Monteiro Lobato: diferenças entre revisões

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Inserção de alguns argumentos retirados de um artigo da revista da Academia Brasileira de Letras refutando a tese do racismo de Lobato, afinal deve-se conceder ao autor o "direito de defesa".
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No entanto, a grande variedade de definições de raça, ao longo das décadas de atividade intelectual do autor, tornam as avaliações ainda mais complexas.<ref>{{citar web|url=https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/5888|titulo=Raça e Eugenia na Obra Geral de Monteiro Lobato|data=2017|acessodata=01/06/ 2019|publicado=Universidade Federal de Juiz de Fora|ultimo=Souza|primeiro=José}}</ref>
 
Em defesa de Lobato podemos dizer que existem várias evidências em sua obra de que ele não tinha uma mentalidade racista. Por exemplo, em seu conto “Negrinha”, Lobato faz uma denúncia pungente dos maus-tratos infligidos a uma menininha de raça negra. Um racista de verdade jamais teria escrito um tal conto. O primeiro livro que Lobato publicou, baseado em série de reportagens para ''O Estado de São Paulo'', intitulado ''O Saci-Pererê: resultado de um inquérito'' (1918), é sobre a lenda do saci, que depois deu origem a um de seus livros da série infantojuvenil. Um escritor racista estrearia em livro com uma lenda da cultura negra? Além disso, em carta de 1/10/16 a [[Godofredo Rangel]], Lobato teceu fortes elogios ao escritor mulato [[Lima Barreto]], na época vítima de preconceito. Não só isto, mas à frente da Editora [[Revista do Brasil]], Lobato editou uma obra de Lima Barreto, ''[[Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá]]''.<ref>Ivo Korytowski, ''Monteiro Lobato foi racista?'', ''Revista Brasileira'' da Academia Brasileira de Letras, N. 104, (julho a setembro de 2020), pp. 29-34. A revista pode ser acessada no site da ABL.</ref>.
 
Na correspondência com [[Godofredo Rangel]], várias vezes Lobato se manifesta de forma simpática aos negros e à população humilde em geral. Por exemplo, em 27/6/1909, escreve: "Eu gosto muito dos negros, Rangel. Parecem-me tragédias biológicas. Ser pigmentado, como é tremendo!" Em 10/1/1917: "Consulte os negros velhos daí, porque já notei que os negros têm muito melhores olhos que os brancos. Enxergam muito mais coisas." Em 15/7/1915: "A nossa imbecilização é das mais curiosas:
vem de cima para baixo, e decresce quando chega ao povo. Quanto mais conheço os paredros [=mandachuvas], mais admiro o equilíbrio, a sensatez, a sanidade mental destes meus bons caboclos da roça"<ref>Monteiro Lobato, ''A Barca de Gleyre: Quarenta anos de correspondência literária'', São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. Citado em Ivo Korytowski, ''Monteiro Lobato foi racista?'', ''Revista Brasileira'', N. 104.</ref>
 
Quanto à [[eugenia]], Lobato não foi um ativista histérico, um fanático da eugenia, apenas um simpatizante. Não escreveu artigos para defender explicitamente a eugenia. Não colaborou com o [[Movimento eugênico brasileiro|Boletim de Eugenia]], porta-voz do movimento que circulou de 1929 a 1932, nem sequer é mencionado lá.<ref>''Idem'', p. 33.</ref>
 
E nos momentos em que manifesta algum racismo, Lobato está apenas refletindo o ”espírito da época”. Dentro desse espírito, o herói [[Macunaíma]], que nasceu negro, ao se banhar numa água encantada, transformou-se em “branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele”.<ref>Mário de Andrade, ''Macunaíma'', São Paulo:Oficinas Gráficas de Eugênio Cupolo, 1928.</ref> Ainda dentro desse espírito, encontramos manifestações racistas e pró-eugenia em textos de intelectuais da época, como [[Gilberto Freyre]]<ref>Artigo “Na Argentina”, publicado na coluna “Da outra América”, na pág. 3 do [[Diário de Pernambuco]] de 31 de outubro de 1920, parcialmente citado no estudo de Ivo Korytowski.</ref> e [[Euclides da Cunha]]<ref>.A expressão “raça superior” figura quatro vezes em ''Os Sertões'', por exemplo: "A mistura de raças mui diversas é, na maioria dos casos, prejudicial. Ante as conclusões do evolucionismo, ainda quando reaja sobre o produto o influxo de uma '''raça superior''', despontam vivíssimos estigmas da inferior. A mestiçagem extremada é um retrocesso (Cap. II, “O vaqueiro”)</ref>
 
Em suma, é preciso julgar o artista pelos padrões da época em que viveu, não da época em que nós vivemos. Assim o fato de [[Shakespeare]] criar um personagem que é o protótipo da imagem do judeu usurário e desalmado (Fagin, em ''O mercador de Veneza'') ou de [[Charles Dickens]] criar um personagem judeu que explora crianças ensinando-as a roubar (Fagin em ''[[Oliver Twist]]'') não significa que foram [[Antissemitismo|antissemitas]]. Igualmente o fato de Lobato caracterizar a [[Tia Nastácia]] como uma “negra beiçuda” e de Pedrinho revelar que ela tinha vergonha de ser preta não significa que Lobato fosse racista.<ref>Ivo Korytowski, ''Idem''.</ref>
 
=== Prêmios ===