Mosteiro da Serra do Pilar: diferenças entre revisões

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O '''Mosteiro da Serra do Pilar''' ou '''Mosteiro de Santo Agostinho da Serra do Pilar''' localiza-se numa elevação denominada [[Serra do Pilar]], em [[Vila Nova de Gaia]], [[Portugal]]. O edifício está no lado oposto do [[Rio Douro]] do Porto, com vista para a [[Ponte de D. Luís (Porto)|Ponte Luís I]] e para o [[Centro Histórico do Porto]]. O Mosteiro pertencia à [[Ordem de Santo Agostinho]] e a sua edificaçãoedifícação teve início em 1538 {{nota de rodapé|Algumas fontes indicam 1537 como a data de início da construção}} e prolongou-se pelos séculos seguintes, em diversas etapas de construção que alteraram significativamente o desenho inicial. Actualmente serve como local religioso, cultural e militar.
 
O mosteiro é considerado um dos mais notáveis edifícios da arquitetura clássica europeia devido ao seu excepcional valor arquitetónico e ao caráter singular da sua igreja e do seu [[claustro]], ambos circulares e com a mesma dimensão. A igreja foi classificada como [[Monumento Nacional]] em 1910 e em 1996 juntamente com o Centro Histórico do Porto e a Ponte Luís I passou a estar classificado como [[Património Mundial da Unesco]].
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== História ==
[[File:Blick auf Mosteiro do Serra de Pilar (von Ponte Dom Luís I) (14004502542) (cropped).jpg|thumb|left|230px|Mosteiro da Serra do Pilar visto do Porto.]]
Desde a sua origem este mosteiro teve várias denominações; foi designado por Mosteiro do Salvador do Porto (1542, 1553, 1566, 1572), por Mosteiro Novo do Salvador (1559), por Mosteiro do Salvador de Vila Nova (1570), por Mosteiro da Serra (1694, 1737, 1740), por Mosteiro ou Convento de Santo Agostinho da Serra (1720, 1746), ou ainda Mosteiro de Santo Agostinho da Serra do Pilar.<ref>{{citar web|URL=http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4380753|título=Mosteiro de Santo Agostinho da Serra de Vila Nova de Gaia|autor=|data=|publicado=Arquivo Nacional, Torre do Tombo – Direcção-Geral de Arquivos|acessodata=02-05-2017}}</ref> O nome popular pelo qual é hoje mais conhecido – Mosteiro da Serra do Pilar –, teve origem na devoção à [[Virgem do Pilar]], que remonta ao período da [[dinastia filipina]] (segundo algumas fontes uma imagem da Virgem do Pilar terá sido colocada na capela-mor do Mosteiro da Serra do Pilar em 1678 ).{{nota de rodapé|Segundo dados da SIPA/DGPC, data de 1676 um contrato com Domingos da Costa para a execução do retábulo-mor, que no entanto não terá sido executado, que deveria integrar uma tribuna central para Nossa Senhora do Pilar, ladeada por nichos com as imagens de Santo Agostinho e São Teotónio. Uma imagem da Senhora do Pilar encontra-se, isso sim, no [[Mosteiro de São Vicente de Fora]].<ref name="SIPA">{{citar web|URL=http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5358|título=Mosteiro da Serra do Pilar|autor=|data=|publicado=SIPA - DGPC|acessodata=29-04-2017}}</ref><ref>{{citar web|URL=http://www.monumentos.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=6529|título=Igreja e Mosteiro de São Vicente de Fora / Igreja Paroquial de São Vicente de Fora / Igreja de São Vicente, São Tomé e Salvador / Paço Patriarcal de São Vicente|autor=|data=|publicado=SIPA; DGPC|acessodata=24-04-2017}}</ref><ref>{{citar web|URL=https://books.google.pt/books?id=FGAoAQAAMAAJ&pg=PA350&dq=Nossa+senhora+do+Pilar,+mosteiro+da+serra+do+pilar&hl=pt-PT&sa=X&ved=0ahUKEwisvbXdu7jTAhUL1hQKHZnYAw0Q6AEIKDAB#v=onepage&q=Nossa%20senhora%20do%20Pilar%2C%20mosteiro%20da%20serra%20do%20pilar&f=false |título=A ponte pênsil do Porto e o convento da Serra do Pilar|autor=|data=|publicado=Illustração Luzo-Brasileira, nº 44, vol. 11, p. 350|acessodata=22-04-2017}}</ref>}} ). Da memória dessa devoção resta, para além da denominação do mosteiro, a feira anual que ocorre junto ao mosteiro na data da antiga romaria (15 de agosto).<ref name="Abreu">A.A.V.V. (textos de Susana Abreu) – ''Mosteiro da Serra do Pilar''. Porto: Direção Regional de Cultura do Norte, 2014.</ref>
A fundação deste mosteiro masculino, originalmente da invocação de [[Jesus Cristo|Cristo]], São Salvador do Mundo, deve-se à necessidade de transferência da comunidade do [[Mosteiro de Grijó]] (cujos edifícios se encontravam em elevado estado de degradação), da Ordem dos Cónegos regrantes de Santo Agostinho, para um local próximo da cidade do Porto. Foi escolhido um local proeminente na margem sul do rio Douro, na serra de São Nicolau de Vila Nova, defronte dessa cidade. A origem da iniciativa remonta a 1527, data a partir da qual o rei D. João III e Frei [[Brás de Barros]] se empenharam na união de todos os mosteiros dessa ordem numa única congregação com sede em [[Santa Cruz de Coimbra]] e a nova localização visava facilitar a ligação às restantes casas de [[Entre-Douro-e-Minho]]. Desconhece-se ao certo quem traçou as edificações originais, mas os nomes de [[Diogo de Castilho]] e [[João de Ruão]] figuram em fontes documentais da época e tudo indica ter-se tratado de uma obra de autoria conjunta, embora, com elevado grau de probabilidade, de acordo com um esquema geral gizado por Frei Brás de Barros, traduzindo certas ideias filosóficas, teológicas e arquitetónicas então correntes na corte que refletiam a renovação do pensamento ocorrida no [[renascimento]] .{{nota de rodapé|Susana Abreu faz referência às proporções e relações espaciais presentes nesta construção monástica e sua possível significação.<ref name="Abreu" /> Segundo Fernando António Baptista Pereira, as plantas centralizadas, tanto da igreja como do claustro, terão sido certamente escolhidas pela simbologia da perfeição contida no círculo, ideia igualmente apresentada por Marta Oliveira, para quem, recorrendo a [[Francisco de Holanda]] (''Da Pintura Antiga''; 1548), a obra de S. Salvador é, como na pintura, ''declaração de um pensamento em obra visível e contemplativa, e a forma da igreja, redonda, é na semelhança da Divindade… a mais capaz e perfeita''.<ref>Oliveira, Marta M. Peters Arriscado de – "O Mosteiro do Salvador: Um Projecto do Século XVI", ''Monumentos 9'' (revista mensal de edifícios e monumentos), Dossier Mosteiro da Serra do Pilar, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais</ref><ref name="Markl">Markl, Dagoberto; Pereira, Fernando António Baptista – ''História da arte em Portugal: o renascimento''. Lisboa: Publicações Alfa, 1986.</ref>}}.<ref name="Abreu" />
 
A construção iniciou-se em 1538{{nota de rodapé|Algumas fontes indicam 1537 como a data de início da construção.}} e a mudança dos religiosos para a nova casa ocorreu quatro anos mais tarde, ainda para instalações provisórias, tendo a igreja primitiva sido sagrada em 1544. O essencial do mosteiro ficaria pronto em 1564 prolongando-se a finalização do claustro até 1583. A configuração original do mosteiro pouco duraria; em 1597 deu-se o arranque da construção de uma nova igreja, de maiores dimensões, por se considerar a inicial demasiado pequena e acanhada, desconhecendo-se a autoria da nova traça arquitetónica; pensa-se ainda que essa nova edificação terá ocorrido em simultâneo uma primeira deslocação do claustro, realizada com aproveitamento dos elementos originais, o que parece comprovar-se pelas características dos principais elementos de cantaria (as colunas ou portais), estilisticamente datáveis da primeira metade do século XVI (na sequência da fundação da nova igreja, em 1599 a invocação do mosteiro passou a ser de Santo Agostinho). As obras desta fase foram particularmente demoradas, ficando a construção da cúpula da igreja parada por longos anos. A edificação seria terminada entre 1669 e 1672, tendo a nova inauguração tido lugar em 17 de julho de 1672. Em 1690 foram assinados dois contratos de pedraria com vista a uma nova alteração de vários edifícios, visando em particular abrir espaço para a construção de um retro coro anexo à capela-mor (traça de Domingos Lopes), o que implicou, uma vez mais, o desmonte e reconstrução do claustro renascentista; no ano imediato era contratado Filipe Silva para executar um retábulo para o altar-mor. Os trabalhos desta última fase foram rápidos e levaram, no essencial, à atual configuração do mosteiro.<ref name="Abreu" />
 
A relevância geo-militar do mosteiro resultante da sua localização privilegiada sobre o rio Douro, Vila Nova de Gaia e a cidade do Porto, foi manifesta durante as [[Guerra Peninsular|invasões francesas]] (1807-1814), o [[Cerco do Porto]] (1832-1833), e a [[Maria da Fonte]] (1846-1847), levando à construção de um sistema fortificado. Em 1835, um ano depois de ser decretada a [[extinção das ordens religiosas]] e de o edifício ser incorporado no património do Estado, o sítio da Serra do Pilar era elevado a Praça de Guerra de 1ª classe. As guerras ocorridas ao longo dos anos deixaram várias edificações arruinadas, em particular a ala sul, e em 1927 era dado início à sua reconstrução. Em 1947 parte das instalações foram cedidas ao Regimento de Artilharia Pesada nº2 para aí ser instalado um pequeno museu; dez anos mais tarde a igreja abriu ao culto e a partir do final do século XX foram realizadas novas obras de manutenção.<ref name="Abreu" />