Machado de Assis: diferenças entre revisões

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Os [[Semana de Arte Moderna|modernistas de 22]], no geral, consideravam-no com certas ressalvas, admitindo sua importância, mas descartando certos elementos de convencionalismos estéticos ou pessoais. Vejamos as conclusões de dois dos seus maiores expoentes nas letras. [[Mário de Andrade]], por exemplo, por ocasião do centenário do nascimento de Machado de Assis, comemorado em 1939, escreveu três crônicas, onde considera que Machado produzira "apaixonante obra e do mais alto valor artístico, prazer estético de magnífica intensidade que me apaixona e que cultuo sem cessar", "deixou, em qualquer dos gêneros em que escreveu, obras-primas perfeitíssimas de forma e fundo", mas que detestaria tê-lo em seu convívio, provavelmente por ele ser um prosador "encastelado", tendo, segundo Mário, falhado em captar a vida do Rio de Janeiro como [[França Júnior]], [[João do Rio]] e [[Lima Barreto (escritor)|Lima Barreto]], e mesmo a alma brasileira, como [[Gonçalves Dias]], [[Castro Alves]], o [[Aleijadinho]], [[Almeida Júnior]], [[Raimundo de Farias Brito|Farias Brito]] e outros, e sobretudo por suas questões mal resolvidas de "mestiçamento", fazendo distinção entre autor e obra.<ref>Mário de Andrade. “Machado de Assis” In: ''Aspectos da literatura brasileira''. São Paulo: Martins, 1974, p.103.</ref> [[Oswald de Andrade]], outro nome de destaque do Modernismo, cujo estilo literário se insere, assim como o de Mário, na tradição experimental, metalinguística e citadina mais ou menos dialogável com a obra mais experimental de Machado de Assis, tinha ''Dom Casmurro'' como um de seus livros preferidos e encarava o escritor como um mestre do romance brasileiro,<ref>MARTINS, Cláudia Mentz. Oswald de Andrade e sua crítica literária. p.106-107. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.</ref> mas notou, nas suas memórias de 1954, quanto a suposta tentativa de Machado de se livrar da herança étnica: "Como bom preto, o grande Machado o que queria era se lavar das mazelas atribuídas à sua ascendência escrava. Fazia questão de impor rígidos costumes à instituição branca que dominava."<ref>MARTINS, Rubens de Oliveira. Belle Époque literária e modernismo: Oswald de Andrade, intelectual entre dois mundos. Sociedade e Estado, Brasília , v. 15, n. 2, p. 240-270, Dec. 2000 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922000000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso 26 de Abril de 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922000000200004.</ref> Enquanto [[Astrojildo Pereira]] preconizava o "[[nacionalismo]]" em Machado, [[Octávio Brandão]] criticava a falta do [[socialismo científico]] em sua obra.<ref>KONDER, Leandro. ''Intelectuais Brasileiros e Marxismo''. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1991, pp. 13-18.</ref> Desta época, destaca-se também a crítica de [[Augusto Meyer]], para quem o uso do homem subterrâneo na obra machadiana é um meio em que ele teria encontrado para relativizar todas as certezas.<ref>Machado de Assis. Porto Alegre: Globo, 1935.</ref>
[[Imagem:Rui casaBarbosa machadoExcursão à Casa de Machado de Assis 1910.jpg|thumb|350px|[[Rui Barbosa]], segundo presidente da Academia, lidera uma visita à casa do primeiro presidente, Machado de Assis, à rua Cosme Velho, 18, em 9 de outubro de 1910, dois anos após a morte daquele que era chamado de mestre até mesmo por seus colegas. A foto representa interesse e preservação por uma obra e vida que só cresceu e se desenvolveu.]]
A revolução [[Modernismo|modernista]] durante o começo e o meio do século vinte aproveitou a obra de Machado em objetivos da [[vanguarda]]. Ela foi alvo de [[Feminismo|feministas]] da década de 1970, como [[Helen Caldwell]], que enxergou a personagem feminina [[Capitu]] de ''[[Dom Casmurro]]'' como vítima das palavras do narrador-homem, mudando completamente a perspectiva que se tinha até então deste romance.<ref>Paulo Franchetti, "Fortuna crítica revisitada", in: Campinas, 25 a 31 de agosto de 2008 – ANO XXII – Nº 406. A obra de Caldwell chama-se ''The Brazilian Othello of Machado de Assis: a study of Dom Casmurro''.</ref> [[Antonio Candido de Mello e Souza|Antonio Candido]] escreveu que a [[erudição]], a [[elegância]] e o estilo vazada numa linguagem castiça contribuíram para a popularidade de Machado de Assis.<ref name="ModernosUm">CANDIDO, 1995, p. 20.</ref> Com estudos da [[sexualidade humana|sexualidade]] e a [[Psique|psique humana]], bem como com o surgimento do [[existencialismo]], atribuiu-se um certo psicologismo às suas obras, especialmente "[[O Alienista]]", muitas vezes comparando-as com as de [[Freud]] e [[Sartre]].<ref name="FuvestOitentaDois" /><ref>Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, 2001, ''Freud e Machado de Assis: uma interseção entre psicanálise e literatura''</ref> A partir dos anos 80 e seguinte, a obra machadiana ficou amplamente aberta para movimentos como a [[psicanálise]], [[filosofia]], [[relativismo]] e [[teoria literária]],<ref>Roberta da Costa de Sousa, [http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa12/robertadacosta_autor.html "Autor, narrador e discurso no século XIX: Machado de Assis"] {{Wayback|url=http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa12/robertadacosta_autor.html# |date=20100914123600 }}. UFRJ. Acesso: 6 de agosto, 2010.</ref><ref>Márcia Schild Kieling, [http://www.entrelinhas.unisinos.br/index.php?e=3&s=9&a=17 "Quincas Borba: um romance construído por homologias"] {{Wayback|url=http://www.entrelinhas.unisinos.br/index.php?e=3&s=9&a=17# |date=20110706162335 }}. Entrelinhas Unisinos. Acesso: 6 de agosto, 2010.</ref> comprovando que é aberta a diversas interpretações e que o interesse por ela continua crescente nos últimos tempos, em todos os lugares do mundo.<ref>"Machado de Assis, o modo de ser e de ver ", por Massaud Moisés, in ''[[Jornal da Tarde (São Paulo)|Jornal da Tarde]]'', 1.5.1999.</ref><ref>Lorena Matuziro, [http://www.correiodeuberlandia.com.br/texto/2008/07/15/30566/machado_de_assis_ainda_vende_bem.html "Machado de Assis ainda vende bem"] (05/08/2008). [[Correio Brasiliense]]. Acesso: 6 de agosto, 2010.</ref>