Frente Negra Brasileira: diferenças entre revisões

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A Frente sofreu duas cisões importantes já no início do seu funcionamento. Assim que foi fundada, surgiu uma forte divergência entre o grupo majoritário de Arlindo Veiga dos Santos e um grupo menor sob a liderança de José Correia Leite, o qual mantinha o jornal ''O Clarim da Alvorada''. O grupo de Correia Leite criticava a orientação fascista e autoritária que o outro queria impor à entidade, foi impedido de participar da votação dos estatutos e afastou-se, sustentando uma ácida campanha contra Arlindo através do seu jornal.<ref name="Malatian"/><ref>Oliveira, Laiana, p. 85</ref><ref name="Trajetórias">Ferreira, Maria Cláudia Cardoso. [https://anpocs.com/index.php/papers-29-encontro/gt-25/gt20-21/3803-mferreira-as-trajetorias/file "As Trajetórias de Veiga dos Santos e Correia Leite: Dissensos e Convergências na Militância Negra dos anos 1930"]. In: ''XXIX Encontro Anual da ANPOCS'', 25-29/10/2005</ref> Segundo [[Abdias do Nascimento]], enquanto Arlindo, que atuava em São Paulo, liderava o [[Patrianovismo|Movimento Patrianovista]], movimento nacionalista, tradicionalista, católico e monarquista alinhado à [[Ação Integralista Brasileira]] e recrutava membros que em sua predominância eram funcionários públicos, empregados domésticos e trabalhadores do setor de serviços, Correia Leite, que atuava em [[Santos]], se filiava ao pensamento socialista e recrutava membros que eram predominantemente trabalhadores do [[Porto de Santos]].<ref name=":0" /> Em 1932 ''O Clarim'' foi [[empastelamento|empastelado]] por membros da Frente e deixou de circular.<ref>Santos, Renan Rosa dos. "Pela integração negra: a trajetória do jornal O Clarim da Alvorada (1924-1932)". In: ''XXV Encontro Estadual de História da ANPUH — História, desigualdades & diferenças''. São Paulo, 08-11/08/2020</ref> Assim, Correia Leite, junto com José de Assis Barbosa e outros ativistas, acabou fundando em São Paulo o [[Clube Negro de Cultura Social]] como uma oposição à Frente.<ref>Michelette, Pâmela Torres. [http://www2.assis.unesp.br/cedap/cat_imprensa_negra/biografias/jose_correia_leite.html "José Correia Leite"]. In: ''Imprensa Negra: Biografias''. Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista, 2008 </ref>
 
Ainda em 1932, por ocasião da [[Revolução Constitucionalista]], movimento paulista que exigia a deposição de Getúlio, a Frente recebeu a visita do interventor de São Paulo solicitando que se juntasse aos revoltosos, mas seus dirigentes apoiavam Getúlio e ela permaneceu oficialmente neutra. No entanto, deu liberdade a seus associados para que agissem conforme suas consciências. Neste período a Frente praticamente paralisou suas atividades. Descontente, um grupo liderado por Joaquim Guaraná Santana e Gastão Gourlart abandonou a Frente para lutar na revolução, formando a Legião Negra, que conseguiu reunir cerca de dois mil combatentes.<ref>Domingues, Petrônio José. "Os 'Pérolas Negras': a participação do negro na Revolução Constitucionalista de 1932". In: ''Afro-Ásia'', 2003; (29/30): 199-245 </ref><ref name="BBC"/> Outra dissidência surgiu em 1933, quando um grupo, onde estava Guaraná Santana, discordando da orientação direitista de Arlindo e seu irmão Isaltino, deixou a Frente para criar a Frente Negra Socialista, que rapidamente atraiu milhares de membros em várias cidades. Isso gerou uma nova crise e enfraqueceu a posição dos irmãos Veiga dos Santos. No mesmo ano Isaltino acabou expulso, acusado de comportamento indecoroso.<ref>Sotero, Edilza Correia. [https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-03122015-134905/publico/2015_EdilzaCorreiaSotero_VCorr.pdf ''Representação Política Negra no Brasil Pós-Estado Novo'']. Doutorado. Universidade de São Paulo, 2015, pp. 50; 57</ref>
 
Em 1934 Arlindo deixou a presidência para Justiniano Costa, que cercou-se de conselheiros mais jovens e mais abertos a outras tendências, quando a hegemonia da doutrina inicial perdeu força. Neste momento a Frente passou a desenvolver uma orientação política mais intensa. Apesar disso, as disputas internas não haviam acabado, e Justiniano não tinha o enorme carisma de Arlindo. Como resultado, a Frente começou perder muitos associados e entrou em uma fase de declínio.<ref name="Matheus"/><ref>Oliveira, Laiana, p. 80; 90</ref>
Em 1936 a Frente obteve registro como partido político, sendo o primeiro e único partido negro da história do país, mas não chegou a participar de nenhuma eleição.<ref name="BBC"/> Funcionou até o [[Estado Novo (Brasil)|golpe de 1937]]. Após Getúlio Vargas declarar o fim dos partidos e agremiações políticas e das eleições livres em novembro de 1937, a FNB foi declarada ilegal e dissolvida, sobrevivendo sob o nome União Negra Brasileira até maio de 1938.<ref>Martins, Ana Nina. [http://www.blackpast.org/gah/frente-negra-brasileira-1931-1938#sthash.yPI6bven.dpuf "Frente Negra Brasileira (1931-1938)"]. ''BlackPast'', 2007</ref> Em alguns municípios, como em [[Cássia (Minas Gerais)|Cássia]], no [[Minas Gerais|Sul de Minas]], a Frente converteu-se em sociedade recreativa e passou a se chamar Sociedade Negra Princesa Isabel para contornar a repressão, porém mesmo tomando essas medidas, foi fechada em março de 1938.<ref>Mello, Alessandra. [http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/09/01/interna_politica,442856/frente-negra-brasileira-tem-ideais-sufocados.shtml "Frente Negra Brasileira tem ideais sufocados"]. ''Estado de Minas'', 01/09/2013</ref> Alguns de seus membros depois fundaram a [[Associação dos Negros Brasileiros]] em 1943.<ref>Silva, Mário Augusto Medeiros da. "Fazer História, Fazer Sentido: Associação Cultural do Negro (1954-1964)". In: ''Lua Nova: Revista de Cultura e Política'', 2012 (85)</ref>
 
==Legado==