A priori e a posteriori: diferenças entre revisões

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== Conceito ==
=== ''A priori'' ===
* ''A priori'' é o conhecimento ou justificação independente da [[Experiência (filosofia)|experiência]] (por exemplo, "Todos os solteiros não são casados"). Galen Strawson afirmou que um argumento ''a priori'' é aquele em que "você pode ver que é [[Verdade | verdadeiro]] apenas deitado em seu sofá. Você não tem que se levantar do seu sofá e sair para examinar a forma como as coisas no mundo físico são. Você não tem que fazer qualquer ciência.".;<ref name="Galen Strawson interviewed by Tamler Sommers">{{citar web| url=http://www.believermag.com/issues/200303/?read=interview_strawson |título=Galen Strawon (interview) |publicado=McSweeney’s |obra=Believer Magazine |data=março de 2003 |acessodata=10 de julho de 2013 |autor =Sommers, Tamler}}</ref>
 
=== ''A posteriori'' ===
* ''A posteriori'' é o conhecimento ou justificação dependente de experiência ou [[evidência empírica]],<ref name="Marcondes19932">"Um juízo ''a posteriori'' só pode ser estabelecido pela experiência"{{citar livro|autor =Hilton Japiassú, Danilo Marcondes|título=Dicionário básico de filosofia|url=http://books.google.com/books?id=2K0bP_T6F_oC&pg=PA15|ano=1993|publicado=Zahar|isbn=978-85-378-0341-7|página=15}}</ref> ou seja, depende de o objeto do qual será retirado o conhecimento esteja disposto aos meus sentidos, o individuo precisa ver, ou sentir, ou tocar, para, a partir dessa premissa, começar o raciocínio. Um exemplo de conhecimento a posteriori seria a indagação "qual é o efeito da lactose em um indivíduo intolerante?". Pode-se perceber que esse questionamento não pode ser respondido sem pesquisas científicas, sendo necessário realizar testes com lactose em um indivíduo intolerante para conhecer os efeitos e responder à questão. Outro exemplo seria o questionamento relacionado às ciências humanas: há desigualdade socioeconômica nas sociedades ocidentais pós-modernas? Isso apenas seria comprovado ou refutado a partir do empirismo e da observação.
 
== História ==
O filósofo do século XIII [[Tomás de Aquino]], na ''[[Summa Theologica]]'', escreveu: "A demonstração pode ser feita de duas maneiras: uma é através da causa, é chamada de "a priori", é argumentar apenas sobre o que está antes. A outra maneira é através do efeito, e é chamada de demonstração "a posteriori"; é argumentar a partir do que é anterior relativamente apenas a nós. Quando um efeito é mais conhecido para nós do que sua causa, a partir do efeito passamos ao conhecimento da causa. Assim todos os efeitos da existência e sua causa podem ser demonstrados, desde que os seus efeitos são mais conhecidos para nós, porque uma vez que cada efeito depende de sua causa, se o efeito existe, a causa deve pré-existir".<ref>{{citar web|url=http://www.newadvent.org/summa/1002.htm |título=SUMMA THEOLOGICA: The existence of God (Prima Pars, Q. 2) |publicado=Newadvent.org |data= |acessodata=19 de dezembro de 2012}}</ref>
 
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== Relação com o necessário/contingente ==
A noção de ''a priori'' é uma noção epistêmica, que caracteriza o modo como uma proposição é conhecida, o de ser conhecida independentemente da experiência. Ao introduzir a noção de conhecimento ''a priori'', Immanuel Kant equacionou-a com a de ''necessidade'' estabelecendo a seguinte equivalência: uma proposição é conhecível a priori se, e somente se, for necessária. Foi preciso esperar por [[Saul Kripke]], alguém que questionou tal conexão. Essa conexão foi praticamente refutada no clássico ''"Naming and Necessity", 1972''. Contudo, ainda permanecem alguns resistentes. Mesmo que não aceitemos os argumentos de Kripke, também não se pode admitir a conexão sem argumentos, como até então se fazia. Em primeiro lugar, é preciso notar que a distinção entre conhecimento ''a priori'' e ''a posteriori'' é uma distinção epistêmica acerca de modos de conhecer, ao passo que a distinção entre ''necessário'' e ''contingente'' é uma distinção metafísica acerca de tipos de verdade. <ref>Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos, org. por João Branquinho e Desidério Murcho. Gradiva, 2001.</ref>
 
Em [[Kant]], são ''a priori'', ou seja, universais e necessárias, as formas ou intuições puras da sensibilidade (espaço e tempo), as categorias do entendimento e as ideias da razão.<ref name="Marcondes1993">{{citar livro|autor =Hilton Japiassú, Danilo Marcondes|título=Dicionário básico de filosofia|url=http://books.google.com/books?id=2K0bP_T6F_oC&pg=PA15|ano=1993|publicado=Zahar|isbn=978-85-378-0341-7|página=15}}</ref> [[Claude Bernard]] afirma que ideia ''a priori'' é aquela que se apresenta sob a forma de uma hipótese cujas consequências devem ser submetidas ao critério experimental.<ref name="Iñiguez2007">{{citar livro|autor =Enrique Suárez Iñiguez|título=The Power of Argumentation|url=http://books.google.com/books?id=Wta7qyP9agYC&pg=PA81|ano=2007|publicado=Rodopi|isbn=978-90-420-2287-4|página=81}}</ref> Após Kant, alguns filósofos têm considerado a relação entre "aprioricidade", analiticidade e necessidade de serem muito próxima. De acordo com Jerry Fodor, "o [[positivismo lógico | Positivismo]], em particular, tinha como certo que verdades ''a priori'' devem ser necessárias..."<ref>Fodor (1998), p. 86.</ref> No entanto, desde Kant, a distinção entre as proposições sintéticas e analíticas tinham se alterado ligeiramente. As proposições analíticas foram amplamente consideradas como sendo "verdadeiras em virtude de significados e independentemente do fato",<ref>Quine (1951), §1.</ref> enquanto proposições sintéticas não, deve-se realizar algum tipo de investigação empírica, olhando para o mundo, para determinar os valores-verdade de proposições sintéticas.
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Assim, a relação entre "aprioricidade", a necessidade e analiticidade não é fácil de se compreender. No entanto, a maioria dos filósofos, pelo menos, parecem concordar que, embora as várias distinções podem se sobrepor, as noções claramente não são idênticas: a distinção ''a priori/a'' ''posteriori'' é [[epistemologia |epistemológica]], a distinção analítica/sintética é[[linguística]] e a distinção necessário/contingente é [[metafísica]].<ref>Baehr (2006), §2 & §3.</ref><ref name="Muljadi">{{citar livro|autor =Editado por Paul Muljadi|título=Epistemology|url=http://books.google.com/books?id=DIGqM2Y0wdkC&pg=PA69|publicado=Paul Muljadi|página=69|id=GGKEY:AQAD16X2J4P}}</ref>
 
A justificação ''a priori'' repousa em intuições racionais, ou idéiasideias, mas há uma variedade de pontos de vista sobre a natureza dessas intuições ou ''insights''. Há também muitas objeções à ideia de que intuições racionais fornecem qualquer tipo de justificação. [[Racionalista]]s pensam que pode haver um conhecimento ''a priori'' do mundo, enquanto [[empirista]]s negam isso. <ref>{{Citar SEP|autor=Bruce Russell|pagina=apriori|titulo=''A Priori'' Justification and Knowledge|data=21/7/2013}}</ref>
 
== Leituras adicionais ==
* Boghossian, P. & Peacocke, C., eds. (2000). ''New Essays on the A Priori'', Oxford: Oxford University Press.
* Descartes, René. (1641). "[https://web.archive.org/web/20130715042128/http://www.wright.edu/cola/descartes/ Meditations on First Philosophy]". In Cottingham, et al. (eds.), ''The Philosophical Writings of Descartes'', Cambridge University Press, 1984.
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* Jenkins, C. S. (2008). [https://archive.today/20130105084101/http://www3.interscience.wiley.com/journal/119423031/abstract?CRETRY=1&SRETRY=0 A Priori Knowledge: Debates and Developments], in ''Philosophy Compass'' 3.
*{{citar livro|autor =Immanuel Kant|título=Crítica da razão pura|url=http://books.google.com/books?id=l6lFLgEACAAJ|acessodata=21 de julho de 2013|ano=2012|publicado=Ed. Vozes|isbn=978-85-326-4324-7}}
**[{{Link||2=http://www.hkbu.edu.hk/~ppp/cpr/toc.html |3=Critique of Pure Reason] |4={{en}}}}
*{{citar livro|autor =Immanuel Kant|título=Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura|data=2008 |publicado=Almedina Brasil - Edições 70|isbn=9789724415345}}
** [{{Link|en|2=https://web.archive.org/web/20000831211542/http://eserver.org/philosophy/kant-prolegomena.txt |3=''Prolegomena to any Future Metaphysics''] {{en}}
* Kripke, Saul. (1972). "Naming and Necessity", in ''Semantics of Natural Language'', edited by D. Davidson and G. Harman, Boston: Reidel. (Reprinted in 1980 as ''Naming and Necessity'', Cambridge, MA: Harvard University Press.)
* Leibniz, Gottfried. (1714). ''[https://web.archive.org/web/20151117200947/http://www.rbjones.com/rbjpub/philos/classics/leibniz/monad.htm Monadology]'', in ''Philosophical Essays'', edited and translated by Roger Ariew and Daniel Garber, Indianapolis: Hackett, 1989.
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