Imigração italiana no Rio Grande do Sul: diferenças entre revisões

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O traçado das sedes seguia o modelo da malha romana ortogonal, desconsiderando inteiramente a [[topografia]] dos terrenos, o que mais tarde daria origem a problemas de [[urbanização]]. O desenvolvimento dessas sedes foi muito irregular. Algumas bem rápido cresceram para vilas dinâmicas e bem organizadas, com escola, igreja e outros edifícios públicos, como Bento Gonçalves (ex-Colônia Dona Isabel), Garibaldi (ex-Conde d'Eu) e Silveira Martins (ex-Quarta Colônia).<ref name="Pessin"/><ref name="Antropolítica"/> Contudo, Bento Gonçalves teve seu desenvolvimento prejudicado até 1917, quando foi ligada às ferrovias estaduais,<ref name="César"/> e Antônio Prado, que foi prevista pelo governo para se tornar a cabeça da região, acabou estagnando devido ao desvio de uma estrada fundamental para a interligação entre essa zona e o norte do Brasil, que acabou passando por Caxias, o que permitiu a preservação quase intacta do seu [[Centro Histórico de Antônio Prado|centro histórico]].<ref>Iphan / Programa Monumenta. ''Memória e Preservação: Antônio Prado - RS''. Série Preservação e Desenvolvimento, 2009, p. 7</ref> Caxias assumiu um claro protagonismo regional desde o início. Enquanto que Conde d"Eu, Dona Isabel, Flores da Cunha, São Marcos e Antônio Prado permaneceram por décadas semi-isoladas no fundo de "ruas sem saída", quando Caxias transferiu sua sede de [[Nova Milano]] para o chamado [[Centro Histórico de Caxias do Sul|Campo dos Bugres]] em 1877 encaixou-se no próprio entroncamento de todas as principais trilhas e estradas percorridas naquela época para o trânsito de gentes e o comércio de gado e víveres.<ref name="César"/>
 
Nesta situação privilegiada, em apenas dez anos Caxias já tinha um comércio forte e organizado e dezenas de manufaturas e oficinas, além de já contar com duas sedes secundárias em rápido crescimento: Nova Trento (Flores da Cunha) e Nova Milano. Depois da chegada do trem em 1910, substituiu São Sebastião do Caí como o principal entreposto comercial da região das colônias, e com a construção da [[Ponte do Korff]] e o desvio da [[BR 116]], arrebatou os elementos que faltavam para controlar as principais vias de transporte de toda a região nordeste do estado, sendo passagem obrigatória para quase tudo o que vinha do Prata e do norte do país por via terrestre.<ref name="Associação"/><ref name="Antropolítica"/><ref> Machado, Maria Abel & Herédia, Vania Beatriz Merlotti. ''Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul: 100 Anos de História 1901-2001''. Maneco, 2001</ref><ref>Keiber, Daiana Cristani da Silva & Radünz, Roberto. "A história social de migrantes através de fontes judiciais: o caso do quartel". In: Radünz, Roberto & Herédia, Vania (orgs.). ''140 anos da imigração italiana no Rio grande do Sul''. EdUCS, 2015, pp. 451-460 </ref><ref name="César"/>
 
Essa condição de cabeça das colônias naturalmente foi acompanhada pela formação muito precoce de uma elite empresarial, muito ativa politicamente, com fortes laços com o governo e expressiva influência na condução dos assuntos públicos. Todas as Câmaras Municipais das ex-colônias nas primeiras décadas de atividade foram ocupadas principalmente pelos comerciantes e industriais mais ricos do lugar, e não demorou para que italianos ocupassem as [[Intendência]]s. Mais tarde, diversos seriam deputados, governadores e ministros. Caxias foi o exemplo paradigmático neste processo de estruturação de uma nova sociedade — "colmeia extraordinária que todo o estado conhece e admira", foi chamada por [[Júlio de Castilhos]] de "a Pérola das Colônias", apelido que ainda mantém —, e embora por sua amplitude e influência regional seu caso seja único, em todas as outras sedes principais uma elite também se formou e assumiu papel semelhante.<ref name="conflitos">Machado, Maria Abel. "Empresários na busca do poder político: acordos e conflitos. Caxias do Sul, 1894-1935". In: Primeiras Jornadas de História Regional Comparada. Porto Alegre, 23-25/08/2000</ref><ref>Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Onzi, Geni Salete (org.)]. ''Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul''. São Miguel, 2012, pp. 26-35</ref><ref name="Associação"/> O empresariado se reunia nas [[Associação dos Comerciantes|Associações de Comerciantes]], entidades que mais do que representar os interesses da classe patronal do comércio propriamente dito, incorporavam também os industriais e eram importantes veículos para a manifestação dos produtores rurais, numa época em que a economia regional ainda dependia fundamentalmente do campo. Desta forma, as Associações articulavam uma ampla rede de agentes de variados setores e se tornavam uma força decisiva na administração pública.<ref name="conflitos"/><ref name="Associação"/><ref name="César"/>