Fernando VII de Espanha: diferenças entre revisões

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'''Fernando VII da Espanha''', conominado '''''"O Desejado"'''''<ref>[http://www.nuevatribuna.es/articulo/cultura---ocio/fernando-vii-felon/20141210105141110157.html Fernando VII, el felón.]</ref> ([[San Lorenzo de El Escorial]], [[14 de outubro]] de [[1784]] - [[Madrid|Madri]], [[29 de setembro]] de [[1833]]), foi rei da [[Espanha]] entre março e maio de 1808, momento das [[Abdicações de Baiona]] e, após a expulsão do "rei invasor" [[José Bonaparte|José I Bonaparte]] e seu retorno ao país, reinou novamente de maio de 1814 até sua morte, exceto pelo breve intervalo em 1823, quando ele foi destituído pelo Conselho da Regência durante o [[triênio liberal]].
 
Filho e sucessor de [[Carlos IV de Espanha|Carlos IV]] e [[Maria Luísa de Parma]], depostos por seus apoiadores no [[motim de Aranjuez]], poucos monarcas desfrutaram de tal confiança e popularidade inicial por parte do povo espanhol. Forçado a abdicar em [[Baiona (França)|Baiona]], passou a [[Guerra Peninsular|guerra da Independência]] como prisioneiro em [[Valençay]], onde até mesmo chegou a pedir [[Napoleão Bonaparte]] ser seu filho adotivo,<ref>Villatoro, Manuel P. [http://www.abc.es/historia/abci-infame-espanol-traiciono-pueblo-y-pidio-hijo-adoptivo-napoleon-201512150256_noticia.html «Fernando VII: El infame rey español que traicionó a su pueblo y pidió ser hijo adoptivo de Napoleón.» 15/12/2015.] ''ABC''.</ref> pela seguinte carta: {{Quote|Meu maior desejo é ser o filho adotivo de SM, o imperador nosso soberano. Acredito que mereço essa adoção que realmente faria minha vida feliz, tanto por meu amor e carinho pela pessoa sagrada de SM, quanto por minha submissão e total obediência às suas intenções e desejos.}}Apesar disso, ele continuou a ser reconhecido como o rei legítimo da [[Espanha]] pelos vários Conselhos do Governo, pelo Conselho da Regência e pelas [[Constituição de Cádis|Cortes de Cádis]]. Dado o avanço francês na península e o prolongado conflito, as Juntas da América Espanhola começaram a agir de forma mais autônoma, processo que levaria à [[Guerras de independência na América espanhola|independência de todos os territórios americanos]], com exceção de [[Cuba]] e [[Porto Rico]].
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O rei deposto e sua esposa se colocaram sob a proteção de [[Napoleão Bonaparte|Napoleão]] e foram guardados pelas tropas de [[Joaquim Murat|Murat]] que, por sua vez, esperava ser nomeado rei da Espanha pelo imperador{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=70}}, que, no entanto, tinha outros planos. Ele enviou um colaborador de sua mais alta confiança, [[Anne Jean Marie René Savary|General Savary]], para comunicar a Murat sua decisão de conceder o trono da Espanha a um de seus irmãos e levar toda a família real e Godoy para a França, pouco a pouco.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|pp=70-71}} Foi Savary quem convenceu Fernando da conveniência de ir ao encontro do imperador que viajava de Paris a Madri, com o qual o rei concordou na esperança de que Napoleão o reconhecesse e o apoiasse como rei da Espanha.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=70}} Antes de partir, Fernando nomeou um Conselho de Administração para gerenciar os assuntos do Estado em sua ausência.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=71}} Inicialmente, o encontro seria realizado em Madri, mas Napoleão, citando assuntos imprevistos de grande urgência, estabeleceu lugares mais ao norte, para encurtar o tempo de viagem da França: a Fazenda de São Ildefonso, Burgos e São Sebastião.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|pp=70-72}} Finalmente, Fernando VII veio a [[Baiona (França)|Baiona]]; Para garantir que ele viesse, os franceses usavam a ameaça velada de não reconhecer a abdicação de Carlos IV e de ajuda-lo contra Fernando.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=72}} Então, em [[20 de abril]], os reis cruzaram a fronteira.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=73}} Embora ainda não soubesse, acabara de ser preso. Foi o começo de um exílio que duraria seis anos. Uma prisão oculta, em um palácio de cuja vizinhança ele não podia sair e com a promessa, sempre adiada, de receber grandes quantias de dinheiro. Carlos IV havia abdicado em favor de Fernando VII em troca da libertação de Godoy, e Napoleão também o convidara para Baiona, com a desculpa de conseguir que Fernando VII lhe permitisse retornar à Espanha e recuperar sua fortuna, que lhe fora confiscada. Diante da perspectiva de encontrar o favorito e interceder em nome deles, os reis pais também pediram para comparecer à reunião. Acompanhados por tropas francesas, chegaram a Baiona em [[30 de abril]]. Dois dias depois, em Madri, o povo se levantaria em armas contra os franceses, dando origem aos eventos de [[Levantamento de dois de maio|2 de maio de 1808]], que marcam o início da [[Guerra Peninsular|guerra de independência espanhola]].{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=76}}
[[Ficheiro:El Tres de Mayo, by Francisco de Goya, from Prado thin black margin.jpg|miniaturadaimagem|309x309px|[[Três de maio]] de 1808 em Madrid: os fuzilamentos na [[montanha do Príncipe Pío]], por [[Francisco de Goya]]. Museu do Prado.]]
Enquanto isso, a situação em Baiona estava assumindo tons grotescos. Napoleão impediu a chegada de Godoy até que tudo estivesse consumado, para que ele não pudesse aconselhar a família real espanhola, que provou ser extremamente desajeitada. Ele disse a Fernando VII que a renúncia de seu pai ao trono, produzida após o motim de Aranjuez, foi anulada por ter sido feita sob coação, por isso exigiu que retornasse ao trono.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|pp=74-75}} A mãe, Maria Luísa, pedira a Napoleão que o matasse pelo que ele havia feito a Godoy, ela e o marido. Napoleão forçou Carlos IV a ceder seus direitos ao trono em troca de asilo na França para ele, sua esposa e seu favorito, Godoy, além de uma pensão. Como ele havia abdicado anteriormente em favor de seu filho, ele considerou que nada estava cedendo. Quando as notícias do levante de Madri e sua repressão chegaram a Baiona, Napoleão e Carlos IV pressionaram Fernando a reconhecer seu pai como rei legítimo.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=76}} Em troca, ele recebia um castelo e uma pensão, que nunca recebia na íntegra. Ele aceitou [[6 de maio]] de [[1808]], ignorando o fato de que seu pai já tinha renunciado em favor do imperador.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=76}} Finalmente, Napoleão concedeu os direitos à coroa da Espanha a seu irmão mais velho, que reinaria sob o nome de [[José Bonaparte|José I Bonaparte]].{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=76}} Esta sucessão de transferências da coroa espanhola é conhecida como '''''"abdicações[[Abdicações de Baiona]]".'''''
 
Não foi apenas uma mudança dinástica. Em uma proclamação aos espanhóis em [[25 de maio]], Napoleão declarou que a Espanha estava enfrentando uma mudança de regime com os benefícios de uma Constituição sem a necessidade de uma revolução anterior. Napoleão convocou em Baiona uma assembléia de notáveis espanhóis, a ''Junta espanhola de Baiona.'' Embora a assembléia tenha fracassado para Napoleão (apenas setenta e cinco dos cento e cinquenta notáveis planejados compareceram), em nove sessões debateram seu projeto e, com poucas retificações, aprovaram o [[Estatuto de Baiona]] em julho de 1808.
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Acreditando que nada poderia ser feito contra o poder da França, Fernando tentou unir seus interesses aos de Bonaparte e manteve uma correspondência servil com o corso, a ponto de ele, em seu exílio de Santa Helena, se lembrar da atuação do monarca espanhol:{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|pp=79-80}} {{Quote|Fernando ficava me pedindo uma esposa de minha escolha: ele me escrevia espontaneamente para me satisfazer sempre que eu obtinha alguma vitória; emitiu proclamações aos espanhóis a submeter e reconheceu José, que talvez se considerasse filho de força, sem ser um; mas ele também me pediu sua grande banda, ofereceu a seu irmão Don Carlos que comandasse os regimentos espanhóis que foram para a Rússia, tudo o que ele não tinha precisão alguma para fazer. Em suma, ele insistiu que eu o deixasse ir à minha corte de Paris, e se eu não me desse a um show que atraísse a atenção da Europa, testando assim toda a estabilidade do meu poder, era porque a gravidade de circunstâncias me tiraram do Império, e minhas frequentes ausências da capital não proporcionaram nenhuma ocasião.}}Sua humilhação servil levou-o a organizar uma festa luxuosa com um brinde, banquete, concerto, iluminação especial e um ''[[Te Deum]]'' solene por ocasião do casamento de Bonaparte com [[Maria Luísa de Áustria|Maria Luisa da Áustria]] em [[1810]].{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=80}} Quando o corso reproduziu a correspondência que Fernando o enviou ao ''[[Le Moniteur Universel|Le Moniteur]]'' , para que todos, principalmente os espanhóis, pudessem ver sua performance, ele se apressou em agradecer descaradamente ao imperador por ter divulgado publicamente seu amor por ele.{{Harvnp|Sánchez Mantero|2001|p=80}}
 
No entanto, a condição do prisioneiro de Napoleão criou em Fernando o mito do ''desejo'', uma vítima inocente da tirania de Napoleão. Em 11 de agosto, o Conselho de Castela invalidou as [[abdicações de Baiona]], e em 24 de agosto, Fernando VII foi proclamado rei ''à revelia'' em Madri.<ref>''Gazeta de Madrid'' de 6 de septiembre [http://www.boe.es/datos/imagenes/BOE/1808/120/A01119.tif página 1119]</ref> As [[Constituição de Cádis|Cortes de Cádis]], que redigiram e aprovaram a [[Constituição de Cádis|Constituição de 1812]], em nenhum momento eles questionaram a pessoa do monarca e o declararam o único e legítimo rei da nação espanhola. Seguindo o exemplo das Cortes de Cádis, foram organizados Conselhos Governamentais provisórios na maioria das cidades dos territórios da América, que começaram desconsiderando a autoridade napoleônica e, posteriormente, aproveitando a situação e declarando sua total independência do [[Império Espanhol]], iniciando assim as [[Guerras de independência na América espanhola|guerras de independência hispano-americanas]].
 
=== O retorno de "o Desejado" ===