Anarquismo no Brasil: diferenças entre revisões

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corr. do modo de citar a fonte "Anarquismo em papel e tinta: imprensa, edição e cultura libertária (1945-1968)"
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===Práticas sindicais, culturais e de solidariedade===
 
O Congresso Anarquista de 1948 havia salientando a necessidade dos militantes libertários ingressarem nos sindicatos de suas respectivas profissões, procurando intervir na vida orgânica dos mesmos e formando grupos de defesa ou resistência sindical, com base nos princípios do sindicalismo revolucionário.{{Sfn|Silva|2017a|p=31}} Na imprensa anarquista, eram comuns duras críticas à estrutura corporativista e ao que chamavam de "sindicalismo pelego", ao mesmo tempo em que havia um incentivo às lutas sindicais de base, acreditando que, através delas, seria possível um novo despertar do sindicalismo revolucionário.{{Sfn|Silva|2017a|p=34}} Houve uma preocupação em divulgar as concepções anarquistas ao operariado, especialmente através da imprensa. O jornal ''Ação Direta'' foi distribuído no Rio de Janeiro em locais onde havia uma grande afluência de trabalhadores, em bancas em frente à fábricas, pontos de bondes ou de lotações.{{Sfn|Silva|2014|p=111}} Em meio à efervescência grevista no processo de democratização, os anarquistas, ainda no ano de 1946, tentaram formar grupos de oposição sindical, como a União Proletária Sindical de São Paulo, de vida efêmera.{{Sfn|Silva|2017a|p=34}} Investidas mais concretas se deram em 1951, com a constituição do Grupo de Orientação Sindical dos Trabalhadores da Light no Rio de Janeiro, que editou um jornal específico para as questões sindicais da categoria, chamado ''UNIR'', e em 1953, com a constituição do Movimento de Orientação Sindical (MOS) em São Paulo, que contou com a participação de anarquistas, socialistas independentes, sindicalistas e “militantes de várias categorias profissionais”, especialmente no setor dos trabalhadores gráficos.{{Sfn|Silva|2017a|p=35}}{{Sfn|Silva|2017a|p=37}} O MOS chegou a editar, em 1958 o jornal ''Ação Sindical'', e no mesmo ano lançou sem sucesso uma chapa de oposição no interior dos sindicato dos gráficos, defendendo a neutralidade política, a autonomia sindical e os métodos de ação direta.{{Sfn|Silva|2017a|p=39-40}} De maneira mais isolada, o militante carioca Serafim Porto foi bastante ativo entre os professores do Rio de Janeiro e Edgard Leuenroth integrou diversos congressos e iniciativas de organização dos jornalistas paulistas, sendo inclusive nomeado presidente da Comissão de História da Imprensa em 1957, ano em que também participou do VII Congresso de Jornalistas, pela delegação de São Paulo.{{Sfn|Silva|2017a|p=36}} Encontrando dificuldades para uma maior inserção nos sindicatos para além das modestas iniciativas tentadas, os anarquistas passaram a se dedicar, sobretudo na década de 1960, às ações culturais.{{Sfn|Silva|2017a|p=39}} Durante essa época, o filósofo [[Mário Ferreira dos Santos]] traduziu e publicou a obra na qual o anarquista alemão [[Rudolf Rocker]] discorria sobre as origens do pensamento [[Socialismo libertário|social-libertário]].{{HarvRefSfn|name=Viana,Allyson|Allyson Bruno|2014|p=241|url=https://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/10493}} Na mesma época, Mário lançou o livro ''Análise Dialética do Marxismo'', onde fazia uma crítica libertária ao marxismo.{{HarvRefSfn|name=Viana,Allyson|Allyson Bruno|2014|p=241|url=https://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/10493}}
 
Desde 1947, os anarquistas de São Paulo haviam reativado do CCS e já promoviam uma série conferências, palestras, debates, grupos de teatro e saraus.{{Sfn|Silva|2014|p=160}} No Rio de Janeiro, os anarquistas terão um espaço para a realização de atividades culturais somente em 1958, com a fundação do Centro de Estudos Professor José Oiticica (CEPJO).{{Sfn|Silva|2014|p=162}} Em nível nacional, nota-se um esforço para a manutenção da imprensa anarquista, com a edição do período ''O Libertário'' entre 1960 e 1964.{{Sfn|Silva|2014|p=114}} Registraram-se também iniciativas editoriais, visando a difusão de livros de propaganda anarquista, destacando-se a Editora Germinal, no Rio de Janeiro, mantida pelo português Roberto das Neves, e as Edições Sagitário, mantida pelos anarquistas de São Paulo.{{Sfn|Silva|2014|p=113}} O foco nas iniciativas culturais se deram num contexto de manutenção mínima do anarquismo, onde tais atividades serviram como um meio para manter um vínculo entre as novas e velhas gerações de militantes e simpatizantes. {{Sfn|Silva|2017b|p=212}} Com a concretização do [[golpe de 1964]], os anarquistas logo reuniram-se para fazer um balanço da situação política.{{HarvRef|name=silva213|Silva|2017b|p=213}} O CEPJO chegou a funcionar por mais quatro anos até seu fechamento definitivo, por agentes da aeronáutica em 1968, e o CCS foi fechado após a promulgação do [[AI-5]], interrompendo suas atividades no dia 21 de abril de 1969, e que permaneceram, daí em diante, clandestinas.{{Sfn|Silva|2014|p=166}}