História pré-cabralina do Brasil: diferenças entre revisões

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Os [[sambaquis]], montes de conchas e outros resíduos acumulados por ação humana, foram vestígios arqueológicos responsáveis por suscitar considerável debate científico no {{séc|XIX}}.<ref name="ambientes.ambientebrasil.com.br"/> O diretor do [[Museu Nacional (Rio de Janeiro)|Museu Nacional]] – que junto do [[Museu Paulista]] representava o interesse oficial acerca dos fatos histórico-arqueológicos no Brasil –, Landislau Netto, enviou as primeiras expedições científicas para estas regiões. Após anos de pesquisas, essas missões alegaram que "montes de conchas" teriam formação antropogênica, isto é, origem humana. Hermann Von Ihering, contudo – o diretor do Museu Paulista – primeiramente se opôs a essa visão, dizendo que os restos de conchas teriam sido formados por fenômenos naturais e intertropicais.<ref name="google.com.br"/>
 
Entre 1880 e 1900 ocorreram as primeiras escavações na [[Amazônia]].<ref name="books.google.com.br"/><ref name="google.com.br"/> Descobertas extasiantes de cerâmicas marajoaras foram realizadas nesse período<ref name="books.google.com.br"/>, e foram analisadas em 1882 pelo egiptólogo Paul l´'Epine, que acreditava identificar na cerâmica indígena grafias egípcias e asiáticas. [[Emílio Goeldi]] também realizou, nesta época, pesquisas importantes no norte.<ref>{{Citar web |url=http://www.museu-goeldi.br/institucional/linhatempo/lt_fs.htm Museu Goeldi |título= Linha do Tempo: Museu Emílio Goeldi}}</ref> O austríaco J.A. Padberg-Drenkpohl, contratado após a Primeira Guerra Mundial pelo [[Museu Nacional (Rio de Janeiro)|Museu Nacional]], foi outra figura importante da história da arqueologia brasileira, que escavou, entre 1926 e 1929, em Lagoa Santa. Seu objetivo era encontrar vestígios em Lagoa Santa que comprovassem os achados clássicos de [[Peter Wilhelm Lund|Lund]]. Drenpohl, contudo, não foi bem sucedido em sua empresa, tendo passado a criticar os defensores da antiguidade do homem de Lagoa Santa. Em 1934, pouco depois da última expedição de Drenkpohl, Angione Costa publicou o primeiro manual de arqueologia brasileira.<ref name="google.com.br"/>
 
Depois de 1950 a arqueologia oficial se contraiu, enquanto aumentou o número de amadores que passaram a realizar pesquisas no país. Um desses foi Guilherme Tiburtius, [[imigração alemã no Brasil|imigrante alemão]] em [[Curitiba]], que teria realizado uma das buscas mais importantes de antiguidades indígenas pelo Brasil, coletando artefatos para sua coleção (recebida pelo Museu do Sambaqui de [[Joinville]]). Estudou o litoral catarinense e o planalto paranaense, tendo sido auxiliado pela [[Universidade Federal do Paraná]] em suas pesquisas. Harold V. Walter, cônsul inglês em [[Belo Horizonte]], foi responsável por buscas no Estado de [[Minas Gerais]], na região de Lagoa Santa. A despeito de ter empregado uma metodologia pouco válida para os dias atuais, contribuiu muito para a coleta de informações sobre a era pleistocênica. Ainda nessa época, foram realizados esforços substanciais no sentido de se preservar o patrimônio histórico brasileiro. Graças ao esforço de diversos intelectuais, o Instituto de [[Pré-História]] da [[USP]] (atualmente integrado ao [[Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo|MAE]])<ref>{{Citar web |url=http://www.mae.usp.br/ |título= Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo}}</ref> foi criado, enquanto, alguns anos mais tarde(1961), uma nova legislação sobre o patrimônio era promulgada.<ref name="google.com.br"/> Acompanhando esse avanço na questão de preservação da memória brasileira, havia sido realizadas escavações na foz do [[Rio Amazonas|amazonas]], por Clifford Evans e Betty J. Meggers entre 1949 e 1950, descobrindo importantes artefatos cerâmicos, e em [[São Paulo (estado)|São Paulo]] e no [[Paraná]] entre 1954 e 1956 por Joseph Emperaire e Annette Laming – onde foram feitas as primeiras datações carbono catorze.<ref name="google.com.br"/><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=KhpEyhWqsn8C&pg=PA103&dq=arqueologia+brasil&hl=pt-BR&sa=X&ei=NCUNT7epIc-TtwfwveygAw&redir_esc=y#v=onepage&q=arqueologia%20brasil&f=false |título= Quantos anos tem o Brasil? |língua= português |autor= Museu de Arqueologia e Etnologia}}</ref>
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Na região central e nordeste, uma importante tradição cultural foi identificada pelos estudiosos: a '''tradição Itaparica''' ([[Goiás]], [[Minas Gerais]], [[Pernambuco]], Piauí). Essa tradição teria desenvolvido [[paleolítico|ferramentas líticas lascadas]] como lesmas, furadores e facas, mas poucas [[ponta lítica|pontas de projéteis]]. Os povos dessas regiões teriam mudado sua forma de vida cerca de {{fmtn|6500}} anos atrás, quando teriam passado a se alimentar de [[molusco]]s e frutos. No centro do país, uma tradição de pintura rupestre denominada '''Planalto''' teria se desenvolvido.
 
As datas mais antigas no Sul são atribuídas à '''tradição Ibicuí''' (entre {{fmtn|13000}} e {{fmtn|8500}} anos), composta de artefatos simples, encontrados na [[Bacia do Uruguai]].<ref name="books.google.com.br"/><ref name="google.com.br"/> A fase Uruguai, que sucede a primeira cronologicamente, data de {{fmtn|11555}} a {{fmtn|8640}} A.P. e é composta por raspadores, facas bifaciais e pontas de projéteis.<ref>{{Citar web |url=http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-21082006-105644/pt-br.php |título= Contribuição à Arqueologia Guarani: estudo do Sítio Röpke |autor= André Luis Ramos Soares|data= 2005}}</ref> Em [[Santa Catarina]] e no [[Rio Grande do Sul]] foram localizados artefatos (facas, raspadores, pontas de flecha foliáceas) de 8500 a 6500 anos atrás, estabelecidos como '''tradição Vinitu'''. A '''tradição Humaitá''', mais recente (entre 6500 e 2000 anos atrás) se estende de [[São Paulo (estado)|São Paulo]] ao Rio Grande do Sul.<ref name="google.com.br"/><ref name="mae.com.br"/> Os homens dessa tradição produziram raspadores, furadores e, inclusive, zoólitos (estátuas de pedra assumindo formas animais). Outra tradição identificada no sul foi chamada de '''[[Tradição Umbu|Umbu]]'''; esta teria sido responsável pela confeccçãoconfecção de fogões e pontas de projéteis.<ref name="books.google.com.br"/><ref name="news.com.br"/><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=14LORqGmmSkC&pg=PA105&dq=arqueologia+brasil+sul&hl=pt-BR&sa=X&ei=gCUNT4jGM4WztwedwemmBQ&redir_esc=y#v=onepage&q=arqueologia%20brasil%20sul&f=false |título= A arqueologia guarani |autor= Solange Nunes de Oliveira Schiavetto|data= 2003}}</ref>
 
Os principais sítios arqueológicos do litoral são os [[sambaquis]], montes de conchas de moluscos (com os quais se alimentavam as populações antigas) formados por ação humana.<ref name="books.google.com.br"/><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=R2jJPgAACAAJ&dq=sambaquis&hl=pt-BR&sa=X&ei=UScNT4vVF5KTtwfusOClBQ&ved=0CDMQ6AEwAA |título= Os sambaquis |autor= Guilherme Schuch de Capanema|data= 1876 }}</ref><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=ii8sAAAAYAAJ&q=sambaquis&dq=sambaquis&hl=pt-BR&sa=X&ei=UScNT4vVF5KTtwfusOClBQ&ved=0CDgQ6AEwAQ |título=Sambaqui: arquelogia do litoral Brasileiro|autor= Madu Gaspar|data= 2000}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=dNkMAAAAYAAJ&q=sambaquis&dq=sambaquis&hl=pt-BR&sa=X&ei=UScNT4vVF5KTtwfusOClBQ&ved=0CEAQ6AEwAw |título=O sambaqui: visto através de alguns sambaquis |autor=Paulo Duarte|data= 1968}}</ref> Normalmente são encontrados junto dos sambaquis esqueletos dos antigos americanos, peças líticas, restos de alimentos, etc. Grande parte dos sambaquis brasileiros se encontram cobertos pelo mar, devido às mudanças climáticas ocorridas durante o pleistoceno tardio e o holoceno. Os sambaquis existem em quase todo o litoral brasileiro. Na época de sua descoberta, no {{séc|XIX}}, foram comparados com estruturas semelhantes existentes na [[Escandinávia]]. Os sambaquis são associados à '''tradição Itaipu'''. Os povos que habitavam o [[litoral]] são normalmente definidos como pescadores semi-nômadesseminômades.<ref name="books.google.com.br"/><ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=xz0sAAAAYAAJ&q=brazil+archaeology+amazon&dq=brazil+archaeology+amazon&hl=pt-BR&sa=X&ei=2iUNT_byC8bXtwfPwu3IBQ&redir_esc=y |título= Moundbuilders of the Amazon |autor= Anna Curtenius Roosevelt|data= 1991}}</ref>
 
== Arcaico recente do sul à região nordeste ({{fmtn|4000}} A.P. até {{DC|1500|x}}) ==
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[[Imagem:Vaso-santarém.JPG|thumb|esquerda|[[Cerâmica]] produzida por antigas sociedades complexas que viviam na região da [[Santarém (Pará)|Santarém]], no [[Pará]]. [[Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo]]]]
 
O aumento demográfico das populações amazônicas na época da [[Pré-História]] tardia, combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as sociedades indígenas da [[Amazônia]].<ref>{{Citar web |url=http://news.nationalgeographic.com/news/2008/08/080828-amazon-cities.html |título=Ancient Amazon Cities Found; Were Vast Urban Network|autor=John Roach}}</ref> Segundo arqueólogos, as sociedades que habitavam regiões da [[bacia amazônica]] passaram a se organizar de forma cada vez mais elaborada entre o ano {{AC|1000|x}} e o ano {{DC|1000|x}}.<ref name="books.google.com.br"/> Os arqueólogos definem estas sociedades como “cacicados complexos”.<ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=nzhmvOlmnj4C&printsec=frontcover&dq=anna+roosevelt&hl=pt-BR&sa=X&ei=MBMNT723LZSltwfUw9G8BQ&ved=0CDUQ6AEwAA#v=onepage&q=anna%20roosevelt&f=false |título=Amazonian Indians from Prehistory to the Present |autor= Anna Roosevelt|data= 1997 }}</ref> Essas sociedades tornaram-se cada vez mais hierarquizadas (provavelmente contendo nobres, "plebeus" e servos cativos), constituíram chefias centralizadas na figura do [[cacique]], e adotaram posturas belicosas e expansionistas. O cacique, além de dominar amplos territórios, organizava continuamente seus guerreiros visando conquistar novos territórios. A [[cerâmica]] dessas sociedades era altamente elaborada, demonstrando um domínio de técnicas complexas de produção. Havia urnas funerárias elaboradas (associadas ao culto dos chefes mortos), [[comércio]] e os indícios arqueológicos apontam uma densidade demográfica de escala urbana nessas civilizações.<ref>{{Citar web |url=http://news.discovery.com/history/astonishing-ancient-amazon-civilization-discovery-detailed.html |título= Ancient Amazon Civilization |autor= Discovery News}}</ref> Acredita-se que a [[monocultura]] era praticada, além da caça e da pesca intensivas, a produção intensiva de raízes e o armazenamento de alimentos.<ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=_HQLQgAACAAJ&dq=ancient+amazon&hl=pt-BR&sa=X&ei=VSMNT5udLIOWtweJweDeBQ&redir_esc=y |título=AmazoniaAmazônia Antiga |autor=Monica Trindade e Mauricio Paiva}}</ref> Segundo a pesquisadora Anna Roosevelt, "O desenvolvimento da agricultura intensiva nos tempos pré-históricos parece ter estado correlacionado à rápida expansão das populações das sociedades complexas. Sugestivamente, os deslocamentos e o despovoamento do período histórico aparentemente fizeram com que estas economias retornassem aos padrões de cultivo menos intensivo de raízes e à captura de animais (...)."<ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?id=3cOI6I_9YHoC&printsec=frontcover&dq=hist%C3%B3ria+dos+%C3%ADndios+no+brasil&hl=pt-BR&sa=X&ei=zGx8T_qQOsKCtgfT0JXbDA&ved=0CDgQ6AEwAA#v=onepage&q=hist%C3%B3ria%20dos%20%C3%ADndios%20no%20brasil&f=false |título=Arqueologia Amazônia |autor=Anna Curtenius Roosevelt}}</ref>
 
Crônicas do início do [[Brasil Colonial|período colonial]] são hoje empregadas na reconstrução das antigas civilizações brasileiras. Muitos cronistas estrangeiros descreveram elementos indígenas do período dos cacicados complexos. A dissolução dessas organizações sociais normalmente é relacionada à conquista, que teria abalado sua estrutura demográfica.<ref>{{Citar web |url=http://books.google.com.br/books?ei=GG98T4XaAs_qtgfO2e2QDQ&hl=pt-BR&id=uJtcOFBWfiAC&dq=Sociedades+pr%C3%A9+colonias+da+amaz%C3%B4nia+relatos&q=brasil#v=snippet&q=brasil&f=false|título= História da América Latina: América Latina Colonial|autor=}}</ref>