus]], fato que mais tarde foi um dos motivos usados para denúncia e condenação de Ana pela Inquisição de Lisboa. Mesmo frequentando missas e vivendo publicamente como cristã, Ana tomou as rédeas dos negócios do marido após seu falecimento, incluindo a sinagoga clandestina que mantinha em um de seus engenhos na Bahia, e fazia em casa festas e ritos judaicos, se recusando a aceitar as práticas católicas. Foi a única cristã-nova condenada e queimada em efígie entre os acusados durante a primeira visitação do Santo Ofício no Brasil.<ref name=":3">{{citar livro|título=A Inquisição em Xeque|ultimo=ASSIS|primeiro=Angelo Adriano Faria de|editora=UERJ|ano=2006|local=Rio de Janeiro|páginas=184-190|capitulo=As "mulheres-rabi" e a Inquisição na colônia: narrativas de resistência judaica e criptojudaísmo feminino - os Antunes, macabeus da Bahia (séculos XVI-XVII)}}</ref><blockquote>
''"Mártir da religião proibida, Ana sofreu pressões, ofensas, intolerâncias, calúnias, discriminações e punições por lutar pelo resgate e continuidade da identidade de seu povo. Não foi vencida, pois ensinava a tradição mosaica aos filhos e contribuía para manter vivos a memória e os ideais da religião oculta que insistia em acreditar". <ref name=":3" />''</blockquote>Fica configurada, assim, a importância da mulher na resistência e no criptojudaísmo feminino, tanto em Portugal como no Brasil colônia.
<br />{{notas}}<br />
== Referências ==
<references />
 
== Bibliografia ==
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* Diciopédia 2006 DVD-ROM, Porto Editora Multimédia
 
* VÁRIOS, Dicionário da História de Portugal vol. II – Direcção de Joel Serrão, Livraria Figueirinhas/Porto – pp.&nbsp;232–235
BETHENCOURT, Francisco. '''História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália - Séculos XV-XIX.''' São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
* NEVES, Pedro Almiro, MAIA, Cristina, BAPTISTA, Dalila e AMARAL, Cláudia, Novo Clube de História 8 – Parte 1, Porto Editora, 2006, pp.&nbsp;130–136
 
* POETTERING, Jorun, ''Migrating Merchants. Trade, Nation, and Religion in Seventeenth-Century Hamburg and Portugal'', Berlin, De Gruyter, 2019, ISBN 978-3-11-046993-6.
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. '''Preconceito Racial no Brasil Colônia: Os cristãos-novos'''. São Paulo: Brasiliense, 1983
* VÁRIOS, Nova Enciclopédia Larousse vol. 7, Círculo de Leitores, 1999, pp.&nbsp;2091–2092
 
* VÁRIOS, Nova Enciclopédia Larousse vol. 12, Círculo de Leitores, 1999, pp.&nbsp;3686–3687
FURTADO, Júnia Ferreira; RESENDE, Maria Leônia Chaves de (Org.). '''Travessias inquisitoriais das Minas Gerais aos cárceres do Santo Ofício: diálogos e trânsitos religiosos no império luso-brasileiro (sécs. XVI - XVIII)'''''.''1ª edição - Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.
* VÁRIOS, Nova Enciclopédia Larousse vol. 18, Círculo de Leitores, 1999, pp.&nbsp;5602–5603
 
* Subsídios para o estudo genealógico dos judeus e cristãos-novos e a sua relação com as famílias portuguesas, por Manuel Abranches de Soveral, in soveral.info
HERSON, Bella. Cristãos-novos e seus descendentes na medicina brasileira (1500/1850). 2ª edição - São Paulo: Editora USP, 2003
 
LIPINER, Elias. '''Santa Inquisição: terror e linguagem'''. Rio de Janeiro: Documentário, 1977
 
NOVINSKY, Anita. '''Cristãos novos na Bahia'''. São Paulo: Perspectiva, 1972.
 
SARAIVA, Antônio José. '''Inquisição e Cristãos-Novos'''. 5ª ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1985
== Ligações externas ==
* {{link||2=http://www.estudosjudaicos.ubi.pt/rsanches_obras/cristaosnovos_cristaosvelhos.pdf|3=Cristãos novos e Cristãos velhos em Portugal|4=escrito por [[Ribeiro Sanches]] em 1748 (em formato [[PDF]])}}
* [http://newensign.christsassembly.com/A%20History%20of%20The%20Marranos.pdf Uma história dos marranos, autor Cecil Roth]
* [https://archive.org/details/episdiosdram01baiuoft Episódios dramáticos da inquisição portuguesa, v. 1, Antonio Baião]
* [https://archive.org/details/episdiosdram02baiuoft Episódios dramáticos da inquisição portuguesa, v. 2, Antonio Baião]
* {{link||2=http://www.cm-belmonte.pt/Judeus/judeus.html|3=Cristãos-novos em Belmonte|4=www.cm-belmonte.pt}}
* {{link||2=http://www.estudosjudaicos.ubi.pt/rsanches_obras/cristaosnovos_cristaosvelhos.pdf|3=www.estudosjudaicos.ubi.pt|4=(em formato [[PDF]])}}
* [https://web.archive.org/web/20080507021229/http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/alm150720031.htm Observatorio.ultimosegundo.ig.com.br]
 
USQUE, Samuel. '''Consolação às Tribulações de Israel.''' Coimbra: Mendes dos Remédios, 1906/1907.
{{Religião em Portugal}}
{{Portal3|Religião}}
 
VAINFAS, Ronaldo; FEITLER, Bruno Guilherme; LAGE, Lana (Org.). '''A Inquisição em xeque: temas, controvérsias, estudos de caso'''. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2006.
{{DEFAULTSORT:Cristao novo}}
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