Shaolin quan: diferenças entre revisões

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Os monges shaolins se aliaram ao inimigo de Wang, Li Shimin, e retomaram a Propriedade do Vale do Cipreste, derrotando as tropas de Wang e capturando seu sobrinho, Renze. Sem o forte do Vale do Cipreste, nada impedia que Li Shimin marchasse sobre Luoyang depois da derrota do aliado de Wang, Dou Jiande, na batalha de Hulao, forçando Wang Shichong à rendição. O pai de Li Shimin, [[Gaozu de Tang]], foi o primeiro imperador Tang, e Li Shimin se tornou o segundo, [[Taizong de Tang]]. A partir de então, o mosteiro Shaolin gozou da proteção do governo Tang.
 
Embora a estela de 728 do mosteiro Shaolin ateste os incidentes em 610 e 621, quando os monges se envolveram em combates, ela não faz alusão ao treinamento marcial no mosteiro, ou a qualquer técnica marcial que os monges tenham desenvolvido. Também não existem fontes dos períodos Tang, Song e Yuan que façam referência ao treinamento marcial no mosteiro. De acordo com Meir Shahar, isso se explica pela confluência da mania de enciclopédias militares no final do período Ming e, mais importante, pelo alistamento militar de civis irregulares, inclusive monges, como resultado do declínio militar Ming no século XVI.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref> Evidências documentais e de estelas mostram que os monges reverenciavam a forma "rei Kimnara" do [[bodisatva]] Vajrapani como o criador dos estilos de mãos nuas e bastão do templo.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título=The Shaolin Monastery: History, Religion, and the Chinese Martial Arts|editora=Honolulu: University of Hawai'i Press|ano=2008|páginas=|id= ISBN 978-0824831103.}}</ref>
=== Dinastia Ming (1368–1644) ===
Do século VIII ao XV, não existem documentos que atestem a participação shaolin em combates. Nos séculos XVI e XVII, ao menos quarenta documentos atestam que os monges shaolins não apenas praticavam artes marciais, mas que a prática marcial havia se tornado um elemento fundamental do mosteiro.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref> Referências às artes marciais shaolins aparecem em vários gêneros literários do final do período Ming: epitáfios dos monges guerreiros shaolins, manuais de artes marciais, enciclopédias militares, escritos históricos, livros de viagens, ficção e até poesia.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref>
 
Essas fontes, em contraste com as do período Tang, se referem a métodos de combate shaolin sem armas, com a [[qiang|lança]], e com a arma shaolin mais famosa: o [[gun (bastão)|bastão]].<ref>{{citar livro|autor=Henning, Stanley E.|título= "Academia Encounters the Chinese Martial arts". China Review International. 6 (2): 319–332.|editora=|ano=outono de 1999|páginas=|id=doi:10.1353/cri.1999.0020. ISSN 1069-5834}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref> Em meados do século XVI, peritos militares do país inteiro viajavam a Shaolin para aprender suas técnicas.
 
Por volta de 1560, Yu Dayou viajou a Shaolin para aprender suas técnicas, mas ele as achou decepcionantes. Yu retornou ao sul com dois monges, Zongqing e Pucong, a quem ele ensinou o uso do bastão pelos três anos seguintes. Em seguida, os dois monges retornaram ao templo e ensinaram lá as técnicas de bastão que haviam aprendido. O historiador de artes marciais Tang Hao diz que o estilo de bastão Interceptação dos Cinco Tigres se originou dos ensinamentos de Yu.
 
O mais antigo manual existente de kung-fu shaolin, "Exposição do método de bastão shaolin original",<ref>{{citar livro|autor=Chéng Zōngyóu 程宗猷 |título=Exposition of the Original Shaolin Staff Method 少林棍法闡宗 Shàolín Gùnfǎ Chǎnzōng (in Chinese).|editora=|ano=c. 1621|páginas=|id=}}</ref> foi escrito por volta de 1610 e publicado em 1621 com base no aprendizado de dez anos do autor Chéng Zōngyóu no mosteiro.
 
Condições de ausência de lei em [[Henan]] - onde o mosteiro se localiza - e nas províncias adjacentes durante o final da dinastia Ming e todo o [[dinastia Qing|período Qing]] contribuíram para o desenvolvimento de artes marciais. Meir Shahar lista as artes marciais [[tai chi chuan]], boxe da família Chang, [[baguazhang]], [[hsing-i chuan]] e [[pa chi chuan]] como originárias dessa região e desse período.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref>
==== Piratas ====
Da década de 1540 à década de 1560, [[pirata]]s conhecidos como [[Wakō]] assolaram o litoral chinês numa escala sem precedentes.
 
O geógrafo Zheng Ruoceng fornece fontes detalhadas do século XVI que confirmam que, em 1533, Wan Biao, vice-comissário em chefe da comissão militar chefe de Nanquim, iniciou a convocação militar de monges - inclusive alguns de Shaolin - para lutar contra os piratas.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref> Guerreiros monges participaram em ao menos quatro batalhas: a da [[baía de Hancheu]] na primavera de 1553, a do delta do [[rio Huangpu]] em Wengjiagang em julho de 1553, a de Majiabang na primavera de 1554 e a de Taozhai no outono de 1555.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref>
 
Os monges sofreram sua maior derrota em Taozhai, onde quatro deles morreram em combate; seus restos foram enterrados sob a Estupa dos Quatro Guerreiros Heróis (''Si yi seng ta'') no monte She, perto de [[Xangai]].<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref>
 
Os monges conseguiram sua maior vitória em Wengjiagang.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref> Em 21 de julho de 1553, 120 guerreiros monges liderados pelo monge shaolin Tianyuan derrotaram um
grupo de piratas e perseguiram os sobreviventes por mais de dez dias e vinte milhas.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref> Os piratas sofreram mais de cem baixas e os monges apenas quatro.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref>
 
Nem todos os monges que lutaram em Wengjiagang eram de Shaolin, e as rivalidades cresceram entre eles. Zheng que relata que Tianyuan derrotou oito monges rivais de Hangzhou que desafiaram seu comando. Zheng qualificou Shaolin como o melhor dos três principais centros de artes marciais budistas.<ref>{{citar livro|autor=Shahar, Meir |título= [https://www.semanticscholar.org/paper/Ming-period-evidence-of-shaolin-martial-practice-Shahar/6d92a4d3d76c49466371bb17d8d1617662d64851 "Ming-Period Evidence of Shaolin Martial Practice"]. Harvard Journal of Asiatic Studies. Harvard Journal of Asiatic Studies, Vol. 61, No. 2. 61 (2): 359–413.|editora=|ano=dezembro de 2001|páginas=|id=doi:10.2307/3558572. ISSN 0073-0548. JSTOR 3558572. S2CID 91180380.}}</ref> Zheng qualificou Funiu, em Henan, como o segundo melhor, e o [[monte Wutai]], em [[Xanxim]], como o terceiro melhor. Os monges de Funiu praticavam técnicas de bastão que eles haviam aprendido em Shaolin. Os monges de Wutai praticavam a lança da família Yang (楊家槍; pinyin: ''Yángjiā qiāng'').
== Descrição ==
O templo Shaolin deixou dois legados: ''Chan'' (禅), que se refere ao [[zen]], a religião de Shaolin, e ''Quan'' (拳), que se refere à arte marcial de Shaolin. Em Shaolin, essas duas disciplinas não são separadas, e os monges sempre buscam a unificação entre ''chan'' e ''quan'' (禅拳合一; ''chan quan he yi''). Numa visão mais profunda, ''quan'' é considerado parte de ''chan''. Como disse o monge shaolin Suxi em seus últimos momentos de vida, "Shaolin é ''chan'', não ''quan''".
 
No lado ''quan'' (marcial), o conteúdo é abundante, e costuma ser classificado assim:
# técnicas básicas (基本功; ''jīběn gōng''):
 
== Formas ==