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[[File:SaoPauloCrypt.jpg|thumb|direita|300px|Cripta da [[Catedral Metropolitana de São Paulo|Catedral da Sé de São Paulo]], local onde se encontram os restos mortais do [[Tibiriçá|cacique Tibiriçá]], antepassado de muitos quatrocentões.]]
'''Quatrocentão''' ([[feminino]]: '''quatrocentona''') é um termo cunhado em meados do [[século XX]], em torno da celebração dos quatrocentos anos de fundação da [[São Paulo (cidade)|cidade de São Paulo]], [[Brasil]], em [[25 de janeiro]] de [[1554|1954]], o ''Quarto Centenário''. Designa a elite paulista tradicional, ou seja, a aristocracia e [[oligarquia]] paulista. A maioria das famílias quatrocentonas têm origem [[Portugal|portuguesa]], entre algumas famílias de origem [[Espanha|espanhola]], [[Franceses|francesa]], [[Flamengos|flamenga]] e [[Ingleses|inglesa]] também.<ref>[http://anphlac.org/upload/anais/encontro8/jose_carlos_vilardaga.pdf]</ref> O termo quatrocentão designa os chamados paulistas de quatrocentos anos.
== A origem ==
A [[miscigenação]] entre [[portugueses]] e [[índio]]s aconteceu desde o início do [[Brasil Colônia]] (1530-1815). Em [[4 de abril]] de [[1755]], [[José I de Portugal|D. José I]], [[Rei de Portugal]], e, portanto, [[soberano]] das [[colónia (possessão)|colônias]] do [[ultramar português]], assinou um [[decreto real]] autorizando o [[casamento]] de portugueses com índios, porém, desde a fundação de São Paulo, [[João Ramalho]] já estabelecera larga descendência com diversas índias, especialmente com [[Bartira]] (filha do [[cacique]] [[Tibiriçá]]), cujos descendentes se entrelaçaram com as primeiras famílias de elite habitantes de São Paulo.<ref name="ReferenceA">SILVA LEME, Luís Gonzaga da, ''Genealogia paulistana'', 9 volumes, Editora Duprat e Cia., 1901 e seguintes.</ref>▼
O termo quatrocentão designa as antigas e tradicionais famílias de São Paulo, descendentes dos bandeirantes e primeiros colonizadores, distinguindo-as dos chamados novos-ricos, descendentes de [[imigrante]]s de diversas nacionalidades, relativamente recém-chegados (pois chegaram em fins do [[Império do Brasil]] (1822-1889), que ensaiavam formar uma nova categoria social. Muitos quatrocentões são descendentes do [[portugueses|português]] [[João Ramalho]] (1493-1580), que casou-se com a
▲A [[miscigenação]] entre [[portugueses]] e [[índio]]s aconteceu desde o início do [[Brasil Colônia]] (1530-1815). Em [[4 de abril]] de [[1755]], [[José I de Portugal|D. José I]], [[Rei de Portugal]], e, portanto, [[soberano]] das [[colónia (possessão)|colônias]] do [[ultramar português]], assinou um [[decreto real]] autorizando o [[casamento]] de portugueses com índios, porém, desde a fundação de São Paulo,
Apesar da globalização e cosmopolitismo, o quatrocentão permanece como lembrança dos bandeirantes e povoadores pioneiros, especialmente os descendentes de [[Bartira]] e [[João Ramalho]], com descendência provada através de livros de assentos de [[batismo]]s e de casamentos paroquiais de São Paulo guardados no arquivo da Cúria da [[Arquidiocese de São Paulo]], de inventários e testamentos depositados no [[Arquivo Público do Estado de São Paulo]] e dos livros de genealogia, especialmente os de [[Pedro Taques de Almeida Paes Leme]] e os de [[Luís Gonzaga da Silva Leme]], e suas atualizações feitas por [[Marta Maria Amato]]. Os paulistas quatrocentões residentes na cidade de São Paulo mantiveram o costume de enterrar seus mortos em [[jazigo]]s de suas famílias, do [[Cemitério da Consolação]], utilizando-se abundantemente de [[arte tumular]].▼
▲Apesar da globalização e cosmopolitismo, o quatrocentão permanece como lembrança dos bandeirantes e povoadores pioneiros, especialmente os descendentes de
===Famílias===
[[Ficheiro:Bartolomeu Bueno da Silva1.jpg|thumb|left|Estátua de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera.]]
Dentre os bandeirantes de que descendem
Entre
[[Cornélio Pires]], em seu livro ''Conversas ao Pé do Fogo'', sugere que alguns dos descendentes dos "
==Papel histórico==
[[Ficheiro:D. Veridiana Prado.jpg|thumb|[[Veridiana da Silva Prado]], filha do [[Barão de Iguape]] e destacada integrante da elite cafeeira.]]
Os quatrocentões são os descendentes dos [[bandeirantes]] e dos colonizadores pioneiros, fundadores de [[São Vicente (São Paulo)|São Vicente]] (em 1532), de São Paulo (em 1554) e demais [[vila]]s quinhentistas paulistas, e que sentaram poderosas raízes econômicas e sociais. Constituindo-se nos grandes responsáveis pelo [[desenvolvimento social]], [[desenvolvimento econômico|econômico]], [[desenvolvimento urbano|urbano]] e [[cultura]]l dessas cidades e de outras tantas do [[estado de São Paulo]], por mais de trezentos anos, desde a fundação das primeiras cidades, no [[século XVI]]. Os bandeirantes e os povoadores pioneiros - ancestrais dos quatrocentões -, foram os grandes responsáveis pela expansão do [[Império Português]] na [[América do Sul]]. Também foram os descobridores do ouro em [[Minas Gerais]], [[Goiás]] e [[Mato Grosso]], sendo os grandes responsáveis pelo chamado [[ciclo do ouro]] do Brasil, que durou todo o [[século XVII]] e quase todo o [[século XVIII]]. Por séculos, desde quase o [[descobrimento do Brasil]], eles desbravaram o atual território brasileiro de norte a sul, de leste a oeste, em busca de [[Metal precioso|metais preciosos]] (especialmente [[ouro]] e [[prata]]), [[pedras preciosas]] e [[Povos indígenas do Brasil|indígenas]] para escravização; fundando diversas cidades por onde passavam. Contribuíram, em grande parte, para a expansão territorial do Brasil além dos limites impostos pelo [[Tratado de Tordesilhas]], ocupando os territórios adentrados.<ref>{{citar web|url=https://www.academia.edu/23155128/Um_Governo_de_Engonços_Metrópole_e_Sertanistas_na_Expansão_dos_Dom%C3%ADnios_Portugueses_aos_Sertões_do_Cuiabá_1721-1728_|titulo=Um Governo de Engonços: Metrópole e Sertanistas na Expansão dos Domínios Portugueses aos Sertões do Cuiabá (1721-1728)|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>[Relatos Sertanistas, Afonso Taunay, Ed. da Universidade de São Paulo]</ref><ref>{{citar web|url=http://www.abmbrasil.com.br/quem-somos/historico/os-bandeirantes-descobrem-ouro/|titulo=Os bandeirantes descobrem o ouro|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=|arquivourl=https://www.webcitation.org/6My5uXTAA?url=http://www.abmbrasil.com.br/quem-somos/historico/os-bandeirantes-descobrem-ouro/|arquivodata=2014-01-28|urlmorta=yes}}</ref><ref>
Várias famílias mais tarde deram origem aos chamados ''[[barões do café]]'', os grandes cafeicultores, e também a detentores dos [[título nobiliárquico|títulos nobiliárquicos]] de [[barão]] (baronesa), [[visconde]] (viscondessa), [[conde]] (condessa), [[marquês]] (marquesa), da [[nobreza do Império do Brasil]].
Muitos, também, por muito tempo dominaram o sistema [[banco|bancário]] do estado de São Paulo e do Brasil. Por sua vez, as famílias tradicionais paulistas tiveram seu apogeu político nacional durante a [[República Velha]] (1889-1930), com a [[política do Café com Leite]] (São Paulo/Minas Gerais (1898-1930), período em que se alternaram políticos do [[Partido Republicano Paulista]] e do [[Partido Republicano Mineiro]] na [[presidência do Brasil|Presidência da República]]. No entanto, muitos quatrocentões se posicionam e se posicionavam a favor da [[monarquia constitucional]] vigente durante o Império do Brasil (1822-1889), tendo algumas famílias quatrocentonas, quando do [[Lei do Banimento (Brasil)|exílio da família imperial]], enviado muitas cartas
Até hoje alguns quatrocentões têm um papel importante no desenvolvimento do [[Unidades federativas do Brasil|estado]] de São Paulo e do Brasil. No entanto, desde a [[depressão de 1929]], quando muitos deles perderam suas fortunas, e o período posterior à [[Revolução Constitucionalista de 1932|Revolução de 1932]], quando os mesmos perderam muito poder [[político]], as famílias quatrocentonas decaíram apenas do ponto de vista econômico e político, sem nunca, todavia, deixarem de ser a elite paulista tradicional.
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A maioria, entretanto, hoje em dia tem [[poder aquisitivo]] de [[classe média alta]]. Tendo aqueles que preservam suas fortunas, como os Villelas (que descendem dos Souza Aranha) e os Setúbal, do [[banco Itaú]], os Simonsen e os Silveira Mello, entre outros. Com o tempo, diversos quatrocentões casaram-se com descendentes de imigrantes [[italianos]], [[alemães]], [[franceses]], [[poloneses]] e [[libaneses]] que teriam imigrado para São Paulo em fins do Império brasileiro (1822-1889) em busca de melhores condições de vida, ainda que de início tenha havido muita rejeição entre os quatrocentões "puros" para com estes imigrantes outrora pobres, muitos dos quais vieram por contrato para trabalharem como colonos das fazendas, carentes de mão de obra após a [[Lei Áurea|abolição da escravatura]] (1888).
== Os
A condição de quatrocentão se opõe à dos novos ricos, burgueses descendentes de [[imigrante]]s inicialmente pobres, alguns dos quais também bem sucedidos nos negócios a partir dos
A elite paulista e paulistana tradicional inicialmente tentou singularizar-se, separando-se dos imigrantes através de escolas e clubes destinados àqueles que, anos mais tarde, teriam seus descendentes classificados como quatrocentões. A despeito do seu esforço, essa chamada elite paulista e paulistana tradicional acabou por miscigenar-se aos imigrantes.<ref name="www1.folha.uol.com.br">
No início do
Mas os imigrantes criaram seus próprios clubes, como o [[Germânia]] (atual [[Esporte Clube Pinheiros]]) dos alemães; o Palestra Itália (atual [[Palmeiras]]) e o [[Clube Atlético Juventus|Juventus]] dos italianos; o [[Corinthians]] dos [[imigrantes]] e [[estrangeiros]] em geral (não importando a sua origem), e o [[São Paulo Athletic Club]] e o [[Nacional Atlético Clube (São Paulo)|Nacional]] dos [[ingleses]]. Durante a [[Segunda Guerra Mundial]] (1939-1945), o Germânia e o Palestra Itália se viram forçados a mudar seus nomes.
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::''Brasilêro é muito raro!'' <ref>PIRES, Cornélio. ''Sambas e Cateretês''. Editora Unitas Ltda., São Paulo, 1932</ref>
Segundo [[Raymundo Faoro]], em seu livro ''Os donos do poder'', no início do
A peça teatral ''Os ossos do barão'', de [[Jorge Andrade]], ele mesmo amargurado por ser afetado pessoalmente pela queda financeira familiar, retrata os conflitos do período em que a
Os conflitos gerados pela gradual miscigenação entre parte da aristocracia paulistana antiga e a emergente classe dos descendentes de italianos foram mostrados também pelo dramaturgo e contista [[Antônio de Alcântara Machado]], um quatrocentão, que na obra ''[[Brás, Bexiga e Barra Funda]]'', "uma coletânea de contos publicada em
Há muitos exemplos reais de casos, como o de [[Yolanda Penteado]], de tradicional família paulistana, desquitada de um rapaz da tradicional família Silva Telles, e não havendo divórcio em sua época, se uniu a [[Ciccilo Matarazzo]], romance este retratado com certa liberdade, do ponto vista histórico, na minissérie ''[[Um Só Coração|Um só Coração]]'', de [[Maria Adelaide Amaral]], exibida na [[TV Globo]].
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Outro exemplo é o de [[Fábio da Silva Prado]], aristocrata paulistano da tradicional família Silva Prado, que se casou com Renata Crespi, filha do conde [[Rodolfo Crespi]] - imigrante italiano que faria uma fortuna bilionária no Brasil -, dono da maior [[tecelagem]] de São Paulo, o Cotonifício Crespi, numa época em que os tradicionais paulistas só se casavam com moças de tradicionais famílias brasileiras, especialmente de tradicionais famílias paulistas - muitas dessas famílias aparentadas entre si.
Vê-se, portanto, que a eventual fortuna de um imigrante não transformava seus filhos automaticamente em bons
Assim como os Crespi, também o conde [[Francesco Matarazzo]], imigrante italiano que chegou ao Brasil em 1881, construiu um império industrial - o maior complexo industrial da [[América Latina]] do início do [[século XX]] - e, por algumas décadas, na cidade de São Paulo, a palavra "matarazzo" era usada como sinônimo de milionário. Muitas outras famílias de imigrantes, aos poucos, mesclaram-se à alta sociedade tradicional.<ref>[http://www.italiaoggi.com.br/not08/ital_not20010809c.htm
Perpetuando a lembrança dos tradicionais, as ruas da cidade foram batizadas com os nomes de paulistas ilustres. Mas hoje, ao lado dos sobrenomes tradicionais, como [[Cerqueira César]], Macedo e Duarte, veem-se ruas com nomes italianos, árabes e japoneses. No [[bairro do Morumbi]], por exemplo, ao lado da avenida Dona Maria Mesquita da Motta e Silva e das ruas Ribeiro Lisboa e Silveira Sampaio, ficam as ruas Dr. [[Chibata Miyakoshi]] e Oagy Kalile. Na mesma região encontram-se as ruas [[Doutor|Dr.]] José Gustavo Busch (de origem inglesa) e [[Brigadeiro]] [[Armando Trompowsky]], filho de uma imigrante polonesa.
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[[File:Raposo Tavares (Luigi Brizzolara).jpg|thumb|Estátua do bandeirante [[Raposo Tavares]] no Museu Paulista.]]
Várias obras genealógicas foram produzidas no século XIX, especialmente depois da criação do [[Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro]], e vários trabalhos foram publicados no âmbito do IHGB enaltecendo a figura do bandeirante e transformando-o em um gigante,<ref name="Bogaciovas"/> processo fortalecido na década de 1890 com a criação do [[Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo]]. Segundo Paulo César Marins, "romances, artigos em jornais e na revista do IHGSP, livros de história, monumentos escultóricos públicos e pinturas históricas foram os maiores responsáveis pela disseminação de uma visão positiva dos bandeirantes".<ref name="Veiga"/> O próprio perfil urbano se transformava, suprimindo-se as edificações simples dos primeiros tempos coloniais em troca de edificações majestosas, pois constituíam, segundo Paulo César Garcez Marins, "testemunho inegável – e incômodo – da precariedade material da capitania e da província paulista", readequando a cidade "ao triunfo dos fazendeiros e políticos republicanos, que guardavam muito pouco do cotidiano tosco, semi-isolado e sertanejo de seus ancestrais quinhentistas, seiscentistas e setecentistas".<ref name="Anais">Marins, Paulo César Garcez. [https://www.scielo.br/pdf/anaismp/v6-7n1/02.pdf "O Parque do Ibirapuera e a construção da identidade paulista"]. In: ''Anais do Museu Paulista'', (1998-1999); (6/7): 9-36</ref>Para Luís Soares de Camargo, "o contexto histórico é fácil de ser entendido: São Paulo despontava como a grande potência econômica, mas faltava-lhe uma base historiográfica que desse uma base a esse novo papel do povo paulista. Faltava um 'herói' para dar mais consistência a uma tese de que desde o passado São Paulo já estava à frente das demais capitanias. Assim, alguns historiadores deram início a esse processo de glorificação do passado paulista e a figura que mais se adequava era a dos sertanistas. Forte, corajoso, guerreiro".<ref name="Veiga">Veiga Edison. [https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2020/06/20/como-os-bandeirantes-cujas-homenagens-hoje-sao-questionadas-foram-alcados-a-herois-paulistas.htm "Como os bandeirantes, cujas homenagens hoje são questionadas, foram alçados a heróis paulistas"]. ''UOL'', 20/06/2020 </ref>
O orgulho das famílias pioneiras foi renovado com a publicação, no início do século XX, da obra ''[[Genealogia Paulistana]]'', de [[Luís Gonzaga da Silva Leme]],
Entre as principais obras que retratavam os bandeirantes na primeira parte do século XX, encontram-se ''São Paulo nos primeiros anos'', ''São Paulo no século XVI'', ''São Paulo seiscentista'' e ''História Geral das Bandeiras Paulistas'', em 11 volumes, de [[Afonso d'Escragnolle Taunay]], que desempenhou um papel central na consagração dos quatrocentões, tanto pelas suas publicações, onde recuperou os escritos de frei Gaspar e Pedro Taques, dando-lhes grande crédito, quanto pela sua atividade como diretor do [[Museu Paulista]] entre 1917 e 1945, onde privilegiou um vigoroso, apologético e de certa forma anacrônico discurso em torno dos bandeirantes, que envolveu a produção de iconografia e estatuária.<ref name="Schneider"/><ref name="Veiga"/> Segundo Alberto Schneider, ao reeditar Gaspar e Taques e tomá-los como referências fundamentais na reconstrução da imagem do bandeirante, Taunay lançou as bases da moderna mitologia que ainda cerca os pioneiros.<ref name="Schneider"/> Para Marcelo Bogaciovas, seu trabalho representou "o ápice da mitificação do bandeirantismo".<ref name="Bogaciovas"/>
Outras obras relevantes foram ''No tempo dos bandeirantes'', de [[Belmonte (cartunista)|Belmonte]]; ''O Bandeirismo Paulista e o Recuo do Meridiano'' e ''Raça de Gigantes - A Civilização no Planalto Paulista'', de [[Alfredo Ellis Júnior]].<ref name="Veiga"/> Também
Porém, com ''Vida e morte do bandeirante'' (1929), de [[José de Alcântara Machado]], autor do termo "quatrocentão",<ref name="Bogaciovas"/> baseada em uma extensa pesquisa documental, começa a ser definida uma outra visão sobre as origens do povoamento, desfazendo o mito de que a grande maioria das famílias pioneiras descendia das grandes famílias nobres de Portugal. Segundo o autor, o capital presente nos primeiros tempos era muito pequeno, e entre os seus povoadores "não há representantes das grandes casas peninsulares, nem da burguesia endinheirada. Mas, se migraram para província tão áspera e distante, é exatamente porque a sorte lhes foi madrasta na terra natal. Outros, a imensa maioria, são homens do campo, [...] artífices aventureiros de toda a casta". Isso não anula o fato de que se no início foram pobres, em pouco tempo formou-se uma elite empoderada e orgulhosa de suas conquistas, cuja riqueza se media mais pela quantidade de índios que conseguia mobilizar para suas milícias.<ref>Fragoso, João. [https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2801200706.htm "A gênese do quatrocentão"]. ''Folha de São Paulo'', 28/01/2007</ref>
Se não tinham títulos quando chegaram, muitos viriam adquirí-los mais tarde, decorrentes do seu prestígio como lideranças locais, do seu enriquecimento ou em virtude de serviços prestados ao monarca, quando as narrativas sobre origens mais ilustres do que de fato eram começam a se tornar recorrentes, parte do processo de fechamento da elite e sua estruturação como uma [[aristocracia]], que
::"Já não é de hoje que, entre os eruditos da ciência genealógica do Brasil e de Portugal, causa espécie a propalada nobreza de sua gente, exaltada nas obras de Pedro Taques de Almeida Paes Leme, escrita por 1750-1770 e de Luís Gonzaga da Silva Leme, publicada de 1903 a 1905, e de outras que se lhes seguiram. É que os troncos das famílias estudadas, primitivos povoadores de São Paulo, vêm descritos como originários da aristocracia portuguesa. A não contestação dessas fantasiosas ascendências, por várias décadas, transformou-as em genealogias aparentemente sólidas e 'bem documentadas'. Entre a verdade coligida pelos documentos e o imaginário de uma sociedade que se presumia nobre, há fraudes genealógicas e provanças mal justificadas. [...]
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