Imigração italiana no Rio Grande do Sul: diferenças entre revisões

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[[File:Altar-mor da Catedral de Caxias do Sul.jpg|thumb|left|Detalhe do altar-mor [[neogótico]] da [[Catedral de Caxias do Sul]], obra de [[Francisco Meneguzzo]].]]
 
De qualquer modo, todas as principais colônias já estavam emancipadas na década de 1890, e as outras as seguiram em rápida sucessão. Segundo Spolaor, todas as vilas coloniais buscaram a emancipação motivadas "pela possibilidade de melhorar a qualidade de vida e pela necessidade de acesso a direitos básicos como saúde, educação, geração de emprego e melhores vias de acesso", mas "as políticas emancipatórias não tinham propostas concretas, nem o Estado. Em nenhum momento foram construídas alternativas políticas, como programas de desenvolvimento rural, que fossem capazes de gerar emprego e renda, conciliando desenvolvimento social com preservação ambiental".<ref name="Spolaor">Spolaor, Silvane. ''Os papéis urbanos nas pequenas cidades da região da Quarta Colônia-RS''. Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, 2010, pp. 31-33</ref> A consciência ecológica, na verdade, não existia no início do século XX, e outros autores têm visões diferentes, apontando para a existência em geral, entre os líderes comunitários, de uma consciência clara das necessidades práticas e da necessidade de se trabalhar em cooperação para alcançar os objetivos, uma capacidade de articular-se vantajosamente com a elite governante do estado, mesmo que com eventuais atritos, uma confiança na capacidade inata da comunidade como um todo de prosperar, e uma organizaçãoadministração bastante eficiente e dinâmica das prioridades coletivas, e uma prova disso seria esse mesmo crescimento, mesmo que os avanços tenham sido liderados muitas vezes pelos empresários e até pelos religiosos, e não pelos políticos, e uma prova disso seria esse mesmo crescimento.<ref name="conflitos"/><ref name="Associação"/><ref name="Valduga"/><ref name="Armellini"/> Para Santos & Zanini, "podem ser encontradas semelhanças entre a colonização de Caxias do Sul e cidades de colonização alemã, até de outros estados, como, por exemplo, a de [[Blumenau]], em Santa Catarina, onde, analogamente a Caxias, instaurou-se uma forte [[burguesia]] comercial e industrial vinculada à colonização, que incentivou a manutenção de uma distintividade baseada na etnicidade", onde "observa-se a italianidade como sentimento de pertencimento baseado numa origem que dialogou historicamente com vários períodos da vida regional e nacional".<ref name="Antropolítica">Santos, Miriam de Oliveira & Zanini, Maria Catarina Chitolina. "Especificidades da Identidade de descendentes de italianos no sul do Brasil: breve análise das regiões de Caxias do Sul e Santa Maria". In: ''Antropolítica'', 2009; (27)</ref>
 
Com a colaboração de uma classe de funcionários públicos, essa elite, que incluía algumas grandes fortunas, como foi o caso clássico de [[Abramo Eberle]], promoveu um rico florescimento intelectual e cultural de perfil erudito, o que além de expressar a evolução dos costumes e ideologias estéticas, também era uma prova do sucesso material e uma forma de afirmação social. Nas primeiras décadas do século XX nas principais cidades coloniais já havia jornais, cinemas, teatros, orquestras, grupos teatrais e líricos, [[sarau]]s literários, quermesses beneficentes e ações coletivas para ajuda dos pobres e da Igreja. Multiplicavam-se os grandes casarões de alvenaria, alguns verdadeiros palacetes, e os de madeira eram ampliados e ornamentados com lambrequins e outros detalhes artísticos, substituindo a paisagem urbana primitiva composta de habitações pequenas e rústicas. Também as Matrizes coloniais eram substituídas por edifícios mais sólidos e imponentes, às vezes decorados com grande requinte, ostentando grandes altares entalhados e dourados, pinturas e estatuária produzidos por artesãos e artistas locais. A socialização era intensificada pela fundação de uma série de associações de mútuo socorro, associações comerciais, círculos religiosos leigos, diretórios de partidos políticos, e sobretudo pela criação de clubes sociais, esportivos, culturais e recreativos. Nestes locais eram articuladas e debatidas ideias, filosofias e modos de vida, sendo importantes centros disseminadores de tendências culturais, ideológicas e sociais.<ref name="Rovílio"/><ref>Machado, Maria Abel. ''Construindo uma Cidade: História de Caxias do Sul - 1875-1950''. Maneco, 2001, pp. 50-62</ref> Como já foi mencionado, esse notável progresso chamou a atenção das autoridades do estado, e mesmo das autoridades italianas, que depois de um período de negação da sua responsabilidade pela fuga populacional, agora se mostravam desejosas de restabelecer o contato com os filhos expatriados da Itália.<ref name="Iotti"/>