Liev Tolstói: diferenças entre revisões

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Ele foi um cara muito famoso para a historia do Brasil, pois escreveu um texto que mudou a vida de muitos, teve 73 filhos
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==Vida e carreira==
[[imagem:Lev Nikolayevich Tolstoy 1854.jpg|thumb|esquerda|O jovem Tolstói, 1854.]]
lFilosofia religiosa e polític
 
Tolstói nasceu em [[Yasnaya Polyana]], uma propriedade familiar localizada a 12 quilômetros do sudoeste de [[Tula (Rússia)|Tula]] e a 200 quilômetros ao sul de [[Moscou]]. Os Tolstoys eram uma família prestigiada pela [[nobreza da Rússia]], pois descendem de um famoso nobre do [[República das Duas Nações|Império Lituano]] chamado Indris.<ref>{{citar web|url=https://books.google.com/books?id=7kDJ3s1mcZcC&lpg=PA8&ots=pm4usaL-FH&dq=tolstoy%20lithuanian&pg=PA8#v=onepage&q=tolstoy%20lithuanian&f=false|título=Tolstoy|publicado=}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.nytimes.com/1983/11/06/books/six-centuries-of-tolstoys.html|título=SIX CENTURIES OF TOLSTOYS|data=6 de novembro de 1983|obra=The New York Times}}</ref> Liev foi o quarto dos cinco filhos do Conde Nikolai Ilyich Tolstoy, um veterano da [[Campanha da Rússia (1812)|Invasão francesa da Rússia]], e a Condessa Mariya Tolstaya (Volkonskaya). Os pais de Tolstói morreram quando ele era jovem, o que levou ele seus irmãos a serem criados por parentes. Em 1844, os irmãos Tolstoy começaram a estudar direito e línguas orientais na [[Universidade Estatal de Kazan|Universidade de Kazan]]. Seus professores os descreveram como "incapaz e sem interesse pelo aprendizado". Tolstói abandonou a Universidade no meio do curso, retornou à Yasnaya Polyana e passou a maior parte de seu tempo em Moscou e [[São Petersburgo]]. Em 1851, depois de ter acumulado muitas dívidas, ele e seu irmão mais velho foram para o [[Cáucaso]] e se juntaram ao exército. Foi a partir dessa experiência que ele começou a escrever.<ref>{{citar web|url=http://www.macmillanreaders.com/wp-content/uploads/2010/08/ads.leotolstoy.pdf |título=Author Data Sheet, Macmillan Readers |publicado=Macmillan Publishers Limited |acessodata=22 de outubro de 2010}}</ref>
 
A experiência no exército seguida de duas viagens pela Europa (em 1857 e 1860) foram muito marcantes para Tolstói, e o transformaram definitivamente em um anarquista pacifista. Outros que seguiram caminhos análogos foram [[Alexander Herzen]], [[Mikhail Bakunin]] e [[Peter Kropotkin]]. Durante sua primeira viagem pela Europa, Tolstói testemunhou uma execução pública em Paris, experiência que lhe foi traumática. Numa carta enviada ao seu amigo Vasily Botkin, ele escreveu: "A verdade é que o Estado é uma conspiração desenhada não somente para explorar, mas acima de tudo para corromper seus cidadãos... de agora em diante, eu jamais servirei a nenhum governo em nenhum lugar."<ref>A. N. Wilson, ''Tolstoy'' (1988), p. 146</ref> O conceito de Tolstói de não-violência ou [[Ahimsa]] foi reforçado quando ele leu uma tradução alemã dos versos sagrados ''[[Tirukkural]]''. Mais tarde, ele sugeriu esse estilo de vida ao jovem [[Mahatma Gandhi]] através de sua ''[[A Letter to Hindu|Carta ao Hindu]]''. Na época Gandhi procurava conselhos de Tolstói por meio de correspondências.<ref name="PearlsOfInsp_Rajaram">{{citar livro|último = Rajaram |primeiro = M. |título= Thirukkural: Pearls of Inspiration |publicado= Rupa Publications |edição= |data= 2009 |local= New Delhi |páginas= xviii-xxi}}</ref>
o o poder de seu talento, ele fez (especialmente em ''O Reino de Deus está em vós'') uma crítica poderosa à igreja, ao estado e às leis, e especialmente às leis de propriedade. Ele descreveu o estado como a dominação dos ímpios, apoiados em uma força brutal. Os ladrões, diz ele, são muito menos perigosos do que um governo bem organizado. Ele fez uma crítica aos benefícios conferidos aos homens pela igreja, pelo Estado e pela distribuição da propriedade e, a partir dos ensinamentos do Cristo, ele formulou a regra da não-resistência bem como a condenação absoluta de todas as guerras. Seus argumentos religiosos são, contudo, tão bem combinados com argumentos observados a partir dos males de sua época, que o anarquismo de suas obras atrai a atenção tanto o leitor religioso quanto o leitor não-religioso.<ref name="Kroptkin">{{citar livro|título=Encyclopædia Britannica Eleventh Edition |último =Kropotkin |primeiro =Peter |autorlink =Peter Kropotkin |ano=1911 |publicado= |local= |isbn= |página=918 |páginas= |url=https://archive.org/stream/encyclopaediabri01chisrich#page/918/mode/2up |acessodata= |citação=Anarchism}}</ref>
 
Durante sua segunda viagem pela Europa, Tolstói foi influenciado política e literariamente por [[Victor Hugo]]. Essa influência ficou evidente na obra [[Guerra e Paz]] (1865), onde Tolstói descreve as batalhas de maneira semelhante à de [[Os Miseráveis]], obra-prima de Hugo. A filosofia política de Tolstói também sofreu influência de uma visita feita em março de 1861 ao libertário [[Pierre-Joseph Proudhon]], que se encontrava exilado em [[Bruxelas]]. Tolstói cedeu a Proudhon o título de sua ''magnum opus'' à obra ''La Guerre et la Paix'', a qual ajudou a revisar. Sobre a experiência, ele escreveu:<ref name=’ilustrated’>{{citar livro|titulo=War and Peace|sobrenome=Tolstoy|nome=Líev|url= https://books.google.com.br/books?isbn=6155565384|ISBN=0679405739}}</ref>
 
<center><blockquote>"Proudhon (...) foi o homem que entendeu o significado da educação e da imprensa de nosso tempo".<ref name=’ilustrated’/></blockquote></center>
 
Entusiasmado com a experiência, ele retornou à Yasnaya Polyana onde fundou 13 escolas para crianças de camponesas que acabavam de ser [[Reforma Emancipadora de 1861 na Rússia|emancipadas pela reforma de 1861]].<ref>{{citar livro|último = Tolstoy |primeiro = Lev N. |autor2 =Leo Wiener |autor3 =translator and editor |título= The School at Yasnaya Polyana – The Complete Works of Count Tolstoy: Pedagogical Articles. Linen-Measurer, Volume IV |publicado= Dana Estes & Company |ano= 1904 |página= 227 | url = https://books.google.com/books?id=4cQnAAAAYAAJ&pg=PA227 }}</ref> Tolstói descreveu os princípios educacionais em seu ensaio ''The School at Yasnaya Polyana'' (1862). No entanto, suas experiências pedagógicas duraram pouco por conta do assédio imposto pela polícia secreta czarista. Tolstói pode ser considerado o percursor da liberdade na [[educação escolar]], além de ser pioneiro na aplicação teórica da [[gestão democrática]] nas escolas.<ref>{{citar livro|último = Wilson |primeiro = A.N. |título= Tolstoy |publicado= Norton, W. W. & Company, Inc. |ano= 2001 |página= xxi | url = https://books.google.com/books?id=imYmH8myBUsC&pg=PR19 | isbn = 0-393-32122-3 }}</ref>
 
==Vida pessoal==
 
Em 23 de setembro de 1862, Tolstói se casou com [[Sophia Tolstaya|Sophia Andreevna Behrs]], filha de um médico da corte. Eles tiveram 13 filhos, oito dos quais chegaram à vida adulta:<ref name=nyt>Susan Jacoby, "The Wife of the Genius" (April 19, 1981) ''[[The New York Times]]''</ref>
[[File:Ge Sophia Tolstaya.jpg|thumb|[[Sophia Tolstaya|Sophia]], esposa de Tolstói, com sua filha Alexandra Tolstaya.]]
* Conde Sergei Lvovich Tolstói (10 de julho de 1863 - 23 de dezembro de 1947), compositor e [[Etnomusicologia|etnomusicologista]]
* Condessa Tatyana Lvovna Tolstaya (4 de outubro de 1864 - 21 de setembro de 1950), esposa de Mikhail Sergeevich Sukhotin
* Conde Ilya Lvovich Tolstoy (22 de maio de 1866 - 11 de dezembro de 1933), escritor
* Conde Lev Lvovich Tolstói (1 de junho de 1869 - 18 de outubro de 1945), escritor e escultor
* Condessa Maria Lvovna Tolstaya (1871-1906), esposa de Nikolai Leonidovich Obolensky
* Conde Pedro Lvovich Tolstói (1872-1873), morreu na infância
* Conde Nikolai Lvovich Tolstói (1874-1875), morreu na infância
* A condessa Varvara Lvovna Tolstaya (1875-1875) morreu na infância
* Conde Andrei Lvovich Tolstói (1877-1916), soldado na [[Guerra Russo-Japonesa]]
* Conde Michael Lvovich Tolstoy (1879-1944)
* Conde Alexei Lvovich Tolstói (1881-1886)
* Condessa Alexandra Lvovna Tolstaya (18 de julho de 1884 - 26 de setembro de 1979)
* Conde Iván Lvovich Tolstói (1888-1895)
 
De início, o casamento com Sophia foi marcado pela intensidade sexual e insensibilidade emocional. Na véspera de seu casamento, Tolstói entregou a sua noiva seu diário pessoal que detalhava toda sua intensa vida sexual anterior a seu noivado. Os relatos incluíam o fato de ele ter tido um filho com uma de suas empregadas. Ainda assim, o casamento foi afortunado e proporcionou a Tolstói liberdade e estrutura familiar que o ajudaram a escrever as obras ''[[Guerra e Paz]]'' e ''[[Anna Karenina]]'' com Sophia atuando como sua secretária pessoal, editora e gerente financeira.<ref name=nyt/><ref>{{citar web|url=http://press.uchicago.edu/ucp/books/book/distributed/W/bo20274891.html|titulo=War and Peace and Sonya|publicado=press.uchicago|língua=en}}</ref>
 
No entanto o casamento foi deteriorando à medida que o estilo de vida e as crenças de Tolstói se tornavam cada vez mais radicais. Por conta de seu estilo de vida, ele rejeitou sua herança, incluindo os direitos autorais de suas obras.<ref>{{citar livro|ISBN=978-0393321227|sobrenome=Norton|nome=W.W.|titulo=Tolstoy: A Biography|língua=en}}</ref>
 
A família Tolstoy deixou a Rússia após a [[Revolução Russa de 1905]]. Os descendentes de Leo Tolstói vivem hoje espalhados pela Suécia, Alemanha, Reino Unido, França e Estados Unidos. Entre eles estão a cantora sueca Viktoria Tolstoy e o empresário sueco Christopher Paus.<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=3tYhBQAAQBAJ&pg=PT26&lpg=PT26&dq=Viktoria+Tolstoy+Christopher+Paus.&source=bl&ots=wkuelYHUQX&sig=dNeFM8A_f4vHA2FdoOJpj9Br3OE&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwikj8SOwc7WAhVGHZAKHSv6C1kQ6AEIRTAK#v=onepage&q=Viktoria%20Tolstoy%20Christopher%20Paus.&f=false|sobrenome=Kannings|nome=ann|ISBN=9786050330540|titulo=Leo Tolstoy: Life & Words|língua=en}}</ref>
 
==Novelas e trabalhos ficcionais==
[[Imagem:Leo Tolstoy and his brother Nikolai.JPG|left|thumb|Os irmãos Tolstói (Leo e Nikolai)]]
Tolstói é um dos gigantes da literatura russa; entre suas obras se destacam as novelas ''[[Guerra e Paz]], [[Anna Karenina]], [[Hadji Murad]]'' e ''[[A Morte de Ivan Ilitch]]''. Seus contemporâneos lhe prestaram diversas homenagens. [[Fiodor Dostoievski]] o classificou como o maior romancista de sua época. [[Gustave Flaubert]], ao ler uma tradução de Guerra e Paz, exclamou: "Que artista e que psicólogo!" [[Anton Chekhov]], que muitas vezes visitou Tolstói em sua propriedade rural, escreveu: "Quando a literatura possui um Tolstói, torna-se fácil e agradável ser escritor, mesmo quando você sabe que não foi bem sucedido e que continuará fracassando. Isso não soa tão terrível, pois Tolstói já foi bem-sucedido o suficiente por todos nós”. O poeta e crítico britânico [[Matthew Arnold]] opinou que "um romance de Tolstói não é uma obra de arte, mas um pedaço de vida".<ref name="Britannica">{{Britannica|598700}}</ref>
 
Críticos e romancistas contemporâneos continuam a desfrutar do legado e da arte de Tolstói. [[Virginia Woolf]] o nomeou como "o maior de todos os romancistas".<ref name="Britannica"/> [[James Joyce]] observou que: "Ele nunca é maçante, estúpido, cansativo, pedante ou teatral!". [[Thomas Mann]] elogiou a arte aparentemente inocente de Tolstói: "Raramente a arte trabalhou tanto quanto a natureza". Tais sentimentos foram compartilhados por [[Marcel Proust|Proust]], [[William Faulkner|Faulkner]] e [[Vladimir Nabokov|Nabokov]]. O último empilhou superlativos sobre ''A Morte de Ivan Ilitch'' e ''Anna Karenina''; mas questionou, no entanto, a reputação de ''Guerra e Paz'', e criticou duramente ''A Ressurreição'' e ''A Sonata a Kreutzer''.<ref>{{citar web|titulo=Torpid Smoke: The Stories of Vladimir Nabokov|url=https://books.google.com.br/books?id=jpbWNwd6N-8C&pg=PA53&lpg=PA53&dq=Nabokov+Kreutzer&source=bl&ots=lSPpT89wxL&sig=uw1SdXa5-IIwsN1xf29FOrUMrW0&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjWks-C287WAhVCW5AKHTsWCCcQ6AEIMDAB#v=onepage&q=Nabokov%20Kreutzer&f=false}}</ref>
 
As primeiras obras de Tolstói, as novelas autobiográficas ''Infância , Meninas e Jovens'' (1852-1856), narram a história de um filho de um rico proprietário e a sua lenta percepção do abismo social o separava de seus empregados camponeses. Embora mais tarde ele tenha rejeitado essas novelas, classificando-as como sentimental, grande parte da vida de Tolstói é revelada nessas primeiras obras. Elas se mantêm como contos universais relevantes a respeito do tema crescimento.<ref name=’Government’/>
 
Tolstói serviu como segundo tenente em um regimento de artilharia durante a [[Guerra da Crimeia]], experiência narrada em ''[[Crônicas de Sebastopol]]''. As experiências na batalha ajudaram a fomentar seu pacifismo e lhe deram material para a descrição realística dos horrores da guerra em trabalhos posteriores.<ref name=’Government’>''Government is Violence: essays on anarchism and pacifism''. Leo Tolstoy – 1990 – Phoenix Press</ref>
 
Seu estilo ficcional tenta sempre transmitir de maneira realista a sociedade russa na qual ele viveu; ''Os cossacos'' (1863) descreve a vida cossaca por da história de um aristocrata russo apaixonado por uma menina cossaca. ''Anna Karenina'' (1877) conta histórias paralelas de uma mulher adúltera presa pelas convenções e falsidades da sociedade adúltera, que sai da casa do marido para viver com o amante, Conde Vronsky, oficial da cavalaria. Tolstói não só exprimiu de suas próprias experiências, mas também criou personagens à sua imagem, tal como Pierre Bezukhov, o Príncipe Andrei de ''Guerra e Paz'', Levin de ''Anna Karenina'' e até certo ponto, o príncipe Nekhlyudov de ''A Ressurreição''.<ref>''Tolstoy: the making of a novelist. E'' Crankshaw – 1974 – Weidenfeld & Nicolson</ref>
 
{{multiple image
| header = O Poder da Escuridão
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| footer = 2015 no teatro ''Akademie'' de Vienna
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Sua ''magnum opus [[Guerra e Paz]]'' é majoritariamente reconhecida como a maior obra de literatura do Século XIX e unanimemente a maior obra da literatura russa. Escrita entre 1865 e 1869, a novela narra a história de cinco famílias que lutam durante a invasão da Rússia pelas tropas Napoleônicas. Tolstói criou 580 personagens, algumas históricas, outras ficcionais.<ref>Tolstoy and the Development of Realism. G Lukacs. ''Marxists on Literature: An Anthology'', London: Penguin, 1977</ref> A ideia original de Tolstói era investigar as causas da [[Revolta Dezembrista]], a que se refere apenas nos últimos capítulos. A novela acabou explorando, no entanto, a teoria da história de Tolstói e, em particular, a insignificância de indivíduos como [[Napoleão]] e [[Alexandre I da Rússia]]. Surpreendentemente, Tolstói não considerou ''Guerra e a Paz'' uma novela (nem considerava que muitas das grandes ficções russas escritas na época eram romances). Essa visão se torna menos surpreendente se levarmos em conta o fato de que Tolstói era um romancista da escola realista e, portanto, considerava o romance como um quadro para o exame de questões sociais e políticas.<ref>Tolstoy and the Development of Realism. G Lukacs. ''Marxists on Literature: An Anthology'', London: Penguin, 1977</ref> No entanto Tolstói passou a considerar ''Guerra e Paz'' uma prosa épica, fato que a desqualificou como análise social. Sendo assim, ele considerou ''Anna Karenina'' sua primeira novela verdadeira.<ref>''Tolstoy and the Novel''. J Bayley – 1967 – Chatto & Windus</ref>
 
Depois de ''Anna Karenina'', Tolstói concentrou-se em temas cristãos, e seus romances posteriores, como ''[[A Morte de Ivan Ilitch]]'' (1886) e ''O que deve ser feito?'' (1899) desenvolvem uma filosofia [[Anarquismo cristão|anarco cristã]] radical, fato que levou à sua excomunhão da [[Igreja Ortodoxa Russa]] em 1901.<ref>''Church and State''. L Tolstoy&nbsp;– On Life and Essays on Religion, 1934</ref> Por toda a comoção ocasionada em cima de ''Anna Karenina'' e ''Guerra e Paz'', Tolstói rejeitou as duas obras mais tarde, classificando-as como “obras que não retratavam a verdade”.<ref>''Women in Tolstoy: the ideal and the erotic'' R.C. Benson – 1973 – University of Illinois Press</ref>
 
Em sua última novela ''[[Ressurreição (Tolstói)|A Ressurreição]]'' (1899), Tolstói expõe a injustiça das leis feitas pelo homem e a hipocrisia da igreja institucionalizada. Tolstói também explora e explica a filosofia econômica do [[Henry George|Georgismo]], da qual ele se tornou um forte defensor pelo resto de sua vida.<ref>{{citar web|url=https://archive.org/details/TolstoyThePeculiarChristianAnarchist |título=Tolstoy the Peculiar Christian Anarchist |autor =Alexandre Christoyannopoulos |ano=2006}}</ref>
 
==Filosofia religiosa e política==
 
[[File:Ilya Repin - Leo Tolstoy Barefoot - Google Art Project.jpg|thumb|left|upright|Tolstói vestido com roupas camponesas, por [[Ilya Repin]] (1901)]]
Depois de ler ''[[O Mundo como Vontade e Representação]]'' de [[Arthur Schopenhauer]], Tolstói converteu-se gradualmente à moral ascética. Para ele, esse seria o caminho espiritual ideal a ser traçado pela alta-classe.<ref name='schop'>Tolstoy's Letter to A.A. Fet, August 30, 1869</ref>
 
<blockquote>“Estou convencido de que Schopenhauer é o mais genial dos homens. (…) Ao lê-lo não posso compreender como o seu nome pôde permanecer desconhecido. A única explicação possível é a que ele mesmo repete tantas vezes, que há quase só idiotas no mundo.”<ref name='schop'/></blockquote>
 
No capítulo VI de ''A Confissão'', Tolstói citou o último parágrafo do trabalho de Schopenhauer. Nele, Schopenhauer explica como o nada que resulta da completa "negação de si mesmo" é apenas um nada relativo, e, portanto, não deve ser temido. O romancista ficou impressionado com a descrição da renúncia ascética cristã, budista e hindu como o caminho da santidade. Depois de ler essas passagens, que são abundantes nos capítulos éticos de Schopenhauer, o nobre russo escolheu a pobreza e a negação formal da vontade:<ref name='schop2'/>
 
<blockquote>“Já encontramos um caminho para o ascetismo, ou negação do querer propriamente dito, entendendo eu por tal expressão precisamente aquilo que o Evangelho chama renunciar a si mesmo e levar a própria cruz (Mateus XVI). Tal caminho se acentuou sempre mais e deu origem aos penitentes, aos anacoretas e ao estado monacal, que, puro e santo primeiro, e, portanto, fora de proporção com a natureza da maior parte dos homens, não podia conduzir senão à hipocrisia e à abominação, porque ''abusus optimi, pessimus'' (torna-se péssimo o abuso do ótimo). Desenvolvendo-se o cristianismo, vemos este embrião ascético germinar e atingir o florescimento nos escritos dos santos e dos místicos cristãos. Estes, além do mais puro amor, pregam a resignação absoluta, a pobreza voluntária, a verdadeira calma, a completa indiferença pelas coisas da terra, o dever de morrer para a vontade e de renascer em Deus, o olvido total da própria pessoa para a absorção na contemplação do Senhor.”<ref>SCHOPENHAUER, Arthur. [http://books.google.com.br/books?id=tVTHZt0guKIC&printsec=frontcover&dq=O+mundo+como+vontade&cd=1#v=onepage&q&f=false ''O mundo como vontade e como representação'']. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Ed Unesp, 2005. ISBN 8571395861 Capitulo VI</ref></blockquote>
 
<blockquote>"Assim, [[Sidarta Gautama]] nasceu um príncipe, mas voluntariamente passou a viver como mendigo; e [[Francisco de Assis]], o fundador das [[ordens mendicantes]] que, foi criado numa redoma, e poderia escolher dentre qualquer filha de qualquer nobre. No entanto, quando lhe fora perguntado 'Agora, Francisco, você não vai fazer sua escolha agora dessas beldades?' ele: 'Eu fiz uma escolha muito mais bonita!' 'Qual?' '''La povertà'' (a pobreza)': depois disso ele abandonou tudo e perambulou pela terra como um mendicante."<ref name='schop2'>Schopenhauer, ''Parerga and Paralipomena'', Vol. II, §170</ref></blockquote>
 
Em 1884, Tolstói escreveu o livro ''No que eu acredito'', onde ele confessou abertamente suas crenças cristãs. Ele afirmou sua crença nos ensinamentos de Jesus Cristo e foi particularmente influenciado pelo [[Sermão da Montanha]]. Tolstói interpretou o “[[Ofereça a outra face]]” como um mandamento de não-resistência ao mal pela força, configurando assim uma doutrina de [[pacifismo]] e [[não-violência]]. Em seu trabalho ''[[O reino de deus esta em vós]]'', ele explica que considerou equivocada a doutrina da Igreja pois, em sua visão, eles corromperam os ensinamentos de Cristo. Tolstói também recebeu cartas de [[Quaker|quakers americanos]] que compartilhavam pensamentos de outros pacifistas americanos, tal como [[George Fox]] e [[William Penn]]. Tolstói achava que o pacifismo era uma obrigação cristã. O pacifismo de Tolstói somado a negação de qualquer Estado fizeram Tolstói ser considerado um [[anarquista]].<ref name='Christoyannopoulos'>{{citar web|url=https://archive.org/details/TolstoyThePeculiarChristianAnarchist |título=Tolstoy the Peculiar Christian Anarchist |autor =Alexandre Christoyannopoulos |ano=2006}}</ref>
 
Mais tarde, várias versões da "Bíblia de Tolstói" foram publicadas, indicando as passagens que Tolstói confiava mais, sobretudo, àquelas que transcreviam as palavras do próprio Jesus.<ref>Orwin, Donna T. ''The Cambridge Companion to Tolstoy''. Cambridge University Press, 2002</ref>
 
[[File:Gandhi Tolstoy Farm.jpg|thumb|right|[[Mohandas Karamchand Gandhi|Mohandas K. Gandhi]] e outros residentes da "Fazenda Tolstói", África do Sul, 1910]]
 
Tolstói acreditava que um verdadeiro cristão poderia encontrar a felicidade duradoura esforçando-se para atingir a auto perfeição interior, seguindo o mandamento de amar o próximo e a Deus. Ele privilegia a busca pessoal em detrimento da Igreja ou do Estado. Sua crença na não-resistência quando enfrentada pelo conflito é outro fundamento baseado nos ensinamentos de Cristo. Ao influenciar diretamente [[Mahatma Gandhi]] com essa ideia através de seu trabalho ''O Reino de Deus está dentro de vós'', a influência de Tolstói sobre o movimento de resistência não-violenta ressoa até os dias atuais. Ele acreditava que a aristocracia era um fardo para os pobres e que a única solução para o problema social estaria no [[anarquismo]].<ref name='Christoyannopoulos'/>
 
Ele também se opôs à propriedade privada e à propriedade de terra, bem como à instituição do casamento e valorizou os ideais de castidade e abstinência sexual. Essas ideais foram colocadas em prática pelo jovem Gandhi.<ref>{{citar web |autor=editor on September 8, 2009 |url=http://coastlinejournal.com/2009/09/08/why-leo-tolstoy-wouldn%E2%80%99t-super-size-it/ |título=Sommers, Aaron (2009) '&#39;Why Leo Tolstoy Wouldn't Supersize It'&#39; |publicado=Coastlinejournal.com |data=8 de setembro de 2009 |acessodata=16 de maio de 2010 |datali=agosto de 2017 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20171123060912/http://coastlinejournal.com/2009/09/08/why-leo-tolstoy-wouldn%E2%80%99t-super-size-it/ |arquivodata=2017-11-23 |urlmorta=yes }}</ref>
 
Tolstói teve uma profunda influência no desenvolvimento do pensamento [[Anarquismo cristão|anarquista cristão]].<ref name='Christoyannopoulos'/> Os [[Tolstóismo|Tolstóianos]] surgiram como um pequeno grupo anarquista, criado por Vladimir Chertkov, para difundir os ensinamentos religiosos de Tolstói. O filósofo [[Peter Kropotkin]] escreveu no artigo sobre o anarquismo na Enciclopédia Britânica de 1911:<ref name='Kroptkin'/>
 
o<blockquote>Sem nomear-se anarquista, Leo Tolstói, assim como seus predecessores dos movimentos religiosos populares dos séculos XV e XVI, Chojecki, Denk, optou pela posição anarquista no que diz respeito aos direitos de propriedade em face ao Estado, deduzindo suas conclusões do espírito geral dos ensinamentos do Cristo. Com todo o poder de seu talento, ele fez (especialmente em ''O Reino de Deus está em vós'') uma crítica poderosa à igreja, ao estado e às leis, e especialmente às leis de propriedade. Ele descreveu o estado como a dominação dos ímpios, apoiados em uma força brutal. Os ladrões, diz ele, são muito menos perigosos do que um governo bem organizado. Ele fez uma crítica aos benefícios conferidos aos homens pela igreja, pelo Estado e pela distribuição da propriedade e, a partir dos ensinamentos do Cristo, ele formulou a regra da não-resistência bem como a condenação absoluta de todas as guerras. Seus argumentos religiosos são, contudo, tão bem combinados com argumentos observados a partir dos males de sua época, que o anarquismo de suas obras atrai a atenção tanto o leitor religioso quanto o leitor não-religioso.<ref name="'Kroptkin"'>{{citar livro|título=Encyclopædia Britannica Eleventh Edition |último =Kropotkin |primeiro =Peter |autorlink =Peter Kropotkin |ano=1911 |publicado= |local= |isbn= |página=918 |páginas= |url=https://archive.org/stream/encyclopaediabri01chisrich#page/918/mode/2up |acessodata= |citação=Anarchism}}</ref></blockquote>
 
[[Imagem:Tolstoy organising famine relief in Samara, 1891.jpg|thumb|left|Tolstói fornecendo alívio durante períodos de fome, Samara, 1891]]