O Crime do Padre Amaro: diferenças entre revisões

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'''''O Crime do Padre Amaro''''' foi um enorme sucesso e recebido com entusiasmo pela crítica da época. O [[Carlos Ramiro Coutinho|Visconde de Ouguela]] em [[1876]] definiu a obra como um "romance de vanguarda". No mesmo ano, o escritor [[Ramalho Ortigão]] a definiu como "um livro de pura arte, na mais alta acepção da palavra". No entanto, [[Eça de Queirós]] também foi acusado de ter plagiado o romance [[La faute de l'abbé Mouret]] de [[Émile Zola]]. Entre os acusadores estavam [[Machado de Assis]] que afirmou: "O próprio Crime doO Crimedo Padre Amaro é imitação do romance de Zola, [[La faute de l'abbé Mouret]]. Situação análoga, iguais tendências; diferença do meio; diferença do desenlace; idêntico estilo; algumas reminiscências, como no capítulo da missa, e outras; enfim, o mesmo título. Quem os leu a ambos, não contestou decerto a originalidade do Sr. [[Eça de Queirós]], porque ele tinha, e tem, e a manifesta de modo afirmativo; creio até que essa mesma originalidade deu motivo ao maior defeito na concepção d'O Crime do Padre Amaro. O Sr. [[Eça de Queirós]] alterou naturalmente as circunstâncias que rodeavam o padre Padre Mouret, administrador espiritual de uma paróquia rústica, flanqueado de um padre austero e ríspido; o padre Padre Amaro vive numa cidade de província, no meio de mulheres, ao lado de outros que do sacerdócio só têm a batina e as propinas; vê-os concupiscentes e maritalmente estabelecidos, sem perderem um átomo de influência e consideração.".<ref>{{citar web|url=http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/crime_critica.html|título=O Crime do Padre Amaro - Crítica |obra=Citi|acessodata=9 de janeiro de 2020 }}</ref>
 
O autor português negou a acusação, alegando que ambos os romances foram publicados no mesmo ano, em [[1874]]. Ademais, os enredos seriam bem diferentes: " [[La faute de l'abbé Mouret]] é, no seu episódio central, o quadro alegórico da iniciação do primeiro homem e da primeira mulher no amor" ; já o "Crime do Padre Amaro" tinha no enredo uma "simples intriga de clérigos e de beatas, tramada e murmurada à sombra duma velha Sé de província portuguesa". Apesar da acusação, [[Eça de Queirós]] não guardou mágoas. Disse mais tarde : "eu, por mim, adoro a crítica: leio-a com unção, noto as suas observações, corrijo-me quando as suas indicações me parecem justas, desejo fazer minha a sua experiência das coisas humanas". <ref>{{citar web|url=https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI97726,71043-O+crime+do+padre+Amaro+ou+Mouret+|título=O crime do padre, Amaro ou Mouret ? |obra=Migalhas|acessodata=9 de janeiro de 2020 }}</ref>
 
[[Machado de Assis]] ainda teceu críticas à estrutura do romance: "Sendo assim, não se compreende o terror do Padre Amaro, no dia em que do seu erro lhe nasce um filho, e muito menos se compreende que o mate. Das duas forças que lutam na alma do Padre Amaro, uma é real e efetiva — o sentimento da paternidade; a outra é quimérica e impossível — o terror da opinião, que ele tem visto tolerante e cúmplice no desvio dos seus confrades; e não obstante, é esta a força que triunfa. Haverá aí alguma verdade moral?". [[Machado de Assis]], conclui, preocupado, que o [[Realismo]] de [[Eça de Queirós]] poderia resultar em [[Sensacionalismo]]: "Talvez estes reparos sejam menos atendíveis, desde que o nosso ponto de vista é diferente. O Sr. [[Eça de Queirós]] não quer ser realista mitigado, mas intenso e completo; e daí vem que o tom carregado das tintas, que nos assusta, para ele é simplesmente o tom próprio. Dado, porém, que a doutrina do Sr. [[Eça de Queirós]] fosse verdadeira, ainda assim cumpria não acumular tanto as cores, nem acentuar tanto as linhas; e quem o diz é o próprio chefe da escola, de quem li, há pouco, e não sem pasmo, que o perigo do movimento realista é haver quem suponha que o traço grosso é o traço exato.".<ref>{{citar web|url=https://machadodeassis.ufsc.br/obras/criticas/CRITICA,%20Eca%20De%20Queiros%20-%20O%20Primo%20Basilio,%201878.htm|título=Eça de Queirós: O Primo Basílio |obra=UFSC|acessodata=9 de janeiro de 2020 }}</ref>
 
Fátima Bueno, professora da [[Universidade de São Paulo]] e especialista na obra de [[Eça de Queirós]], aponta que Amaro fora levado à vida religiosa por circunstância, e não por vocação - e que, pelo seu temperamento sensual, podia excitar-se com as imagens das santas - um sacrilégio para a tradição católica portuguesa. Não surpreendentemente, "o livro causou escândalo e foi atacado por jornais católicos portugueses e brasileiros", conta a pesquisadora<ref>{{citar web|url=http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/resumo-eca-de-queiros-647337.shtml|titulo=Resumo das obras de Eça de Queiroz|autor=Educar para Crescer|data=|publicado=[[Editora Abril]]|acessodata=08-05-2013|arquivourl=https://web.archive.org/web/20120123231215/http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/resumo-eca-de-queiros-647337.shtml|arquivodata=2012-01-23|urlmorta=yes}}</ref>.