Historiografia sobre a Guerra do Paraguai: diferenças entre revisões
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[[Ficheiro:Rótulo de cigarro. Duque de Caxias, Herói dos Heróis no Paraguai.JPG|thumb|300px|[[Efígie]] do [[Luís Alves de Lima e Silva|Duque de Caxias]] em rótulo de [[cigarro]], homenageando sua participação na [[Guerra do Paraguai]]. Caxias é referido como "heroi dos herois no Paraguai".]]
A [[historiografia]] tradicional,<ref name="PEDROSA, J. F 2004, pg.16">PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.16</ref> também chamada de Oficial
Sua grande duração foi justificada pela obstinação de [[Dom Pedro II|Pedro II]] de ver López derrotado por desprezá-lo ao considerá-lo mais um caudilho [[América Latina|latino-americano]]<ref name="SCHWARCZ, Lilia Moritz 2002, pg.301"/><ref name=autogenerated2>VAINFAS, Ronaldo, Dicionário do Brasil Imperial, Objetiva, 2002, pg.122</ref> e consequentemente, seria necessário lavar a honra do Brasil. Também se alegou que a irritação do Imperador teria ocorrido após uma proposta de López para casar-se com a princesa Isabel, mas isto nunca ocorreu e trata-se de uma invenção posterior de um autor norte-americano.<ref>CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, pg.116</ref> Mais tarde, surgiria o culto oficial dos heróis da guerra tais como o [[Luís Alves de Lima e Silva|Duque de Caxias]], [[Joaquim Marques Lisboa|Tamandaré]], [[Manuel Luís Osório|Osório]] e [[Mitre]].<ref name="Novas lições do Paraguai"/><ref name=autogenerated2 /> Enquanto que no [[Paraguai]], do fim da guerra até meados da década de [[1930]], [[Francisco Solano López|López]] era visto também como um megalomaníaco que destruiu o país numa guerra desnecessária e fútil.<ref name=autogenerated1>DORATIOTO, Francisco, Maldita Guerra, Companhia das Letras, 2002</ref><ref name="PEDROSA, J. F 2004, pg.15">PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.15</ref>
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A chamada [[historiografia]] revisionista surgiu no final da década de [[1960]] e ganhou força durante a década de [[1970]]-[[1980|80]]. As origens remotas da mesma perduram do final do [[Império do Brasil|período monárquico do Brasil]], quando os republicanos e militares insatisfeitos influenciados pelo [[Positivismo]] (como [[Benjamim Constant]]) realizaram ataques e críticas quanto a participação brasileira no conflito. Havia por detrás de tais acusações uma ideologia em comum entre os [[Partido Republicano Brasileiro|republicanos brasileiros]], assim como argentinos e uruguaios, que tinham por objetivo desacreditar o [[Monarquia|regime monárquico]] ao considerá-lo o único culpado pelo desencadeamento da Guerra do Paraguai e das atrocidades cometidas.<ref name="PEDROSA, J. F 2004, pg.15"/> Enquanto a partir da década de [[1920]], uma nova visão sobre a guerra surgiu no [[Paraguai]] graças aos esforços dos ditadores que buscavam uma legitimidade para seus governos autoritários ao apresentar um modelo anterior representados por [[José Gaspar Rodríguez de Francia|Francia]], [[Carlos Antonio López|Carlos López]] e [[Francisco Solano López|Solano López]].<ref name=autogenerated1 />
O [[revisionismo]] histórico da Guerra do Paraguai recebeu impulso de fato em [[1968]] a publicação da obra "''A Guerra do Paraguai – Grande negócio''!" do escritor [[Leon Pomer]] onde alegou que a guerra ocorreu por interesse único da [[Grã-Bretanha]]
<ref name="Novas lições do Paraguai"/><ref name="SCHWARCZ, Lilia Moritz 2002, pg.301"/><ref name=autogenerated1 /><ref name="SALLES, Ricardo 2003, pg.14">SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: Memórias & Imagens. Rio de Janeiro: Bibilioteca Nacional, 2003, pg.14</ref><ref name="VAINFAS, Ronaldo 2002, pg.123">VAINFAS, Ronaldo, Dicionário do Brasil Imperial, Objetiva, 2002, pg.123</ref>
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A guerra basicamente delineia-se já em 1850 quando o Paraguai começa a desenvolver uma forte economia autônoma. O então presidente Carlos Antonio López, incapaz de antever a evolução das relações internacionais, governa o país como se lhe bastasse o fortalecimento da sua economia. E cai na cilada que destrói o Paraguai: quanto mais forte e organizado internamente, mais fraco externamente se torna um país em desenvolvimento que enfrenta uma grande potência. O Paraguai acaba enfrentando em 1864, no governo de Francisco Solano López, um processo que provoca o confronto de igual para igual de forças desiguais: de um Estado emergente e livre contra uma potência mundial superdesenvolvida, utilizando seus satélites econômicos como braço armado.}}
Tal visão, hoje considerada simplista e sem embasamento [[empirismo|empírico]], tornou-se difundida a partir da década de 1960 por diferentes escolas de historiadores, das mais diversas nacionalidades e vertentes.<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Bethell|primeiro=Leslie|data=agosto de 1995
Entre os ligados à esquerda [[marxismo|marxista]], havia o interesse em transformar o [[Paraguai]] de Solano López numa espécie de precursor do regime comunista de [[Cuba]]. Conforme o revisionismo adotado por esses historiadores, Solano López pretendia implementar no Paraguai um regime nacionalista autônomo, oposto ao grande império de sua época, no caso a Grã-Bretanha, de maneira análoga à oposição feita por Cuba aos EUA após a ascensão de Fidel Castro. Também havia a intenção, por parte desses historiadores, de prejudicar a imagem dos heróis da guerra cultuados pelos regimes ditatoriais militares de então que os perseguiam.<ref name="Novas lições do Paraguai" /><ref>PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004</ref>
Entretanto, os marxistas não foram os únicos a encamparem tal interpretação. O reforço do suposto heroísmo de Solano López serviu também àqueles ligados à direita nacionalista.<ref name=":0" /> Dentre esses últimos, destaca-se o próprio ditador [[Alfredo Stroessner]], que chegou a patrocinar a filmagem do épico "Cerro Corá", com o objetivo de reforçar a imagem de Francisco Solano López como mártir paraguaio.<ref>{{citar web|url=https://www12.senado.leg.br/institucional/arquivo/documentos-apenas/guerra-do-paraguai|titulo=150 anos depois, guerra ainda é ferida aberta no Paraguai|data=|acessodata=04
Essa visão revisionista, que ainda é ensinada na maior parte das escolas dos países latino-americanos, carece de qualquer tipo de provas concretas, dados ou evidências empíricas.<ref name="Novas lições do Paraguai" /><ref name="SCHWARCZ, Lilia Moritz 2002, pg.301" /><ref name="autogenerated1" /><ref name="SALLES, Ricardo 2003, pg.14" /><ref name="VAINFAS, Ronaldo 2002, pg.123" />
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[[Ficheiro:Territorial disputes in the Platine region in 1864.svg|thumb|300px|Disputas territoriais na região platina ([[1864]]).]]
Em [[1990]], o historiador [[Ricardo Salles]] publicou a obra ''Guerra do Paraguai: Escravidão e Cidadania na Formação do Exército'' onde apresentou uma análise sobre a historiografia tradicional e revisionista: "''Se os estudos tradicionais sobre a guerra pecam por um excesso de oficialismo e factualismo, por sua vez, as versões revisionistas da história do conflito tendem a simplificações nem sempre embasadas em investigações mais profundas''".<ref>PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: [[Biblioteca do Exército]], [[2004]], pg.16 e 17</ref> Esta obra foi uma das primeiras de uma nova geração de historiadores que buscavam analisar a Guerra do Paraguai.<ref>PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.18</ref><ref>[[Lilia Moritz Schwarcz|SCHWARCZ, Lilia Moritz]]. ''[[As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos
Os estudos realizados por estes profissionais revelaram que as causas do conflito não foram em razão de influência externa ou por uma pura e simples ambição de um único homem. Mas sim, uma série de fatores relacionados a formação como Estados-nações dos países participantes e dos processos geopolíticos e econômicos da região, resultante de heranças históricas, políticas e geográficas de duas culturas diferentes: portuguesa e espanhola.<ref name="SCHWARCZ, Lilia Moritz 2002, pg.301"/><ref>[[Francisco Doratioto|DORATIOTO, Francisco]], ''[[Maldita Guerra]]'', Companhia das Letras, 2002</ref><ref>[[Ronaldo Vainfas|VAINFAS, Ronaldo]], ''[[Dicionário do Brasil Imperial]]'', Objetiva, 2002, pg.123</ref><ref>[[José Murilo de Carvalho|CARVALHO, José Murilo de]]. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, pg.106</ref><ref>[[Nelson Werneck Sodré|SODRÉ, Nelson Werneck]]. ''[[Panorama do Segundo Império]]''. 2. ed. Rio de Janeiro: GRAPHIA, 2004, pg.188</ref> O historiador [[Francisco Doratioto]] apresenta de maneira concisa esta nova visão sobre as causas do conflito:
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* CANCOGNI, Manlio; BORIS, Ivan. ''Solano López'': O Napoleão do Prata. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975;
* [[Júlio José Chiavenato|CHIAVENATO, Júlio José]]. ''Genocídio Americano'': A Guerra do Paraguai. São Paulo: [[Círculo do Livro]], [[1988]];
* _______. ''A Guerra contra o Paraguai''. [[São Paulo]]: [[Editora Brasiliense]], [[1990]];
* [[Eduardo Galeano|GALEANO, Eduardo]]. ''[[As Veias Abertas da América Latina]]''. [[Porto Alegre]]: [[L&PM]], [[2012]];
* PEÑALBA, José Alfredo Fornos. [https://books.google.com.br/books/about/The_Fourth_Ally.html?id=7R0TAQAAIAAJ&redir_esc=y ''The fourth Ally'': Great Britain and the war of the Triple Alliance]. Tese (Doutorado) – [[Universidade da Califórnia]], [[1979]];
* _______. [https://www.jstor.org/stable/981208?seq=1 Draft Dodgers, War Resisters and Turbulent Gauchos: The War of the Triple Alliance against Paraguay]. ''The Americas'', Philadelphia, v. 38, n. 4, p. 463-479, abr. 1982;
* [[León Pomer|POMER, León]]. ''Paraguai: Nossa guerra contra esse soldado''. [[São Paulo]]: Global, [[2001]].
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