Hermínio Martins: diferenças entre revisões

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Coerente com essa postura identifica na comunidade académica e no dia-a-dia um modo prático de encarar a vida, segundo uma lógica problema-solução, ametafísica, apoética, aliterária, ateológica, anestética, de "não-musicalidade religiosa" (Weber) e de "cegueira metafísica" (Scheler), que estigmatiza todos que fogem da norma instrumentalista, cujo 'tipo-ideal' é o engenheiro, crente na soberania da técnica e concebendo a conduta racional como um comportamento que tende exclusivamente a um
propósito ou meta específica, guiada por um cálculo consciente dos meios para conseguir um fim. A sociologia, nesse sentido, deveria estudar apenas os fatos, mensuráveis, substância única da vida, sem lugar para o irreal, o contrafatual, os ideais e as idealizações(p.31). Martins, por sua vez, ressalata que a principal tarefa da sociologia é "crítica das utopias", dos ideais, das imagens do futuro que os atores projetam e pelas quais anseiam. Inconsciente dessa tarefa, a sociologia convencional mergulha no estudo de "topias" (G.Landauer) focado no estado de coisas vigente em um dado momento, em determinada sociedade, descrevendo tooas as suas contingências e particularidades, e sempre de uma forma axiologicamente "neutra", sem tomar partido, sem participar de conflitos.
 
==Vida e tecnociência enquanto Experimentum Humanum==
Em Experimentum Humanum: Civilização Tecnológica e Condição Humana (2021), Hermínio Martins debruçou-se sobre um axioma que se tem tornado muito comum no estudo atual da técnica: “a tecnologia como extensão do humano”. Na perspetiva do autor, este topos, no seu dizer uma verdadeira «teoria prostética» impulsionada entre 1860 e 1870, é oriundo de uma fusão de textos, em versões parciais ou totais, que postulam o marxismo clássico, as popularizações da teoria evolucionista de Darwin e a psicanálise freudiana. Ernst Kapp teria sido um desses primeiros teóricos a ver a história do humano como a objetivação da sua essência. A técnica apareceria aqui como um prolongamento da nossa essência, na medida em que “o inconsciente produz externalizações técnicas variegadas, projetando vários traços e fases do ser humano” (ibid.: 16). Esta ótica Kappiana sugeria o autoconhecimento e a autoconsciência humanas como realizações do estudo dos produtos do trabalho humano, na medida em que a sua “ênfase metafísica na passagem do inconsciente ao consciente por via da externalização técnica oferece-lhe uma espécie de garantia cósmica de que o crescimento da tecnologia será, pari passu, o crescimento da autoconsciência humana” (ibid.: 17). Este é, para Hermínio Martins, sinal de um forte «somatismo tecnológico» onde as raízes humanas, através das externalizações técnicas, estariam nas profundezas do inconsciente. Constata assim que nos encontramos hoje perante um certo «gnosticismo tecnológico» (expressão de Victor Ferkiss, ibid.: 18), quer dizer, diante de um “casamento das realizações, projetos e aspirações tecnológicos com os sonhos caracteristicamente gnósticos de se transcender radicalmente a condição humana” (ibid.: 18). A ideia central que o autor aqui vinca é esta: o móbil de legitimação desta nova tecnociência parece ser o de ultrapassar os parâmetros mais básicos da condição humana (a expressão, entre outras, da “abolição” ou “aniquilação” do espaço e do tempo é um dos exemplos maiores, construindo uma certa «retórica do eletrónico sublime»).
 
==Bibliografia==