Escravidão em África: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Etiquetas: Inserção de predefinição obsoleta editor de código 2017
Linha 9:
[[imagem:African slave trade.png|thumb| Principais redes de tráfico árabe de escravos em África na Idade Média.]]
 
A escravidão esteve presente no continente africano muito antes do início do comércio de escravos com europeus na costa atlântica.<ref name="Lovejoy and Richardson">{{citar periódico|título=The Business of Slaving: Pawnship in Western Africa, c. 1600–1810|periódico=The Journal of African History|ano=2001|volume=42|número=1|páginas=67–89|autor =Paul E. Lovejoy and David Richardson}}</ref><ref name="Brasil escola">CARVALHO, Leandro. "Escravidão na África"; Brasil Escola. Disponível em: [https://brasilescola.uol.com.br/historiab/escravidao-na-Africa.htm]. Acesso em 09 de março de 2021.</ref>
 
Desde por volta de 700, "prisioneiros capturados nas guerras santas que expandiram o [[Islã]] da [[Arábia]] pelo [[norte da África]] e através da região do [[Golfo Pérsico]]" eram vendidos e usados como escravos. Durante os três impérios medievais do norte da África (séculos X a XV), o comércio de escravos foi largamente praticado.<ref name="Eoahac">{{citar livro|último =Willie F. Page|primeiro =Facts on File, Inc.|título=Encyclopedia of African history and culture: African kingdoms (500 to 1500), Volume 2|ano=2001|publicado=Facts on File|isbn=0816044724|página=239|url=http://books.google.com/books?id=gK1aAAAAYAAJ}}</ref>
Linha 16:
 
==Formas de escravidão==
Múltiplas formas de [[escravidão]] e servidão involuntária existiram na história africana e foram formadas pelas práticas nativas de escravidão assim como a [[Escravidão na Roma Antiga|instituição de escravidão romana]] <ref>{{Citation|last=Stilwell|first=Sean|title=Slavery in African History|work=Slavery and Slaving in African History|year=2013|pages=29–59|place=Cambridge|publisher=Cambridge University Press|doi=10.1017/cbo9781139034999.003|isbn=978-1-139-03499-9}}</ref> (e depois a visão cristã sobre a escravidão), a [[Escravismo e Islã|visão islâmica da escravidão]] por meio do Tráfico de Escravos Islâmico e por último o [[Tráfico de escravos do Atlântico]] para as Américas.<ref>{{Cite document|title=Slavery, Slave Trade|doi=10.1163/1878-9781_ejiw_com_000524}}</ref><ref name=Lovejoy-2012 /> A escravidão foi parte da estrutura econômica por muitos séculos, ainda que a extensão variasse.<ref>{{Cite journal|last1=Painter|first1=Nell Irvin|last2=Berlin|first2=Ira|date=2000|title=Many Thousands Gone: The First Two Centuries of Slavery in North America|journal=African American Review|volume=34|issue=3|pages=515|doi=10.2307/2901390|jstor=2901390|issn=1062-4783}}</ref><ref name=Lovejoy-2012 /> [[Ibn Battuta]], que visitou o antigo Reino do [[Mali]] em meados do Século XIV, descreve que os habitantes locais viam uns aos outros de acordo com o número de escravos e servos que tinham, e ele mesmo ganhou um garoto escravo como um "presente de hospitalidade."<ref>Noel King (ed.), ''Ibn Battuta in Black Africa'', Princeton 2005, p. 54.</ref> Na [[África subsariana]], as relações de escravos eram muitas vezes complexas, com diferentes níveis de direitos e liberdades dadas aos indivíduos mantidos em escravidão e restrições a venda e tratamento pelos seus mestres escravagistas.<ref name=Fage /> Muitas comunidades tinham hierarquias entre diferentes tipos de escravos: por exemplo, diferenciando entre aqueles que nasceram na escravidão e aqueles que foram capturados e guerra.<ref name=Rodney />
 
{{Quote box
|quote = "Desde os tempos mais antigos, alguns homens escravizaram outros homens, que não eram vistos como seus semelhantes, mas sim como inimigos e inferiores. A maior fonte de escravos sempre foram as guerras, com os prisioneiros sendo postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como a condenação por transgressão e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dívidas, ou mesmo de sobreviver independentemente por falta de recursos. [...] A escravidão existiu em muitas sociedades africanas bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo oceano Atlântico."
|quote = "Os escravos na África, eu suponho, estão em proporção de três para cada homem livre. Eles não reivindicam recompensa pelos seus serviços exceto comida e roupas, e são tratados com gentileza ou severidade, de acordo com a boa ou má disposição de seus mestres. O costume, no entanto, estabeleceu certas regras cm relação ao tratamento de escravos, o que seria desonroso violar. Portanto, os escravos domésticos ou nascidos na própria casa de um homem, são tratados com maior leniência do que aqueles comprados com o dinheiro. ... mas essas restrições no poder do mestre não se estende ao tratamento dos prisioneiros tomados em guerra, nem aos escravos comprados com o dinheiro. Essas pobres criaturas são consideradas estranhas e estrangeiros, que tem nenhum direito a proteção pela lei e podem ser tratadas com severidade, ou vendidas a um estranho, de acordo com o bel prazer de seus donos."
|source = SOUZA, 2006, p. 47 apud MOCELLIN; CARMARGO, 2010, p. 174.
|source = [[Mungo Park]], ''Travels in the Interior of Africa'' [https://www.gutenberg.org/ebooks/5305 v. II, Chapter XXII – War and Slavery].
|width = 350px
}}
|Mungo Park|''Viagens ao interior da África''}}
Múltiplas formas de [[escravidão]] e servidão involuntária existiram na história africana e foram formadas pelas práticas nativas de escravidão assim como a [[Escravidão na Roma Antiga|instituição de escravidão romana]] <ref>{{Citation|last=Stilwell|first=Sean|title=Slavery in African History|work=Slavery and Slaving in African History|year=2013|pages=29–59|place=Cambridge|publisher=Cambridge University Press|doi=10.1017/cbo9781139034999.003|isbn=978-1-139-03499-9}}</ref> (e depois a visão cristã sobre a escravidão), a [[Escravismo e Islã|visão islâmica da escravidão]] por meio do Tráfico de Escravos Islâmico e por último o [[Tráfico de escravos do Atlântico]] para as Américas.<ref>{{Cite document|title=Slavery, Slave Trade|doi=10.1163/1878-9781_ejiw_com_000524}}</ref><ref name=Lovejoy-2012 /> A escravidão foi parte da estrutura econômica por muitos séculos, ainda que a extensão variasse.<ref>{{Cite journal|last1=Painter|first1=Nell Irvin|last2=Berlin|first2=Ira|date=2000|title=Many Thousands Gone: The First Two Centuries of Slavery in North America|journal=African American Review|volume=34|issue=3|pages=515|doi=10.2307/2901390|jstor=2901390|issn=1062-4783}}</ref><ref name=Lovejoy-2012 /> [[Ibn Battuta]], que visitou o antigo Reino do [[Mali]] em meados do Século XIV, descreve que os habitantes locais viam uns aos outros de acordo com o número de escravos e servos que tinham, e ele mesmo ganhou um garoto escravo como um "presente de hospitalidade."<ref>Noel King (ed.), ''Ibn Battuta in Black Africa'', Princeton 2005, p. 54.</ref> Na [[África subsariana]], as relações de escravos eram muitas vezes complexas, com diferentes níveis de direitos e liberdades dadas aos indivíduos mantidos em escravidão e restrições a venda e tratamento pelos seus mestres escravagistas.<ref name=Fage /> Muitas comunidades tinham hierarquias entre diferentes tipos de escravos: por exemplo, diferenciando entre aqueles que nasceram na escravidão e aqueles que foram capturados e guerra.<ref name=Rodney /> Diferentemente do que se pensava, a escravidão na África não era realizada somente com cunho doméstico.<ref name="Brasil escola"/> As relações entre escravagistas e escravos, tanto nas Américas como na África, sempre se basearam em punições disciplinares, castigos e violência. Os capturados eram retirados de suas terras, separados de suas famílias, obrigados a aprenderem outros idiomas e costumes além de terem sido humilhados e torturados, o escravo se encontra em posição de subordinação e nunca tratado em igualdade, questionando a visão de que seriam formas mais brandas com todas as formas de escravidão sendo violentas e desumanizadoras.<ref name="Brasil escola"/> Segundo a historiadora Marina de Melo e Souza, a escravidão africana é cruel e desumanizadora.<ref name="Brasil escola"/>
 
As formas de escravidão na África eram fortemente relacionadas com as estruturas de [[parentesco]].<ref>{{Citation|last=McMahon|first=Elisabeth|title=Mitigating Vulnerability through Kinship|work=Slavery and Emancipation in Islamic East Africa|year=2013|pages=193–230|place=Cambridge|publisher=Cambridge University Press|doi=10.1017/cbo9781139198837.008|isbn=978-1-139-19883-7}}</ref> Em muitas comunidades africanas, onde a terra não poderia ser mantida como propriedade privada, a escravidão de indivíduos era usada como forma para aumentar a influência de uma pessoa tinha e expandir suas conexões.<ref name=Snell /> Isso fez com que os escravos se tornassem parte da linhagem de um mestre e os filhos dos escravos se tornavam bem conectados com os laços de família maiores em diversos casos.<ref>{{Cite journal|last=Gudmestad|first=Robert|date=2006-01-26|title=Technology and the World the Slaves Made|journal=History Compass|volume=4|issue=2|pages=373–383|doi=10.1111/j.1478-0542.2006.00313.x|issn=1478-0542}}</ref><ref name=Lovejoy-2012 /> Crianças de escravos nascidos nas famílias poderiam ser integrados ao grupo de parentesco do mestre e subir para posições proeminentes na sociedade, até ao nível de chefe em algumas instâncias.<ref name=Rodney /> No entanto, estigma frequentemente continuava aderido e poderia haver separações estritas entre membros escravos de um grupo de parentesco e aqueles relacionados com o mestre.<ref name=Snell>{{cite book|last=Snell|first=Daniel C.|title=The Cambridge World History of Slavery|year=2011|publisher=Cambridge University Press|location=New York|pages=4–21|editor=Keith Bradley and Paul Cartledge|chapter=Slavery in the Ancient Near East}}</ref> Na [[Carta de Curucã Fuga]], a [[Constituição]] do [[Império do Mali]] veementemente proíbe maus-tratos ao escravo em seu artigo 20.<ref>{{Citar web |url=http://www.anpe-mali.org/news/la-charte-de-kouroukan-fouga |titulo=Cópia arquivada |acessodata=2013-08-25 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110101165508/http://www.anpe-mali.org/news/la-charte-de-kouroukan-fouga |arquivodata=2011-01-01 |urlmorta=yes }}</ref> Além disso, muitos dos povos africanos adotaram o Islã que, por sua vez, prescreve aos religiosos tratar os escravos “generosamente” (ihsan) (IV, 36) e considera a alforria como um gesto merecedor e uma obra de beneficência (II, 117; XC, 13).<ref>"O Alcorão" - tradução de Mansour Challita ISBN 978-85-7799-168-6 -Ed. 1ª - Jan.2010</ref>
Linha 34 ⟶ 33:
 
===Serviço doméstico===
{{Quote box
|quote = "Os escravos na África, eu suponho, estão em proporção de três para cada homem livre. Eles não reivindicam recompensa pelos seus serviços exceto comida e roupas, e são tratados com gentileza ou severidade, de acordo com a boa ou má disposição de seus mestres. O costume, no entanto, estabeleceu certas regras cmcom relação ao tratamento de escravos, o que seria desonroso violar. Portanto, os escravos domésticos ou nascidos na própria casa de um homem, são tratados com maior leniência do que aqueles comprados com o dinheiro. ... mas essas restrições no poder do mestre não se estende ao tratamento dos prisioneiros tomados em guerra, nem aos escravos comprados com o dinheiro. Essas pobres criaturas são consideradas estranhas e estrangeiros, que tem nenhum direito a proteção pela lei e podem ser tratadas com severidade, ou vendidas a um estranho, de acordo com o bel prazer de seus donos."
|source = [[Mungo Park]], ''Travels in the Interior of Africa'' [https://www.gutenberg.org/ebooks/5305 v. II, Chapter XXII – War and Slavery].
|width = 350px
|Mungo Park|''Viagens ao interior da África''}}
Muitas relações de escravos na África giravam em torno da escravidão doméstica, onde escravos trabalhariam primariamente na casa do mestre, mas reter algumas liberdades.<ref>{{Citation|title=2. HOUSE SLAVES|date=2019-12-31|work=The Slave Next Door|pages=18–42|publisher=University of California Press|doi=10.1525/9780520948037-004|isbn=978-0-520-94803-7}}</ref> Escravos domésticos poderiam ser considerados parte do vínculo doméstico do mestre e não seriam vendidos a outros sem causa extrema.<ref>{{Cite journal|last=Kett|first=Anna Vaughan|date=2017-04-20|title=Without the Consumers of Slave Produce There Would Be No Slaves|journal=University of Illinois Press|volume=1|doi=10.5406/illinois/9780252038266.003.0005}}</ref> Os escravos nesse sistema poderiam ter lucros do seu trabalho (em forma de terra ou produtos) e podiam casar e passar sua terra para seus filhos em muitos casos.<ref name=Rodney>{{cite journal|last=Rodney|first=Walter|title=African Slavery and Other Forms of Social Oppression on the Upper Guinea Coast in the Context of the Atlantic Slave-Trade|journal=The Journal of African History|year=1966|volume=7|issue=3|pages=431–443|jstor=180112|doi=10.1017/s0021853700006514}}</ref><ref>{{cite web |publisher=Anti-Slavery International |title=Domestic Slavery: What Is It? |url=https://www.antislavery.org/slavery-today/domestic-work-and-slavery/}}</ref>
Na África Ocidental, o jonya (do termo mande ''jon'', que significa cativo) era um escravo ligado a uma linhagem. Nas sociedades em que reinou esse sistema, ele pertencia a uma categoria sociopolítica integrada a classe dominante; era então cidadão exclusivo do Estado e pertencia a seu aparelho político. Enquanto sistema e categoria social,o jonya desempenhou um papel considerável e original nos Estados e impérios de [[Império de Gana|Gana]], [[Império Tacrur|Tacrur]], [[Império do Mali|Mali]], [[Império de Canem|Canem]], [[Império Axânti|Axânti]] e [[Iorubás|Iorubá]].<ref>História Geral da África - Volume V: África do século XVI ao XVIII, ISBN 978-85-7652-127-3</ref> Os soberanos [[sudaneses]] também importavam escravos. [[Ibne Batuta]] nos relatou que quando o imperador do Mali sentava no trono em praça pública, atrás dele postavam-se cerca de 30 mercenários [[mamelucos]], comprados para ele no [[Cairo]].<ref>http://www.fordham.edu/halsall/source/1354-ibnbattuta.asp</ref>