Raça (categorização humana): diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 20:
Population and Development Review Vol. 30, No. 3 (Sep., 2004), pp. 385-415</ref> Exemplo disso é que a quantidade de raças humanas existentes varia no decorrer do tempo. Até meados do [[século XX]], os europeus eram divididos em diferentes sub-raças: [[Raça nórdica|nórdicos]] predominando no Norte, [[Raça alpina|alpinos]] no Centro e [[Raça mediterrânea|mediterrâneos]] mais ao Sul. Em 1916, no livro ''The Passing of the Great Race'' (A extinção da grande raça), o eugenista [[Madison Grant]] escrevia que os casamentos entre os nórdicos "superiores" e os alpinos e mediterrânicos "inferiores" debilitavam a raça superior através da mestiçagem. Essa divisão racial dos europeus influenciou o Congresso dos Estados Unidos que, em 1924, aprovou uma lei restritiva de imigração (lei de quotas), a qual favorecia a entrada de nórdicos e limitava a entrada de imigrantes oriundos do Sul e do Leste da Europa, como italianos, gregos, eslavos e judeus, conforme Madison Grant desejava. Posteriormente, essa subdivisão racial dos europeus caiu em desuso.<ref>John P. Jackson, Nadine M. Weidman. Race, Racism, and Science: Social Impact and Interaction. Rutgers University Press; None edition (September 29, 2005)</ref>
 
Classificações raciais são frequentemente feitas com base em características físicas escolhidas arbitrariamente, como [[cor da pele]] e textura do [[cabelo]].<ref name="article"/> Porém, nos Estados Unidos, pelo menos até meados do século XX, uma pessoa de pele branca, olhos azuis e cabelos loiros, poderia ser considerada "negra", caso tivesse alguma ascendência africana publicamente conhecida. Isso deve-se à imposição da [[regra de uma gota]] pelo governo americano, quando passou a ser necessário definir quem era negro, com o advento da [[segregação racial]] com as [[Leis de Jim Crow]].<ref name=historical>[https://escholarship.org/content/qt91g761b3/qt91g761b3.pdf Historical Origins of the One-Drop Racial Rule in the United States]</ref><ref name=skin>Evelyn Glenn. Shades of Difference: Why Skin Color Matters. Stanford University Press; 1 edição (2009)</ref><ref>[https://www.commentarymagazine.com/articles/wilfred-reilly/the-tragedy-of-the-one-drop-rule/ The Tragedy of the One-Drop Rule]</ref> Já no Brasil e no resto da [[América Latina]], classificações raciais sempre foram mais fluidas e fortemente baseadas na cor da pele, havendo, entre o branco e o negro, uma enorme gradação de cores de pele.<ref name=skin/> Por sua vez, na [[Europa]], historicamente a população é dividida muito mais em termos de [[religião]], [[idioma]] ou [[nacionalidade]] do que em termos de aparência física.<ref>Bruce Baum. The Rise and Fall of the Caucasian Race: A Political History of Racial Identity</ref> No [[Continente Africano]], as divisões são fortemente feitas com base em grupos tribais<ref>[https://www.culturalsurvival.org/publications/cultural-survival-quarterly/nation-tribe-and-ethnic-group-africa NATION, TRIBE AND ETHNIC GROUP IN AFRICA]</ref> e na [[Índia]] em [[Sistema de castas na Índia|castas]].<ref name="magnoli">MAGNOLI, Demétrio. ''Uma Gota de Sangue'', Editora Contexto 2008 (2008)</ref>
 
Raça é influenciada inclusive pela condição socioeconômia do indivíduo. Em muitas partes da América Latina, ser branco é mais uma questão de status socioeconômico do que características fenotípicas específicas, e costuma-se dizer que na América Latina "o dinheiro embranquece".<ref>Levine-Rasky, Cynthia. 2002. "Working through whiteness: international perspectives. SUNY Press (p. 73) " 'Money whitens' If any phrase encapsulates the association of whiteness and the modern in Latin America, this is it. It is a cliché formulated and reformulated throughout the region, a truism dependent upon the social experience that wealth is associated with whiteness, and that in obtaining the former one may become aligned with the latter (and vice versa)."</ref> Porém, esse fenômeno não é exclusivo da América Latina. Nos Estados Unidos da segregação racial, mestiços de [[pele morena]], mas bem vestidos e que falassem bem, conseguiam passar-se por descendentes de [[italianos]] ou [[portugueses]], enquanto eles seriam classificados como negros se aparentassem ser pobres e falassem com um dialeto rural. Essa tática era denominada [[Passing (identidade racial)|passing]].<ref name=paper>Emily Nix, Nancy Qian .The Fluidity of Race: "Passing" in the United States, 1880-1940. NBER WORKING PAPER SERIES. 2015.</ref>
 
Raças podem ser inventadas e extintas, conforme interesses políticos. Na [[Bolívia]], o presidente [[Evo Morales]] mandou eliminar a categoria "[[mestiço]]" do censo de 2012, depara, modosegundo aos críticos, forçar um maior número de bolivianos a identificarem-se como "indígenas" e, assim, aumentar a legitimidade do seu governo pautado por um discurso indigenista.<ref name="mara"/><ref name="bolivia">[https://www.usatoday.com/story/news/world/2012/11/21/bolivias-census-omits-mestizo-category/1719939/ Bolivia's census omits 'mestizo' as category]</ref> No Brasil, grupos [[Racialismo|racialista]]s tentaram inúmeras vezes eliminar a categoria intermediária "[[Pardos|parda]]" dos censos, mas não conseguiram, devido às reações contrárias.<ref name="mara">Mara Loveman. National Colors: Racial Classification and the State in Latin America. Oxford University Press; 1 edition (July 7, 2014)</ref><ref name="riserio">Antonio Risério. A utopia brasileira e os movimentos negros. Editora: Editora 34; Edição: 2 (1 de janeiro de 2012)</ref> Nos Estados Unidos, a categoria "[[mulato]]" foi eliminada a partir de 1910, para forçar todas as pessoas de sabida ascendência africana a identificarem-se como negras. Curiosamente, estabeleceu-se uma exceção para a ascendência indígena, para abarcar as família ricas da [[Virgínia]] que afirmavam descender da índia [[Pocahontas]]: definiu-se que eram "brancos" aqueles que tivessem 1/16 de sangue indígena ou menos, mas qualquer gota de sangue negro impedia o status de ser branco.<ref name="Pocahontas">[http://www.virginiaplaces.org/population/onedrop.html The "One-Drop" Rule and Racial Identification By Whites, Blacks, and Native Americans]</ref> Também nos Estados Unidos, foi inventada a categoria étnica "[[hispânico]] ou latino", que abarca sob uma mesma categoria pessoas de países com demografias tão diferentes entre si quanto [[Argentina]], [[República Dominicana]] ou [[Guatemala]], e até mesmo europeus da [[Espanha]] às vezes são tratados como "pessoas de cor".<ref>[https://www.pri.org/stories/2015-10-28/im-white-barcelona-los-angeles-im-hispanic I'm white in Barcelona but in Los Angeles I'm Hispanic?]</ref><ref>[https://www.npr.org/2020/02/09/803809670/why-labeling-antonio-banderas-a-person-of-color-triggers-such-a-backlash Why Labeling Antonio Banderas A 'Person Of Color' Triggers Such A Backlash]</ref>
 
Na [[França]], devido ao trauma das políticas raciais [[nazista]]s durante a [[II Guerra Mundial]], quando muitos [[judeu]]s franceses foram mortos em [[campos de concentração]], o governo não conta a população por raça ou etnia desde 1978, quando foi aprovada uma lei que impede que os franceses sejam enumerados por essas categorias sem o seu consentimento ou a isenção do comitê estadual. Em parte, essa tendência pode ser explicada pelas tradições revolucionárias e republicanas francesas de tratar todos os cidadãos de forma igual perante a lei.<ref name = "francerace">{{citar web|url=https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:vLz6pnq_4oAJ:www.brookings.edu/fp/cusf/analysis/laurence.pdf+france+census+race+ethnicity+1872+law&hl=en&gl=us&pid=bl&srcid=ADGEESiJ1dyvouY6Ibx8dja6tnv8e0sqVHvda_pLjbRRf94-Opttxtn4eBTEDpPHnM5A8uyb_RcxB4IVVPWJTc2M_cKtnshQHFZFpIqG53wsjVbhXtoCwZiQaEGMKL3olzpyzvf33sLa&sig=AHIEtbTLE-kOeESgjIHxqg6u_5kmCZk6yQ |título=Powered by Google Docs |data= |acessodata=2012-09-21}}</ref><ref name=autogenerated24>{{citar web|último =Bleich |primeiro =Erik |url=http://www.brookings.edu/research/articles/2001/05/france-bleich |título=Race Policy in France &#124; Brookings Institution |publicado=Brookings.edu |data=2001-05-01 |acessodata=2013-03-21}}</ref><ref>[https://www.brookings.edu/articles/race-policy-in-france/#:~:text=France%20therefore%20collects%20no%20census,that%20race%20and%20ethnicity%20matter. Race Policy in France]</ref>