Memorial do Convento: diferenças entre revisões

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Baltasar Mateus , com alcunha hereditária de Sete-Sóis, é abandonado pelo exército durante a [[Guerra da Sucessão Espanhola]] por ter ficado inválido devido à perda da sua mão esquerda, representando a crítica da desumanidade na guerra. Deixado na miséria, consegue chegar a Lisboa, onde conhece nesse mesmo dia Blimunda e o padre Bartolomeu, num [[Auto de fé|auto-de-fé]] no [[Praça de D. Pedro IV|Rossio]]. Contava 26 anos. Imediatamente ''encantado'' pelos olhos de Blimunda no primeiro olhar, partilha desde esse momento até morrer a vida e os sonhos com ela. O padre Bartolomeu fá-lo participante do sonho de voar, projecto que será prosseguido na sua responsabilidade após o desaparecimento deste.
 
Torna-se [[açougue]]irotalhante em [[Lisboa]], uma vez que o gancho que usa para substituir a mão lhe facilita o trabalho, e posteriormente integra-se como boieiro nas legiões de operários nas obras do [[Palácio Nacional de Mafra|convento de Mafra]]. Porém, a sua principal ocupação é a construção da [[passarola]].
 
Esta personagem revela-se gradualmente o herói do romance. Pois, em primeiro, por ser o representante do povo oprimido, o seu percurso torna-se o foco do narrador, abatendo do primeiro plano as personagens do grupo de poder. Em segundo, a sua relação com Blimunda, cujos poderes são considerados heréticos, entra em conflito com os valores da sociedade vigente, por não serem casados oficialmente. Em terceiro, pela amizade e partilha de ideias e sonhos com o padre Bartolomeu, que o divinizou ao compará-lo com Deus, por achar que este também é maneta da mão esquerda<ref>''maneta é Deus, e fez o universo.(...) Se Deus é maneta e fez o universo, este homem sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar'', pg.69</ref>. Em quarto, pela influência dessa amizade, Baltasar adquire o conhecimento de outras verdades, acerca do questionamento de [[Dogmas da Igreja Católica|dogmas religiosos]] e, principalmente, sobre a consciência do papel do homem no mundo, esta que será obtida quando Baltasar reconhecer e assumir o seu próprio valor<ref>Ana Paula Arnaut, ''Memorial do Convento, História, Ficção e Ideologia'', ed. Fora do Texto.</ref>. E por último, porque Baltasar paga com a sua própria vida a perseguição do sonho, o que, por consequente, o faz transcender à imagem do povo oprimido e espezinhado de que faz parte e que representa. Assim, não é um herói nem um anti-herói, é simplesmente um homem: um homem simples, elementar, fiel, terno e maneta, que reage perante a vida com a resignação típica dos humildes tanto de coração como de condição. Aceita apenas o que a vida lhe oferece, sem medo do trabalho ou da morte.