René Clair: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Ficheiro
m
Linha 28:
René Clair nasceu dia 11 de novembro de 1898 em Paris e morreu dia 15 de março de 1981 em Neuilly-sur-Seine. Foi um grande cineasta e escritor francês. Trabalhou na [[Primeira Guerra Mundial]] como escritor de [[contos]] e [[crônica (gênero)|crônicas]] para os combatentes e estreou no cinema em [[1924]] com o filme ''Paris qui dort''. Ele dizia que tinha entrado para o [[cinema]] por acaso e acabou realizando uma carreira de diretor que durou 42 anos e que lhe rendeu muitos prêmios e homenagens.
 
Considerado um mestre do cinema, um dos precursores do filme de autoria, o maior criador cômico depois de [[Charles Chaplin]], René Clair figura entre os maiores cineastas do cinema francês. Foi o primeiro cineasta a entrar na Academia Francesa. Filho de comerciantes, ele cresceu no bairro Halles em Paris, junto com irmão mais velho, Henri Chomette, também cineasta. Estudou no Lycée Montaigne, depois no Lycée Louis-le-Grand. Em 1917, serviu como paramédico na [[Primeira Guerra Mundial|primeira guerra]]. Voltou logo em seguida, por motivo de doença. As mortes de amigos o deixaram desiludido com a batalha. Começou então a escrever textos literários, críticas de cinema, artigos para jornais. Em 1918, se tornou jornalista do L'Intransigeant com o pseudônimo de René Després. Compôs também letras de música para a famosa cantora Damia, com o pseudônimo de Danceny.
Filho de comerciantes, ele cresceu no bairro Halles em Paris, junto com irmão mais velho, Henri Chomette, também cineasta. Estudou no Lycée Montaigne, depois no Lycée Louis-le-Grand. Em 1917, serviu como paramédico na primeira guerra. Voltou logo em seguida, por motivo de doença. As mortes de amigos o deixaram desiludido com a batalha. Começou então a escrever textos literários, críticas de cinema, artigos para jornais. Em 1918, se tornou jornalista do L'Intransigeant com o pseudônimo de René Després. Compôs também letras de música para a famosa cantora Damia, com o pseudônimo de Danceny.
Em seguida conseguiu papéis de ator em diversos filmes como: ''Le Lys de la vie, Le Sens de la mort, L'Orpheline, Parisette''. Foi nessa época que escolheu o pseudônimo de René Clair. Tornou-se também diretor do suplemento de cinema da revista ''Théâtre et Comœdia Illustré'' e assistente de direção de Jacques de Baroncelli, depois de Henri Diamant-Berger. Em 1922, começa a escrever ''Rayon Diabolique '' que será filmado em 1923 e chegará às telas em 1924 com o título de ''Paris qui dort''. Em 1924, lança também ''Entr'acte'', filme de inspiração dadaísta que escandaliza a sociedade francesa da época e leva René Clair à notoriedade. É, porém, com seu primeiro filme falado (''Sous les Toits de Paris'' - 1930) que se projeta internacionalmente. O sucesso se confirma com ''Le Million'' (1930) e ''À nous la Liberté'' (1931), sátiras da sociedade industrial.
Em 1922, começa a escrever ''Rayon Diabolique '' que será filmado em 1923 e chegará às telas em 1924 com o título de ''Paris qui dort''. Em 1924, lança também ''Entr'acte'', filme de inspiração dadaísta que escandaliza a sociedade francesa da época e leva René Clair à notoriedade. É, porém, com seu primeiro filme falado (''Sous les Toits de Paris'' - 1930) que se projeta internacionalmente. O sucesso se confirma com ''Le Million'' (1930) e ''À nous la Liberté'' (1931), sátiras da sociedade industrial.
 
Em 1936 é lançado ''Tempos Modernos'' de Charles Chaplin. A empresa alemã Tobis, que produziu ''A nous la Liberté'', decide acusar Chaplin de plágiar este filme. Clair se opõe a esta ação por admirar Chaplin e considera ''Tempos Modernos'' uma homenagem indireta a seu filme.
Linha 38 ⟶ 36:
Depois de ''Dernier milliardaire'' (1943), René Clair aceita trabalhar em Londres. Lá ele produz dois filmes, ''Fantôme à vendre'' em 1935, que fez sucesso e ''Fausses nouvelles'' (1937), refilmagem inglesa de ''La mort em fuite'', que decepciona um pouco.
De volta à França em 1938, ele começa a filmar ''Air pur''. A gravação é interrompida devido à guerra e o filme nunca foi acabado. Em 1940, René Clair deixa a França com a mulher e o filho e se muda para Espanha, depois Portugal e, por fim, [[Nova Iorque]]. O [[Governo de vichy|governo de Vichy]] retira sua nacionalidade francesa por ele preferir trabalhar em Hollywood. Depois de um tempo porém, o governo anula essa decisão.
Em 1940, René Clair deixa a França com a mulher e o filho e se muda para Espanha, depois Portugal e, por fim, Nova Iorque. O governo de Vichy retira sua nacionalidade francesa por ele preferir trabalhar em Hollywood. Depois de um tempo porém, o governo anula essa decisão.
René é bem acolhido em Hollywood. Lá ele produz quatro filmes: : ''La Belle ensorceleuse'' (1940- com Marlene Dietrich), ''Ma Femme est une sorcière'' (1942), ''C'est arrivé demain'' (1943) e ''Dix Petits Indiens'' (1945). Este último é uma adaptação de ''O caso dos dez negrinhos'' de Agatha Christie. No entanto, seu estilo caracterizado pelo humor terno e pela sátira é deixado de lado, diante das novas exigências comerciais.
Em 1946, decide retornar à França e filma ''Le silence est d'or (1947) e La Beauté du diable (1949'') onde ele revisita o mito de Fausto e dirige Gérard Philipe pela primeira vez. Em 1952, filma ''Les Belles de nuit'' . Em 1955, é lançado seu primeiro filme em cores, ''Les Grandes Manœuvres'', que conquista o prêmio Louis-Delluc. Em 1957, filma ''Porte de Lillas'', baseado no romance ''Grande Ceinture'' de René Fallet. Esse filme tem a participação do famoso músico e poeta francês, Georges Brassens. Em 1960 é aceito pela [[Academia Francesa]]. È a primeira vez que um cineasta entra para a Academia. Ele filma ainda ''La Française et l'Amour'' em 1960, ''Tout l'or du monde'' em 1961 e ''Les Quatre vérités'' em 1962. Em 1965 faz seu último filme: Les'' Fêtes galantes''.
Em 1955, é lançado seu primeiro filme em cores, ''Les Grandes Manœuvres'', que conquista o prêmio Louis-Delluc. Em 1957, filma ''Porte de Lillas'', baseado no romance ''Grande Ceinture'' de René Fallet. Esse filme tem a participação do famoso músico e poeta francês, Georges Brassens. Em 1960 é aceito pela Academia Francesa. È a primeira vez que um cineasta entra para a Academia.
Ele filma ainda ''La Française et l'Amour'' em 1960, ''Tout l'or du monde'' em 1961 e ''Les Quatre vérités'' em 1962. Em 1965 faz seu último filme: Les'' Fêtes galantes''.
 
A partir daí, ele se dedica à escrita e ao teatro. Em 1970, ele remonta ''Relâche'', de Francis Picabia. Em 1973, monta a ópera ''Orfeu e Eurídice'', apresentada no [[Opera de Paris|Opéra de Paris]]. Em 1974, preside o [[Festival de Cannes]], cria a peça ''La Catin aux lèvres douces'' para o [[Théâtre de l'Odéon]].
 
==Fases cinematográficas==
A filmografia de René Clair pode ser dividida em três fases. A primeira, ainda na [[França]], é a etapa da sua formação, da consolidação de seu nome. Os filmes mais expressivos dessa época são ''Le chapeau de paille, Sous les Toits de Paris, Million e Le Dernier Milliardaire.'' A etapa inglesa é mais uma transição do que uma fase. Em 1935, se mudou para Inglaterra e lá filmou, com Alexander Korda, dois filmes. Em 1939, devido à guerra, emigrou para os Estados Unidos, de onde retornou em 1946. Na segunda fase, a americana, Clair abandonou a crítica ao narrar enredos superficiais. Em 1946, no entanto, retorna à França e ao seu estilo original.
Na segunda fase, a americana, Clair abandonou a crítica ao narrar enredos superficiais. Em 1946, no entanto, retorna à França e ao seu estilo original.
 
''Le silence est d'or'' marca o início da terceira fase, a francesa. Um mundo novo surge, cheio de velhas recordações. Clair se volta para o passado e humaniza-se. Esse filme é um prodígio de graça e ternura. Com ''Porte de Lillas'' volta a um de seus temas e ambientes favoritos: a amizade e os subúrbios de Paris. Tudo mostrado de uma forma sutil e humana. Suas obras não são apenas reflexões pessoais sobre a amizade, a liberdade e o amor. Por trás disso tudo, existe um certo racionalismo e uma enorme sensibilidade.
Suas obras não são apenas reflexões pessoais sobre a amizade, a liberdade e o amor. Por trás disso tudo, existe um certo racionalismo e uma enorme sensibilidade.
 
==Estilo==
Linha 60 ⟶ 53:
"Le Roi René" (O Rei René - alcunha dada pelo escritor P. Billard) é um dos precursores do cinema falado e o primeiro cineasta francês a imprimir um estilo pessoal ao cinema. Clair tinha um espírito inquieto, ávido por novidades. Dizia: “a vanguarda é a curiosidade de espírito aplicada a um campo onde se faz descobertas numerosas e apaixonantes. Se é este o sentido que lhe empregam, me declaro vanguardista incondicional”.
 
''Sous les toits de Paris'' marcou uma época. René Clair fez a transição perfeita do cinema mudo ao falado. Com sua economia de diálogos (“não é porque se pode falar que se falará sem nada dizer”), imprime um estilo inconfundível. Ele transforma a técnica em estética, o fazer cinema em criar cinema, o filmar objetos em construir imagens, expressões, pensamentos e idéiasideias. René Clair reagiu contra o filme grotesco, meramente sentimental, que reinou no [[cinema]] naqueles anos, nos moldes dos folhetins. Reagiu também contra o filme excessivamente refinado, intelectual e estético. Ele reivindica para si histórias escritas diretamente para o cinema. Seus romances não são meramente sentimentais, mas revestidos de um realismo e uma fantasia poéticos. Seus filmes realistas mostram, diferentemente dos filmes americanos da época, os anti-heróis saídos da multidão, das calçadas, das fábricas. São essas algumas das características do cinema realista, herança da música popular vinda das ruas, dos becos e dos cabarés dos subúrbios [[Paris|parisienses]].
René Clair reagiu contra o filme grotesco, meramente sentimental, que reinou no cinema naqueles anos, nos moldes dos folhetins. Reagiu também contra o filme excessivamente refinado, intelectual e estético. Ele reivindica para si histórias escritas diretamente para o cinema. Seus romances não são meramente sentimentais, mas revestidos de um realismo e uma fantasia poéticos. Seus filmes realistas mostram, diferentemente dos filmes americanos da época, os anti-heróis saídos da multidão, das calçadas, das fábricas. São essas algumas das características do cinema realista, herança da música popular vinda das ruas, dos becos e dos cabarés dos subúrbios Parisienses.
 
Clair consegue transformar o folhetim, o gosto duvidoso do popular, em uma arte inteligente e delicada. Sabia fazer de forma superior as coisas elementares. O pitoresco popular, a emoçaoemoção naiveingênua, a poesia das vidas e bairros humildes, o fantástico, os heróis simples vão habitar o universo Clairiano.
 
Suas imagens eram simples, claras, em tons de cinza, frequentemente frontais. Eram o oposto das imagens alemãs predominantes na época, de estilo expressionista e com fortes contrastes. Tentavam ser o mais normais, o mais diretas possível, não buscavam a perspectiva nem a profundidade dos planos. Mesmo assim, sua fotografia era poética, simbólica e sentimental. A fotografia de ''Le Million'' é uma das mais belas.
 
O tema genérico que predomina em sua obra é o humor, mas um humor terno e gracioso. A humanidade dos personagens está constantemente presente, como em ''Le silence est d'or, Porte de Lillas'', ''Les Grandes Manouvres''. Outra característica é o paradoxo entre sonho e realidade. Os personagens clairianos sonham com o que não podem conseguir na realidade, o que parece confirmar uma evasão da realidade na construção de um mundo feliz. No entanto, essa construção é intencional e os personagens acabam voltando para suas realidades próprias, normalmente rendidos pelo amor. Um personagem constante em sua obra é o homem tímido.
Outra característica é o paradoxo entre sonho e realidade. Os personagens clairianos sonham com o que não podem conseguir na realidade, o que parece confirmar uma evasão da realidade na construção de um mundo feliz. No entanto, essa construção é intencional e os personagens acabam voltando para suas realidades próprias, normalmente rendidos pelo amor. Um personagem constante em sua obra é o homem tímido.
 
Encontra-se colaboração da sua autoria na revista ilustrada ''[[Cine (revista)|Cine]]'' <ref >{{Citar web |autor=Jorge Mangorrinha |data=25 de Fevereiro de 2014 |título=Ficha histórica: Cine (1934). |url= http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/FichasHistoricas/Cine.pdf|formato=pdf |publicado=[[Hemeroteca Municipal de Lisboa]] |acessodata=30 de Dezembro de 2014}}</ref> publicada em Maio de 1934.
 
==Filmografia==
Linha 105 ⟶ 96:
==Condecorações e títulos==
* Doutor Honoris Causa da Universidade de Cambridge (1956)
* Sátrapa do Collège de Pataphysique (1957) e condecorado com a Ordem da Grande Gidouill.
* Doutor Honoris Causa do Royal College of Arts de Londres (1967)
* Grande Oficial da Legião de Honra