Cleópatra: diferenças entre revisões

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{{Artigo principal|Doações de Alexandria}}
[[imagem:011-Mark Antony, with Cleopatra VII -3.jpg|miniaturadaimagem|Um [[denário]] cunhado em {{AC|32|x}}; no [[Anverso e reverso|anverso]] há um retrato diademado de Cleópatra, com a inscrição em latim "CLEOPATRA[E REGINAE REGVM] FILIORVM REGVM", e no verso um retrato de Marco Antônio com a inscrição "ANTONI[VS] ARMENIA DEVICTA"{{sfnp|Classical Numismatic Group|}}{{sfnp|Gurval|2011|p=57}}]]
Enquanto Antônio preparava-se para outra expedição parta em {{AC|35|x}}, dessa vez dirigida a [[Reino da Armênia (Antiguidade)|sua aliada Armênia]], OctáviaOtávia viajou para Atenas com {{fmtn|2000}} soldados em suposto apoio ao marido, mas muito provavelmente num esquema planejado pelo irmão para constrangê-lo por suas perdas militares.{{sfn|Roller|2010|pp=97–98}}{{sfn|Burstein|2004|pp=27–28}} Recebeu essas tropas, mas disse a sua esposa que não fosse para o leste de Atenas, pois ele e Cleópatra viajaram juntos para Antioquia, apenas para abandonar de repente e inexplicavelmente a campanha militar e voltar para Alexandria.{{sfn|Roller|2010|pp=97–98}}{{sfn|Burstein|2004|pp=27–28}} Quando sua esposa voltou para Roma, Otaviano retratou sua irmã como uma vítima injustiçada por Marco Antônio, embora ela se recusasse a deixar sua casa.{{sfn|Roller|2010|p=98}}{{sfn|Bringmann|2007|p=301}} A confiança de Otaviano cresceu quando eliminou seus rivais no oeste, incluindo [[Sexto Pompeu]] e até mesmo Lépido, o terceiro membro do triunvirato, que foi colocado em prisão domiciliar após [[Revolta siciliana|revoltar-se contra ele na Sicília]].{{sfn|Roller|2010|p=98}}{{sfn|Bringmann|2007|p=301}}{{sfn|Burstein|2004|p=27}}
 
Quinto Délio foi enviado como emissário a Artavasdes II em {{AC|34|x}} para negociar uma potencial [[casamento de estado|aliança matrimonial]] que iria casar a filha do rei armênio com Alexandre Hélio, seu filho com a rainha egípcia.{{sfn|Roller|2010|p=99}}{{sfn|Burstein|2004|p=28}} Quando isso foi recusado, marchou com seu exército à Armênia, derrotou forças locais e capturou o rei e a família real armênia.{{sfn|Roller|2010|p=99}}{{sfn|Burstein|2004|pp=xxii, 28}} Antônio então realizou um desfile militar em Alexandria como uma imitação de um triunfo romano, vestido como [[Dioniso]] e cavalgando pela cidade numa carruagem para apresentar os prisioneiros reais a Cleópatra, que estava sentada em um trono de ouro acima de um tablado de prata.{{sfn|Roller|2010|p=99}}{{sfn|Burstein|2004|pp=28–29}} A notícia deste evento foi fortemente criticada em Roma como uma perversão de cerimônias e rituais romanos consagrados pelo tempo a serem desfrutados por uma rainha egípcia.{{sfn|Roller|2010|p=99}}
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Em um evento realizado no [[Ginásio (Grécia Antiga)|ginásio]] logo após o triunfo, Cleópatra se vestiu de Ísis e declarou que era a Rainha dos Reis com seu filho Cesarião, [[Rei dos Reis]], enquanto Alexandre Hélio foi declarado rei da Armênia, [[Média (região)|Média]] e [[Império Parta|Pártia]], e Ptolomeu Filadelfo, de dois anos de idade, foi declarado rei da Síria e da Cilícia.{{sfn|Roller|2010|pp=99–100}}{{sfn|Bringmann|2007|pp=301–302}}{{sfn|Burstein|2004|pp=xxii, 29}} Cleópatra Selene II foi contemplada com Creta e Cirene.{{sfn|Roller|2010|p=100}}{{sfn|Burstein|2004|p=29}} Antônio e Cleópatra podem ter se casado durante essa cerimônia.{{sfn|Roller|2010|p=100}}{{sfn|Burstein|2004|pp=xxii, 29}} Ele enviou um relatório a Roma solicitando a ratificação dessas reivindicações territoriais, agora conhecidas como as doações de Alexandria. Otaviano queria divulgá-la para fins de propaganda, mas os dois cônsules, ambos partidários de seu rival, o censuraram da opinião pública.{{sfn|Roller|2010|pp=100–101}}{{sfn|Burstein|2004|p=29}}
 
Os dois entraram numa guerra acalorada de propaganda no final de {{AC|34|x}} que duraria anos.{{sfn|Roller|2010|pp=129–130}}{{sfn|Burstein|2004|p=29}}{{sfn|Jones|2006|p=xiv}} Antônio alegou que seu rival havia deposto ilegalmente Lépido de seu triunvirato e o impediu de levantar tropas na Itália, enquanto Otaviano o acusou de detenção ilegal do rei da Armênia, casar-se com Cleópatra apesar de ainda ser casado com sua irmã OctáviaOtávia, e erroneamente alegar Cesarião como o herdeiro de César em vez de si.{{sfn|Roller|2010|pp=129–130}}{{sfn|Burstein|2004|p=29}} A ladainha de acusações e fofocas associadas a essa guerra de propaganda moldaram as percepções populares sobre Cleópatra, desde a [[Literatura augustana|literatura do período]] até as várias mídias nos tempos modernos.{{sfn|Roller|2010|p=130}}{{sfn|Burstein|2004|pp=65–66}} Dizia-se que ela fizera uma lavagem cerebral em seu amante com [[Magia no mundo greco-romano|bruxaria e feitiçaria]] e era tão perigosa quanto a [[Helena (mitologia)|Helena]] de [[Homero]], que destruiu a civilização.{{sfn|Roller|2010|pp=130–131}} As ''[[Sátiras (Horácio)|Sátiras]]'' de [[Horácio]] preservaram um relato de que Cleópatra uma vez dissolveu uma pérola no valor de 2,5 milhões de dracmas em vinagre apenas para ganhar uma aposta na festa do jantar.{{sfn|Roller|2010|p=132}} A acusação de que Antônio havia roubado livros da [[Biblioteca de Pérgamo]] para reabastecer a Biblioteca de Alexandria acabou sendo uma confissão admitida por [[Caio Calvísio Sabino (cônsul em 39 a.C.)|Caio Calvísio Sabino]].{{sfn|Roller|2010|p=133}}
 
Um documento de [[papiro]] datado de fevereiro de {{AC|33|x}}, mais tarde usado para embrulhar uma [[múmia]], contém a assinatura da rainha, provavelmente escrita por um funcionário autorizado a assinar por ela.{{sfn|Roller|2010|pp=133–134}}{{sfn|Burstein|2004|p=33}} Trata-se de certas isenções fiscais no Egito concedidas a Quinto Cecílio ou [[Públio Canídio Crasso]], um ex-cônsul romano e confidente de Antônio que comandaria suas forças terrestres em [[Áccio]].{{sfn|Roller|2010|p=134}}{{sfn|Burstein|2004|p=33}} Um subscrito em caligrafia diferente na parte inferior do papiro diz "faça acontecer"{{sfn|Roller|2010|p=134}}{{sfn|Burstein|2004|p=33}} ou "assim seja"{{sfn|Reece|2017|pp=201–202}} ({{lang-grc|γινέσθωι|ginésthōi}}); este é provavelmente o autógrafo da rainha, pois era prática ptolemaica [[Sinal de referência|rubricar]] documentos para evitar falsificação.{{sfn|Roller|2010|p=134}}{{sfn|Burstein|2004|p=33}}
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Antônio e Cleópatra viajaram juntos para Éfeso em 32 aC, onde ela lhe forneceu 200 dos 800 navios da marinha que conseguiu adquirir. Enobarbo, desconfiado de confirmar a propaganda de Otaviano ao público, tentou convencer Antônio a excluir Cleópatra da campanha contra seu adversário. Públio Canídio Crasso fez o contra-argumento de que a rainha estava financiando o esforço de guerra e era uma monarca competente. Cleópatra recusou os pedidos de seu parceiro de que voltasse ao Egito, julgando que, ao bloquear Otaviano na Grécia, poderia mais facilmente defender o Egito. A insistência de Cleópatra em se envolver na batalha pela Grécia levou a deserções de romanos importantes, como Enobarbo e [[Lúcio Munácio Planco]].
 
Durante a primavera de 32 aC, Antônio e Cleópatra viajaram para Atenas, onde ela o convenceu a enviar a Otávia uma declaração oficial de divórcio. Isso encorajou Planco a aconselhar Otaviano de que deveria aproveitar o testamento de Antônio, investida nas [[Vestal|Virgens Vestais]]. Embora fosse uma violação dos direitos sagrados e legais, Otaviano adquiriu com força o documento do [[Templo de Vesta]], e tornou-se uma ferramenta útil na guerra de propaganda contra seus adversários no Egito. Otaviano destacou partes do testamento, como Cesarião sendo nomeado herdeiro de César, de que as doações de Alexandria eram legais, que Antônio deveria ser enterrado ao lado de Cleópatra no Egito, em vez de Roma, e que Alexandria seria feita a nova capital da República Romana. Numa demonstração de lealdade a Roma, Otaviano decidiu começar a construção de [[Mausoléu de Augusto|seu próprio mausoléu]] no [[Campo de Marte (Roma)|Campo de Marte]]. Sua posição legal também foi aprimorada ao ser eleito cônsul no ano seguinte. Com a vontade de Antônio tornada pública, Otaviano teve seu ''[[casus belli]]'', e Roma declarou guerra a Cleópatra, não ao comandante. O argumento legal para a guerra se baseava menos nas aquisições territoriais de Cleópatra, com antigos territórios romanos governados por seus filhos com Antônio, e mais no fato de que ela estava fornecendo apoio militar a um cidadão privado agora que a autoridade triunviral dele havia expirado.
 
== Árvore genealógica ==