Língua ge'ez: diferenças entre revisões

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{{Sem notas|data=maio de 2018}}
{{Info língua/Língua
| nome = Ge'ez, gueês
| nomenativo = <font size="+1">{{Unicode|ግዕዝ}}</font> ''{{Semxlit|gəʿəz}}''
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As consoantes do ge'ez possuem uma tríplice entre, muda, sonora, e ejetiva (ou enfática) obstruentes. A ênfase [[proto-semítico|proto semítica]] no ge'ez têm sido generalizada para incluir a consoante enfática {{Unicode|p̣}}. O gueês possui consoantes labiovelares derivadas dos bifonemas do proto-semítico. As consoantes do ge'ez {{Unicode|ś}} {{unicode|ሠ}} ''sawt'' (em amárico, também chamada ''{{Unicode|śe-nigūś}}'', i.e. a letra ''se'' usada para escrever a palavra ''{{Unicode|nigūś}}'' "rei") foi reconstruída como derivada da letra proto-semítica muda lateral fricativa {{IPA|[ɬ]}}, mantida como um fonema distinto em outras línguas semíticas. Tal como o árabe, o ge'ez fundiu as letras semíticas ''š'' e ''s'' na {{unicode|ሰ}} (também chamada ''{{Unicode|se-isat}}'': a letra ''se'' usada para se escrever a palavra ''isāt'' "fogo"). De forma geral, a fonologia ge'ez é comparativamente conservadora, os únicos outros contrastes fonológicos perdidos podem ser as consoantes interdentais fricativas e a consoante gaim (ﻍ).
 
No quadro abaixo, são mostrados os valores do [[Alfabeto fonético internacional|IPA]]. Quando a transcrição é diferente do IPA, o caractere é mostrado em parênteses.
 
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{{AP|Alfabeto gueês}}
 
A língua ge'ez é escrita com o [[alfabeto ge'ez|alfabeto etíope]], um [[abugida]], esse sistema de escrita foi originariamente desenvolvido para escrever o ge'ez. Em outras línguas que também usam esse alfabeto, como amárico e tigrina, essa escrita é chamada ''{{Semxlit|Fidäl}}'', que significa justamente escrita ou alfabeto.
 
Diferente das outras escritas semíticas, o ge'ez é escrito da esquerda para a direita.
 
A escrita ge'ez tem sido adaptada para escrever outras línguas, geralmente semíticas. A mais difundida a usar essa escrita é o [[amárico]] na [[Etiópia]] e o [[Língua tigrínia|tigrínia]] na [[Eritreia]] e Etiópia. A escrita ge'ez também tem sido usada para se escrever as sebatbeit, me'en, agew e muitas outras línguas na Etiópia. Na Eritreia é usado para escrever a [[língua tigre]], e a [[língua blin]], uma [[línguas cuchíticas|língua cuchítica]]. Algumas outras línguas do Chifre da África como o [[língua oromo|oromo]], usaram o ge'ez mas mudaram para ortografias baseadas no [[alfabeto latino]].
 
Essa escrita possui 26 consoantes básicas usadas para se escrever o ge'ez:
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== História e literatura ==
A literatura ge'ez é dominada pela [[Bíblia]], incluindo o [[Livros deuterocanônicos|Deuterocânon]]. Muitos dos importantes trabalhos são trabalhos da [[Igreja Ortodoxa Tewahido da Etiópia]], que incluem a liturgia cristã (orações, hinos), história e vida dos santos, e literatura [[padre|patriarcal]]. Essa orientação religiosa da literatura ge'ez foi resultado do fato de a educação tradicional ser responsabilidade dos padres e monges. "A igreja assim constituiu a custódia da cultura da nação", nota Richard Pankhurst, que assim descreve a educação tradicional:
 
: A educação tradicional é largamente baseada na bíblia. Isso começou com o aprendizado do alfabeto, ou melhor, silabário... Um estudante do segundo grau teria de memorizar o primeiro capítulo da [[Primeira Epístola de João]] em ge'ez. O estudo da escrita também poderia começar nesse estágio, com a adição da aritmética. No terceiro estágio os [[Atos dos apóstolos]] eram estudados, enquanto certos fiéis também haviam aprendido, a escrita e aritmética continuavam... O quarto estágio começava com o estudo dos [[salmos|Salmos de Davi]] e era considerado um importante marco na educação infantil, sendo celebrado pelos parentes com um banquete no qual eram convidados o professor, parentes, vizinhos e amigos. Um garoto que alcança esse estágio poderia além do mais ser capaz de escrever e ocasionalmente atuar como escritor de cartas. <ref name=PAN>[PAN], pp. 666f.; cf. the EOTC's own account at [http://www.eotc-patriarch.org/teachings.htm#read its official website] {{Wayback|url=http://www.eotc-patriarch.org/teachings.htm#read |date=20100625174828 }}</ref>
 
Trabalhos em história e cronografia, leis civis e eclesiásticas, filologia, medicina, e correspondências eram escritas em ge'ez.
 
A coleção etíope da [[Biblioteca britânicaBritânica]] compreende a mais de 800 manuscritos datando do {{séc|XV}} ao XX, notavelmente incluindo rolos mágicos e divinatórios, e manuscritos iluminados dos séculos 16 e 17. A coleção foi iniciada com a doação de 74 [[códice]]s pela Sociedade Eclesiástica Missionária Inglesa nos anos de 1830 a 1840, e substancialmente expandida para 349 códices, levados para os britânicos da capital de Tewodros II em Magdala na expedição de 1868 na [[Abissínia]].
 
=== Origens ===
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Quase todos os textos do antigo período axumita são de natureza [[cristão|cristã]], muitos deles traduções do grego, siríaco e posteriormente do árabe. A tradução da bíblia cristã foi feita por monges sírios conhecidos como ‘’os nove santos’’, que foram à Etiópia no {{séc|V}} fugindo da perseguição dos [[monofisismo|monofisistas]] bizantinos. A bíblia etiópica contém 81 livros, 46 do velho testamento e 35 do novo. Esse conjunto de livros é chamado "deuterocânone" (ou "apócrifo" de acordo com certas teologias ocidentais) como a [[Ascensão de Isaías]], [[Livro dos Jubileus|Jubileus]], [[Livro de Enoque|Enoque]], o [[Baruque|Paralipomena de Baruque]], [[Noé]], [[Esdras]], [[Neemias]], [[Macabeus]], [[Moisés]] e [[livro de Tobias|Tobias]]. O livro de Enoque em particular é notável, pois seu texto completo não sobreviveu em nenhuma outra língua.
 
Também desse peródo data Qerlos, uma coleção de escritos cristãos começando com o tratado de [[São Cirilo]] conhecido como ''Haimanot Rete’et'', ou ''De Recta Fide'', a fundação teológica da Igreja Etíope. Outro trabalho notável é ''Sher'ata Paknemis'', uma tradução das regras monásticas do [[Pacômio]]. Trabalhos não religiosos desse período incluem o ''[[Physiologus]]'', um trabalho de história natural também popular na Europa. <ref name=BUD566>[BUD], pp. 566f.</ref>
 
=== Séculos XIII XIV ===
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Também nessa época foram traduzidas para o ge'ez as ''constituições apostólicas'' que deram um novo conjunto de leis para a Igreja Etíope. Uma outra tradução desse período é ''Zena 'Ayhud'', uma tradução (provavelmente do árabe) da ''História dos judeus'' (''Sefer Yosephon'') José bem Guriom escrita no {{séc|X}}, que relata o período do cativeiro até a captura de [[Jerusalém]] por Tito.
 
A parte desses trabalhos teológicos, as mais antigas crônicas reais da Etiópia são datadas do reinado de {{lknb|Ámeda-Sion|I}} {{nwrap|r.|1314|44}}. Com o aparecimento dos "Cânticos Vitorianos" de Ámeda-Sion, esse período também marca o início da literatura [[amárico|amárica]].
 
No {{séc|XIV}} o ''[[Kebra Negast|Kəbrä Nägäst]]'' ou "Glória dos Reis" de Nebura’ed Yeshaq Axum é um dos mais significantes trabalhos da literatura etíope, combinando história, alegoria e simbolismo em um ''remake'' da história da [[rainha de Sabá]], [[rei Salomão]], e seu filho {{lknb|Menelique|I}}. Um outro trabalho que teve início nessa época é ''Mashafa Aksum'' ou "Livro de Axum".<ref name=BUD574>[BUD], p. 574</ref>
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A literatura floresceu especialmente durante o reinado do imperador [[Zara-Jacó]]. Foram escritos pelo próprio imperador ''Matshafa Berhan'' ("O Livro da Luz") e ''Matshafa Milad'' ("O Livro da Natividade"). Numerosas homilias foram escritas nesse período, notavelmente ''Retu’a Haimanot'' ("Verdadeira Ortodoxia") atribuída a John Chrysostom. Também é de grande importância a tradução do Fetha Negest ("Leis dos reis"), que teria se dado em 1450, sendo atribuída a Pedro Abda Saíde — que mais tarde se tornou a lei suprema da Etiópia, até ser substituída pela moderna constituição de 1930.
 
No início do {{séc|XVI}}, as invasões islâmicas puseram um fim na evolução da literatura etíope.
 
Uma carta de Aba Embacom (ou "Habacuque") ao imame Amade ibne Ibraim, intitulada ''Anqasa Amin'' ("Porta da Fé"), dando suas razões para o abandono do islã, no entanto é provável que tenha sido escrita primeiro em árabe e mais tarde reescrita e expandida em uma versão ge'ez por volta de [[Década de 1530|1532]], é considerada um dos clássicos da literatura ge'ez.<ref name=PUN03>[PAN03]</ref> Durante esse período, escritores etíopes começaram a fazer uma distinção entre a Igreja Etíope e a Igreja Católica Romana em trabalhos como ''As confissões'' do imperador Cláudio, ''Sawana Nafs'' ("Refúgio da Alma"), ''Fekkare Malakot'' ("Exposição da Cabeça de Deus") e ''Haymanote Abaw'' ("A Fé dos Pais"). Por volta do ano 1600, um grande número de obras foram traduzidas do árabe para o ge'ez pela primeira vez, incluindo a ''crônica'' de [[João de Niquiu]] e a ''História Universal'' de Jirjis ibne Alamide Abil Uacir (também conhecido como [[al-Makin]]).