Erythroxylaceae: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
A.luizts (discussão | contribs)
Houve uma atualização dos dados anteriormente apresentados e uma reestruturação do conteúdo para maior clareza.
A.luizts (discussão | contribs)
Novamente, houve uma atualização dos dados anteriormente apresentados e uma reestruturação do conteúdo para maior clareza.
Linha 42:
Seus frutos são do tipo drupa e estes abrigam apenas uma semente. O endosperma é amiláceo (não lipídico) e cada semente possui dois cotilédones, o que faz com que as plantas da família sejam classificadas como dicotiledôneas <ref name=":1" />.
 
== Importância econômica ==
===Distribuição===
As folhas de ''[[Coca|Erythroxylum coca]]'' e ''[[Erythroxylum novagranatense]]'' produzem [[Alcaloide|alcalóides]] do grupamento tropano ([[cocaína]]). Este alcalóide já foi de importância econômica, sendo usufruído de forma medicinal. No século XX, era utilizado para o tratamento de doenças reumáticas, doenças gástricas, atonia e gengivite, por exemplo. Também era de uso legalizado na composição de anestésicos e de diversos produtos vendidos em farmácias, como xaropes e pastilhas. Após comprovada a toxicidade dos alcalóides extraídos da planta, em especial pelo uso contínuo e em altas doses, tornou-se uma substância ilegal, sendo considerada um amplo problema de saúde pública <ref>{{Citar periódico|ultimo=Lima|primeiro=Matheus Eugênio de Sousa|ultimo2=Cunha|primeiro2=Samuel Frota|ultimo3=Lopes|primeiro3=Lívia Maria Eugênio|ultimo4=Bachur|primeiro4=Tatiana Paschoalette Rodrigues|data=2018-02-26|titulo=Uso da cocaína: de Chernoviz (1904) aos dias atuais|url=http://dx.doi.org/10.22280/revintervol11ed1.328|jornal=Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade|volume=11|numero=1|doi=10.22280/revintervol11ed1.328|issn=1984-3577}}</ref>. A ''[[Erythroxylum vacciniifolium]]'' é também de importância econômica, conhecida pelo nome popular catuaba. É uma espécie brasileira, sendo muito usada por suas propriedades afrodisíacas e como remédio para disfunção erétil. Atualmente, é muito comum encontrar em mercados a venda de bebidas alcoólicas à base de catuaba <ref>{{Citar periódico|ultimo=Zanolari, Boris|titulo=Natural aphrodisiacs|url=http://dx.doi.org/10.22005/bcu.15983|jornal=Patrinum|lingua=fr|doi=10.22005/bcu.15983}}</ref>.
A família Erythroxylaceae apresenta [[distribuição pantropical]] com espécies que se repartem desde as regiões tropicais, onde se concentra o grosso da [[biodiversidade]] do agrupamento, até às regiões subtropicais do continente africano. O principal [[centro de diversidade]] da família está na região tropical da periferia andina da [[América do Sul]], região onde ocorre o maior número de espécies e de [[endemismo]]s (especialmente no noroeste do Brasil e na Venezuela).<ref name="daly">Daly, D. 2004. "Erythroxylaceae", pp. 143-145. In: Smith, N.; Mori, S.A.; Henderson, A.; Stevenson, D.W. & Heald, S.V. (eds.). ''Flowering plants of the Neotropics''. The New York Botanical Garden, Princeton University Press, New York.</ref> O género com maior número de espécies (cerca de 230) é ''[[Erythroxylum]]'' <small>P.Browne</small>, que apresenta distribuição ampla, ocorrendo nos trópicos de todos os continentes e na [[Oceania]]. A coca, ''[[Erythroxylum coca]]'', é originária das encostas escarpadas dos [[Cordilheira dos Andes|Andes]] amazónicos.
 
== Domínios e Estados de ocorrência no Brasil ==
Os restantes géneros (''[[Aneulophus]]'' <small>[[Benth.]]</small>, ''[[Nectaropetalum]]'' <small>[[Engl.]]</small> e ''[[Pinacopodium]]'' <small>Exell & Mendonça</small>), apresentam número reduzido de espécies e distribuição exclusiva na África.<ref>Plowman, T.C. & Berry, P.E. 1999. "Erythroxylaceae". In: Steyermark, J.A.; Berry, P.E.; Holst, B. & Yatskievych, K. (editores). ''Flora of Venezuelana Guayana'' 5: 59-71.</ref><ref name="APW">[http://www.mobot.org/MOBOT/Research/APweb/orders/malpighialesweb.htm#Erythroxylaceae Erythroxylaceae no APWebsite].</ref>
Espécies da família Erythroxylaceae Kunth são encontradas em 5 domínios fitogeográficos brasileiros, sendo estes a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal. Os estados cuja presença de tais plantas é confirmada são, por região <ref>{{citar web|url=http://servicos.jbrj.gov.br/flora/search/Erythroxylaceae|titulo=Erythroxylaceae in Flora do Brasil 2020 em construção.|data=|acessodata=13 de novembro de 2019|publicado=Jardim Botânico do Rio de Janeiro|ultimo=|primeiro=}}</ref>:
 
* Norte: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins;
O grupo apresenta grande versatilidade ecológica, com espécies registadas em vários tipos de vegetação no semi-árido ([[caatinga]], [[campos rupestres]], [[florestas serranas]] e [[florestas estacionais]]) ocorrendo em diferentes níveis de elevações, desde o nível do mar até [[habitat]]s montanhosos acima de 900&nbsp;m de altitude.<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-78602014000300006 James Lucas da Costa-Lima; Maria Iracema Bezerra Loiola; Jomar Gomes Jardim, "Erythroxylaceae no Rio Grande do Norte, Brasil". ''Rodriguésia'', vol.65 (jul./set. 2014), n.º 3, Rio de Janeiro] (http://dx.doi.org/10.1590/2175-7860201465306 ).</ref>
* Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe;
* Centro-Oeste: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso;
* Sudeste: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo;
* Sul: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina.
 
== Relações filogenéticas ==
A família tem [[distribuição pantropical]], sendo que o género ''[[Nectaropetalum]]'' tem três espécies africanas, o género ''[[Pinacopodium]]'' apresenta pelo menos uma espécie na [[bacia do rio Congo]], e o género ''[[Erythroxylum]]'' estende-se pela Ásia, Austrália, ilhas da Oceania e ambas as Américas. As populações sul-americanas de Erythroxylaceae do género ''[[Erythroxylum]]'' estão frequentemente ameaçadas devido ao corte indiscriminado nas áreas reduzidas onde ocorrem. Contudo, mostram uma larga adaptação por parte das espécies sul e centro-americanas a condiciones distintas dos bosques húmidos originários. Conta com numerosas espécies endémicas, algumas com um área de distribuição pequena, as quais ocupam as regiões desérticas tropicais quentes e os bosques húmidos amazónicos, entre os 150 e os 720&nbsp;m de altitude. As espécies estão muitas vezes muito especializadas, adaptadas a um tipo de habitat concreto, o que dificulta a sua expansão. Algumas espécies evitam as zonas de selva inundável.
Estudos utilizando dados morfológicos e moleculares elucidaram uma relação entre a família Erythroxylaceae Kunth com outra família de angiospermas da ordem Malpighiales, a Rhizophoraceae. Logo, estes foram inferidos como grupos-irmãos. Este clado tem como sinapomorfias: alcalóides do grupo tropano e pirrolidínico, presença de coléteres, gemas terminais protegidas por estípulas e embrião verde. Há a discordância entre especialistas na área em manter Erythroxylaceae Kunth como uma família independente ou inseri-la em Rhizophoraceae <ref>LIMA, James Lucas da Costa. '''Erythroxylaceae Kunth no norte do domínio Atlântico'''. 2014. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.</ref>.
 
===Usos= Curiosidades ==
Em países que apresentam elevadas altitudes, como a Bolívia, devido à  indisposição causada nas pessoas por consequência do ar rarefeito (pouco denso), há o costume local de mascar folhas da planta ''[[Coca|Erythroxylum coca]],'' que aliviam os sintomas de dores de cabeça, náusea, tontura, perda de apetite e respiração curta <ref>PLOWMAN, Timothy; PACINI, Deborah; FRANQUEMONT, Christine. '''“Coca and cocaine: effects on people and policy in Latin America'''”. (1986): 5-34.</ref>.
As Erythroxylaceae são ricas em [[alcalóide]]s, apresentando elavadas concentrações de uma vasta gama de compostos. Entre os compostos presentes contam-se [[antocianidina]]s (como a [[cianidina]]) e [[flavonóide]]s (como o [[kaempferol]] e a [[quercetina]]). Algumas espécies são ricas em [[saponina]]s. As [[semente]]s contêm [[amido]].
 
Outra característica química deste grupo é a presença em algumas espécies de alcaloides do grupo [[tropano]], entre os quais se destaca a [[cocaína]], um alcaloide natural produzido, entre outras espécies, por ''[[Erythroxylum coca]]'' <small>[[Lam.]]</small>, que foi empregado como anestésico local em pequenas cirurgias.<ref>Griffin, WJ, Lin GD, "Chemotaxonomy and geographical distribution of tropane alkaloids". ''Phytochemstry'' 53 (2000):623-637.</ref> Entretanto, a cocaína ganhou notoriedade pela sua actividade psicoactiva tornando-se um dos grandes problemas de saúde pública da actualidade. Algumas espécies de ''[[Erythroxylum]]'' são referidas como tendo potencial farmacológico, capazes de fornecer alcaloides, terpenoides e flavonoides.
 
A espécie ''[[Erythroxylum catuaba]]'' (sin.: ''[[Erythroxylum vacciniifolium]]'' <small>[[Mart.]]</small>), conhecida popularmente por ''catuaba'', é uma pequena árvore que produz flores amarelas e alaranjadas e um pequeno fruto venenoso de forma oval e coloração laranja escuro quando maduro. A espécie ocorre naturalmente no no bosque tropical amazónico do norte do Brasil. A catuaba não contém qualquer dos alcaloides activos da coca, mas é rica em três [[alcaloide]]s, as [[catuabina]]s A, B e C, que apresentam [[Psicotrópico|acção psicotrópica]] estimulante sendo-lhe atribuídas propriedades afrodisíacas.
 
A espécie ''[[Erythroxylum pelleterianum]]'' <small>A.St.-Hil.</small> é usada no tratamento de dores estomacais. As espécies ''[[Erythroxylum myrsinites]]'' e ''[[Erythroxylum suberosum]]'' são utilizadas na indústria de [[curtume]]s.<ref>Corrêa, M.P. (1984), ''Dicionário de plantas úteis do Brasil''. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 6 v.</ref>
 
==Filogenia e sistemática==
A família Erythroxylaceae apresenta [[distribuição pantropical]], tendo como principal [[centro de diversidade]] e [[endemismo]] a [[América do Sul]]. A família engloba 4 [[Género (biologia)|géneros]] e cerca de 242 [[espécie]]s,<ref name="Christenhusz-Byng2016">{{cite journal|author1=Christenhusz, M. J. M.|author2=Byng, J. W.|lastauthoramp=yes|year=2016|title=The number of known plants species in the world and its annual increase|journal=Phytotaxa|volume=261|pages=201–217|url=http://biotaxa.org/Phytotaxa/article/download/phytotaxa.261.3.1/20598|doi=10.11646/phytotaxa.261.3.1|issue=3}}</ref> entre as quais a [[coca]].<ref name="APW">[http://www.mobot.org/MOBOT/Research/APweb/orders/malpighialesweb.htm#Erythroxylaceae Erythroxylaceae no APWebsite].</ref>
===Filogenia===
Um estudo de [[filogenética molecular]], realizado em 2012, usou dados resultantes da análise de um número alargado de [[gene]]s e por essa via obteve uma [[árvore filogenética]] com maior resolução que a disponível nos estudos anteriormente realizados.<ref name="Xi2012"/> Nesse estudo foram analisados 82 genes de [[plastídeo]]s de 58 espécies (a problemática família [[Rafflesiaceae]] não foi incluída), usando partições identificadas ''[[a posteriori]]'' pela aplicação de um [[Modelo mistura|modelo de mistura]] com recurso a [[inferência bayesiana]]. Esse estudo identificou 12 [[clado]]s adicionais e 3 [[Basal (filogenética)|clados basais]] de maior significância.<ref>[http://coo.fieldofscience.com/2013/11/malpighiales-glorious-mess-of-flowering.html Catalogue of Organisms: Malpighiales: A Glorious Mess of Flowering Plants]</ref><ref name="Xi2012">{{citar periódico|último1 = Xi |primeiro1 = Z. |último2 = Ruhfel |primeiro2 = B. R. |último3 = Schaefer |primeiro3 = H. |último4 = Amorim |primeiro4 = A. M. |último5 = Sugumaran |primeiro5 = M. |último6 = Wurdack |primeiro6 = K. J. |último7 = Endress |primeiro7 = P. K. |último8 = Matthews |primeiro8 = M. L. |último9 = Stevens |primeiro9 = P. F. |último10 = Mathews |primeiro10 = S. |último11 = Davis |primeiro11 = C. C. | doi = 10.1073/pnas.1205818109 |título= Phylogenomics and ''a posteriori'' data partitioning resolve the Cretaceous angiosperm radiation Malpighiales |periódico= Proceedings of the National Academy of Sciences | volume = 109 |número= 43 |páginas= 17519 |ano= 2012 | pmid = 23045684| pmc = 3491498}}</ref> A posição da família Erythroxylaceae no contexto da ordem [[Malpighiales]] é a que consta do seguinte [[cladograma]]:<ref name="APW"/>