José Ortega y Gasset: diferenças entre revisões

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=== Começo de carreira ===
Em 1897, depois de concluir seu bacharelado em Málaga, Ortega começou seus estudos universitários, primeiro em Deusto e logo depois em Madri. Aos os quinze anos, o jovem Ortega testemunhou um evento histórico da maior importância, um evento que levou toda uma geração de espanhóis a considerar o problema da [[Espanha]]. Este evento foi a perda dos últimos remanescentes do império colonial espanhol. Em 1898, pela Paz de Paris, que pôs fim à guerra hispano-americana, a Espanha teve de ceder aos jovens e poderosos Estados Unidos da América (que um dia ajudaram a alcançar sua própria independência), Última possessões coloniais: [[Cuba]], [[Porto Rico]] e [[Filipinas]]. Este evento trabalhou na Espanha como um revulsivo da consciência nacional que levou as mentes mais lúcidas do momento ([[Miguel de Unamuno]], [[Pío Baroja]], [[Antonio Machado]] e o próprio Ortega) a considerar o problema do declínio físico e / ou moral da Espanha . A geração marcada pelo desastre nacional, a [[Geração de 98]], concentrou grande parte de seus esforços intelectuais na reflexão sobre a etiologia e o diagnóstico da doença na Espanha.
[[File:José Ortega y Gasset.jpg|right|thumb|José Ortega y Gasset alrededorem deaproximadamente 1950.]]
Dentro do espírito de sua geração, Ortega toma consciência do problema da Espanha e diagnostica que tal problema reside no individualismo de homens e regiões da Espanha, que não sentiam uma preocupação comum pelos assuntos nacionais. Por isso, ele propõe que a regeneração da Espanha só pode vir de uma consciência entusiasta de uma missão nacional. Para que esta missão seja realizada com sucesso, Ortega proporá a necessidade da existência de uma elite intelectual - na qual ele próprio se sente integrado - que, tirando o melhor do mundo ocidental, sabe como "promover a organização de uma minoria". encarregado da educação política das massas".<ref> Gasset, Ortega, Velha e Nova Política, I: 302</ref>
 
É assim que o pensamento do jovem Ortega se relaciona com o regeneracionismo e um dos aspectos do krausismo espanhol. Embora os pressupostos filosóficos de Ortega e os dos krausistas difiram marcadamente na realização política e cultural de tais pressupostos, ambos coincidirão em vários pontos-chave: que a situação da Espanha na época é negativa e, portanto, deve ser superada; que esta superação só pode ser feita recorrendo à aclimatação do pensamento europeu à Espanha, e que para isso é necessária a existência de grupos dirigentes para permitir a atualização da cultura espanhola.
=== Influências ===
É precisamente neste contexto de desejo de beber em fontes culturais europeias para aclimatá-los à Espanha, é aí que devemos enquadrar a viagem de estudo que, ao terminar seu doutorado em filosofia, com a tese intitulada “Os terrores do ano mil. Crítico de uma lenda”, Ortega faz a Alemanha. De fato, em 1905 ele foi para a Alemanha para continuar seus estudos e visitou as universidades de [[Leipzig]], [[Berlim]] e [[Marburg]]. Precisamente nesta última universidade será onde ele conhece os neokantianosneo-kantianos H. Cohen e P. Natorp, a quem ele sempre considerará seus professores. Também para esta viagem de Ortega à Alemanha pode-se estabelecer um certo paralelismo com a permanência de Julián Sanz del Río, fundador do [[Karl Christian Friedrich Krause|krausismo]] espanhol, em Heidelberg. Com este Ortega continua uma certa tradição espanhola que durou até os anos cinquenta, quando a meca da filosofia passou para os espanhóis para os países anglo-saxões. Essa tradição consistia em que todo jovem espanhol que aspirasse a uma formação intelectual mais completa do que a que a universidade espanhola poderia fornecer teria que viajar para a [[Alemanha]].
 
O panorama filosófico que o jovem doutor em filosofia da Universidade de Madri encontrou em Marburg foi presidido pelo [[kant|neo-kantismo]], ou seja, a doutrina filosófica que postulava o retorno a Kant como um caminho para superar as vielas às quais a filosofia idealista tinha chegado nas mãos de [[Hegel]] e seus seguidores. Mas, e aqui o paralelismo com Sanz del Río é quebrado, assim como o krausismo espanhol importou o pensamento de Krause de uma maneira monolítica e sem uma atitude excessivamente crítica, Ortega chegou à Alemanha com um espírito mais crítico e inteligente - não em vão mais de meio século de viagens de intelectuais espanhóis à Alemanha - e sua atitude para com os neo-kantianos não foi a da batedeira discipular, mas uma atitude ambivalente. Desta forma, embora reconhecendo a dívida impagável aos seus professores de Marburg, ele também adota uma atitude crítica em relação a eles e contra o próprio Kant. A dívida e a crítica a Kant e aos neo-kantianos resume-os magistralmente com as seguintes palavras: "Durante dez anos vivi no mundo do pensamento kantiano: respirei-o como atmosfera e tem sido tanto a minha casa como a minha prisão [ ...] Com grande esforço eu escapei da prisão kantiana e escapei de sua influência atmosférica ".<ref> Gasset, Ortega, "Kant", Cap. IV Pag. 2.</ref>
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Seu confronto doutrinário com a política da ditadura leva Ortega, em 1929, a renunciar ao seu cargo de professor universitário e a continuar suas aulas na "profanidade de um teatro", classes que mais tarde serão publicadas sob o título ''O que é filosofia?'' Assim, forçado pelas circunstâncias, Ortega se torna um dos primeiros filósofos espanhóis que transmite sua filosofia ao público em geral. Uma tarefa que, por outro lado, talvez ele fosse o filósofo mais adequado a realizar, porque nele eram dados os dons de um grande filósofo e a capacidade de disponibilizar a filosofia a qualquer homem culto.
 
Em 1930, coincidindo com a "dictablanda" do general Berenguer, contra quem escreveu seu famoso artigo intitulado "''O erro de Berenguer''", que termina com a famosa frase "Delenda est Monarchia!", Ortega recupera sua cadeira e sua participação na política ativa Está aumentando, a ponto de se tornar o centro de um grupo de intelectuais que defendem o advento da Segunda República Espanhola. Assim, em 1931, quando a República chegou, fundou, juntamente com Gregorio Marañón e Pérez de Ayala, o Agrupamento ao Serviço da República. Graças à Associação é eleito deputado para as Cortes Constituintes para a província de León; mas, mais uma vez, o paradoxo de todo filósofo "envolvido na política" é repetido, porque nas Cortes ele é ouvido, mas não ouvido ou seguido. A desilusão que a vida do deputado lhe causa logo o leva a retirar-se da política ativa e a dissolver a Associação. Ortega, que deveria ter aprendido com o que aconteceu com Platão, teve que ver sua voz ignorada para entender que, infelizmente, nem sempre as doutrinas políticas de um filósofo são servidas por legisladores ou pelos governantes.
 
Com isso, Ortega retorna à atividade acadêmica e pública novamente, em 1934, em torno de Galileo. Em 1935 ele recebeu uma homenagem da universidade que já é a figura mais destacada na cena filosófica espanhola da época. Também em 1935 ele publica outro livro importante: História como um sistema.
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=== Exílio ===
 
Com o início da guerra civil espanhola, em julho de 1936, Ortega iniciou uma fase de angústia vital que o levou a percorrer o mundo. Primeiro ele viaja para [[Paris]] e [[Holanda]], onde dá palestras em Leiden, Haia e Amsterdã. Mais tarde ele viajou para a Argentina, e lá viveu até que, em 1942, estabeleceu-se em Portugal, onde escreveu sua obra ''Origem e Epílogo da Filosofia'', que em princípio foi uma reflexão feita para servir de epílogo à História da Filosofia. de seu discípulo [[Julián Marías]].
 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, Ortega regressa a Espanha, mas nos dez anos que vai levá-lo a morrer, a sua atividade pública é reduzida a um mínimo, dadas as circunstâncias políticas espanholas. Em 1946 ele deu uma série de palestras no [[Ateneo de Madrid]] e nesse mesmo ano seus trabalhos completos começaram a ser publicados. Desde que ainda está separado de sua cátedra, em 1948, junto a um grupo de colaboradores e discípulos, fundou o Instituto de Humanidades, com o qual, mais uma vez, o grande professor que era Ortega retorna para exercitar seu ensino diante do público fora do salas de aula universitárias e convidar "alguns para trabalhar em qualquer canto".<ref>Gasset, Ortega - "Prospecto do Instituto de Humanidades", Cap VII: 21</ref>
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==Filosofia==
{{liberalismo}}
O objetivo da filosofia de Ortega é o de encontrar o ser fundamental do mundo. Este "ser fundamental" é radicalmente diferente de qualquer ser contingente ou intramundano; e também é diferente de "o dado" (expressão com a qual Ortega se referiu ao conteúdo de nossa consciência = "o dado" em nossa consciência). Todo conteúdo de consciência é, por definição, fragmentário e não serve para oferecer o significado do mundo e da existência. Esse sentido só é encontrado no "ser fundamental" ou no todo. Filosofia é o conhecimento que é responsável por abordar essa questão.<ref>Ortega y Gasset, José. ''Obras completas'', Vol. I. Ed. Taurus/Fundación José Ortega y Gasset, Madrid, 2004, p. 757.</ref> A “Filosofia” em Ortega está ligada à palavra circunstância, de onde ele tira sua famosa expressão: eu sou eu e minha circunstância, e se eu não salvá-la eu não posso me salvar. (''Meditaciones del Quijote'', 1914) . Ele mantém os princípios essenciais de seu perspectivismo em períodos posteriores de seu pensamento.<ref>Ortega y Gasset, José. ''Obras completas'', Vol. I. Ed. Taurus/Fundación José Ortega y Gasset, Madrid, 2004, p. 717.</ref>
 
A partir do tema do nosso tempo desenvolve-se a teoria do "raciovitalismo" que funda o conhecimento na vida humana como a realidade radical, em que um dos componentes essenciais é a própria razão.<ref>Ortega y Gasset, José. ''Obras completas'', Vol. I. Ed. Taurus/Fundación José Ortega y Gasset, Madrid, 2004, p. 727.</ref> Para Ortega, a vida humana é a realidade radical, isto é, aquela em que todas as outras realidades aparecem e emergem, incluindo qualquer sistema filosófico, real ou possível. Para cada ser humano, a vida assume uma forma concreta.<ref>Ortega y Gasset, José. ''Obras completas'', Vol. I. Ed. Taurus/Fundación José Ortega y Gasset, Madrid, 2004, p. 132.</ref> A essa palavra "vida", não se compreende a vida tomada como algo geral, como espécie de ser transcendental. Ela é minha realidade radical na medida em que ela é condição ''sine qua non'', ou seja, necessária, para que todas as outras realidades humanas se desenvolvam. Sendo assim, a filosofia do raciovitalismo é justamente o encontro da realidade radical na vida de cada qual, na vida mesma de cada indivíduo, em todas as suas nuances e peculiaridades. O exemplo orteguiano não poderia ser mais esclarecedor: só a mim dói minha dor de dentes. A partir daí, a Filosofia deve investigar o fenômeno vital com vistas a desvendar a realidade. Essa realidade, cujo fundamento é a a própria vida está imersa, rodeada por circunstâncias. Estas circunstâncias não dizem respeito somente ao país em que se nasceu, ao momento histórico em que se vive, mas a própria organização psicológica de alguém, sua personalidade, se é mais extrovertido, tímido, calmo ou extravagante. Sendo assim, a frase que resume a filosofia orteguiana é dita em sua primeira obra, ''Meditaciones del Quijote'': "Eu sou eu e minha circunstância".
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O pensamento de Ortega é geralmente dividido em três etapas:
* Estágio objetivista (1902-1914): influenciado pelo neo-kantismo alemão e pela fenomenologia de [[Husserl]], chega a afirmar a primazia das coisas (e ideias) sobre as pessoas.
* Estágio Perspectivista (1914-1923): começa com ''Meditações de Quixote''. Neste momento, Ortega descreve a situação espanhola na Espanha invertebrada (1921).
* Estágio Raciovitalista (1924-1955): Considera-se que Ortega entra em seu estágio de maturidade, com obras como O tema de nosso tempo, H''istória como um sistema, Ideias e crenças ou [[A Rebelião das Massas]].''
 
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A maior parte do trabalho de Ortega y Gasset consiste de palestras e aulas publicadas anos após o fato e muitas vezes postumamente. Esta lista tenta colocar em ordem cronológica de quando foram escritas e não quando publicadas.
 
* ''Meditaciones del Quijote'' (''MeditationsMeditações ondo [[Don Quixote|Quixote]]'', [[1914]])
* ''Vieja y nueva política'' (''OldVelha ande newnova politicspolítica'', [[1914]])
* ''Investigaciones psicológicas'' (''PsychologicalInvestigações Investigationspsicológicas'', coursecurso givendado em [[1915]]-[[1916|16]] ande publishedpublicado inem [[1982]])
* ''Personas, Obras, Cosas'' (''PeoplePessoas, WorksObras, ThingsCoisas'', articlesartigos ande essaysensaios writtenescritos em [[1904]]-[[1912]]: "[[Ernest Renan|Renan]]", "Adán en el Paraíso" -- "AdamAdão inno ParadiseParaíso", "La pedagogía social como programa político" -- "PedagogyA aspedagogia acomo politicalprograma programpolítico", "Problemas culturales" -- "CulturalProblemas problemsculturais", etc., publishedpublicados em [[1916]])
* ''El Espectador'' (''TheO SpectatorEspectador'', 8 volumes publishedpublicados em [[1916]]-[[1934]])
* ''España Invertebrada'' (''InvertebrateEspanha SpainInvertebrada'', [[1921]])
* ''El tema de nuestro tiempo'' (''TheO themetema ofdo ournosso timetempo'', [[1923]])
* ''Las Atlántidas'' (''TheAs AtlantidesAtlântidas'', [[1924]])
* ''La deshumanización del Arte e Ideas sobre la novela'' (''TheA DehumanizationDesumanização ofda artArte ande IdeasIdeias aboutsobre thea Novelnovela'', [[1925]])
* ''Espíritu de la letra'' (''The spirit of the letter'' [[1927]])
* ''Mirabeau o el político'' (''[[Mirabeau]] or politics'', [[1928]]-[[1929]])
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* ''Goya'' ([[1958]])
* ''Velázquez'' ([[1959]])
* ''Origen y epílogo de la Filosofía'' (''OriginOrigem ande epilogepiíogo toda PhilosophyFilosofia'', 1960),
* ''La caza y los toros'' (''TheA huntcaça ande theos bullstouros'', [[1960]])
 
=== Em Português ===