Linguística histórica: diferenças entre revisões

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'''Linguística histórica''' (ou '''linguística diacrônica''') é a disciplina [[linguística]] que estuda o desenvolvimento histórico de uma [[Língua natural|língua]] - como ela surgiu, quais línguas influenciaram sua estrutura e uso, as mudanças que sofreu ao longo do tempo e o porquê dessas mudanças, etc. Como tal, a linguística histórica ocupa um lugar destacado no estudo da [[diacronia|evolução diacrônica]] das línguas e a sua relação ou parentesco genético. Ao mesmo tempo, a Linguística Histórica se preocupa com a reconstrução de línguas antigas, mortas ou extintas. Nesse aspecto, ela pode se confundir com a [[Filologia]].<ref>[http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/24/artigo178235-1.asp Linguística Histórica - O passado das línguas e as línguas do passado] {{Wayback|url=http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/24/artigo178235-1.asp |date=20100729232618 }}, por Francisco Edmar Cialdine Arruda. Revista ''Língua Portuguesa'', ed. 24.</ref>
 
Segundo Souza (2006) a linguística histórica surgiu no século XIX diante de um enorme corpo genético construído na Europa sobre suas origens comuns e seu desenvolvimento histórico particular de diversos idiomas. <ref>[http://www.tycho.iel.unicamp.br/gentle-wiki/arquivos/b/b8/PAIXAODESOUZA_MC-2006a.pdf Linguística histórica]</ref>
 
Os resultados da linguística histórica podem ser comparados frequentemente aos de outras disciplinas como a [[história]], a [[arqueologia]] ou a [[genética]]. Nos estudos interdisciplinares deste tipo pretende-se reconstruir a cronologia relativa a contatos entre [[Grupo étnico|povos]], rotas de expansão e influências culturais mútuas.
 
O nome ''linguística comparada'', ou ''gramática comparada'', refere-se especificamente a uma das técnicas principais da antiga linguística histórica [[Sincronia|sincrônica]].
 
== Definição do termo ==
Saussure indica os dois eixos que "todas as ciências deveriam ter interesse em assinalar":
 
* 1º O ''eixo das simultaneidades'', concernente às relações entre coisas coexistentes, de onde toda intervenção do tempo se exclui, e
* 2º O ''eixo das sucessões'', sobre os quais não se pode considerar mais do que uma coisa por vez, mas onde estão situadas todas as coisas do primeiro eixo com suas respectivas transformações." <ref>SAUSSURE, ''op.cit.'' p. 95.</ref>
 
Segundo o autor, é sincrônico "tudo quanto se relacione com o ''aspecto estático'' da nossa ciência; diacrônico tudo que diz respeito às ''evoluções''. Sincronia designa, portanto, "um estado da língua". Diacronia designa "uma fase de evolução".<ref>SAUSSURE, ''op.cit.'', p. 96</ref> Portanto, "a lingüísticalinguística diacrônica estuda, não mais as relações entre os termos coexistentes de um estado de língua, mas entre termos sucessivos que se substituem uns aos outros no tempo".<ref>"Diacronia". In SAUSSURE, ''op.cit.''</ref>
 
Outra definição parecida para os estudos diacrônicos é a de Carlos Alberto Faraco, que define diacronia como “o estudo da história das línguas”:
"Se estudamos as mudanças da língua no tempo (comparando, por exemplo, o português do [[século XIII]] com o do [[século XVI]] e com o do [[século XX]]), estamos fazendo um estudo diacrônico”.<ref>FARACO, Carlos A. ''LingüísticaLinguística Histórica, uma introdução ao estudo da história das línguas''. São Paulo: Editora Ática., 1998, p. 129.</ref>
 
Apesar de ambas as definições serem semelhantes, as pesquisas na área da lingüísticalinguística diacrônica não possuem a homogeneidade que teoricamente deveriam ter. Há, por exemplo, aspectos conflitantes em duas análises sobre o problema da relação entre os termos ''pecu'' e ''pecúnia''. Esses termos aparecem em três grandes [[dialeto]]s: no [[indo-iraniano]], no [[línguas germânicas|germânico]] e no [[itálico]], e são alvos de dois estudos (''Vocabulário das Instituições Indo-Européias'' (capítulos 3 e 4) de [[Émile Benveniste]], e ''Ensaio de Semântica'', de [[Michel Bréal]]) cujas conclusões não são convergentes .
 
== Análise ==
[[Émile Benveniste]] critica o raciocínio utilizado pelos [[Linguística comparativa|comparatistas]], do qual compartilha [[Michel Bréal]]. O método comparatista, segundo Faraco ,<ref>FARACO ''op. cit''., pp. 84-85</ref>, tem como ponto de partida a publicação, em [[1808]], de um texto de autoria de [[Friedrich Schlegel]] sobre a língua e a sabedoria dos [[hindus]]. Nele, o autor estabelece a tese de parentesco (principalmente entre as estruturas gramaticais) entre o [[sânscrito]], o [[latim]], o [[língua grega|grego]], o germânico e o [[Persa antigo|persa]]. Mas foi somente com [[Franz Bopp]] que esse parentesco foi empiricamente revelado, e o método comparatista efetivamente criado.<ref>[http://www.filologia.org.br/revista/artigo/3%289%2941-52.html Contribuição do Método Comparativo para a Determinação da Existência do Indo-Europeu] {{Wayback|url=http://www.filologia.org.br/revista/artigo/3%289%2941-52.html# |date=20170503212659 }}, por João Bittencourt de Oliveira.</ref> Foi ainda através deste mesmo método que os linguistas ditos comparatistas, [[gramático]]s e neogramáticos fizeram a reconstituição hipotética de várias línguas, entre elas o indo-europeu.
 
Essa abordagem comparatista propõe que o termo ''pecúnia'', no latim, designava então a riqueza em gado; ''pecu'' designava gado e ''peculium'', a parte do gado deixada aos escravos. Num processo entendido pelos [[etimologista]]s como "ampliação de sentido", o termo ''pecúnia'' passou então a designar toda espécie de [[riqueza]]. Michel Bréal diz que esse processo é um lento deslocamento de [[sentido]], sendo necessária para sua observação uma profunda análise histórica, e, apesar de julgá-lo como um fenômeno de ocorrência "normal", deveria ocorrer entre povos cuja vida e pensamento são "intensos e ativos".
 
Benveniste não chega a citar a análise elaborada por Bréal (para contrapor um exemplo, ele prefere o nome de [[Antoine Meillet]]), nem mesmo duvida da relação formal entre os três termos em discussão (''pecu, pecúnia'' e ''peculium''); ele apenas aponta um outro viés na forma de entendê-la.
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# ''Pecunia'': Benveniste afirma que se o derivado pecunia significa exclusivamente fortuna, dinheiro, é porque o termo de base ''pecu'' se remete somente a um [[Valor (economia)|valor econômico]], e significa "posse móvel". Somente desta forma é que ''pecúnia'' adquire um sentido constante na história. O autor diz ainda que a errônea interpretação desses termos deve-se às noções inexatas que foram transpostas pelos primeiros latinos e, posteriormente, à "ingênua tradução" de ''pecunia'' como "riqueza em gado", feita pelos modernos.
# ''Peculium'': A análise de Benveniste para o termo ''peculium'' é análoga à anterior, contudo, este termo encontra-se mais distante de ''pecu'' do que o termo ''pecunia''. Sabe-se que ''peculium'' designa a posse concedida aos escravos. Porém, a noção de posse está restrita a [[bens móveis]](geralmente dinheiro e carneiros). Benveniste diz ainda, que "''não nos cabe'' [aos lingüistas] ''indagar por que 'peculium' se remete às economias do escravo e 'pecúnia' à fortuna do senhor; este é um problema da história das instituições, e não da forma lingüísticalinguística''. O autor deixa bem claro aqui o seu recorte do objeto, retirando de seus estudos o que se refere à história das instituições e restringindo-se aos estudos lingüísticos.
 
Enquanto Michel Bréal aponta a profunda importância da história das instituições para os estudos da lingüísticalinguística diacrônica, Benveniste indica o caminho contrário. A posição de Bréal já é explicitada logo na introdução do capítulo XI de seu ''Ensaio de [[Semântica]]'', quando ele diz:
# ''Peculium'': A análise de Benveniste para o termo ''peculium'' é análoga à anterior, contudo, este termo encontra-se mais distante de ''pecu'' do que o termo ''pecunia''. Sabe-se que ''peculium'' designa a posse concedida aos escravos. Porém, a noção de posse está restrita a [[bens móveis]](geralmente dinheiro e carneiros). Benveniste diz ainda, que "''não nos cabe'' [aos lingüistas] ''indagar por que 'peculium' se remete às economias do escravo e 'pecúnia' à fortuna do senhor; este é um problema da história das instituições, e não da forma lingüística''. O autor deixa bem claro aqui o seu recorte do objeto, retirando de seus estudos o que se refere à história das instituições e restringindo-se aos estudos lingüísticos.
 
Enquanto Michel Bréal aponta a profunda importância da história das instituições para os estudos da lingüística diacrônica, Benveniste indica o caminho contrário. A posição de Bréal já é explicitada logo na introdução do capítulo XI de seu ''Ensaio de [[Semântica]]'', quando ele diz:
 
''"Causas da ampliação de sentido. Os fatos de ampliação de sentido são igualmente informações para história. Eles são uma conseqüênciaconsequência do progresso do [[pensamento]]"''.
 
Sua forma de análise diacrônica já se distingue em relação a Benveniste quando conclui que ''pecu'' significa ''"posse móvel pessoal"'', e que o fato de tal posse ser ''"representada pelo gado, seria um outro dado, que diz respeito à [[estrutura social]] e às formas de [[produção]]. Desta forma 'pecu' designaria inicialmente a posse móvel. Esse, por razões que não cabem à lingüísticalinguística serem estudadas, é freqüentemente aplicado à posse de [[gado]]; e posteriormente à espécie de gado predominante, o carneiro"''.
 
== Ver também ==
*[[Linguística comparativa]]
*[[Família linguística]]
*[[Anexo:Lista de Swadesh|Lista de Swadesh]]
*[[Protolíngua]]
 
{{Referências}}
 
== Ligações externas ==
* [http://www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/pesquisa/caps/PAIXAODESOUZA_MC-2006a.pdf Linguística histórica], por Maria Clara Paixão de Sousa. ''In'' ''Introdução às ciências da linguagem: linguagem, história e conhecimento''. Campinas: Pontes, 2006.
*[{{Link||2=https://web.archive.org/web/20150924013104/http://www.filologia.org.br/revista/artigo/9(25)04.htm |3=Alguns termos da linguística histórica] |4=. Por Expedito Eloísio Ximenes}}
 
{{Linguística}}