Pedro López de Ayala: diferenças entre revisões

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{{Ver desambig|redir=Pero Lopes de Ayala||Pero Lopes de Ayala, 1º Conde de Fuensalida}}
{{Mais notas||bioh|hist-eu|data=janeiro de 2013}}
{{Info/Biografia
|nome =Pero López de Ayala
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'''Pero''' (ou '''Pedro''') '''López de Ayala''' ([[Vitoria-Gasteiz|Vitória]], [[1332]]? — [[Calahorra]], [[1407]]?) foi um [[poeta]], [[historiador]] e [[estadista]] do [[Reino de Castela]].
 
==VidaBiografia==
Nasceu em Vitória no seio duma família [[Nobreza|nobre]], filho de {{ilc||Fernando Peres de Ayala|Fernán Pérez de Ayala}} e de Elvira Álvarez de Cevallos. O seu pai era sobrinho do [[cardeal]] {{ilc|Pedro Gómez Barroso||Pedro Gómez Barroso de Sotomayor}} e recebeu formação religiosa até ter que assumir a direção da sua família; foi famoso pela sua eloquência e talentos de negociador e o deve ter dado ao filho a educação moral e religiosa que carateriza a sua obra e o conhecimento dos [[Livro de Salmos|Salmos]] e da [[Bíblia]]. Apesar disso, à semelhança do seu amigo, o poeta e [[judeu]] [[Cristão-novo|converso]] [[Pero Ferrús]],{{Ref label2|a}} passou a juventude a ler obras mais profanas, em especial [[Romance de cavalaria|romances de cavalaria]]:<ref name=":0">{{Citar periódico|data=2019-09-25|titulo=Pedro López de Ayala|url=https://es.wikipedia.org/w/index.php?title=Pedro_L%C3%B3pez_de_Ayala&oldid=119704932|jornal=Wikipedia, la enciclopedia libre|lingua=es}}</ref>
{{Citação2|bq=s|cinza=s|
1=Plogome otrosí oír muchas vegadas<br />libros de devaneos, de mentiras probadas;<br />Amadís e Lançalote, e burlas escantadas,<br />en que perdí mi tiempo a muy malas jornadas...|
2=''Rimado de Palacio'', 163
}}
Depois da morte prematura do seu irmão mais velho, a família decide cancelar os planos eclesiásticos que tinha para ele e regressa à corte do seu tio para começar a representar os interesses da família como o seu tio toledano que era padre na Corte Régia. Desse modo, quando tinha pouco mais de 20 anos entrou ao serviço de {{Lknb|Pedro|I||de Castela}}, conhecido popularmente como "o Cruel". Em 1359 navegava ao largo do litoral [[Valência (Espanha)|valenciano]] e [[Catalunha|catalão]] na qualidade de [[Capitão (náutica)|capitão]] da sua frota.<ref name=":0" />
 
Em 1366, teve início de forma mais efetiva a rebelião de [[Henrique II de Castela|Henrique de Trastâmara]] contra o seu meio-irmão Pedro&nbsp;I. Pero Lopes de Ayala e o seu pai mudaram-se para o partido do pretendente bastardo ao trono, o futuro Henrique&nbsp;II.
{{Citação2|bq=s|cinza=s|Pelo rei matar homens, não chamam justiceiro, {{small|''(Por el rey matar omnes, non llaman justiçiero)}}<br />isso seria nome falso: mais próprio é carniceiro {{small|(ca sería nombre falso: más propio es carnicero)''}}
}}
Pedro I tinha executado muitos [[Nobreza|nobres]], na opinião de muitos mais por rancor do que por outro motivo. O próprio escritor afirmou que: ''«vendo que o feitos de Dom Pedro não iam de boa guisa, determinaram separar-se dele.»''<ref name=":0" />
 
Os Ayala receberam vários privilégios e mercês por essa defeção. Ao futuro [[chanceler]] foi outorgado o título de [[alferes-mor]] do Pendão da Banda (segundo-tenente) da [[Ordem da Banda]], que ostentou quando lutou ao lado de Henrique na [[batalha de Nájera]] em 1367. Este confronto resultou num revés para as forças insurgentes e o poeta foi capturado por [[Eduardo, o Príncipe Negro]], o que acabou por ser uma sorte, pois o rei Pedro tê-lo-ia executado imediatamente. Eduardo pediu um resgate avultado aos Ayala, que o pagaram, e deixou Pero Ayala em liberdade durante seis meses, que chegou a [[Burgos]] a tempo de ver Henrique entrar vitorioso na cidade. Como recompensa pela sua lealdade, foram-lhe concedidas várias mercês, como ser nomeado [[alcaide]]-mor de Vitória e de [[Toledo]], a posse dos [[Senhorialismo|senhorio]]s de [[Artziniega]], [[Orozko]] e [[Valle de Llodio]], lugares ricos, férteis e pitorescos, bem como a nomeação como membro do Conselho Real. Em 1378 foi a [[França]] para negociar uma aliança contra [[Inglaterra]] e [[Portugal]].
 
===ReinadoDurante reinado de João I de Castela===
[[Imagem:Slagbijrozebeke.jpg|left|thumb|Gravura da [[batalha de Roosebeke]] (1382), nas crónicas de Froissart]]
 
[[Imagem:Batalha_de_Aljubarrota_02.jpg|left|thumb|[[Batalha de Aljubarrota]] (1385)]]
 
Ao morrer em 1379 Henrique II, o seu filho e sucessor {{Lknb|João|I||de Castela}} confirmou os privilégios outorgados e aumentou-os, encarregando-o de difíceis missões diplomáticas, entre elas a sua embaixada a {{Lknb|Carlos|VI||de França}}, a quem aconselhou tão acertadamente na [[batalha de Roosebeke]] contra os ingleses e [[flamengos]] (1382), que o monarca francês o nomeeou seu [[camareiro]] e concedeu uma pensão vitalícia de mil moedas de ouro a Pero Ayala e ao seu filho primogénito.
 
A proclamação de [[João I de Portugal|João, Mestre de Avis]] pelos portugueses estragou os planos de [[João I de Castela]] de ser reconhecido como rei de Portugal pelos portugueses (em rigor, pelos portugueses que fossem proprietários de 300 libras fernandinas ou mais, e os outros não contariam). López de Ayala, que não era partidário duma guerra de Castela contra os portugueses, esforçou-se por dissuadir o monarca, mal aconselhado por uma geração de jovens cortesãos, mas não evitou a luta quando a rebentou a guerra, empunhando de novo o estandarte da Ordem da Banda e tentando neutralizar as imprudências temerárias dos donzéis cortesãos na desastrosa [[batalha de Aljubarrota]] em 1385. Segundo [[Fernão Lopes]], Pedro López de Ayala foi um dos três emissários de Castela que se encontraram com [[Nuno Álvares Pereira]] algumas horas antes da batalha.{{Harvy|fernl|Fernão Lopes|p=125-126}} Esse evento é também relatado pelo próprio Ayala.{{Harvy|aya1780|name=aya1780|López de Ayala|1780}}
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Está sepultado com a sua mulher no mosteiro de Quejana, em [[Álava]], mantido pelas freiras dominicanas que ali viveram até 2008. O túmulo tem duas [[Jacente|estátuas jacentes]] em [[alabastro]], que se encontram ao pés do [[retábulo]] do mosteiro, junto a outras estátuas jacentes dos pais do chanceler, Fernando e Elvira. O retábulo é uma réplica inaugurada em 1959, pois o original encontra-se em [[Chicago]].
 
O chanceler Ayala viveu numa época turbulenta para toda a Cristandade, por causa do [[Grande Cisma do Ocidente]], ao qual alude de forma angustiada no seusue ''Rimado de Palacio'', pois existia a crença de que enquanto esse cisma existisse nenhuma alma se salvaria.
 
==Obra literária==
A formação do chanceler Ayala era muito mais extensa do que era costume na sua época. Além da [[Bíblia]], conhecia a obra de [[Tito Lívio]], [[Valério Máximo]], [[Agostinho de Hipona|Santo Agostinho]], [[Boécio]], [[Papa Gregório I|São Gregório Magno]], [[Isidoro de Sevilha|Santo Isidoro]], {{ilc||Egídio Romano|Gil de Roma|Egidio Colonna}}, [[Flávio Vegécio|Vegécio]], [[Giovanni Boccaccio|Boccaccio]] e alguma das versões da ''[[Estoria de España]]'' de [[Afonso X de Leão e Castela|Afonso&nbsp;X, o Sábio]]. Além disso, conhecia as coleções jurídicas do seu tempo, como as de Juan Andrés, Giovanni Andrea, o ''Decreto'' de [[Graciano]], etc.<ref name=":0" />
 
===''Rimado de Palacio''===
[[Imagem:Castelo de Óbidos - actual pousada.JPG|thumb|[[Castelo de Óbidos]], onde Pero Ayala esteve preso após a batalha de Aljubarrota]]
 
É especialmente famosa a sua obra [[Sátira|satírica]] e didática ''Rimado de Palacio'', também conhecido como ''Los Rimos'', um conjunto de cerca de {{formatnum:8200}} versos escritos na sua maior parte em ''[[cuaderna vía]]'' ([[estrofe]] de quatro [[Verso alexandrino|versos alexandrinos]] com uma só rima), onde, após fazer uma confissão geral dos seus pecados, passa em revista a sociedade do seu tempo, descrevendo com ironia os seus contemporâneos da hierarquia civil e religiosa — ''«Se estes sãom ministros, são-no de Satanás / pois nunca boas obras tu fazer os verás»'', — atacando os seus hipócritas valores políticos, sociais e morais, misturando quadro realistas e dissertações moralizantes. Os [[judeu]]s também não são muito bem tratados. Queixa-se amargamente de como se acumulam impostos sobre os pobres peixeiros e como isso provoca uma crise demográfica.
 
A prisão pôs fim as estas reflexões e o poeta desabafa em canções líricas. Umas são dedicadas à [[Maria (mãe de Jesus)|Virgem]] ou prometem visitar diversos santuários; outras são oarções duma religiosidade mais íntima, pois deixam ver uma angústia real ante a possibilidade de que Deus tenha condenado a sua alma pelos seus pecados. A parte final do poema é, na realidade, um ''[[centón]]'' que inclui paráfrases de diversas passagens da ''Moralia'', um comentário de São Gregório Magno sobre o ''[[Livro de Jó]]'' que López de Ayala tinha traduzido.
 
Na realidade, o ''Rimado de Palacio'' é uma mistura heterogénea de diversos materiais poéticos aos quais o seu autor deu uma certa unidade com estrofes de transição de uns temas para outros. As composições líricas estão feitas em ''[[zéjel]]'', e as passagens em ''cuaderna vía'' têm alguns hemistíquio de oito sílabas. Outras passagens, de composição mais tardia, como o ''Deitado del Cisma de Occidente'', usam já o ''verso largo''. O livro foi começado antes de 1385 e ficou concluído em 1403.
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===''Historia de los reyes de Castilla''===
Esta obra inclui as [[Crónica (historiografia)|crónicas]] dos reinados de {{Lknb|Pedro|I||de Castela}}, [[Henrique II de Castela|Henrique de Trastâmara]] (Henrique&nbsp;II de Castela) e {{Lknb|João|I||de Castela}}, além de outra que ficou incompleta sobre o reinado de {{Lknb|Henrique|III||de Castela}}, todas reunidas sob o título de ''História dos reis de Castela''.<ref name=aya1780 />{{Harvy|aya1779|López de Ayala|1779}} Nesta obra mostra-se como um historiador de bastante maior rigor que os seus contemporâneos [[Matteo Villani]] ou [[Jean Froissart|Froissart]], pois possuía dotes de penetração psicológica e observação mais agudos do que estes, como se deduz, por exemplo, pelo facto de que ambos procurem as cenas pitorescas e se recriem as pompas [[Cavalaria medieval|cavalheirescas]], enquanto que López de Ayala só se preocupa com os factos e circunstâncias que os rodeiam. Vivaz nos retratos, com a sua narração logra um dramatismo sóbrio que faz esquecer por completo e para sempre a frieza dos velhos [[Cronicão|cronicões]].
 
===Traduções e outras obras===